Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

domingo, 1 de outubro de 2017

Catalunha...

A linguagem política destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável, bem como a imprimir ao vento uma aparência de solidez...

No Quartel Lenine em Barcelona, na véspera de me alistar na milícia,vi um miliciano italiano, parado em frente à mesa do oficial.Era um jovem de vinte e cinco ou vinte e seis anos, com expressão dura, ombros possantes, cabelo meio avermelhado e louro. com a pala do boné de de couro, repuxada arrogantemente sobre um dos olhos. Via-o de perfil , tinha o queixo encostado ao peito, olhando com perplexidade um mapa que um dos oficiais abrira sobre a mesa. Alguma coisa, na sua expressão fisionómica, me causou profunda emoção. Era o rosto de um homem que assassinaria e daria a sua própria vida por um amigo, o tipo de rosto que se espera encontrar num anarquista, embora com toda a probabilidade ele fosse comunista.

Caso eu não tenha dito isso antes em alguma parte neste livro, direi agora: cuidado com a minha parcialidade, os meus enganos sobre os factos e a distorção inevitável causada por ter visto apenas uma parte dos acontecimentos. E tenha cuidado exatamente com essas mesmas coisas quando ler qualquer outro livro sobre esse período da guerra espanhola.

Ninguém no seu juízo perfeito acreditava que existisse esperança de democracia, mesmo como a entendemos em Inglaterra ou França, num país tão dividido e esgotado como a Espanha estaria quando a guerra terminasse.

"O soldado italiano apertou-me a mão/ bem ao lado da mesa da guarda/ A mão forte e a mão subtil/ Cujas palmas só conseguem/ encontrar-se ao som de canhões,/ mas que paz de espírito eu tive,/ ao ver-me o rosto experiente,/mais puro que o de uma mulher! /Pois as palavras sujas que me fazem vomitar ainda eram santas aos seus ouvidos / e ele nascera sabendo o que eu / nos livros aprendera devagar./ As armas traiçoeiras haviam falado / e ambos tínhamos acreditado,/ mas eu vinha de berço de ouro,/ Oh! Quem teria imaginado isso?/ Boa sorte para ti, soldado italiano! Mas a sorte não é para homens corajosos./ Que lhe teria dado o mundo em troca?/ Sempre menos do que lhe deram./ Entre a sombra e o fantasma,/ entre o branco e o vermelho,/ entre a bala e a mentira,/ onde iria ocultar a cabeça?/ Pois onde está Manuel Gonzalez?/ Onde está Pedro Aguilar?/ Onde está Ramon Fenellosa?/ Os vermes sabem onde eles estão./ O seu nome e feitos foram olvidados,/ antes dos seus ossos secarem./ E a mentira que o matou está debaixo / de uma mentira mais profunda ainda;/ Mas o que vi no seu rosto./ Nenhum poder é capaz de anular:/ Nenhuma bomba que venha a explodir./ Estilhaça o espírito cristalino."


Per què tremoles quan dius que m’estimes?
Per les trenta monedes?
Tremoles com qui viure?
O bé fremeixes pel costum del mal?
L’amor existeix, i és fort, i brilla,
i desafia el pes del cos,
el pes del vespre, el pes exagerat
dels anys que ens resten encara per viure.
L’amor existeix, però s’allunya
de la gent com nosaltres, amor meu.



(Porque tremes quando dizes que me amas?
Pelas trinta moedas?
Tremes como quem vive?
Ou bem te estremeces pelo costume do mal?
O amor existe, e é forte, e brilha,
e desafia o peso do corpo,
o peso da tarde, o peso exagerado
dos anos que ainda me restam para viver.
O amor existe, mas se alonja
das pessoas como nós, meu amor.)



Amor,
neste poema,
não existe o tempo:
todo o curso do universo
se dá nele de uma vez.



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