Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

MargaridaS e MargaritaS...


    O Mestre e a Margarida
de Mikhail Bulgákov
 

    Mikhail Bulgákov é um dos grandes mestres da literatura russa do século XX, e O Mestre e a Margarida, seu romance mais celebrado, está impregnado de uma complexidade que transcende uma simples leitura. Publicado postumamente em 1966, depois de anos de censura na União Soviética, o romance é uma obra profundamente erudita que mescla fantasia, sátira, filosofia e teologia, apresentando uma crítica velada ao regime soviético e, ao mesmo tempo, um estudo íntimo da alma humana e do poder da imaginação. 
    Contexto e Estrutura
 A narrativa de O Mestre e a Margarida ocorre em duas camadas interligadas: uma ambientada em Moscou, durante a década de 1930, e outra em Jerusalém, no momento do julgamento e crucificação de Jesus Cristo. Esses dois planos são magistralmente conectados através da figura enigmática de Woland, que representa o Diabo, e de outros personagens que parecem transitar entre o fantástico e o real. Essa dualidade narrativa permite a Bulgákov explorar tanto a sociedade contemporânea de sua época quanto temas universais como o bem, o mal, a liberdade e o destino. A estrutura não linear da obra, com suas mudanças abruptas de cenário e tom, desconstrói a narrativa tradicional e provoca o leitor a questionar as noções de verdade e realidade. A metanarrativa, em que o romance que o “Mestre” escreve (sobre Pilatos) ecoa e se entrelaça com a própria narrativa de Bulgákov, cria um jogo literário profundo sobre o poder da criação artística e sua luta contra a repressão. Sátira ao Regime Soviético Em Moscou, Bulgákov usa a figura de Woland e sua trupe demoníaca para expor o absurdo e o vazio da vida sob o regime comunista, em particular a burocracia soviética, a corrupção e a hipocrisia dos intelectuais da época. O Diabo, paradoxalmente, surge como um agente de revelação e justiça, expondo a falsidade de uma sociedade que se afundou em sua própria ideologia. A sátira ácida se manifesta na maneira como Woland ridiculariza os cidadãos de Moscou, especialmente aqueles ligados ao sistema literário e burocrático, como Berlioz e Ivan Bezdomny. Esses personagens, representantes da intelligentsia soviética, são despojados de sua moralidade e ridicularizados por sua adesão cega às normas estatais, que sufocam a liberdade criativa e espiritual. Bulgákov, um dissidente silencioso durante o regime de Stalin, usa a figura de Woland para questionar a autoridade que se apresenta como incontestável. O próprio Woland afirma que “os manuscritos não queimam”, uma frase icônica que reflete a crença de Bulgákov no poder da criação artística como algo imortal, algo que nem a censura nem o totalitarismo podem destruir. A Tragédia de Pilatos e a Redenção Em contraste com o caos e a decadência de Moscou, o enredo sobre Pilatos oferece um estudo mais profundo e filosófico sobre as questões do poder e da responsabilidade. A interpretação de Bulgákov do julgamento de Cristo não segue a ortodoxia religiosa, mas se concentra em uma análise psicológica de Pilatos, retratado como uma figura trágica, dilacerada entre sua lealdade ao Império Romano e sua consciência moral. O tormento de Pilatos, ao sentenciar Jesus (aqui chamado Yeshua Ha-Notsri) à crucificação, é um eco das questões maiores que Bulgákov explora em toda a obra: o peso das decisões individuais diante de forças políticas e sociais avassaladoras. Pilatos é incapaz de agir contra o sistema que o oprime, assim como os intelectuais de Moscou são impotentes frente ao regime soviético. No entanto, Bulgákov sugere que existe uma possibilidade de redenção através da compaixão e do arrependimento. Margarida: Amor e Libertação No centro da obra está a figura de Margarida, cuja força motriz é o amor. Bulgákov constrói Margarida como uma heroína trágica e, ao mesmo tempo, redentora. Sua decisão de fazer um pacto com o Diabo para salvar o Mestre, o homem que ama, a transforma numa figura que transcende as convenções morais, desafiando tanto o bem quanto o mal em busca de uma verdade pessoal mais profunda. Através de Margarida, Bulgákov explora o poder do amor como uma força revolucionária, capaz de romper os grilhões da tirania e da opressão. A famosa cena do baile de Satanás, em que Margarida se torna rainha ao lado de Woland, é um marco simbólico dessa libertação. Ao abdicar de sua vida anterior e submeter-se a esse ritual, Margarida conquista uma nova forma de liberdade, ainda que seja paradoxalmente alcançada através da escuridão. Nesse sentido, Bulgákov sugere que o caminho para a verdade e a redenção pode ser encontrado em lugares inesperados, até mesmo no reino do sobrenatural. O Bem, o Mal e o Existencialismo Bulgákov não oferece respostas claras sobre as questões do bem e do mal em O Mestre e a Margarida. Em vez disso, ele subverte as expectativas ao apresentar o Diabo (Woland) não como uma figura de pura maldade, mas como um agente necessário na ordem cósmica. Woland não causa o mal arbitrariamente; ele, ao contrário, age para restaurar um certo equilíbrio e para expor as fraquezas humanas. Essa visão complexa do mal se aproxima do existencialismo que permeia a obra. Bulgákov apresenta um mundo em que as certezas morais se desintegram e onde a busca individual pelo sentido é a única resposta possível à indiferença do universo. Assim, o romance é tanto uma meditação filosófica sobre a condição humana quanto uma obra profundamente religiosa, embora sem aderir a dogmas fixos. 
Conclusão 
O Mestre e a Margarida é uma obra-prima complexa, que desdobra suas camadas de significado a cada nova leitura. Sua fusão de elementos fantásticos, filosóficos e satíricos faz dela uma crítica atemporal ao autoritarismo e um hino à liberdade criativa e ao poder redentor do amor. Ao mesmo tempo, o romance permanece uma profunda investigação sobre o bem, o mal e o papel do indivíduo em um mundo marcado pela opressão e pelo caos. Bulgákov criou, assim, um clássico moderno que resiste às definições fáceis e continua a desafiar seus leitores a explorar os limites entre o real e o imaginário, o sagrado e o profano. "
( Na tradução do portuhuês do Brasil, como na crítica transcrita, o título é " Margarida") 

  Margarita Salas:30 de novembro de 1938 -7 de novembro de 2019

" Se convirtió en una figura científica pese a los prejuicios contra las mujeres investigadoras y denunció el poco apoyo a la ciencia en España.Fue pionera de la biología molecular en España, pionera en marcharse a Estados Unidos para ampliar su formación, pionera como mentora de otras científicas, pionera en convertir su investigación en una patente rentable... Expresó su visión del mundo y de la ciencia en varias entrevistas que concedió a lo largo de su carrera. "

- La mujer ocupará en el mundo científico el puesto que le corresponda de acuerdo con su capacidad, y no necesitaremos cuotas ni nada de eso.
Se puede salir adelante; hay que mejorar las condiciones sociales, compartir más las cargas familiares. Si se hace, en un futuro no muy lejano la mujer ocupará el lugar que le corresponde

- Un país sin investigación es un país sin desarrollo.
- De joven era discriminada por ser mujer; hoy por ser mayor. Lo importante es no tener arrugas en el cerebro.
- Por encima de todo, mi vida es la investigación.

Margueite Duras: 4 de abril de 1914-3 de março de 1996

-Muito cedo foi tarde demais em minha vida.
- O álcool não consola, não preenche os vazios psicológicos, mas supre a ausência de Deus. Não compensa o homem. Pelo contrário, anima a sua loucura, transporta-o a regiões supremas onde é mestre do seu próprio destino.
- Nunca escrevi julgando fazê-lo, nunca amei julgando amar, nunca fiz nada senão esperar diante da porta fechada.
- Sou mais escritora do que vivente, que uma pessoa que vive. Naquilo que vivi, sou mais escritora do que alguém que vive. É assim que eu me vejo.
- Caminhais em direcção da solidão. Eu, não, eu tenho os livros.
- Escrever é também não falar. É calar-se. É gritar sem fazer ruído.
- Há ilusões que se parecem com a luz do dia; quando acabam, tudo com elas desapareceu.


Marguerite Yourcenar: : 8 de junho de 1903- 17 de dezembro de 1987


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