Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...
quinta-feira, 7 de novembro de 2019
QuedaS...
Em dia de recordar Camus, uma breve reflexão sobre Serotonina, a queda de Florent-Claude Labrouste: um início nada inspirado, com uma crueza linguística que, pessoalmente, nada aprecio. Entretanto, algumas reflexões interessantes sobre banalidades. A partir da página 223 até ao final, na página 277, atinge o nível dos melhores romances que já li... É uma queda diferente da camusiana, eventualmente muito (demasiado?) inspirada em ...mas com um toque de génio.
Nota prévia
"Em maio de 1884, o escritor parisiense Joris-Karl Huysmans publicou Às avessas, um romance que, logo no título, anunciava uma contraposição às convenções literárias naturalistas e aos valores burgueses vigentes na época. A obra tornou-se emblemática das novas propostas artísticas que circulavam em França, berço do movimento simbolista e do espírito decadentista. O seu autor concentrou a narrativa, marcada pela escassez de intrigas e peripécias, em torno da perturbadora figura do protagonista, o jovem Des Esseintes. Descendente da linhagem dos proprietários do castelo de Lourps, o solitário rapaz, de saúde frágil e gostos refinados, mergulha num profundo tédio que o conduzirá à reclusão numa casa na região rural de Fontenay, nos arredores de Paris. A fortuna herdada por Des Esseintes permite-lhe realizar excêntricas experiências estéticas e explorar intensamente um sem-número de sensações, dando asas a devaneios fantásticos e caprichos hedonistas.A estrutura do livro acompanha o agravamento da neurose da personagem central: alguns capítulos consistem em pequenos tratados sobre especialidades decorativas, apresentadas conforme os interesses variados de Des Esseintes. No isolamento em Fontenay-aux-Roses, o herói cultiva habilidades de decorador, ourives, florista, perfumista e bibliófilo, por meio da aquisição de objetos extravagantes. As referências eruditas feitas pelo narrador, que enumera obras e artistas, refletem as escolhas e os juízos críticos do aristocrático protagonista. Enclausurado na torre construída por ele próprio, Des Esseintes desenvolve o gosto pelo artifício e pela intelectualização dos sentidos. No decorrer de sua trajetória de neurasténico e misantropo, acentuam-se as oscilações de humor e as crises nervosas.As suas preocupações religiosas convivem com o desprezo manifestado pelo modo de vida burguês e pela pobreza dos espíritos comuns.Às avessas realiza um processo de imersão no mundo criado pelas preferências estéticas de um indivíduo avesso ao convívio social e amante de obras de arte capazes de estimular uma profusão de experiências sensoriais. Contrário ao progresso e à vida superficial característicos da sociedade burguesa, Des Esseintes constitui a representação patológica de um homem oitocentista, que, decepcionado com um mundo destituído de sentido e interesse, opta por se isolar da realidade. As escolhas do protagonista, afastado do meio social e das preocupações quotidianas, são regidas por finalidades puramente estéticas, em consonância com o princípio da arte pela arte. A técnica narrativa empregada, precursora das obras modernistas que fazem uso das imagens oníricas e do discurso indireto livre, revela procedimentos inovadores para o período de composição do romance. Obra de interesse atual, Às avessas desenvolve a sensibilidade do leitor e possibilita reflexões acerca dos laços mantidos entre arte e vida."
Durante todos os anos de minha triste juventude, Huysmans foi para mim um companheiro, um amigo fiel; nunca tive dúvida, nunca fui tentado a abandonar, nem a orientar-me para outro tema; e então, numa tarde de junho de 2007, depois de longamente esperar, depois de tanto tergiversar até um pouco mais que o admissível, defendi perante a banca da universidade Paris IV Sorbonne minha tese de doutorado: Joris-Karl Huysmans, ou a saída do túnel. Já na manhã seguinte (ou talvez já na própria noite, não posso garantir, pois a noite de minha defesa foi solitária e muito alcoolizada), entendi que uma parte de minha vida acabava de terminar, e era provavelmente a melhor.
Este é o caso, em nossas sociedades ainda ocidentais e social-democratas, de todos os que concluem seus estudos, mas que na sua maioria não tomam, ou não imediatamente, consciência disso, hipnotizados que estão pela ânsia do dinheiro, ou talvez do consumo, entre os mais primitivos, aqueles que desenvolveram o vício mais violento a certos produtos (são minoria, pois a maioria, mais sensata e ajuizada, desenvolve um fascínio simples pelo dinheiro, esse “Proteu incansável”), hipnotizados ainda mais pelo desejo de passar pelas provações, de consolidar um lugar social invejável num mundo que imaginam e esperam ser competitivo, galvanizados que estão pela adoração de ícones mutáveis: atletas, criadores de moda ou de portais da internet, atores e modelos.
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