Outono tardio, o outono instala-se no meu coração pesado
Vinho, mistura-se com mil sentimentos
Despedidas, são tantas como as folhas caídas nesta temporada
Com a sua mão agarrada ao meu coração
Eu preciso que se lembre, da nossa promessa não dita
Eu não sinto saudade
Mas a sua tristeza persegue-me
Nós temos o vento para culpar
pela nossa despedida
Eu não temo a solidão
Mas a sua solidão persegue-me
Ninguém vai ouvir a nossa desolação
Marc Augé: "existe uma ilusão de conhecimento que é ainda pior do que o facto de não saber."
Um mosteiro abandonado, único testemunho de uma vida de outros tempos: Mosteiro de Santa Maria das Júnias...
Este sonhar acordado, este cismar poético diante dos sublimes espetáculos da natureza, é dos prazeres grandes que Deus concedeu às almas de certa têmpera. Doce é gozar assim... mas em que doçuras da vida não predomina sempre o ácido poderoso que estimula! Tirai-lho, fica a insipidez: deixai-lho, ulcera por fim os órgãos: o gozo é mais vivo, porque a ação do estímulo é mais sentida... mas a ulceração cresce, o coração está em carne viva... agora o prazer é martírio.
As ruínas do tempo são tristes mas belas, as que as revoluções trazem ficam marcadas com o cunho solene da história. Mas as brutas degradações e as mais brutas reparações da ignorância, os mesquinhos concertos da arte parasita, esses profanam, tiram todo o prestígio.
Sons inebriantes...
Não sei se gostei, se adorei ou se detestei...Sei que senti qualquer coisa de intenso...
“As pessoas tolerantes foram esmagadas pelos discursos populistas” - “O Medo do Futuro” em discussão no Festival Literário de Óbidos
“O medo pode ser o melhor dos contributos para a renovação das democracias”, afirmou Bernardo Pires de Lima, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais, na sessão sobre “O Medo do Futuro”, que teve lugar esta sexta-feira, 11 de Outubro, no FOLIO – Festival Literário de Óbidos.
Para o também comentador televisivo, estamos numa época em que toda a gente faz debate político com base em desinformação e teorias da conspiração. Isso acontece inclusive com líderes políticos, como é o caso de Donald Trump, o que torna a análise política atual ainda mais difícil.
Numa mesa moderada por Pedro Mexia, participou ainda o filósofo brasileiro Francisco Bosco, que fez uma explicação sobre a história política recente do Brasil. Na sua opinião, o que está acontecer é resultado de uma revolta dos setores não liberais que, ao longo das últimas décadas, sofreram a agenda mundial de elites liberais progressistas. “Sentiram-se atropelados por uma agenda que não lhes diz respeito”, afirmou.
A crise económica mundial de 2008, cujos efeitos se fizeram sentir nos anos seguintes, levaram a que essa “maioria silenciosa” se fizesse ouvir. A eleição de Trump e Bolsonaro, ou o Brexit, são uma resposta (que considera errada) a essa revolta.
Tudo isso se tornou uma grande dimensão devido à democracia digital que as redes sociais trouxeram. Numa primeira fase, as redes sociais contribuíram positivamente para o envolvimento das pessoas, o que levou, por exemplo, à eleição de Obama. Depois dessa democratização digital estar mais consolidada, e devido à falta de consciência política de uma grande maioria, houve uma maior adesão a líderes populistas.
É por isso que Bernardo Pires de Lima defende que deve existir mais humildade por parte dos intelectuais e que estes precisam de dar a cara “defendendo o que é bom”. É que, entende, “as pessoas tolerantes foram esmagadas pelos discursos populistas”.
Há ainda outro fator importante: “a corrupção tem corroído a Democracia em todo o Mundo”, considera o especialista, que, no entanto, disse ser muito otimista em relação ao que irá acontecer no futuro.
Nobel da Literatura: para mim dois desconhecidos...
Comecei o outono a confrontar Sofia Tolstoi com Alberto Luís...e, estranhamente, esse confronto fez-me pensar em mim. O que há de comum?
"And everyone has a heart and it's calling for something / And we are all so sick and tired of seeing things as they are / Horses are just horses and their manes aren't full of fire / The fields are just fields and there ain't no Lord /And everyone is hidden and everyone is cruel / And there is no shortage of tyrants and no shortage of fools And the little white shape dancing at the end of the hall / Is just a wish that time can't dissolve at all..."
"Well, sometimes it's better not to say anything at all
Your body is an anchor, never asked to be free
Just want to stay in the business of making you happy
Well I'm just waiting for you
Waiting for you, waiting for you
Waiting for you, waiting for you..."
É um pequeno comprimido, branco, oval, divisível.
Cerca das cinco horas da manhã , por vezes seis, acordo... é o momento mais doloroso do meu dia.
Tenho quarenta e seis anos, chamo-me Florent-Claude Labrouste e detesto o meu primeiro nome, penso ter origem no desejo de o meu pai e a minha mãe homenagearem, cada um por seu lado, dois membros da minha família; é tanto mais lamentável que nada tenho, aliás, a censurar aos meus pais, foram para todos os efeitos pais excelentes, fizeram o melhor por me dar as armas necessárias na luta pela vida e, se por fim falhei, se a minha vida desemboca na tristeza e no sofrimento, não os posso culpar, é antes um lamentável encadeamento de circunstâncias ao qual terei oportunidade de regressar — e que constitui mesmo, a bem dizer, o motivo deste livro —, não tenho absolutamente nada a censurar aos meus pais, excepto este pequeníssimo, lamentável mas pequeníssimo, caso do nome próprio, não só acho a combinação Florent-Claude ridícula como desgosto dos próprios elementos, e em suma considero o meu primeiro nome um falhanço absoluto. Florent é demasiado suave, demasiado próximo do feminino Florence, num sentido quase andrógino. Não corresponde de todo ao meu rosto de traços vigorosos, sob determinados ângulos brutais, que foi frequentemente (por algumas mulheres, pelo menos) considerado viril e nunca, mas mesmo nunca, o rosto de um larilas botticelliano. Quanto a Claude, nem vale a pena falarmos disso, faz-me imediatamente pensar nas Claudettes, e vem-me logo à cabeça a imagem pavorosa de um vídeo vintage do Claude François a ser passado em loop num serão de bichas velhas, assim que ouço o nome Claude.
Os anos de estudo são os únicos anos felizes, os únicos em que o futuro parece aberto, em que tudo parece possível, a vida de adulto que se lhes segue, a vida profissional, não é senão um lento e progressivo decaimento, é sem dúvida por esse motivo que as amizades de juventude, as que fazemos no período em que estudamos e que no fundo são as únicas amizades verdadeiras, nunca sobrevivem à entrada na vida adulta, evitamos rever os amigos de juventude, para não sermos confrontados com os testemunhos das nossas esperanças frustradas, com a evidência do nosso próprio esmagamento.
Desenvolvi a convicção de que o amor não se pode desenvolver senão sobre a base de uma certa diferença, que o semelhante não se apaixona nunca pelo semelhante, mesmo se na prática inúmeras diferenças possam funcionar: uma diferença grande de idade, como se sabe, pode dar lugar a paixões de violência extraordinária; a diferença racial continua a ser eficaz, e mesmo a diferença nacional e linguística não é de desdenhar. Não é bom que os amantes falem a mesma língua, não é bom que possam realmente compreender-se um ao outro, que possam trocar palavras, porque a palavra tem como vocação criar, não amor, mas divisão e ódio, a palavra separa assim que é formulada,enquanto uma informe tagarelice amorosa,semilinguística, falar com a namorada ou namorado como se fala com o cão lá de casa, cria as condições para um amor incondicional e duradouro. Se ao menos nos pudéssemos limitar aos assuntos imediatos e concretos — onde estão as chaves da garagem? a que horas passa o electricista? —, a coisa ainda podia funcionar, mas, para lá disso, começa o reino da desunião, do desamor e do divórcio.
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