Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Santo António...

«Portugal tem destas excentricidades: que um espírito crítico, torrencial e iluminador como o de Agustina Bessa-Luís se confronte com a nossa mais extraordinária figura de fronteira que é Santo António de Lisboa (ao mesmo tempo medieval e moderno; popular e cultíssimo; português e a cooperar numa mudança epocal que, segundo Jacques Le Goff “vai sacudir a religião, a civilização e a sociedade”), não parece empresa suficiente para ativar paixões.» 

 «não é a caraterização intelectual, sociológica ou moral que conta, mas sim Santo António vivendo. Por fim, o romance é um instrumento de precisão, como existem poucos, pois está à altura da singularidade, liberdade, tragicidade e assombro da vida. Ele consegue relatar o superlativo e o minúsculo, o sublime e o mísero, a dor e a redenção, o pecado e a santidade».

 «Agustina constrói uma das suas narrativas mais originais e inclassificáveis, que é uma mistura de ensaio e romance, de texto documental e relato de viagem, de filme metafísico e de “making-of” sobre as condições de produção, de minucioso comentário filológico do passado e de exercício fulgurante e amplo de pensamento sobre a vida».

 

 A sensibilidade popular converteu-o num santo fácil e caseiro; nisto veio a dar aquele que, por índole e por carreira, se entregou ao convívio das causas humanas. Santo António foi sobretudo um asceta, o que não quer dizer uma natureza solitária. O asceta, a par da saudade de morrer, anda constante com a paixão da vida. Amou o mundo por algo que era nostalgia da felicidade. 

não unicamente porque a sua língua bendita exalta o Senhor, mas porque ele opera nas almas uma estranha mudança; é uma espécie de expetativa que se introduz nas suas vida. 

 De que fala o Santo? Sossega-os nos seus lamentos, dá satisfação às suas opressões, anima-os nas suas guerras, resgata-os das suas dívidas, sustenta-os nas suas fomes. É um pai amorável, embora evangelize às vezes de maneira sentenciosa. E é também um doutor capaz de se exprimir diante dos letrados.

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