A Anima opõe-se à persona: o arquétipo de qualquer homem encontra expressão numa personalidade interior feminina. Aparentemente dissociados, animal tem a mesma etimologia que alma. Curiosa trilogia, com afinidades e cumplicidades etimológicas, culturalmente separadas, quase tornadas antagónicas: anima animal, alma...
A anima
refere-se às características femininas, reprimidas e inconscientes, da
personalidade de um homem. A anima, constituída por ideias, perceções,
impulsos, padrões de atividade cerebral, é uma entidade com vida autónoma na
estrutura psíquica de um homem.
Em todo o
homem existe um eu feminino, uma anima; em todo o homem existe um animal.Se
recusa a anima, o homem torna-se um animal...
Amizade... Sonho, desde a infância, com o amigo perfeito, mas, sempre que estou "quase" a persuadir-me de que o encontrei, ele revela-se uma "Asa que se elançou mas não voou." Reconheço-me algum encanto, é fácil gostar de mim, mas talvez o grau de perfeição e de dedicação que exijo de um amigo seja uma plenitude inatingível...
Outros
sofrem por amor, eu sofre por amizade... sempre tenho alguma originalidade no meu romantismo. Será que existe amizade sem amor?
Nunca pensei no amor, nunca o desejei. Ao contrário, uma amizade plena, como a de adriano e
plotina, fernando pessoa e sá-carneiro, mesmo muito antes de os
"conhecer", sempre me fascinou. Sempre senti uma certa mágoa por não
ter um amigo especial, um cúmplice que me permitisse descobrir quem sou ...Sempre
procurei esse amigo, quase o encontrei, mas...
Nas raras
vezes em que senti amor, ele surgiu na sequência da amizade, entendida como
contacto íntimo entre duas almas. Uma única vez o desejo de intimidade física
perturbou o que era perfeito. Aí, surgiu uma dúvida: qual é a fronteira entre a
amizade e o amor? Um amigo de juventude asseverava que a amizade incluía
sempre uma percentagem de amor...sob pena de não ser verdadeira. Dizia que não
acreditava possível a amizade entre duas pessoas de sexo diferente, pois,
inevitavelmente, acabaria por se desencadear uma qualquer forma de atração...
Como, nos seres superiores, o impulso sexual não é físico, mas resulta de
estímulos racionais, a cumplicidade intelectual entre dois amigos poderia
originar, até involuntariamente, mecanismos não espirituais. Surgiram-me
muitas dúvidas...Ainda hoje não tenho certezas sobre isso.
Maravilha-me uma amizade sem intromissões, com um ritual sagrado, como uma cerimónia
religiosa, mas encarado como um jogo, em que os livros são um pretexto. Na
amizade tem de haver mais exclusividade do que no amor, somos muito mais
exigentes com um amigo do que com um amante...Na ideia de ritual, agrada-me
particularmente a certeza: no dia X, à hora Y,no local Z, A vai-se encontrar
com B e vão conversar sobre N. Assim, sem acasos indesejados nem
indesejáveis...
Se attalus o afirma( Serei talvez uma obra acabada, eu que sempre preferi obras abertas)...Bem gostaria mais de acreditar na metáfora de séneca, até porque a reflexão de attalus é, totalmente, contraditada pelo seu mito, relativamente a este tema: o de pigmalião. O deleite é eterno...As poucas relações de amizade que esculpi, mas que se desvaneceram, são uma perda irremediável...
No passado,
perdi um amigo porque ele desapareceu fisicamente, o que é, afinal, o mais
fácil de suportar .Viveu, vive e viverá com a ilusão de que, mesmo separados,
somos amigos para sempre. Ele morreu, portanto não precisei de o matar dentro
de mim...
Uma vez
disseram-me que não tinha o direito de poetizar as pessoas de quem gosto nem
ser tão exigente ( idealizo um ser e o desgraçado tem de corresponder à minha ficção) pois isso implica que ser seu amigo se torne um compromisso muito
difícil de manter...Tenho pensado nisso...
Não gosto de
ser como sou, às vezes nem sei quem sou, mas sou. E continuo a ser. Há dias em que sou mais, há dias em que sou menos, mas sou... Ninguém pode decidir que eu não sou porque sei que sou . Quem decidir que eu não sou deixa de ter sido, não é nem será...
Sempre que
algum dos raros tus, com quem quem ainda me relaciona, me desilude
(desencanta? desagrada?), começo a duvidar de tudo e de todos, mas, sobretudo, a
duvidar de mim própria. Fico desorientada... Quem faz parte do meu mundo é
idealizado . Esta construção implica o surgimento de um novo ser, um ser quase
perfeito, que talvez só exista na minha imaginação. Sempre que esse alguém, com
qualidades para ser diferente, cede a comportamentos padronizados, sinto-me desconstruída, uma parte de mim foi desfeita: nenhum artista suporta ver
maculada a sua obra de arte. Ao cair do pedestal em que o colocara, é o meu eu
que se fragmenta e os pedaços que apanho são , afinal, uma parte de si...Fico a
olhar, impotente, para a minha perfeição destruída, como um pigmalião que olhasse
os restos da sua estátua, outrora perfeita...
Etiquetas afetivas
"O amor, a
amizade, qualquer afeto, no momento em que é "produzido", devia ter
assinalado o prazo de validade... Seria tudo tão mais fácil:" Válido até
...", " Consumir , de preferência, antes de..." . Num mundo em
que as leis económicas dominam as nossas vidas, seria, no mínimo, coerente. Tudo
etiquetado, de modo a que o consumidor pudesse fazer escolhas criteriosas: "Uma
amizade sincera até julho de 2016." ; "Um amor intenso até junho de
2015". As etiquetas afetivas evitariam dores e mágoas desnecessárias
e, sobretudo, o cansaço e o arrastar de relações fora do prazo. Evitariam
,também, a necessidade deselegante e incómoda de ter de dizer adeus.
Sintaxe
"Fechei os
olhos, anichei -me no sofá, enroscada, quietinha, a ouvir- me pensar e a ver-te
surgir. Depois, tão lentamente como apareceu, a tua imagem , progressivamente,
vai-se esvaindo, esvaindo, mas não importa, porque a tua imaterialidade já
ficou incorporada em mim ...Antigamente, assustava-me com este dom: é difícil conceber alguém com tal
capacidade de resistir à solidão e de a preencher como e quando quer...Para ser
bem sucedida, preciso de estar serena,
sentir –me segura do teu onde e
com quem, caso contrário não sou capaz...Existes- me sem existires e sem eu existir para ti. Penso-te, mas não penso em
ti; sonho-te , mas não sonho contigo... Por ti inventei uma nova sintaxe. Que
importa que ela não exista, tu também não...
Se amar-te,
sentir-te e similares são sintaticamente possíveis, não entendo a lógica da
sintaxe afetiva portuguesa: por que motivo não existe: precisar-te, sonhar-te,
gostar-te, pensar-te, palavrar-te, poetar-te,
ser-te, estar-te e tantos outros verbos que inventei porque não gosto deles com preposições. Quando tiver tempo e paciência, organiza-os, por ordem
alfabética, agora só deliberei que eles passam a constar do meu Palavrário. Que
sentido tem dizer preciso de ti, preciso-te é diferente, muito mais intenso. O
mesmo se passa com sonhei-te, em vez de sonhei contigo, para não falar de gosto
de ti, em vez de gosto-te ... "
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