Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Silêncios, Perguntas, Confirmações....


  Ela queria chegar ao lugar de destino sem este episódio intermédio.

  Não infelizes, mas em estados de medonha rotina.

  Não usar as mãos no futebol é a repressão de um impulso natural...
  
  Professora e aluno num emparelhamento invertido.

  Ela pensava nele como um intelecto a tentar escapar às amarras do     corpo   alto e ocioso... Sentiu remorsos por lhe pedir que se sentasse  numa   cadeira de cozinha...



Caminho a teu lado mudo
Sentes-me, vês-me alheado...
Perguntas, sim ou não, não sei...
Tenho saudades de tudo...
Até, porque está passado,
Do próprio mal que passei.
(...)
Que fui nessa noite escura?
Quem sou nesta morte instante?
Não perguntes... Tudo é vão.


Eis-me aqui!
O que há para mim senão vacuidade
No mundo (...), o que me destinastes?
O vazio? O silêncio? A escuridão?
Desses-me o instinto deles, não a plena
Torturação da luz.


A palavra falada é imediata, local e geral. Quando falamos, falamos para ser ouvidos imediatamente, com quem está ali ao pé de nós, e de modo a que sejamos facilmente entendidos d'ele, que sabemos quem é, ou calculamos que sabemos e que pode ser toda a gente, devendo nós pois falar como se ele fosse qualquer. A palavra escrita é mediata, longínqua e particular. Quando escrevemos, e tanto mais quanto melhor e mais cuidadosamente escrevemos, dirigimo-nos a quem não nos vai ouvir, que é ler, logo; a quem não está ao pé de nós; a quem poderá entender-nos e não a quem tem que entender-nos, tendo nós pois primeiro que o entender a ele. Em resumo, a palavra falada é um fenómeno social, a escrita um fenómeno cultural; a palavra falada um fenómeno democrático, a escrita um aristocrático. São diferentes em substância: são pois forçosamente diferentes os seus respectivos meios e fins. A cultura próxima e a cultura remota. A cultura é um fenómeno pelo qual estamos ligados ao passado pela inteligência; é, em outras palavras, a tradição intelectual. Na palavra falada temos que ser, em absoluto, do nosso tempo e lugar; não podemos falar como Vieira, pois nos arriscamos ou ao ridículo ou à incompreensão. Não podemos pensar como Descartes, pois nos arriscamos ao tédio alheio. A palavra escrita, ao contrário, não é para quem a ouve, busca quem a ouça; escolhe quem a entenda, e não se subordina a quem a escolhe.

Quando o público soube que os estudantes de Lisboa, nos intervalos de dizer obscenidades às senhoras que passam, estavam empenhados em moralizar, toda a gente teve uma exclamação de impaciência. Sim — exactamente a exclamação que acaba de escapar ao leitor... Ser novo é não ser velho. Ser velho é ter opiniões. Ser novo é não querer saber de opiniões para nada. Ser novo é deixar os outros ir em paz para o Diabo com as opiniões que têm, boas ou más — boas ou más, que a gente nunca sabe com quais é que vai para o Diabo. Os moços das escolas intrometem-se com os escritores que não passam pela mesma razão porque se intrometem com as senhoras que passam. Se não sabem a razão antes de lha dizer, também a não saberiam depois. Se a pudessem saber, não se intrometeriam nem com as senhoras nem com os escritores.
Bolas para a gente ter que aturar isto! Ó meninos: estudem, divirtam-se e calem-se. Estudem ciências, se estudam ciências; estudem artes, se estudam artes; estudem letras, se estudam letras. Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte. Mas quanto ao resto, calem-se. Calem-se o mais silenciosamente possível. Porque há só duas maneiras de se ter razão. Uma é calar-se, que é a que convém aos novos. A outra é contradizer-se, mas só alguém de mais idade a pode cometer. Tudo mais é uma grande maçada para quem está presente por acaso. E a sociedade em que nascemos é o lugar onde mais por acaso estamos presentes.


Três coisas tem o homem superior que ensinar-se a esquecer para que possa gozar no perfeito silêncio a sua superioridade - o ridículo, o trabalho e a dedicação.Preciso de interiorizar a superioridade de bernardo soares, de modo a esquecer quem sou e reinventar-me como outro ser.

A propensão sugeria-lhe que falasse; a dignidade dizia-lhe que ficasse silenciosa.


Já entrei contigo em comunicação tão forte que deixei de existir sendo. Tu tornas-te um eu. É tão difícil falar, é tão difícil dizer coisas que não podem ser ditas, é tão silencioso. Como traduzir o profundo silêncio do encontro entre duas almas? É dificílimo contar: nós estávamos nos olhando fixamente, e assim ficamos por uns instantes. Éramos um só ser. Esses momentos são o meu segredo... Eu chamo isso de: estado agudo de felicidade.

Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso...

O silêncio é a mais perfeita expressão do desprezo.

É doloroso ouvir o silêncio, ter como resposta silêncio, viver atordoado pelo ruído de tanto silêncio... O silêncio torna-se, então, o contrário de tudo o que diz o dicionário: não é paz, é dessassossego, é intranquilidade, é um desejo incontrolável de que o silêncio seja quebrado...


O fascínio exercido pelo imaginário...sobre a consciência humana é de natureza magnética.... Segundo Shelley,um homem verdadeiramente apaixonado pela Antígona de Sófocles jamais poderia viver uma experiência semelhante por uma mulher real. .. Ficamos presos aos textos. O grito na rua mal nos chega aos ouvidos, se é que damos por ele. Fala-nos de uma realidade desarrumada,contingente,vulgar e transitória,impossível de comparar com o que se apoderou da nossa consciência...depois de termos passado horas,dias,semanas,a ler... É provavelmente neste sentido paradoxal que o culto e a prática das humanidades, o convívio assíduo com os livros e o estudo deles acabam por ser fatores de desumanização.

O tio chegou, a família está sentada em volta da mesa,fala-se da situação e o rapazinho que estava no fundo do jardim finge que está a prestar atenção. Mas dispõe de um silêncio que é só seu, tem assuntos apenas seus...Obedeceu ao chamamento, uma simples mudança de lugar, mas continua a desobedecer pensando noutra coisa. À mesa não se lê? Não faz mal,o livro continua a ler-se na cabeça dele...


Como o silêncio do punhal num peito, O silêncio do sangue a converter Em fio breve o coração desfeito Que nas pedras acaba de morrer, Vive em mim o teu nome, tão perfeito Que mais ninguém o pode conhecer! É a morte que vivo e não aceito; É a vida que espero não perder.Ninguém sabe falar a quem ama. Apenas no silêncio o amor se diz e escuta . Não digas nada Nem mesmo a verdade Há tanta suavidade Em nada se entender – Tudo metade De sentir e de ver… Não digas nada Deixa esquecer As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizívies quanto se possa crer. A maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço nunca tocado por nenhuma palavra. O vocabulário do amor é restrito e repetitivo, porque a sua melhor expressão é o silêncio. Mas é deste silêncio que nasce todo o vocabulário do mundo . Se não consegue entender o meu silêncio de nada irão adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão os meus mais profundos sentimentos. Mudo, mesmo se falo, e mudo ainda Na voz dos outros, todo eu me afogo Neste mar de silêncio, íntima noite Sem madrugada...Nada a não ser este silêncio tenso que faz do amor sozinho o amor imenso.



And sometimes it's a sad song...Versar+com= conversar+des=desconversar+ in= inconversar+a=aconversar

Versar é uma espécie de monólogo ou será um diálogo sem substância, um diálogo vazio? Conversar todos ou quase todos saberão ou que é, embora cada vez menos o façam.Desconversar é uma forma superior de conversa que poucos conseguem manter: é muito mais difícil desconversar do que conversar. Existe,também, uma inexistência vocabular, inconversar, que é ainda mais interessante do que desconversar. Para inconversar é necessária alguma intimidade, ninguém inconversa com desconhecidos. Por fim, mais difícil é aconversar( não exista confusão com "a conversar".) Gosto de versar e de conversar, adoro desconversar e inconversar, mas talvez a forma superior de comunicação seja aconversar - uma conversa sem palavras, pois estas são substítuidas pelo silêncio. Quando me sinto sozinha, gosto tanto de aconversar...Assim, a conversa nunca acabará, como não tem princípio também não tem fim...



The rhythm of his conversation, the perfection of his creation ... The way he felt when he first saw me hate to love and love to hate him like a broken record player back and forth and here and gone and on and on and on and on ...

No ponto onde o silêncio e a solidão Se cruzam com a noite e com o frio, Esperei como quem espera em vão, Tão nítido e preciso era o vazio.

Aqui me sentei quieta Com as mãos sobre os joelhos Quieta muda secreta Passiva como os espelhos...
Pudesse eu não ter laços nem limites Ó vida de mil faces transbordantes Para poder responder aos teus convites Suspensos na surpresa dos instantes!

It's the dark side of the moon When I see your face in black...


"Quero morrer a cantar, lalalalala, lalala, lala,la..." necas
"Quero ser cremado no dia 1 de abril...Pode ser que seja mentira...aaahahahah,ahah,ah..." zé
Deixem entrar mais luz!- goethe
Abram a janela. Quero ver o mar! - rosalía de castro
Ninguém me entende? -joyce
Mata-me! Ou serás um assassino! -kafka
Dá-me os óculos...- fernando pessoa



Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti, como de mim

Perde-se a vida, a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.





Finalmente uma resposta para todas as perguntas... É sempre no silêncio que se ocultam todas as respostas. Quando falamos, mentimos. Quando calamos, dizemos toda a verdade.... And the answer that you're seeking For the question that you found...



In a Manner of speaking I just want to say That I could never forget the way You told me everything By saying nothing In a manner of speaking I don't understand How love in silence becomes reprimand But the way that i feel about you Is beyond words O give me the words Give me the words That tell me nothing O give me the words Give me the words That tell me everything In a manner of speaking Semantics won't do In this life that we live we live we only make do And the way that we feel Might have to be sacrified So in a manner of speaking I just want to say That just like you I should find a way To tell you everything By saying nothing O give me the words Give me the words That tell me nothing O give me the words Give me the words Give me the word

Antigamente não compreendia por que motivo não obtinha nenhuma resposta às minhas perguntas; hoje não compreendo como é que pude acreditar que podia fazer perguntas. Na realidade, eu não acreditava, apenas perguntava.

Há perguntas que não conseguiríamos superar se não estivéssemos, por natureza, dispensados delas.

But nobody wants to know him They can see that he's just a fool And he never gives an answer...


Sente-se idiota: está atemática, ou melhor,intemática, uma vez que o tema que a invade ,esvaziando-lhe a mente,existe,mas não pode ser abordado. Porque não seria capaz. Porque não quer. Porque não deve. Não pode,não quer ou não deve? Que jogo vocabular sem qualquer afinidade com o conceito de jogo: existência de adversário/ parceiro; regras; divertimento/ piada. Enfim, joga sem jogar, o que aumenta as probabilidades, possibilidades e certezas epistémicas de não escrever, como é usual, nada que jeito tenha.

Onde estás?
A noite abre os seus ângulos de lua E em todas as paredes te procuro A noite ergue as suas esquinas azuis E em todas as esquinas te procuro A noite abre as suas praças solitárias E em todas as solidões eu te procuro Ao longo do rio a noite acende as suas luzes Roxas verdes azuis.Eu te procuro.

Perguntas de um Operário Letrado...
Quem construiu Tebas, a das sete portas? Nos livros vem o nome dos reis, Mas foram os reis que transportaram as pedras? Babilónia, tantas vezes destruída,Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas Da Lima Dourada moravam seus obreiros? No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde Foram os seus pedreiros? A grande Roma Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio Só tinha palácios Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida Na noite em que o mar a engoliu Viu afogados gritar por seus escravos. O jovem Alexandre conquistou as Índias Sozinho? César venceu os gauleses. Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço? Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha Chorou. E ninguém mais? Frederico II ganhou a guerra dos sete anos Quem mais a ganhou? Em cada página uma vitória. Quem cozinhava os festins? Em cada década um grande homem. Quem pagava as despesas? Tantas histórias Quantas perguntas.



Amo como o amor ama. Não sei razão pra amar-te mais que amar-te. Que queres que te diga mais que te amo, Se o que quero dizer-te é que te amo? Não procures no meu coração... Quando te falo, dói-me que respondas Ao que te digo e não ao meu amor. Quando há amor a gente não conversa: Ama-se, e fala-se para se sentir. Posso ouvir-te dizer-me que tu me amas, Sem que mo digas, se eu sentir que me amas. Mas tu dizes palavras com sentido, E esqueces-te de mim; mesmo que fales Só de mim, não te lembras que eu te amo. Ah, não perguntes nada, antes me fala De tal maneira, que, se eu fora surda, Te ouvisse toda com o coração. Se te vejo não sei quem sou; eu amo.

Às vezes, nos meus diálogos comigo, nas tardes requintadas da Imaginação, em colóquios cansados em crepúsculos de salões supostos, pergunto-me, naqueles intervalos da conversa em que fico a sós com um interlocutor mais eu do que os outros, por que razão verdadeira não haverá a nossa época científica estendido a sua vontade de compreender até aos assuntos que são artificiais. E uma das perguntas em que com mais languidez me demoro é a por que se não faz, a par da psicologia usual das criaturas humanas e sub-humanas, uma psicologia também — que a deve haver — das figuras artificiais e das criaturas cuja existência se passa apenas nos tapetes e nos quadros, Triste noção tem da realidade quem a limita ao orgânico, e não põe a ideia de uma alma dentro das estatuetas e dos lavores. Onde há forma há alma.

Um minuto inteiro de felicidade! Afinal, não basta isso para encher a vida inteira de um homem? ...

Era uma noite maravilhosa,uma dessas noites que apenas são possíveis quando somos jovens...O céu estava tão cheio de estrelas,tão luminoso,que quem erguesse os olhos para ele se veria forçado a perguntar a si mesmo: será possível que sob um céu assim possam viver homens irritados e caprichosos? A própria pergunta é pueril...mas oxalá o Senhor,amigo leitor,lha possa inspirar muitas vezes!...

Subitamente afigurou-se-me que estava só,abandonado por todos,que toda a gente se afastava de mim. Seria lógico que perguntasse a mim mesmo: mas quem é toda a gente? ... Mas que necessidade tenho eu de relações?...Fui tomado do receio de me encontrar só...

Na rua sentia-me indisposto ...e em minha casa também me sentia mal. Passei duas noites a perguntar a mim mesmo: que faltará no meu quarto? Por que razão me incomodará tanto aqui estar?


Não intenta formular nenhuma destas perguntas : talvez por recear ter de dar respostas,revelando o ser vulgar em que anda metamorfoseada...
A pergunta que a preocupa incide no estranho acaso lhe fez surgir, quase em simultâneo, dois textos que nunca imaginou relacionados: soares e dostoiévsk , que agradável surpresa...

Tu perguntas, e eu não sei,eu também não sei o que é o mar. É talvez uma lágrima caída dos meus olhos ao reler uma carta, quando é de noite.Os teus dentes, talvez os teus dentes, miúdos, brancos dentes, sejam o mar, um mar pequeno e frágil, afável, diáfano, no entanto sem música. Às vezes o mar é uma figura branca cintilando entre os rochedos. Não sei se fita a água ou se procura um beijo entre conchas transparentes. Eu também não sei o que é o mar. Aguardo a madrugada, impaciente,os pés descalços na areia.

Caminho a teu lado mudo Sentes-me, vês-me alheado... Perguntas, sim ou não, não sei...Tenho saudades de tudo...Até, porque está passado,Do próprio mal que passei. Sim, hoje é um dia feliz. Será, não sei, incerto Num princípio não sei quê Há um sentido que me diz Que isto — o céu largo e aberto — É só a sombra do que é... E lembro em meia-amargura Do passado, do distante, E tudo me é solidão... Que fui nessa noite escura? Quem sou nesta morte instante? Não perguntes... Tudo é vão.

Gozo os campos sem reparar para eles. Perguntas-me porque os gozo. Porque os gozo, respondo

Não tenho mais palavras.Gastei-as a negar-te...(Só a negar-te eu pude combater O terror de te ver Em toda a parte.) E lutei, como luta um solitário Quando alguém lhe perturba a solidão. Fechado num ouriço de recusas, Soltei a voz, arma que tu não usas, Sempre silencioso na agressão... Agora somos dois obstinados, Mudos e malogrados, Que apenas vão a par na teimosia.

Meu Bebé pequenino (e actualmente muito mau):

Sobre a informação, que te deram a meu respeito, não só quero repetir que é inteiramente falsa, como também dizer-te que a «pessoa de respeito», que deu essa informação a tua irmã, ou inventou por completo, e, sobre ser mentirosa, é doida; ou essa pessoa nem sequer existe, e foi tua irmã que a inventou — não digo que inventou a pessoa, mas que inventou que determinada pessoa lhe disse uma coisa que ninguém lhe disse.
Ora, comecemos por uma coisa: não há quem saiba se eu gosto de ti ou não, porque eu não fiz de ninguém confidente sobre o assunto. Partamos do princípio que essa «pessoa respeitável» não «saiba», mas calcule que eu gosto de ti. Como há-de haver uma base para calcular isso, é que essa pessoa viu entre nós qualquer troca de olhares, notou entre nós (ou, antes, neste caso, de mim para ti) qualquer coisa. Mas, para poder, ainda que por informações alheias, afirmar que na verdade eu gosto de ti, essa pessoa, não sendo nenhuma que aqui venha ao escritório, só pode ser alguém ou da família de meu primo (a quem ele tivesse falado das «suspeitas» que tem de vez em quando de eu gosto de ti)... Se já quase ninguém há (ninguém que o saiba por confidência minha, quase ninguém que o «calcule» de qualquer modo) que possa saber ao certo se eu te amo; menos há — aí então não há ninguém — que seja capaz de dizer que eu não te amo com ideias sérias. Para isso era preciso estar dentro de meu coração, e, ainda assim, era preciso ver mal, pois o que se via era asneira.
Quanto à afirmação da «mulher» que eu tenho, se não é inventada por ti para te arredares de mim, faz à pessoa respeitável (se ela existe) que informou tua irmã as seguintes perguntas:
1. Que mulher é?
2. Onde é que eu vivi ou vivo com ela, onde é que a vou ver (se nos supõem dois amantes vivendo em casas separadas), há quanto tempo tenho eu essa mulher?
3. Outras quaisquer informações indicando ou definindo essa «mulher».
Se toda a história não é invenção tua, garanto-te que dás com uma «retirada» imediata da pessoa que informou, a «retirada» de todos quantos são apanhados a mentir. E se a dita «pessoa respeitável» tiver o descaramento de dar detalhes, basta tu verificá-los, investigá-los. Verás que são mentiras, do princípio ao fim.
Ah, o que isto tudo é é um enredo qualquer — muito infame, mas, como muitas coisas infames, muito estúpido — para me afastar de ti! De quem partirá o enredo?



Começo a conhecer-me. Não existo./ Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,/ou metade desse intervalo, porque também há vida .../ Sou isso, enfim .../Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor. / Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo./ É um universo barato.

O homem no meio de uma escada hesitava...Os anos passavam e o homem continuava a hesitar: subo ou desço? Até que certo dia a escada caiu.

Quisera saber como és feito por dentro ... Como é a tua vontade por dentro, que coisas há naquela parte do teu sentir que tu não medes que sentes...

Qual a diferença entre final e fim? E afinal e afim? O final é mais definitivo do que o fim...Será? Existe enfim,mas não enfinal... Existe a final,o final e afinal... Existe o fim, mas não ofim... Só um idiota se preocuparia com isto...Afinal, é mesmo idiota.Enfim, assume-se como não louca e não doida, é apenas,simplesmente idiota...Uma idiota sem dostoiévski e ponto final.

Tell me why you cried And why you lied to me...




O nome de josé saramago, em outubro de 1998, é anunciado como prémio nobel da literatura. Recordo o misto de alegria e de orgulho que senti: saramago foi o meu romancista muito antes de o ser para o mundo.

As coisas da fisiologia são complicadas, deixemo-las para quem as conheça, muito mais se ainda for preciso percorrer as veredas do sentimento que existem dentro dos sacos lacrimais, averiguar, por exemplo, que diferenças químicas haverá entre uma lágrima de tristeza e uma lágrima de alegria, decerto aquela é mais salgada, por isso nos ardem os olhos tanto.

Todos nós sofremos duma doença, uma doença básica, digamos assim, esta que é inseparável do que somos e que, duma certa maneira, faz aquilo que somos, se não seria mais exacto dizer que cada um de nós é a sua doença, por causa dela somos tão pouco, também por causa dela conseguimos ser tanto….

Vivem em nós inúmeros, se penso ou sinto, ignoro quem é que pensa ou sente, e, não acabando aqui, é como se acabasse, uma vez que para além de pensar e sentir não há mais nada.

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira da cama...Lídia e Ricardo Reis, por tanto corpo darem e tomarem, não sei que deu a estes dois para de súbito se terem tornado tão carnalmente exigentes e dadivosos.

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.)Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente E sem desassosegos grandes.

Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se e contente; É um cuidar que ganha em se perder;É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Pede o desejo, Dama, que vos veja:
Não entende o que pede; está enganado.
É este amor tão fino e tão delgado,
Que quem o tem não sabe o que deseja.

Não há cousa, a qual natural seja,
Que não queira perpétuo o seu estado.
Não quer logo o desejo o desejado,
Só por que nunca falte onde sobeja.



Tanto de meu estado me acho incerto, que em vivo ardor tremendo estou de frio; sem causa, juntamente choro e rio, o mundo todo abarco e nada aperto. É tudo quanto sinto, um desconcerto; da alma um fogo me sai, da vista um rio; agora espero, agora desconfio, agora desvario, agora acerto. Estando em terra, chego ao Céu voando, num'hora acho mil anos, e é de jeito que em mil anos não posso achar um' hora. Se me pergunta alguém porque assim ando, respondo que não sei; porém suspeito que só porque vos vi, minha Senhora

Who are You?

Desta coita em que me vós tẽedes,
em que hoj'eu vivo tam sem sabor,
que farei eu, pois mi a vós nom creedes?
Que farei eu, cativo, pecador?
Que farei eu, vivendo sempre assi?
Que farei eu, que mal dia naci?
Que farei eu, pois me vós nom valedes?
Que farei eu, se logo nom morrer?
Que farei eu, se mais a viver hei?
Que farei eu, que conselh'i nom sei?
Que farei eu, que vós desemparades?



When the rain is blowing in your face And the whole world is on your case I could offer you a warm embrace To make you feel my love... Nobel da literatura?

"Então, e agora?"

Esse mal estar resume-se numa frase muito aterradora, e não sei o que farão os outros para a ultrapassarem: " Então, e agora?"

(...) as mulheres sentem uma curiosidade sem mescla, a sua mente é indagatória e curiosa mas também inconstante, não imaginam ou não antecipam a índole do que ignoram, do que pode vir a ser averiguado e do que pode vir a ser feito, não sabem que os atos se cometem sozinhos ou que uma só palavra os põe em marcha, precisam experimentar, não prevêem, talvez estejam dispostas a saber quase sempre, em princípio não temem nem suspeitam o que se possa contar-lhes, não se lembram que, depois de saber, às vezes tudo muda, inclusive a carne, ou a pele que se abre, ou algo que se rasga.

Às vezes tenho a sensação de que nada do que acontece acontece, porque nada acontece sem interrupção, nada perdura nem persevera nem se recorda incessantemente e até a mais monótona e rotineira das existências se vai anulando e negando a si mesma na sua aparente repetição até que nada seja nada e ninguém seja ninguém que tenha sido antes, e a frágil roda do mundo é empurrada por desmemoriados que ouvem e vêem e sabem o que não se diz nem sucede nem é cognoscível nem comprovável.

Bom já te casaste."Então, e agora?"

(…) totalmente impossível pensar no futuro, que é um dos maiores prazeres concebíveis para qualquer pessoa se não a diária salvação de todos: pensar vagamente, errar com o pensamento posto no que há de vir ou pode vir, perguntar-se sem muita concretude nem interesse pelo que será de nós amanhã mesmo ou dentro de cinco anos, pelo que não prevemos. Já na viagem de núpcias era como se houvesse sido perdido e não existisse o futuro abstrato, que é o que importa, porque o presente não o pode tingir nem assimilar.

Podemos calar-nos e calar-nos para sempre, mas convencemo-nos de que amamos mais porque contamos segredos, tantas vezes contar parece uma prenda que se dá, a maior prenda que se pode dar, a maior prova de lealdade, de amor e de entrega. E esforçamo-nos por contar. De repente, não nos contentamos em dizer palavras ardentes que se esgotam rapidamente ou se tornam repetitivas. E tão-pouco se contenta quem as escuta.

Só queria perguntar-te o que te perguntei, então e agora? Mas tu não me respondes.

Às vezes, nos meus diálogos comigo, nas tardes requintadas da Imaginação, em colóquios cansados em crepúsculos de salões supostos, pergunto-me, naqueles intervalos da conversa em que fico a sós com um interlocutor mais eu do que os outros, por que razão verdadeira não haverá a nossa época científica estendido a sua vontade de compreender até aos assuntos que são artificiais. E uma das perguntas em que com mais languidez me demoro é a por que se não faz, a par da psicologia usual das criaturas humanas e sub-humanas, uma psicologia também — que a deve haver — das figuras artificiais e das criaturas cuja existência se passa apenas nos tapetes e nos quadros, Triste noção tem da realidade quem a limita ao orgânico, e não põe a ideia de uma alma dentro das estatuetas e dos lavores. Onde há forma há alma.

Could you find me?

Have you had enough of me?

Quando se quebra uma chávena da minha colecção japonesa eu sonho que mais de que um descuido das mãos de uma criada tinha sido a causa, ou tinham estado os anseios das figuras que habitam as curvas daquela (...) de louça; a resolução tenebrosa de suicídio que as toma não me causa espanto: Serviu-se da criada, como eu me sirvo de um revólver. Saber isto é estar além e com que precisão eu sei isto!

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