Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

domingo, 7 de fevereiro de 2021

Melancolia, Elegias, Melancolismos...


HOMEM 
 foi há tanto tempo 
foi há tanto tempo há tanto tanto tempo
 foi tudo há tanto tempo 
há tanto tanto tempo

 MULHER 
 é foi tudo há tanto tempo
 há tanto tanto tempo
 e aconteceram tantas coisas 

HOMEM
 aconteceu tudo
 e nada 

MULHER
 aconteceram tantas coisas 


  A linguagem repetitiva é um dos traços definidores desta peça de teatro, que se desenrola num cemitério: complexa, estranha, é uma construção diferente de um tema antigo: amor acaba e a vida passa...


Um livro triste, muito triste...


 "Um menino está prestes a nascer - chamar-se-á Johannes como o avô e será pescador como o pai. Uma vida boa, é esse o desejo de quem o traz ao mundo, embora este seja um mundo duro, ruim e cruel. Um homem, velho e sozinho, morre - chama-se Johannes e foi pescador. É o seu melhor amigo que o vem buscar rumo a esse destino onde não há corpos nem palavras, apenas tudo aquilo que se ama. Antes do regresso definitivo ao nada, Johannes revisita o museu da sua vida, longa, simples e quotidiana, confrontando-se paulatinamente com a morte num constante entrelaçamento de real e alucinação, passado e presente."



E nada disto tinha nome. Não eram irmãos, nem amantes. Existe outra coisa e eles sabiam isso vagamente. Existe um certo tipo de amizade que é mais profunda e mais densa do que a dos gémeos no útero materno.

É esse o  sentido do amor e da amizade. A amizade deles era tão séria e silenciosa como todos os grandes sentimentos destinados a durar uma vida inteira. E tal como todos os grandes sentimentos, também continha certa dose de pudor e culpa. Uma pessoa não  se pode apropriar impunemente de outra, separando-a das restantes.
 

 De duas em duas semanas confessavam-se, preparavam juntos a lista de pecados. Os desejos faziam-se sentir no sangue, nos nervos...Mas viviam uma vida pura, como se a amizade, cuja capa mágica cobria as suas vidas jovens, compensasse tudo aquilo que atormentava e arrepiava os outros, os curiosos e irrequietos e os perseguia para as regiões obscuras, infernais da existência. 

  Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela vida e pelas pessoas, sabes, pouco a pouco torna-se tudo tão real, conhece o significado das coisas, tudo se repete tão terrível e fastidiosamente. Isso também é velhice. Quando já sabe que um corpo não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem, um ser mortal, faça o que fizer… Depois envelhece o seu corpo; nem tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim, por partes. A seguir, de repente, começa a envelhecer a alma: porque por mais enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer. E quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações, ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e definitivamente. Um dia acordas e esfregas os olhos: já não sabes porque acordaste. O que o dia te traz, conheces tu com exactidão: a Primavera ou o Inverno, os cenários habituais, o tempo, a ordem da vida. Não pode acontecer nada de inesperado: não te surpreende nem o imprevisto, nem o invulgar ou o horrível, porque conheces todas as probabilidades, tens tudo calculado, já não esperas nada, nem o bem, nem o mal… e isso é precisamente a velhice.

Começar assim o dia deixa qualquer mulher melancólica...

Esta enfermidade é particularmente visível em mulheres de idade, e como tal são pobres, solitárias, vivem na mais básica estima e são pedintes, ou são bruxas.;








Something's gotta give We can't carry on like this One year on and more unsure Where do we go from here? Many nights and many days I've spent with you Talking about what we should do I can't say Nothing's clear to me no more One more sleepless night And another wasted day This song has no end Too many words fill my mind You gave so much too soon No longer sure where you want to be Turn around See what you have found Let's drink to absent friends How they cared, and all they shared We took our life to the edge They still try to understand Time is running out You're going down Come on, let's go wherever they may be Make a choice Stay behind or follow me



Elegia na sombra: Lenta, a raça esmorece, e a alegria É como uma memória de outrem. Passa Um vento frio na nossa nostalgia E a nostalgia touca a desgraça. Pesa em nós o passado e o futuro. Dorme em nós o presente. E a sonhar A alma encontra sempre o mesmo muro, E encontra o mesmo muro ao despertar. Quem nos roubou a alma? Que bruxedo De que magia incógnita e suprema Nos enche as almas de dolência e medovNesta hora inútil, apagada e extrema? Os heróis resplandecem a distância Num passado impossível de se ver Com os olhos da fé ou os da ânsia; Lembramos névoas, sonhos a esquecer. Que crime outrora feito, que pecado Nos impôs esta estéril provação Que é indistintamente nosso fado Como o sentimos bem no coração? Que vitória maligna conseguimos — Em que guerras, com que armas, com que armada? — Que assim o seu castigo irreal sentimos Colado aos ossos desta carne errada? Terra tão linda com heróis tão grandes, Bom Sol universal localizado Pelo melhor calor que aqui expandes, Calor suave e azul só a nós dado.(...) Que é um vácuo azul? Dorme, que nada sente Nem paira mais no ar, que fora almo Se não fora a nossa alma erma e vazia, Que o nosso fado, vento frio e calmo E a tarde de nós mesmos, baça e fria Como longínquo sopro altivo e humano Essa tarde monótona e serena Em que, ao morrer o imperador romano Disse: Fui tudo, nada vale a pena.

Pequena elegia de setembro: Não sei como vieste... Estás sentada no jardim, as mãos no regaço cheias de doçura, os olhos pousados nas últimas rosas dos grandes e calmos dias de setembro. Que música escutas tão atentamente que não dás por mim? Que bosque, ou rio, ou mar? Ou é dentro de ti que tudo canta ainda? Queria falar contigo, dizer-te apenas que estou aqui, mas tenho medo, medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas. Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória. Com que palavras ou beijos ou lágrimas...? Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura, sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim.

Texto de apresentação, escrito por Vinicius para a primeira edição:

Dessas cinco elegias, as quatro primeiras foram ideadas e em parte escritas - a primeira e a segunda integralmente - em 1937, em Itatiaia, no sítio de Octávio de Faria, ali a meio caminho entre Campo Belo e a Cachoeira de Marombas, lugar que amo e onde passei alguns dos meus melhores dias. Nesse tempo, a terceira, essa que aqui vai com o título de "Desesperada", era para ser na realidade a quarta; em substituição havia outra; que se deveria chamar "Intermédio elegíaco" e afinal se transformou num drama lírico, com que ainda hoje ando lidando. Iniciada nessa ocasião, só fui terminá-la em fins de 1938, em Oxford, quando, estudante, ali assisti. A atual quarta foi a única que me perseguiu, inacabada, ao longo de todos esses anos.Há coisa de um mês, de repente, resolveu-se.Quanto à última, escrevi-a de jato, naquele maio de 1939, em Londres, vendo, do meu apartamento, a manhã nascer sobre os telhados novos do bairro de Chelsea. A qualidade da experiência vivida e o lugar onde a vivi criaram-lhe espontaneamente a linguagem em que se formou, mistura de português e inglês, com vocábulos muitas vezes inventados e sem chave morfológica possível. Mas não houve sombra de vontade de parecer original. É uma fala de amor como a falei, virtualmente transposta para a poesia, na qual procurei traduzir,dentro de sonoridades estanques de duas línguas que me são tão caras e com arranjos gráficos e ordem puramente mnemônica, isso que foi a maior aventura lírica da minha vida.
V.M.Junho de 1943

Elegia ao primeiro amigo

Seguramente não sou eu Ou antes: não é o ser que eu sou, sem finalidade e sem história. É antes uma vontade indizível de te falar docemente De te lembrar tanta aventura vivida, tanto meandro de ternura Neste momento de solidão e desmesurado perigo em que me encontro. Talvez seja o menino que um dia escreveu um soneto para o dia de teus anos E te confessava um terrível pudor de amar, e que chorava às escondidas Porque via em muitos dúvidas sobre uma inteligência que ele estimava genial. Seguramente não é a minha forma.
A forma que uma tarde, na montanha, entrevi, e que me fez tão tristemente temer minha própria poesia. É apenas um prenúncio do mistério Um suspiro da morte íntima, ainda não desencantada... Vim para ser lembrado Para ser tocado de emoção, para chorar Vim para ouvir o mar contigo Como no tempo em que o sonho da mulher nos alucinava, e nós Encontrávamos força para sorrir à luz fantástica da manhã. Nossos olhos enegreciam lentamente de dor Nossos corpos duros e insensíveis Caminhavam léguas — e éramos o mesmo afeto Para aquele que, entre nós, ferido de beleza Aquele de rosto de pedra De mãos assassinas e corpo hermético de mártir Nos criava e nos destruía à sombra convulsa do mar. Pouco importa que tenha passado, e agora Eu te possa ver subindo e descendo os frios vales
Ou nunca mais irei, eu Que muita vez neles me perdi para afrontar o medo da treva... Trazes ao teu braço a companheira dolorosa
A quem te deste como quem se dá ao abismo, e para quem cantas o teu desespero como um grande pássaro sem ar. Tão bem te conheço, meu irmão; no entanto Quem és, amigo, tu que inventaste a angústia E abrigaste em ti todo o patético? Não sei o que tenho de te falar assim: sei Que te amo de uma poderosa ternura que nada pede nem dá Imediata e silenciosa; sei que poderias morrer E eu nada diria de grave; decerto Foi a primavera temporã que desceu sobre o meu quarto de mendigo Com seu azul de outono, seu cheiro de rosas e de velhos livros... Pensar-te agora na velha estrada me dá tanta saudade de mim mesmo Me renova tanta coisa, me traz à lembrança tanto instante vivido: Tudo isso que vais hoje revelar à tua amiga, e que nós descobrimos numa incomparável aventura Que é como se me voltasse aos olhos a inocência com que um dia dormi nos braços de uma mulher que queria me matar. Evidentemente (e eu tenho pudor de dizê-lo) Quero um bem enorme a vocês dois, acho vocês formidáveis Fosse tudo para dar em desastre no fim, o que não vejo possível (Vá lá por conta da necessária gentileza...) No entanto, delicadamente, me desprenderei da vossa companhia, deixar-me-ei ficar para trás, para trás... Existo também; de algum lugar Uma mulher me vê viver; de noite, às vezes Escuto vozes ermas Que me chamam para o silêncio. Sofro O horror dos espaços O pânico do infinito O tédio das beatitudes. Sinto Refazerem-se em mim mãos que decepei de meus braços Que viveram sexos nauseabundos, seios em putrefação. Ah, meu irmão, muito sofro! de algum lugar, na sombra Uma mulher me vê viver... — perdi o meio da vida E o equilíbrio da luz; sou como um pântano ao luar. Falarei baixo Para não perturbar tua amiga adormecida Serei delicado. Sou muito delicado. Morro de delicadeza. Tudo me merece um olhar. Trago Nos dedos um constante afago para afagar; na boca Um constante beijo para beijar; meus olhos Acarinham sem ver; minha barba é delicada na pele das mulheres. Mato com delicadeza. Faço chorar delicadamente E me deleito. Inventei o carinho dos pés; minha palma Áspera de menino de ilha pousa com delicadeza sobre um corpo de adúltera. Na verdade, sou um homem de muitas mulheres, e com todas delicado e atento Se me entediam, abandono-as delicadamente, desprendendo-me delas com uma doçura de água Se as quero, sou delicadíssimo; tudo em mim Desprende esse fluido que as envolve de maneira irremissível Sou um meigo energúmeno. Até hoje só bati numa mulher Mas com singular delicadeza. Não sou bom Nem mau: sou delicado. Preciso ser delicado Porque dentro de mim mora um ser feroz e fratricida Como um lobo. Se não fosse delicado Já não seria mais. Ninguém me injuria Porque sou delicado; também não conheço o dom da injúria. Meu comércio com os homens é leal e delicado; prezo ao absurdo A liberdade alheia; não existe Ser mais delicado que eu; sou um místico da delicadeza Sou um mártir da delicadeza; sou Um monstro de delicadeza. Seguramente não sou eu: É a tarde, talvez, assim parada Me impedindo de pensar. Ah, meu amigo Quisera poder dizer-te tudo; no entanto Preciso desprender-me de toda lembrança; de algum lugar Uma mulher me vê viver, que me chama; devo Segui-la, porque tal é o meu destino. Seguirei Todas as mulheres em meu caminho, de tal forma Que ela seja, em sua rota, uma dispersão de pegadas Para o alto, e não me reste de tudo, ao fim Senão o sentimento desta missão e o consolo de saber Que fui amante, e que entre a mulher e eu alguma coisa existe Maior que o amor e a carne, um secreto acordo, uma promessa De socorro, de compreensão e de fidelidade para a vida.




Depois dos primeiros desesperos, desabafos em patadas no soalho e blasfémias de que pedia logo perdão a Nosso Senhor Jesus Cristo, quis serenar, estabelecer a razão das coisas. Aonde o levava aquela paixão? Ao escândalo. E assim, casada ela, cada um entrava no seu destino legítimo e sensato - ela na sua família, ele na sua paróquia. Depois, quando se encontrassem, um cumprimento amável; e ele poderia passear a cidade com a sua cabeça bem direita, sem medo dos apartes da Arcada, das insinuações da gazeta, das severidades de sua excelência e das picadinhas da consciência! E a sua vida seria feliz. - Não, por Deus! a sua vida não poderia ser feliz sem ela! Tirado à sua existência aquele interesse das visitas à Rua da Misericórdia, os apertozinhos de mão, a esperança de delícias melhores - que lhe restava a ele? Vegetar, como um dos tortulhos nos cantos húmidos da Sé! E ela, ela que o entontecera com os seus olhinhos e as suas maneirinhas, voltava-lhe as costas mal lhe aparecia outro, bom para marido, com 25$000 por mês! Todos aqueles suspiros, aquelas mudanças de cor - chalaça! Mangara com o senhor pároco!

Isto só se podia observar pelos ombros, já que o resto do corpo estava coberto por uma manta comum, mas os corpos sentiam esse contacto amortecido pelas roupas de um modo tão suavemente indistinto como o que nos dá a ver as coisas numa noite de luar...A transmissão refinada do desejo do corpo para as roupas, do abraço para os obstáculos, numa palavra, do objectivo para o caminho, ia ao encontro da sua natureza. A sua sensualidade atraía-o para a mulher, mas as outras forças superiores afastavam-no sa pessoa estranha que não se lhe ajustava e que subitamente via à sua frente,de modo que estava sempre dividido, numa viva contradição entre atracção e repulsa.(...)lembrava-se com frequência da despedida aquando da sua primeira visita:segurara então na sua mão suave,uma mão sem peso,artificial e nobre na sua perfeição, e ambos se olharam nos olhos,sentiram certamente a mesma aversão, mas depois perceberam que se poderiam fundir até se extinguirem como um sopro. Algo dessa visão permacera entre eles. Deste modo, temos em cima duas cabeças que se olham com uma frieza extrema, enquanto em baixo os corpos se fundem sem resistência e chegam ao rubro.Há nisto qualquer coisa da força maléfica dos mitos...

Por vezes sonhei elaborar um sistema de conhecimento humano baseado no erotismo. Uma teoria do contacto na qual o mistério e a dignidade de outrem consistiriam precisamente em oferecer ao Eu esse ponto de ligação com um mundo desconhecido. A volúpia seria, nessa filosofia, a forma mais completa e mais especializada de aproximação com o Outro, uma técnica a mais colocada a serviço do conhecimento de uma individualidade estranha à nossa. Nos encontros, mesmo os menos sensuais, é ainda no contacto que a emoção nasce ou morre, tal como acontece com a mão um tanto repugnante da velha que me apresenta uma petição, a fronte húmida do meu pai em agonia, ou a chaga lavada de um ferido. As próprias relações mais intelectualizadas, ou as mais neutras, ocorrem através desse sistema de sinais materiais: o olhar subitamente iluminado do tribuno a quem explico determinada manobra numa manhã de batalha; a saudação impessoal do subalterno que a nossa passagem imobiliza em atitude de obediência; o olhar amistoso do escravo a quem agradeço por trazer-me uma bandeja; ou a expressão apreciadora de um velho amigo ante o camafeu grego com que acabamos de presenteá-lo. Com a maior parte das pessoas, os mais ligeiros ou mais superficiais desses contactos bastam a nosso desejo, ou até o excedem. Que esses mesmos contactos insistam e se multipliquem em torno de uma criatura única até bloqueá-la toda inteira; que cada detalhe de um corpo apresente para nós tantas significações perturbadoras como os traços de um rosto; que um único ser, em vez de nos inspirar quando muito irritação, prazer ou aborrecimento, nos obsidie como uma melodia ou nos atormente como um problema; que esse ser passe da periferia do nosso universo ao seu centro, que se torne mais indispensável do que nós próprios, e estará realizado o admirável prodígio: assistiremos então à invasão da carne pelo espírito, e não mais um passatempo do corpo.

Será que é isto estar apaixonado: "Um ser passar da periferia do nosso universo ao seu centro!?

Have you no idea that you're in deep? I've dreamt about you nearly every night this week How many secrets can you keep? 'Cause there's this tune I've found That makes me think of you somehow And I play it on repeat Until I fall asleep Spilling drinks on my settee...



Foi então que uma melancolia momentânea me apertou o coração: pensei que as palavras acabamento ,perfeição, contêm em si a palavra fim: talvez eu tivesse somente oferecido mais uma presa ao tempo devorador.

Começa, no ar da antemanhã, A haver o que vai ser o dia. É uma sombra entre as sombras vã. Mais tarde, quanto é a manhã Agora é nada, noite fria. É nada, mas é diferente Da sombra em que a noite está: E há nela já a nostalgia Não do passado, mas do dia Que é afinal o que será.

O que diz o dicionário sobre nostalgia? Melancolia, tristeza causada pela saudade da sua terra ou da sua pátria; Saudade do passado, de um lugar. Disfunções comportamentais causadas pela separação ou isolamento do país natal, pela ausência da família e pela vontade exacerbada de regressar à pátria. Saudade de alguma coisa, de uma circunstância já passada ou de uma condição que deixou de possuir. Condição melancólica causada pelo anseio de ter os sonhos realizados.Condição daquele que é triste sem motivos explícitos.

Lenta, a raça esmorece, e a alegria
É como uma memória de outrem. Passa
Um vento frio na nossa nostalgia
E a nostalgia touca a desgraça.


Tantos poemas contemporâneos! Tantos poetas absolutamente de hoje — Interessante tudo, interessantes todos...Ah, mas é tudo quase...É tudo vestíbulo E tudo só para escrever. Nem arte, Nem ciência Nem verdadeira nostalgia...

O que é a melancolia?
Tristeza vaga e indefinida; estado de tristeza, traduzido pelo sentimento de dor moral e caracterizado pela inibição das funções motoras e psicomotoras; enfraquecimento mental e/ou físico, cuja ocorrência ocasiona certas complicações psiquiátricas... Abatimento, desânimo, esmorecimento, languidez, misantropia, prostração e tristeza...
Etimologicamente, o vocábulo tem uma raiz bastante "negra": segundo hipócrates, melancolia é um dos quatro humores corporais que, por influência de saturno, é produzido, em excesso, pelo baço. Bem prosaica, na origem, enaltecida pelos românticos, a melancolia chega até nós, adulterada por psiquiatras e psicanalistas: síndrome mental que se caracteriza pela sensação de impotência, inutilidade, pensamentos negativos, dificuldade de concentração, falta de apetite, ansiedade, insónia e ideias constantes de morte; um estado emocional semelhante ao processo de luto, mas sem que exista uma perda.

Ah quanta melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,
Que sinto inútil e fria
Dentro do meu coração.




Y en este titubeo de aliento y agonía, cargo lleno de penas lo que apenas soporto. ¿No oyes caer las gotas de mi melancolía?

As ruínas do tempo são tristes mas belas, as que as revoluções trazem ficam marcadas com o cunho solene da história. Mas as brutas degradações e as mais brutas reparações da ignorância, os mesquinhos consertos da arte parasita, esses profanam, tiram todo o prestígio.



You want her, you need her And yet you don't believe her When she says her love is dead You think she needs you...I know what I have and want But I don't know what I need Well, he said, he said, he said, he said "Where we're going, I'm dead...

Nem um poema nem um verso nem um canto tudo raso de ausência tudo liso de espanto e nem Camões Virgílio Shelley Dante
o meu amigo está longe e a distância é bastante. Nem um som nem um grito nem um ai tudo calado todos sem mãe nem pai Ah não Camões Virgílio Shelley Dante! o meu amigo está longe e a tristeza é bastante. Nada a não ser este silêncio tenso que faz do amor sozinho o amor imenso. Calai Camões Virgílio Shelley Dante:o meu amigo está longe e a saudade é bastante!


Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo. E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar. Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas. Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. Todo eu sou qualquer força que me abandona. Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.



amor podes mandar se for sincero, saudades isso não pois não as quero/ Quando eu morrer... quero uma fita amarela gravada com o nome dela.

Ah quanta melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,
Que sinto inútil e fria
Dentro do meu coração!


Exegi monumentum aere perennius regalique situ pyramidum altius, quod non imber edax, non Aquilo inpotens possit diruere aut innumerabilis annorum series et fuga temporum. Este monumento é o texto perfeito, a obra imorredoura. Sem a grandiosidade, o que não implica necessariamente, extensão, mas sim uma organização intrínseca, não existe literatura de qualidade.
Recordo o dia seis de setembro de 2013. Que pena não ter feito,nesse dia, uma reflexão sobre perfeição estrutural... Agora, três anos depois, já não consigo reconstituir a emoção que senti...Só subsite a recordação melancólica desse momento...


Ressentimentos passam com o vento São coisas de momento São chuvas de verão Trazer uma aflição dentro do peito É dar vida a um defeito Que se extingue com a razão Estranha no meu peito Estranha na minha alma Agora eu tenho calma Não te desejo mais...

Podem as palavras morrer. Eu estou ainda próximo da noite.
Coleciono lutos,água de faianças,
animais do espírito,demasias.
Coleciono tudo os que as palavras não dizem:
uma feroz tranquilidade,um inventário de silêncios,
um catálogo de medos,
tudo o que não sei dizer sem as palavras.


O homem principia onde a morte o edifica.
A palavra, nunca será a exata habitação
do medo.


Na amena costa da Riviera francesa, mais ou menos a meio caminho entre Marselha e a fronteira italiana, ergue-se um vasto e soberbo hotel pintado de cor-de-rosa.

Eu eduquei - te para o trabalho - não especialmente para o casamento.Agora vai em frente e aproveita essa experiência. Magoa-te ou magoa-o a ele - aconteça o que acontecer,não perdes nada,pois economicamente és um rapaz,não uma rapariga.
Encontravam-se ainda na fase feliz do amor.Estavam cheios de corajosas ilusões a respeito um do outro,ilusões tremendas,de tal modo que a sua comunhão mútua parecia dar-se numa esfera onde mais nenhuma relação humana importava.

Estar física e espiritualmente sozinho gera solidão,e a solidão gera mais solidão.



Dizer a verdade, encontrar o que se espera, negar a ilusão de tudo — quantos o usam na subsidência e no declive, e como os nomes ilustres mancham de maiúsculas, como as de terras geográficas, as agudezas das páginas sóbrias e lidas! Cosmorama de acontecer amanhã o que não poderia ter sucedido nunca! Lápis-lazuli das emoções descontínuas! Quantas memórias alberga uma suposição factícia, lembras-te, visão somente? E num delírio intersticiado de certezas, leve, breve, suave, o murmúrio da água de todos os parques nasce, emoção, do fundo da minha consciência de mim...


Quando eu me sento à janela
P'los vidros qu'a neve embaça
Julgo ver imagem dela
Que já não passa... não passa.




She said, "I know what it's like to be dead. I know what it is to be sad." And she's making me feel like I've never been born I said, Who put all those things in your head? Things that make me feel that I'm mad. And you're making me feel like I've never been born."She said, "You don't understand what I said." I said, "No, no, no, you're wrong. When I was a boy everything was right, Everything was right." I said, "Even though you know what you know, I know that I'm ready to leave 'Cause you're making me feel like I've never been born." She said, "You don't understand what I said."I said, "No, no, no, you're wrong. When I was a boy everything was right,Everything was right." I said, "Even though you know what you know, I know that I'm ready to leave 'Cause you're making me feel like I've never been born." She said, "I know what it's like to be dead. I know what it is to be sad. I know what it's like to be dead...


"Estás só. Ninguém o sabe.
Cala e finge. Mas finge sem fingimento.
Nada esperes que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada."

murmurou estas palavras em outro tempo escritas,e desprezou-as por não exprimirem a solidão, só o dizê-la,também ao silêncio e ao fingimento, por não serem capazes de mais dizer,porque elas não são, as palavras, aquilo que declaram estar só, caro senhor, é muito mais conseguir dizê-lo e tê-lo dito.



Mas pra quê? Pra quê tanto céu? Pra quê tanto mar? Pra quê? De quê serve Esta onda Que quebra? E o vento De tarde? De que serve A tarde? Inútil paisagem...


Sofro, Lídia, do medo do destino.
Qualquer pequena cousa de onde pode
Brotar uma ordem nova em minha vida,
Lídia, me aterra.



Bravo, vejo que você se cansou de idealidades femininas incorpóreas, trocou a Lídia etérea por uma Lídia de encher as mãos e agora está aqui à espera doutra dama(...)Adeus, caro Reis, até um destes dias, deixo-o a namorar a pequena, você afinal desilude-me,amador de criadas,cortejador de donzelas,estimava-o mais quando você via a vida à distância a que está.


Adéu, adéu amor meu i sort


Qualquer cousa, qual seja, que transforme
Meu plano curso de existência, embora
Para melhores cousas o transforme,
Por transformar
Odeio, e não o quero. Os deuses dessem
Que ininterrupta minha vida fosse
Uma planície sem relevos, indo
Até ao fim...



Cada momento que a um prazer não voto
Perco, nem curo se o prazer me é dado;
Porque o sonho de um gozo
No gozo não é sonho.



Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no Inverno os arvoredos,
Nem pela Primavera
Têm branco frio os campos.

À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida...




Mi viejo refran, mi poema, la fe que perdi no camino mi carreta . Mi dulce placer, mi sueño de ayer...

Mi fuente, mi sed, mi barco, mi red y la arena. Donde te sentí donde te escribí mi poema.

Esplendor do nada, nome do abismo, sossego do Além...Virgem eterna antes dos deuses e dos pais dos deuses, e dos pais dos pais dos deuses, infecunda de todo o mundo, estéril de todas as almas. A ti são oferecidos os dias e os seres; os astros são votos no teu templo e o cansaço dos deuses volta ao teu regaço como a ave ao ninho que não sabe como fez. Que do auge da angústia se aviste o dia, e, se nenhum dia se aviste, que seja esse o dia que se aviste!
Esplende, ausência de sol, brilha, luar que cessas...Só tu, sol que brilhas, alumias as cavernas, porque as cavernas são tuas filhas.


Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.


Lídia, a vida mais vil antes que a morte,
Que desconheço, quero; e as flores colho
Que te entrego, votivas
De um pequeno destino.



Dia após dia a mesma vida é a mesma.
O que decorre, Lídia,
No que nós somos como em que não somos
Igualmente decorre.
Colhido, o fruto deperece; e cai
Nunca sendo colhido.
Igual é o fado, quer o procuremos,
Quer o esperemos. Sorte
Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa
Forma alheio e invencível.



A cada qual, como a estatura, é dada
A justiça: uns faz altos
O fado, outros felizes.
Nada é prémio: sucede o que acontece.
Nada, Lídia, devemos
Ao fado, senão tê-lo.



Rezo a ti o meu amor porque o meu amor é já uma oração; mas nem te concebo como amada nem te ergo ante mim como santa.Que os teus actos sejam a estátua da renúncia, os teus gestos o pedestal da indiferença, as tuas palavras os vitrais da negação.

Uma tristeza de crepúsculo, feita de cansaços e de renúncias falsas, um tédio de sentir qualquer coisa, uma dor como de um soluço parado ou de uma verdade obtida. Desenrola-se-me na alma desatenta esta paisagem de abdicações - áleas de gestos abandonados, canteiros altos de sonhos nem sequer bem sonhados, inconsequências, como muros de buxo dividindo caminhos vazios, suposições, como velhos tanques sem repuxo vivo, tudo se emaranha e se visualiza pobre no desalinho triste das minhas sensações confusas...

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