Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Misérias...

O que não sabe
 De cor poemas como os que salvaram 
 Literalmente os soldados que, vencidos 
 E condenados a morrer à míngua 
 Ou a serem vendidos como escravos - 
 Atenienses contra Siracusa -, 
 Deram aos inimigos, mais valioso 
 Do que ouro podia ser, versos de Eurípides, 
 E em troca disso foram libertados.

 

A terceira miséria é esta, a de hoje. 

A de quem já não ouve nem pergunta.

A de quem não recorda. E, ao contrário

Do orgulhoso Péricles, se torna 

Num entre os mais, num entre os que se entregam,

Nos que vão misturar-se como um líquido

Num líquido maior, perdida a forma,

 Desfeita em pó a estátua. 




  De que armas disporemos, senão destas
 Que estão dentro do corpo: o pensamento, 
 A ideia de polis, resgatada 
 De um grande abuso, uma noção de casa
 E de hospitalidade e de barulho 
 Atrás do qual vem o poema, atrás 
 Do qual virá a colecção dos feitos 
 E defeitos humanos, um início.

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