Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Artistas...

Sei que começo a despropósito, mas não sei como dizer-te o que me trouxe aqui. Tenho de dizê-lo agora, mais tarde seria uma doença. Ter-te diante de mim e adiar a confissão de que vim para te ver.

Penso na decisão de ser o último. Na decisão de baixar, como a febre, às bermas dos outros quando dormem no desvão. Na decisão de nunca mais adoecer sozinho. 
Quero estar ao lado dos que não têm amparo, ser eu a perguntar-lhes, estás melhor?

Bato à porta do teu quarto mesmo quando sei que não estás. Descobri agora quanto custa aos mendigos, não digo a fome, mas não haver ninguém.


Sinto a terra tremer. Tu estás tão quieta a enfiar a linha nas agulhas. A passagem é tão estreita. A salvação. Eu quero emagrecer. Eu quero perder tudo. 


  Aproxima-te. Preciso dos teus olhos acesos para não me despenhar no vazio. Para não ter frio.


" A arte contemporânea como ponto de partida; a literatura pega nela e vai indo sem olhar um segundo para trás; calcula-se o vago ponto zero – o nome de um artista, uma obra – mas tudo o que vem a seguir existe nesse texto que começa a pensar pela sua própria cabeça. Um texto tem cabeça e é com ela que o texto pensa. Basta um indício visual para a linguagem se pôr a caminho e avançar por veredas estreitas e desvios a pique, subidas e descidas.Interessa-me isto: a arte que se vê como modo de emitir por trás de si uma linguagem que é necessário extrair do solo da própria obra à força. O olhar de quem escreve faz isso: o que vê transforma-se em palavra, mas há neste começo claro, – as obras de arte contemporâneas – uma potência que conduz o texto por dentro.(...)


Este Dicionário de Artistas, este Museu, parte de um pormenor, detalhe ínfimo ou centro centralíssimo, da obra de um artista, nunca da biografia, e daí o texto vai para outro local qualquer. Como um animal que tem fome parte do ninho para um ponto onde pressente o alimento, assim parte o texto à sua vida. Mas nada de didático ou explicativo, os textos deste Dicionário são seres autónomos que saem à rua livres e bem sozinhos depois da meia-noite."

Bastou ler os nomes referidos na contracapa para experimentar o incómodo de ser confrontada com a minha ignorância: conheço unicamente cinco nomes... Desses  cinco,  só dois têm para mim algum significado: Arte contemporânea não é , de todo, a minha especialidade....


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