José Saramago

sexta-feira, 30 de junho de 2023

Amores...

"Julian Barnes  em Arthur & George recria o caso que aconteceu nos finais do século XIX e ficou conhecido no Reino Unido como “Os Ultrajes de Great Wyrley”. O romance aproxima-se dos percursos vivenciais das duas personagens, Arthur e George, ao mesmo tempo que explora as suas particularidades psicológicas. O intimismo e a autorreflexão são recursos constantes na recriação das circunstâncias que levaram à condenação injusta de George Edalji a uma pena de prisão e à intervenção em seu favor por parte do famoso escritor, Sir Arthur Conan Doyle. Traços pós-modernistas dominam no romance, onde não existem respostas definitivas nem verdades absolutas. Um pormenor que parece irrefutável é a atitude preconceituosa e incompetente de um sistema judicial que se esperava justo e eficaz, numa sociedade civilizada como a da Inglaterra de então." 

Anabela Cristina  Antunes Pereira


Sinopse
"Oliver, Stuart e Gillian. Oliver é o melhor amigo de Stuart e Stuart é o melhor amigo de Oliver. Gillian é namorada de Stuart, com quem virá a casar. Oliver e Stuart não podiam ser mais diferentes: o primeiro, extravagante, está convencido de que é uma luminária; o segundo é sóbrio, tímido e ligado ao «lado prático da vida». Gillian é bonita, inteligente, e ama Stuart; defende que falar de alguém ou de um assunto de forma exaustiva (como propõe o título original em inglês, Talking It Over) só é bom quando não somos o objeto em análise. Depois do casamento, uma explosão: Oliver descobre que está apaixonado por Gillian. Para contar esta história atribulada, cómica e errática, os três revezam-se na narração - com os seus pontos de vista, tiques e tópicos preferidos. Porém, o que começa como uma comédia de equívocos depressa desliza para uma exploração sombria e profunda dos pântanos da alma. Uma história interminável."


Acho que devemos fazer a coisa proibida ...senão sufocamos....Mas sem sentimento de culpa e sim como aviso de que somos livres....Clarice Lispector 

"Mario Benedetti (1920-2009), escritor uruguaio, é um dos principais autores da literatura sul-americana do século XX, detentor de uma extensa obra composta por mais de meia centena de títulos de poesia, romance, ensaio e textos teatrais. Intelectual participante ativo nos problemas do seu país, colabora e exerce vários cargos no jornalismo literário. É nomeado, em 1971, diretor do Departamento de Literatura da Universidade de Montevideo, porém, o golpe militar de 1973 e as suas convicções políticas numa América Latina em plena convulsão obrigam-no a sucessivos exílios: primeiro na Argentina, posteriormente no Peru, onde é detido e deportado, sucessivamente para Cuba, finalmente para Espanha. A publicação, em 1960, do romance A Trégua granjeia-lhe enorme sucesso: o livro totaliza mais de 100 edições e é traduzido em 20 línguas, com adaptações ao teatro, à rádio e ao cinema. De Mario Benedetti, destacam-se, igualmente, de 1965, o romance Obrigada pelo Lume e, de 1992, A Borra do Café." 

  A trégua é considerado o romance emblemático da literatura sul-americana e uma das histórias de amor mais comoventes da literatura moderna.Em Buenos Aires, dois amantes vivem um amor que transgride todas as convenções sociais. Martín Santomé é viúvo há mais de vinte anos e praticamente criou os filhos sozinho. Confidencia ao seu diário que se sente cansado de um quotidiano sedentário no escritório e que de dia para dia agravam-se os conflitos geracionais com os seus filhos. O seu único alento é a reforma, para a qual faltam seis meses e vinte e oito dias. Tudo muda quando surge uma nova colega, Laura Avellaneda, num escritório contíguo ao seu - "o seu corpo, a sua boca grande, as suas pernas lindas" - e só assim se atenua a obsessão de Martín centrada nos vinte e oito dias. Martín descobre pela primeira vez o amor com a jovem e vigorosa Laura.Superando todos os convencionalismos e transgredindo as circunstâncias impostas pela diferença de idades, os dois amantes revitalizam sentimentos e enfrentam os riscos dessa relação amorosa: Martín e Laura vivem profundamente o seu momento no qual se inscreve o sentido da eternidade. Romance emblemático dos anos 60, que continua vivo e a ser um testemunho psicológico e social comovente.

     Só me faltam seis meses e vinte e oito dias para me reformar... não é do ócio que eu preciso, mas sim do direito a trabalhar naquilo que quero. 

    Hoje foi um dia feliz; apenas rotina.

    Blanca tem algo de comum comigo: é uma pessoa triste com vocação de alegre
    O orgulho é para quando temos vinte ou trinta anos.
    Tudo foi demasiado obrigatório para que eu pudesse sentir-me feliz.

Irritação pelo facto de sermos obrigado a recordar aquilo de que não nos lembramos...

D. Policarpo - o medo converte-se emfascinação

Atração pelo passado

Se algum dia me suicidar, será num domingo. É o dia  mais desalentador, o mais anódino.
"Às vezes penso naquilo que farei quando toda a minha vida for domingo."

Em casa de Vignale um indivíduo está à mercê desssa matilha ( os cinco filhos) 

A nossa sensibilidade é primordialmente digestiva...

A minha liberdade é outro nome para a minha inércia...

A verdadeira corrupção é o suborno para conseguir algo lícito....

Fazer amor com com cara de empregado...

Marcas da época:

* namoro com a presença da mãe
* declaração de amor
* importância da virgindade
* "maricas"; tentativa de encontrar um culpado, uma justificação para a homossexualidade
* dicotomia mulher/ amante
* a mulher, quando casa, deixa de trabalhar
* morte da mulher no parto
* ser velho aos 50 anos
* pai de Avellaneda- o homem típico dos anos 60, assusta-o sentir-se sentimental 
* reforma aos 50 anos


"Na Montevideu cinzenta e conservadora dos anos 50 do século XX, Martín Santomé, viúvo e pai de três filhos já adultos, regista no seu diário os poucos meses que o separam da reforma, triste corolário de uma vida composta por rotinas diárias e resignação. A monotonia dos seus dias será, porém, bruscamente interrompida quando a jovem e tímida Laura Avellaneda vem trabalhar para o seu escritório. Apesar da diferença de idades que os separam, o encontro entre Santomé e Laura derivará numa relação séria e apaixonada, que confrontará Santomé com o resultado de sentimentos que pensava já arredados da sua vida. Um romance que nos fala com sensibilidade e realismo do amor, do medo, da solidão, da felicidade e da morte." Sinopse Wook

 Sonhou com um beijo, durante anos e anos. Um dia olhou o espelho e viu como tinha envelhecido. Era tarde, demasiado tarde. Nesse momento, deixou de sonhar. e sentiu que uma parte de si tinha morrido. Restou a recordação desse beijo nunca dado e a memória da emoção que poderia  ter experimentado...

Quem é António Mega Ferreira? 
    "Um espartano epicurista, um cético apaixonado, um obsessivo diletante, um melancólico humorista, um sonhador solitário, um escritor de palavras inesquecíveis."
Palavras de Inês Pedrosa, na homenagem que lhe presta no Jornal das Letras, quando " atordoada de tristeza", se confessa uma " discípula fascinada" e uma " amiga inexpugnável" do seu antigo mestre.

Eu tinha vinte e poucos anos...Tinha a idade em que o amor, seja lá isso o que vier a ser, é o valor supremo de um horizonte onde só se divisa a felicidade.

Eu estava assustado,mas, ao mesmo tempo, seduzido pela atenção que ela me dispensava(...) Nos primeiros tempos, Winnie tratava-me como uma mulher experiente trata um rapaz bonito e desejável, mas não destituído de inteligência.

Winnie retribuiu-me o beijo , com uma convicção que para mim era inesperada: aquele beijo durou mais, e foi mais longo que todas as horas que tínhamos passado juntos.(...) Ela amava-me? Não sei: andava tão enlevado na minha própria forma de viver o amor, que quase não tinha olhos para tomar a medida ao afecto de Winnie por mim.(...) Eu era una espécie de amante pueril, que lhe dava o ar de ser uma mulher desejada, mesmo quando a maturidade já lhe começava a pesar no rosto.

E ela, amava-me? Não sei, pelo menos na altura não sabia...andava tão enlevado na minha própria forma de viver o amor, que quase não tinha olhos para tomar a medida ao afecto de Winnie por mim.

Às vezes releio a carta. Tenho pena de não a ter escrito. Ou pena de nunca ter recebido uma carta assim. 

A literatura é o melhor de mim e é o melhor de mim que vive dentro da minha cabeça quando estou contigo. 

  Eu aprendia Marraquexe pelos olhos dela , e, através dos olhos dela, aprendia o retrato do mundo que até então imaginara. 

  Samir... Era uma visão que prometia mais do que a simples percepção do instante...ambos percebemos que alguma coisa se viera inscrever em nós, na nossa história de amor, naquele preciso momento.

Porquê do afastamento? Voltámos a Lisboa.Vimo-nos mais duas ou três vezes...Os restos do nosso "romance", como lhe chamava Winnie, tinham ficado pendurados no olhar desolado de Samir.... Eu depois conheci a Marta... 
Pasados 20 anos, o reencontro: Envelhecera mais do que , muito mais, do que os vintes anos que tinham passado.

Todo o amor é um acto de identificação e reconhecimento. Encontramos na pessoa amada, não um reflexo, o que seria pobre, mas uma ressonância da nossa própria alma...

 Este Amor é o relato da " impossível eternidade e inamovível memória do amor", " uma história arrebatadora e lúcida e triste e cheia de luz e alegria, como afinal tudo o que António Mega Ferreira escreve."

Todas as cartas de amor são 
Ridículas. 
Não seriam cartas de amor se não fossem 
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras, 
Ridículas. 

As cartas de amor, se há amor, 
Têm de ser 
Ridículas. 
 
Mas, afinal, 
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor 
É que são Ridículas

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso 
Cartas de amor 
Ridículas

 
A verdade é que hoje 
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são 
Ridículas

 (Todas as palavras esdrúxulas, 
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente 
Ridículas.)

"Um romance situado na 3.ª década do século XX, quando a heterossexualidade era reprimida por toda a espécie de convenções, e a homossexualidade tabu social e crime perante a lei..." 

Era ela que se julgava o sol, disse levantando um dedo. A esse papel, e não a ele, ela amava. Porque lhe dava a ilusão de poder tudo


Reparou que o relógio da parede não batia, era um relógio novo, virgem de qualquer uso, que só marcaria as horas quando eles habitassem a casa e se sentassem ali, no canapé, debaixo dos retratos, então o pêndulo começaria a oscilar, dentro da caixa de vidro, e ouvir-se-ia no silêncio o tiquetaque infindável de um pequeno coração mecânico batendo. 


 Há o cavalo do corpo e o cavalo do tempo, correndo sobre um campo. Mas cada dia é uma vida, e eu não conto os dias. Parar o sol. Os cavalos do sol. Segurar-lhes as rédeas, com mão firme. Saindo-lhes de repente ao caminho. 


 O núcleo romanesco, partindo da relação entre um homem e uma mulher, metaforiza diferentes dicotomias antitéticas: corpo/pensamento; ser solar/ser lunar; animalidade/racionalidade; loucura/orde; bem/mal; amor/ódio; vida/morte...

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