Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Direito por linhas tortas...

“Na Faculdade de Direito de Lisboa,tive de aguentar um professor que insultou uma aluna dizendo-lhe para ir para casa tratar do marido e coser meias. Fugi, a seguir à Revolução, para Coimbra. Lisboa era uma arena de batalhas entre maoistas e comunistas e ninguém estudava, os exames foram abolidos e os professores demitidos. Em Coimbra, controlada pelo PCP, tive de aturar um professor homossexual, misógino, católico e comunista, que insultava as mulheres nas orais fazendo-as chorar. Enfrentei-o e insultei-o, ele jurou que nunca me passaria.Fiz Direitos Reais como última cadeira do curso, e passou-me com 14. Com este exemplar aprendi que ter medo é uma derrota. Por esse tempo, estava a emancipar-me, um processo de íntima violência"

 Clara Ferreira Alves, Expresso, 4 de abril de 2025

  Em Coimbra,controlada pelo PCP, tive de aturar um professor homossexual, misógino, católico e comunista, que insultava as mulheres nas orais fazendo-as chorar. Enfrentei-o... Abandonei a prova oral, porque me mandou sistematizar um problema de uma tal complexidade que o esquema dos sucessivos possuidores e propietários de uma bicicleta ocupava todo o quadro. Quando, depois de linhas e linhas esquemáticas, julgo que bem feitas, me arremessa, com ar irónico, a pergunta: " Quid iuris? ", diga, quem é , neste momento, o proprietário da bibcicleta!" Eu desci calmamente do estrado, dirigi-me para a porta e, com ar irónico, disse-lhe: " Vou à procura dele", e abandonei a sala. Claro que não esperei que o Bedel, com ar de catedrático, viesse dizer as notas. Estava no bar das Letras, quando um colega me diz: "passaste e tiveste 14" ...Com este exemplar aprendi que ter medo é uma derrota. Por esse tempo, estava a emancipar-me, um processo de íntima violência.

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