A chegada de livros é a única emoção que conheço.Faz-me recordar o teu sorriso, apesar de ele nunca me ter aberto a porta...Creio que foi o sorriso, o sorriso foi quem abriu a porta. Era um sorriso com muita luz lá dentro, apetecia entrar nele, tirar a roupa, ficar nu dentro daquele sorriso. Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Ah, os primeiros minutos nos cafés de novas cidades! A chegada pela manhã a cais ou a gares Cheios de um silêncio repousado e claro! Os primeiros passantes nas ruas das cidades a que se chega...E o som especial que o correr das horas tem nas viagens...

Music legend Bob Dylan's only work of fiction—a combination of stream of consciousness prose, lyrics, and poetry that gives fans insight into one of the most influential singer-songwriters of our time.
Look, you know i don't wanna come on ungrateful, but that warren report, you know as well as me, just didn't make it. You know, like they might as well have asked some banana salesman from des moines, who was up in toronto on the big day, if he saw anyone around looking suspicious/...
aretha with no goals, eternally single & one step soft of heaven/ let it be understood that she owns this melody along with her emotional diplomats & her earth & her musical secrets.

Haveria um tempo para essa palavra.
Amanhã... e amanhã... e amanhã...
Deslizam nesse pobre desenrolar
de dia a dia
até a última sílaba do registo dos tempos
e todos os nossos ontens iluminaram para os tolos
o caminho até o pó da morte.
Apaga-te... apaga-te breve vela!
A vida nada mais é que uma sombra que anda...
um pobre ator que se pavoneia e se agita durante sua hora no palco e depois não é mais ouvido.
É uma estória contada por um idiota
cheia de som e fúria que nada significa.
Nada!
Encore une fois, dans ce troisième volet du Labyrinthe du monde, le centre du récit est le personnage du père, Michel. Michel et sa mère, l'affreuse châtelaine du Mont-Noir; Michel et ses amours : Fernande, Jeanne, dont l'inquiétant mari servira de modèle à Alexis, Liane, tant d'autres... «Confondue par le problème des dates de l'enfance, seule dans un paysage vide où tout semble tantôt très proche et tantôt lointain», Marguerite Yourcenar, qui parle peu d'elle-même, laisse seulement deviner, derrière le portrait du père, sa silhouette de petite fille, puis d'adolescente. Et, derrière le fourmillement des passions, le chaos des impressions, derrière les désastres privés et historiques, ce qui constituera son monde, comme si elle nous tendait quelques clés de son œuvre romanesque.
Posso chegar a um espaço vazio qualquer e usá-lo como espaço de cena. Uma pessoa atravessa esse espaço vazio enquanto outra pessoa observa – e nada mais é necessário para que ocorra uma acção teatral.(...) Vou tentar dividir a palavra em quatro sentidos, identificando quatro significados diferentes - e assim falarei de um Teatro do Aborrecimento Mortal, de um Teatro Sagrado, de um Teatro Bruto e de um Teatro Imediato.
Um médico reconhece facilmente a diferença entre o sopro da vida e o pobre monte de ossos que a vida já abandonou; mas nós estamos menos treinados para reconhecer quando é que uma ideia , uma atitude ou uma forma perderam a sua vivacidade e ficaram moribundas.É difícil definir, embora uma criança consiga rapidamente perceber(...) Os gestos nobres e os valores aristocráticos estão a desaparecr cada vez mais depressa da vida quotidiana, e as novas gerações acham o estilo eloquente cada vez mais vazio e desprovido de sentido.
- Kirílov estuda e está a escrever um curiosíssimo artigo sobre as causas dos casos de suicídio que se tornaram frequentes na Rússia e em geral sobre as causas que aceleram ou inibem a difusão do suicídio na sociedade. Chegou a resultados surpreendentes.
_ A seu ver, o que impede as pessoas de cometerem suicídio?
_ A dor.
_ A dor? Será que isso é tão importante....Neste caso?
_ De primeiríssima importância. Há duas espécies de suicida: aqueles que se matam ou por uma grande tristeza ou de raiva, ou por loucura, ou seja lá por que for...Esses matam -se de repente. Esses pensam pouco na dor, matam-se de repente. E aqueles movidos pela razão_ estes pensam muito.
_ E porventura não há meios de morrer sem dor?
_ Imagine, parou diante de mim, imagine uma pedra do tamanho de uma casa grande; ela está suspensa e você debaixo dela; se lhe cair em cima, na cabeça, sentirá dor?
_ Uma pedra do tamanho de uma casa? É claro que dá medo.
_ Não estou a falar de medo; sentirá dor?
_ É claro que não haverá dor.
_ Mas se realmente ficar debaixo, e enquanto ela estiver suspensa, vai ter muito medo de sentir dor. Cada um não sentirá dor e cada um sentirá muito medo de sentir dor.
_ Bem, e a segunda causa, a grande?
_ É o outro mundo.
_ Ou seja, o castigo?
_ Isso é diferente. O outro mundo, só o outro mundo.
_ O homem teme a morte porque ama a vida, eis o meu entendimento __observei_, e assim a natureza ordenou.
_ Isso é vil e aí está todo o engano!_respondeu Kirílov. A vida é dor, a vida é medo, e o homem é um infeliz. Hoje tudo é dor e medo. Hoje o homem ama a vida porque ama a dor e o medo. Haverá um novo homem, feliz e altivo, aquele para quem for indiferente viver ou não viver será o novo homem. Quem vencer a dor e o medo, esse mesmo será Deus. E o outro Deus não existirá.
_ Então a seu ver o outro Deus existe mesmo?
_ Não existe, mas ele existe. Está a compreender o que eu quero dizer? Na pedra não existe dor, mas no medo da pedra existe dor. Deus é a dor do medo da morte. Quem vencer a dor e o medo tornar-se-á Deus. Então haverá uma nova vida, então haverá um novo homem, tudo novo... Então a história será dividida em duas partes:do gorila à destruição de Deus e da destruição de Deus à mudança física da terra e do homem. O mundo mudará, e as coisas mudarão, e mudarão os pensamentos e todos os sentimentos.
SL – A sua escrita é composta por diversos universos, com este livro inicia uma nova série. O que podemos esperar deste novo universo?
GMT – Este é o primeiro livro de um mundo a que eu chamo de Mitologias. As personagens que aqui aparecem estarão presentes noutros livros; outras personagens serão também centrais nesses outros livros. Será um mundo extenso, e com uma lógica própria. Vejo-o como um mundo paralelo ao do Reino (dos livros Um homem: Klaus Klump, A Máquina de Joseph Walser, Jerusalém, Aprender a rezar na era da técnica) um mundo paralelo que se encontra num lugar imaginário.
É um mundo narrativo acelerado. Em que a acção avança arrastando as personagens. A acção transforma-se no destino, e as personagens meio míticas, meio disformes, são arrastadas por esse destino. Não há explicações nem causas muito concretas para os acontecimentos. A narrativa avança com a energia do contador de histórias que não quer ficar pelos limites da realidade.
SL – Há um texto seu, sobre o autor Philip Roth, onde utiliza um mito para explicar os conflitos do amor filial. A mitologia tem uma grande importância, que este livro vem reforçar, na sua narrativa?
GMT – Sim. Estas Mitologias não têm espaço nem tempo definidos. Os tempos estão mesmo em colapso, e o real e o impossível muitas vezes estão misturados. Factos históricos, reais, podem estar ligados a acontecimentos impossíveis. Factos do século XV podem aparecer depois do século XX. Há tangentes à realidade, mas é mesmo um mundo paralelo: não quer explicar a História – é uma narrativa paralela à História – uma narrativa que não tem de obedecer a regras e a condicionantes do corpo e da lógica sequencial.
Este mundo das Mitologias, paralelo ao Reino, é um universo claramente não real, um mundo impossível, mas que ganha uma lógica interna, regras próprias. (...)
No caso de A Mulher-Sem-Cabeça e o Homem-de-mau-olhado interessava-me muito uma mitologia que coloca em movimento homens, mulheres, animais, elementos naturais e máquinas – ficando tudo no mesmo plano. Objetos, animais, máquinas podem ser personagens; um acontecimento pode ser uma personagem. E neste A Mulher-Sem-Cabeça e o Homem-de-mau-olhado, nestas Mitologias, os acontecimentos aparecem, são aparições – isso mesmo, não necessitam de explicações prévias, nem de consequências explícitas. Há acontecimentos que arrastam personagens atrás e quem relata tenta descrever alguns acontecimentos deixando muito espaço vazio. Não há explicações, há um conjunto de acontecimentos – mas para cada um dos acontecimentos da história há muitas interpretações possíveis.
SL – Virgínia Woolf (Diário, 21 de Abril de 1928), diz "no entanto a única vida que me entusiasma é a vida imaginária’. Nos dias que correm, o que nos salva: a realidade ou a ficção?
GMT – Nada salva; temos de nos aguentar – e isso já não é mau. Mas essas são duas hipóteses de salvação temporária, sim. O exterior e o mundo acelerado da nossa cabeça. É melhor ter duas hipóteses de salvação, mesmo que temporárias, do que só uma. E quem não tem imaginação e mundo ficcional ou quem não alimenta isso com leituras, de alguma maneira perde uma das hipóteses que o humano tem de dar um passo ao lado. De em parte sobreviver pela imaginação.
SL – Tem fama de cerebral e há uma serenidade constante no seu rosto, voz e movimentos. Será que, como em Kafka, há "um mundo prodigioso" dentro da sua cabeça, um furacão de histórias por contar?
GMT – A cabeça é realmente um mundo à parte. Gosto muito de andar, e ando muito porque é como se abandonasse os pés e as pernas – eles que caminhem para onde quiserem, e a minha cabeça pode então seguir o seu percurso por outro lado, saltar à vontade. A velocidade das nossas cabeças, do nosso imaginário, as associações estranhas que fazemos entre imagens de mundos diferentes – isso sempre me fascinou. Não se percebe. Cada cabeça tem uma forma diferente de pensar. É mesmo um mundo autónomo – o que faz uma cabeça pode nada ter a ver com o que fazem as mãos ou os pés no mesmo instante.
CM -No final do livro há umas frases do Walter Benjamin que falam de já não termos muitas histórias que causem espanto mas termos muitas que nos chegam já explicadas, cheias de significados. Este livro quer retomar o puro espanto?
O espantoso é uma categoria que está a desaparecer rapidamente. A acessibilidade imediata a determinada informação é extraordinária mas pode diminuir essa capacidade da surpresa. E uma pessoa espantar-se é interessante. [A ideia de WB]é uma espécie de mote para as “Mitologias”: não há uma necessidade de explicação, há um conjunto de acontecimentos que têm uma energia própria, uma aceitação do destino, e portanto é uma energia totalmente diferente da informativa. A capacidade de espanto leva à investigação.
Este espanto é na óptica do utilizador/leitor?
Quando estou a escrever estou constantemente a espantar-me. Quando se coloca uma Mulher-Sem-Cabeça como personagem isto tem um movimento, portanto não sei o que vai acontecer quando esta Mulher-Sem-Cabeça se cruza com a Casa-das-Máquinas. E há cruzamentos que têm muita força, como quando a Mulher- -sem-Cabeça insiste que quer entrar no cinema: há aqui qualquer coisa forte que não entra no campo da explicação. Diz alguma coisa sobre o cinema, não diz nada de concreto, mas diz. E só é possível porque há esta lógica. Se estivesse a escrever de uma forma realista não conseguia dizer isto.
CM - O que vai ser este universo das “Mitologias”?
Acho que vai ser um dos meus mundos mais centrais e maiores. Eu escrevo, guardo, publico às vezes passados anos, portanto tenho já uma noção do conjunto. “Mitologias” tem um pouco a ver com a ideia de uma narrativa rápida, com o prazer da narrativa tradicional em que as coisas acontecem rapidamente e sem explicações. Por outro lado, há aqui a ideia de um mundo com liberdade, em que um espaço pode ser uma personagem, por exemplo.
CM -Como é que vês este universo em relação com os outros? Em especial com “O Reino”, tendo temas em comum – a loucura, o medo, a maldade?
É de alguma maneira um estudo do mal se calhar um pouco paralelo ao Reino. Enquanto o Jerusalém e o Aprender a Rezar... são um mundo realista, aqui é um mundo da possibilidade quase infinita. Mas ninguém vai ficar chocado com uma mulher sem cabeça. Aqui está muito claro que é algo do imaginário, é uma maldade quase infantil, no limite divertida.
Qualquer situação não quer dizer mais nada do que diz. Não sou nada entusiasta do simbolismo: se há uma avestruz que está a devorar um cérebro, está a devorar um cérebro. Claro que depois podemos pensar sobre isso. Aquela imagem de alguém que está a ser devorado por trás e ao mesmo tempo os olhos estão virados para cima e a ver, os olhos continuam a ver — interessava-me essa questão: a visão continuar. Mas acho que é uma imagem forte de alguém que está a ser atacado no seu centro e de repente olha e vê quase a história da aviação [durante a cena a Mulhe-Ruiva vê lentos balões de ar quente e aviões, alguns com publicidades] e ao mesmo tempo a anunciar o momento em que os loucos vão sendo recuperados. Não vejo uma ligação tão directa com outros livros porque este mundo é muito particular, não é transferível em termos de lógica, é quase como uma disciplina diferente.

O que aconteceu foi que um dia Ber-lim entrou no Comboio e isso foi um erro. Estava perfeitamente são , era ainda um homem racional, um homem que entendia. Ainda não ficara louco e, por isso, na altura, era conhecido com Berlim, assim, apenas; ... Não se sabe por que razão Berlim quis entrar no Comboio.
Ber-lim, o louco, na sua primeira actuação, senta-se, sem saber bem o que lhe vai fazer o Dr.Charcot...Não se trata do truque de um mágico mas quase. O que acontece é inacreditável e Ber-lim sorri sem querer...A electricidade comanda-lhe os músculos e Ber-lim transforma-se num palhaço sem vontade própria, numa marioneta.É ele, o doutor, quem decide o que o rosto de Ber-lim faz.
O célebre Dr Duchenne, através da estimulação eléctrica dos músculos faciais dos loucos, conseguiu localizar, até 1868, mais de cem músculos. Muitas vezes , a metodologia utilizada para registar as expressões faciais passava pela fotografia, outras vezes, pelo desenho.(...) O desenhador sentava-se ao lado do médico e da sua máquina de electicidade e desenhava com todo o pormenor o rosto do louco à sua frente como se de um qualquer outro modelo se tratasse.
O Dr. Charcot avança com um pequeno veículo chamado Lobotomobile(...)aparelho que metia em ordem, que acalmava o sobressalto, a exaltação e a euforia dos loucos.
Claro que corre riscos. Mas de facto ninguém olha para ele; Ber -lim está noutro local da Praça, sem companhia. Sabe bem que é louco, mas quer apenas observar. Não levanta o braço a pedir para ser operado(...) ele está ali como espectador(...)Ber-lim passa completamente despercebido porque, numa euforia egoísta, cada familiar, cada amigo saudável e no domínio da razão, está ali para fazer força de maneira a que o seu familiar ou amigo louco seja atendido e operado primeiro.
“Há um antes e um depois de Gonçalo M. Tavares. Creio que é o melhor elogio que posso fazer-lhe. Vaticinei-lhe o prémio Nobel para daqui a 30 anos, ou mesmo antes, e penso que vou acertar. Só lamento não poder dar-lhe um abraço de felicitações quando isso suceder.” José Saramago
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