Cause it's a bittersweet symphony, this life... You know I can change, I can change I can change, I can change But I'm here in my mold I am here in my mold And I'm a million different people from one day to the next I can't change my mold No, no, no, no...
Maldições: horrores e traições...
Ó vestidas razões! Dor que é vergonha
E por vergonha de si própria cala
A si mesma o seu nexo! Ó vil e baixa
Porca animalidade do animal,
Que se diz metafísica por medo(...)
Ó horror metafísico de ti!
Sentido pelo instinto, não na mente,
Vil metafísica do horror da carne,
Medo do amor...
Entre o teu corpo e o meu desejo dele
Está o abismo de seres consciente;
Pudesse-te eu amar sem que existisses
E possuir-te sem que ali estivesses!
Mas eu não ouso. Ó horror e tortura! O transcendente horror de um ser humano! Beijar na boca uma consciência, um ser humano! Beijar na boca uma consciência, um ser, O mistério encarnado em nu e sólido. A nudez(...) Há entre alma e alma um abismo.Saber Que me está vendo uma alma em (...), nudez E acto de amor!Não a nudez da estátua, Mas a nudez viva, cheia de olhar-me Até que me apavoro de pensá-lo. Nem tenho gestos para saber amar...
A recordação é uma traição à Natureza.
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.
Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
A minha vida, tragédia caída sob a pateada dos anjos e de que só o primeiro acto se representou. Amigos, nenhum. Só uns conhecidos que julgam que simpatizam comigo e teriam talvez pena se um comboio me passasse por cima e o enterro fosse em dia de chuva. O prémio natural do meu afastamento da vida foi a incapacidade, que criei nos outros, de sentirem comigo. Em torno a mim há uma auréola de frieza, um halo de gelo que repele os outros. Ainda não consegui não sofrer com a minha solidão. Tão difícil é obter aquela distinção de espírito que permita ao isolamento ser um repouso sem angústia. Nunca dei crédito à amizade que me mostraram, como o não teria dado ao amor, se mo houvessem mostrado, o que, aliás, seria impossível. Embora nunca tivesse ilusões a respeito daqueles que se diziam meus amigos, consegui sempre sofrer desilusões com eles — tão complexo e subtil é o meu destino de sofrer. Nunca duvidei que todos me traíssem; e pasmei sempre quando me traíram. Quando chegava o que eu esperava, era sempre inesperado para mim.
Como nunca descobri em mim qualidades que atraíssem alguém, nunca pude acreditar que alguém se sentisse atraído por mim...Compreendi que era impossível a alguém amar-me, a não ser que lhe faltasse de todo o senso estético — e então eu o desprezaria por isso; e que mesmo simpatizar comigo não podia passar de um capricho da indiferença alheia.
Não tive consciência de que a terra tremeu. José Saramago sim, e descreve-o na “Jangada de Pedra”. Eu não. Senti tudo isso com uma enorme naturalidade. Saí do encontro com ele e disse: “Vai acontecer qualquer coisa!” Cheguei a Espanha, e a primeira coisa que fiz foi telefonar à pessoa com quem namorava na altura para lhe dizer que não íamos continuar. Passou junho, julho, agosto. Em setembro recebi uma carta: “Se as circunstâncias da vida mo permitirem, gostaria de te ir ver.” Já me tinha dado recomendações de leitura, a nossa correspondência nesse sentido era quase ditatorial. Eu tinha de ler “Uma Família Inglesa”, de Júlio Dinis, o “Amor de Perdição”, de Camilo Castelo Branco, a Agustina Bessa-Luís, a Lídia Jorge..
Ie knsci womu muchan in dadi mey ocey du vidol od wamod di, shanaofmbio. Nenu lile du emvmi m...
E quem é esta mulher? Alguém que não quer morrer numa “decadência ostensiva”. Que não corresponde, nunca correspondeu, a estereótipos ou normas sociais. Que acorda todos os dias para viver “da e com a memória”, consciente de ter sido protagonista de uma experiência que muitas mulheres gostariam de ter tido. Uma “maldição” que ainda hoje, sete anos passados sobre a morte de José Saramago, a afasta de refazer a vida, porque, simplesmente, não lhe apareceu à frente outro igual a ele.
Dedico-me à vida, aos meus irmãos, e se na vida está o meu marido dedico-me a ele; se está a fundação, dedico-me a ela. Ou seja, sou uma mulher dedicada. Mas, sim, dediquei-me a ele de corpo e alma, sabendo que era uma pessoa inesgotável. Começava uma conversa que nunca dava por terminada, porque tinha sempre pontos de vista diferentes, tal como a sua literatura. Era uma pessoa com uma formação infinitamente superior à minha. Foi uma maldição. Maldição? Sim, depois de o ter conhecido já não consegui gostar de mais ninguém.
Deem-me outro. Só teria reconstruído a minha vida se tivesse aparecido alguém assim por quem me apaixonasse.
De que servem as flores que nascem pelo caminho? Essas flores são um bem um um mal?
Sempre me perguntei como é que as pessoas se atreviam a contrair casamento- e têm-se atrevido ao longo dos séculos - quando este possuía um carácter definitivo; em especial as mulheres, a quem era mais difícil encontrar consolos, ou deviam esmerar-se o dobro ou o triplo a ocultá-los...
O chão é o lugar mais estável, firme e modesto que existe, com a melhor perspectiva do céu e do tecto, e onde melhor se pensa.(...) daqui ninguém pode cair nem cair mais baixo o que é uma vantagem quando se trata de tomar decisões; deveríamos tomá-las sempre a partir da pior das hipóteses, para não dizer partindo do desespero e da sua acompanhante habitual, a vileza, assim não amoleceríamos nem seríamos levados ao engano.
Neste sentido, o livro é uma "escola do cavalheiro", considerando-se esse conceito de modo mais intelectual e radical do que tem sido até agora. É necessário ter coragem no corpo, ainda que simplesmente para aceitar esta interpretação, é preciso desconhecer o medo. Todas as coisas de que se ufana a nossa época são consideradas como contrárias a este tipo, quase "modos nocivos", por exemplo, o famoso "objetivismo", a "compaixão pelos sofredores", o "sentido histórico" com a sua submissão ao gosto exótico, com sua banalidade diante dos petits laits, o "espírita científico."
Supondo-se que a verdade seja feminina — e não é fundada a suspeita de que todos os filósofos, enquanto dogmáticos, entendem pouco de mulheres? Que a espantosa seriedade, a indiscrição delicada com que até agora estavam acostumados a afrontar a verdade não eram meios pouco adequados para cativar uma mulher? O que há de certo é que essa não se deixou cativar — e os dogmáticos de toda a espécie se voltaram tristemente frente a nós e se desencorajaram.
A falsidade de um juízo não pode constituir, na nossa opinião, uma objeção contra esse juízo. Esta poderia ser uma das afirmações mais surpreendentes da nossa linguagem. A questão é saber em que medida este juízo serve para conservar a espécie, para acelerar, enriquecer e manter a vida. Por princípio estamos dispostos a sustentar que os juízos mais falsos (e entre estes os "juízos sintéticos a priori") são para nós mais indispensáveis, que o homem não poderia viver sem as ficções da lógica, sem relacionar a realidade com a medida do mundo puramente imaginário do incondicionado e sem falsear constantemente o mundo através do número; renunciar aos juízos falsos equivaleria a renunciar à vida, a renegar à vida. Admitir que o não-verdadeiro é a condição da vida, é opor-se audazmente ao sentimento que se tem habitualmente dos valores. Uma filosofia que se permita tal intrepidez coloca -se , apenas por este facto, além do bem e do mal.
O amor, que vem procurado como sensação necessária à felicidade da vida, perde dois terços da sua embriagante doçura; porém, o amor inesperado, impetuoso e fulminante, esse é um abrir-se o céu a verter no peito do homem todas as delícias puras que não correm perigos de empestarem-se em contacto com as da terra.
Ainda que o contrário se afigure a pessoas que têm a boa sorte de não escrever romances, a conclusão de um livro desta espécie é dolorosa de fazer-se, quer as personagens tenham existido, quer vivessem, como quimeras queridas, na fantasia do escritor. É doloroso digo. porque há aí um facto formidável e horrendo, que tanto vinga nos personagens verdadeiros como nos imaginados: é a morte.
Ocorre desta história...que o coração do homem, formado na ciência e nos costumes antigos, encerra a urna dos bálsamos para as chagas dos corações formados à moderna.
I don't have to think I only have to do it The results are always perfect And that's old news...
A miséria da minha condição não é estorvada por estas palavras conjugadas, com que formo, pouco a pouco, o meu livro casual e meditado. Sobrevivo nulo no fundo de toda a expressão, como um pó indissolúvel no fundo do copo de onde se bebeu só água. Escrevo a minha literatura como escrevo os meus lançamentos — com cuidado e indiferença. Ante o vasto céu estrelado e o enigma de muitas almas, a noite do abismo incógnito e o choro de nada se compreender — ante tudo isto ó que escrevo no caixa auxiliar e o que escrevo neste papel da alma são coisas igualmente restritas à Rua dos Douradores, muito pouco aos grandes espaços milionários do universo.
Tudo isto é sonho e fantasmagoria, e pouco vale que o sonho seja lançamentos como prosa de bom porte. Que serve sonhar com princesas mais que sonhar com a porta da entrada do escritório? Tudo o que sabemos é uma impressão nossa, e tudo o que somos e uma impressão alheia, melodrama de nós, que, sentindo-nos, nos constituímos nossos próprios espectadores activos, nossos deuses por licença da Câmara.
Assim como, quer o saibamos quer não, temos todos uma metafísica, assim também, quer o queiramos quer não, temos todos uma moral. Tenho uma moral muito simples - não fazer a ninguém nem mal nem bem. Não fazer a ninguém mal, porque não só reconheço nos outros o mesmo direito que julgo que me cabe, de que não me incomodem, mas acho que bastam os males naturais para mal que tenha de haver no mundo. Vivemos todos, neste mundo, a bordo de um navio saído de um porto que desconhecemos para um porto que ignoramos; devemos ter uns para os outros uma amabilidade de viagem. Não fazer bem, porque não sei o que é o bem, nem se o faço quando julgo que o faço. Sei eu que males produz se dou esmola? Sei eu que males produzo se educo ou instruo? Na dúvida, abstenho-me. E acho, ainda, que auxiliar ou esclarecer é, em certo modo, fazer o mal de intervir na vida alheia. A bondade é um capricho temperamental: não temos o direito de fazer os outros vítimas de nossos caprichos, ainda que de humanidade ou de ternura. Os benefícios são coisas que se infligem; por isso os abomino friamente. Se não faço o bem, por moral, também não exijo que mo façam Se adoeço, o que mais me pesa é que obrigo alguém a tratar-me, coisa que me repugnaria de fazer a outrem. Nunca visitei um amigo doente. Sempre que, tendo eu adoecido, me visitaram, sofri cada visita como um incómodo, um insulto, uma violação injustificável da minha intimidade decisiva. Não gosto que me dêem coisas; parecem com isso obrigar-me a que as dê também - aos mesmos ou a outros, seja a quem for.
Aquela malícia incerta e quase imponderável que alegra qualquer coração humano ante a dor dos outros, e o desconforto alheio, ponho-a eu no exame das minhas próprias dores, levo-a tão longe que nas ocasiões em que me sinto ridículo ou mesquinho, gozo-a como se fosse outro que o estivesse sendo. Por uma estranha e fantástica transformação de sentimentos, acontece que não sinto essa alegria maldosa e humaníssima perante a dor e o ridículo alheio. Sinto perante o rebaixamento dos outros não uma dor, mas um desconforto estético e uma irritação sinuosa. Não é por bondade que isto acontece, mas sim porque quem se torna ridículo não é só para mim que se torna ridículo, mas para os outros também, e irrita-me que alguém esteja sendo ridículo para os outros, dói-me que qualquer animal da espécie humana ria à custa de outro, quando não tem direito de o fazer.
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