Viver uma vida desapaixonada e culta, ao relento das ideias, lendo, sonhando, e pensando em escrever, uma vida suficientemente lenta para estar sempre à beira do tédio, bastante meditada para se nunca encontrar nele. Viver essa vida longe das emoções e dos pensamentos, só no pensamento das emoções e na emoção dos pensamentos. Estagnar ao sol, douradamente, como um lago obscuro rodeado de flores. Ter, na sombra, aquela fidalguia da individualidade que consiste em não insistir para nada com a vida. Ser no volteio dos mundos como uma poeira de flores, que um vento incógnito ergue pelo ar da tarde, e o torpor do anoitecer deixa baixar no lugar de acaso, indistinta entre coisas maiores. Ser isto com um conhecimento seguro, nem alegre nem triste, reconhecido ao sol do seu brilho e às estrelas do seu afastamento. Não ser mais, não ter mais, não querer mais...
É nobre ser tímido, ilustre não saber agir, grande não ter jeito para viver.
A minha "nobreza" excessiva, doentia, separa -me de tudo o que desejo. A timidez paralisa-me e , por causa dela, não consigo agir, transformando tudo numa série de desistências, de abdicações... Como me sinto grande, enorme, na total falta de jeito para viver. Sinto-me tão, tão grande que a joana vasconcelos ainda me transforma numa escultura.
A vida desgosta-me como um remédio inútil. E é então que eu sinto com visões claras como seria fácil o afastamento deste tédio se eu tivesse a simples força de o querer deveras afastar.
I know that you think you sound silly when you call my name...
Call me morbid, call me pale I've spent six years on your trail Six long years...
Vínculos ¿quien los podrá separar? El destino, su motivo, su amor, su verdad. El tiempo, su hora, su lejanía, su retorno, Su falta, su amor sospechoso ¿quién lo sabrá? Hoy los llevo conmigo,Inseparable algunos de por cierto serán, Otros solo son malos recuerdos,Que nunca hubiera querido estar.Vínculos ¿Quien los podrá separar?
À leve embriaguez da febre ligeira, quando um desconforto mole e penetrante e frio pelos ossos doridos fora e quente nos olhos sob têmporas que batem — a esse desconforto quero como um escravo a um tirano amado. Dá-me aquela quebrada passividade trémula em que entrevejo visões, viro esquinas de ideias e entre entrepolamentos de sentimentos me desconcerto. Pensar, sentir, querer, tornam-se uma só confusa coisa. As crenças, as sensações, as coisas imaginadas e as actuais estão desarrumadas, são como o conteúdo misturado no chão, de várias gavetas subvertidas.
Um vínculo recente...
Há pessoas que se eternizam juntas por mero hábito, porque faz parte da existência da outra tanto como o ar que respiram, ou pelo menos como a cidade em que vivem e que jamais pensariam abandonar por mais insuportável que se lhes tivesse tornado. Cada um tem o mesmo valor que a vista da sala ou do quarto dessa casa em que vivem: estão aí e já não são bons nem maus, nem aborrecíveis nem gratos, nem deprimentes nem estimulantes, nem benéficos nem prejudiciais. São aquilo que há ...
Talvez fosse esta a sua maldição, seu grande problema, um dos motivos por que continuava a querê-lo tanto: achava-lhe graça e, com certeza sempre lhe achara. É muito difícil não continuar enamorado ou cativo de quem nos cai em graça e, além disso, faz a nossa graça; o mais árduo é renunciar a rir na sua companhia quando alguém encontrou com quem decidiu tornar-se incondicional dessa pessoa.
Acabei de descobrir a razão pela qual nunca consegui estabelecer qualquer vínculo afetivo com o continente americano: " por ser um continente sem Idade Média e sem Renascimento."
Eduardo Muriel não estabelecia vínculos, deixava-se ir de mulher em mulher, e se digo que se deixava ir é porque nunca o vi fazer esforços por conquistar uma que fosse, antes parecia consentir ser seduzido, de tempos a tempos e sem consequências, pelas mais decididas, desejosas ou utilitárias, como quem não quer a coisa, ou não dá conta, ou nem sequer se apercebe.
(A tradução é demasiado má, intuo, mesmo ser ter o livro em castelhano)
Um vínculo antigo, mas ...
Night and day, you are the one Only you beneath the moon, under the sun Whether near to me or far It's no matter darling...
Um vínculo eterno: chova ou faça sol...
Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
tem chuva nele a escorrer.
Tenho uma grande tristeza
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.
Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não,
E a chuva cai levemente
(porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.
Um vínculo ocasional...
Consigo ficar em silêncio o tempo que for necessário. Não é um exercício de teimosia, é o princípio do afastamento.Como as crianças a reter a respiração debaixo da água na banheira, numa piscina.(...) Podemos fazer o jogo até os pulmões rejeitarem o mergulho, impelindo o corpo para fora da banheira. Um, dois, três...Aguentar trinta segundos é uma proeza aos dez anos...Aos trinta, esquecemos por completo essa jogatana com o corpo, prevalece o cansaço. Como sempre. Foi assim que terminei o amor. Matei-o aos poucos, segundo por segundo, milímetro por milímetro, a coisa adorada foi-se transformando até ficar invisível. Está lá, mas não existe. Fala sem que a oiça. Diz, mas é sempre uma repetição. Esforço-me por minimizar os gestos, reter o corpo. Deixar-me estar. Se me toca, deixo-me, não sou eu. Penso que sou intocável, o meu corpo é um envelope. O meu corpo não sou eu.
Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que a gente passa adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salta por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem um centímetro mais longe.
Toco só onde toco, não aonde penso.
Só me posso sentar aonde estou.
E isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E vivemos vadios da nossa realidade.
E estamos sempre fora dela porque estamos aqui.
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