Nome completo: Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill de Bulhões
Desde 1986 que não está cá, mas deixou o título deste livro como uma derradeira ironia... Numa nota manuscrita, que constava do seu espólio, registou o título para um livro póstumo: " Já cá não está quem falou", um retrato sarcástico da " vidinha contentinha" que nos transformará em ratos..
" A "vidinha" está aqui retratada[...] É toda uma tristeza contentinha, umas vezes divertida e outras obcecada com o absurdo dos trabalhos e a passagem dos dias." Pedro Mexia
" Porque não pomos em comum os nossos livros...? Milhares e milhares de livros dormem, sem préstimo...nas estantes de todos nós....a minha ideia é simples...As juntas de freguesia...fariam um recenseamento dos livros que os seus paroquianos aderentes possam ter e queiram voluntariamente manifestar. ... Organizado em ficheiro central- com os livros conservando-se sempre nas casas e nas estantes dos seus proprietários- estava lançada a possibilidade de criar um serviço permanente de empréstimos dentro das normas que são de uso nas bibliotecas..."
Diz-se que só a morte é irremediável, pensando-se, sempre, no desaparecimento físico de um ser. Não concordo, há irremediáveis bem mais definitivos; há mortes mais dolorosas. Rememoro, sem penosidade, dois amigos que morreram, porque, em momento algum, o elo afetivo que nos unia foi ameaçado ou corrompido. Espiritualmente, fazem -me falta, mas consigo sorrir ( com melancolia, mas sorrio), totalmente pacificada com a inevitabilidade de que nunca mais nos será permitido conversar ...Penso , com mágoa sempre renovada, nos amigos que perdi sem porquê: desapareceram-me, morreram-me...
Duas mortes diferentes, em idades distintas, de dois zés para mim importantes... Um, no passado, aos trinta, num estúpido acidente de comboio, um camus ao contrário: deixou o carro na estação e, inexplicavelmente, resolveu ir de comboio. Foi a primeira e a última vez que usou tal transporte. O outro aos sessenta, como resultado de uma espécie de suicídio: consciente dos riscos que corria, nunca deixou de beber, nunca. " A minha vida é tão absurda que, sem álcool e outros auxiliares, não a suporto", dizia-me a sorrir, "Eu não consigo imaginar sísifo feliz...". Um morreu aos gritos, a suplicar pela vida que adorava; o outro, qual "estrangeiro", assistiu sossegadamente à sua execução, e pediu, com ironia, quando foi informado que iriam desligar a máquina, "Quero ser cremado no dia 1 de abril, pode ser que seja mentira... É a primeira e última vez que faço este pedido."


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