Hommage: (encore) Piet Mondrien: en quête d'un "mot"..."In-sanamemte, por entre os dedos, toco-te o rosto que me convoca, numa distância que a proximidade não sutura. Toco-o, na palavra que o nomeia."
Gostar de um livro é antes de mais gostar do seu autor, desejar estar com ele, ter vontade de passar os dias na sua companhia. E durante os sete anos que durou a redação da minha tese, eu vivi na companhia de Huysmans, na sua presença quase permanente.(...) Durante vários anos pude ...dedicar a totalidade dos meus dias à atividade que escolhera: a livre frequentação intelectual de um amigo.
Como se sabe, os estudos universitários da área das letras não conduzem a praticamente nada, exceto, para os estudantes mais dotados...
É porque existe o desejo, o olfato, e o medo,
e os vivos apaixonam-se por outros vivos,
e lembram-se, por vezes, do enorme número de mortos,
e dentro destes há alguns que os fazem desligar a luz e o trabalho,
e o quotidiano aí já não basta,
porque o coração tem em certos dias um orçamento incomportável.
E não basta então a mulher que amamos,
nem os filhos
– os que nos vão sobreviver no tempo –
e é preciso sair, e não basta sair para a rua e correr,
é preciso sair dos ossos,
fugir ao obrigatório, à casa,
encontrar dentro dos bolsos o bocado de uma carta, um mapa,
fragmento que possa reconstruir o caminho para a casa da infância,
onde Deus era chocolate e o resolvíamos, assim, de uma vez, porque o comíamos,
Porque mais tarde crescemos e ganhamos dinheiro, família, e alguns outros assuntos,
mas perdemos qualquer coisa de que é impossível falar, de que não sabemos falar.
E é por tudo isso,
e por quase tudo o que faltou dizer,
é por isso que é bom, por vezes,
suspender a noite e o coração,
e obrigar o cérebro à paragem surpreendente.
É por isso que é bom, por vezes,
ocuparmos o corpo no acto de sentar,
e pedir, então, à arte, à literatura, ao teatro,
que nos salve,
por enquanto,
antes de morrermos.
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