Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

domingo, 18 de abril de 2021

Ofertas e ...sei lá...

Tenho uma particularidade: não consigo oferecer um livro que não tenha lido. Se compro algo a pensar numa determinada pessoa, antes de fazer o embrulhinho convencional, cuidadosamente, para não deixar vestígios da invasão, percorro o livro, mesmo que não o leia metodicamente, de princípio ao fim. Hoje, foi dia de ler presentes a entregar em breve: todos são, afinal, uma história de mulheres...


"Uma vida contada através das treze casas a que Leonor Xavier chamou suas.(...) Oriunda de uma família da média-alta burguesia, casada cedo com um jurista brilhante, com três filhos pequenos, passa do ambiente protegido de uma família tradicional numa casa da Lapa, para São Paulo, no Brasil, quando, em 1975, ela e o marido decidem começar uma nova vida fora de Portugal. 

 Tudo é novo: a situação precária em que chegam, os trabalhos ocasionais, a nova escola dos filhos, a empregada brasileira, a solidariedade dos amigos que conhecem no Brasil, a língua diferente, os costumes muito mais livres.


 Mais tarde, o regresso a Portugal, a adaptação ao país diferente que vem encontrar, o recomeçar de novo,integrando na sua nova vida o espírito optimista, sem preconceitos e convivial que foi talvez, para além dos muitos amigos, o que de melhor lhe ficou da experiência brasileira."


Houve dois erros no seu obituário. A data em que se mudou de Londres para Nova York: um ano de diferença. E a ortografia do nome de solteira da Esposa Um.Na maior parte do tempo, Apolo ignora-me. Poderia muito bem viver sozinho aqui. Por vezes estabelece contacto visual comigo, mas então desvia imediatamente o olhar. Os seus grandes olhos castanhos são surpreendentemente humanos; eles recordam -me os seus. (…) Ter o seu cachorro por perto é como ter uma parte dele comigo. A sua escrita era boa por três motivos principais: falta de sentimentalismo, falta de autopiedade e sentido de humor. (…) Uma daquelas histórias que precisavam ser atenuadas para evitar o convencimento forçado. (…) Ela passou dois anos numa casa de recuperação em luta contra o vício das drogas, a vergonha e a tentação (…) Como muitas pessoas que conheci, ela acredita que escrever lhe salvou a vida.
A vida transforma-se rapidamente.A vida muda num instante. Sentas-te para jantar e a vida, como a conheces, termina. A questão da autocomiseração. 

A vida muda num instante.Um instante normal. Oh, a mente! A mente como uma montanha: precipícios de queda.

 Assustadores, absolutos, inimagináveis pelo homem.


Tabucchi, no prólogo, afirma que este livrinho de histórias não conseguirá ser um dos honestos livros de viagem que ele mesmo aprecia, “género que pressupõe tempestividade de escrita ou uma memória impermeável à imaginação que a memória produz“, mas antes um compêndio de ilusões. 

   Também eles andam em bandos mas não levam fêmeas (…) Cansam-se depressa, e quando cai a noite estendem-se sobre as pequenas ilhas que os transportam e talvez adormeçam ou olhem para a Lua. Vão-se embora deslizando em silêncio e percebe-se que são tristes.


Na Horta, no primeiro domingo de agosto, é a festa dos baleeiros. Alinham os seus barcos pintados de fresco na baía de Porto Pim, o sino toca brevemente um duplo som rouco, chega o padre e dá a bênção aos barcos. Depois organiza-se uma procissão que vai ao promontório que domina a baía, onde fica a Capela de Nossa Senhora da Guia. Atrás do padre vão as mulheres e as crianças, por fim os baleeiros, cada um com um arpão ao ombro. Vão muito circunspectos e vestidos de preto. Entram todos na capela para assistir à missa e deixam os arpões encostados ao muro externo, um a seguir ao outro, como noutras terras se encostam as bicicletas.


A solução para a falta de dados de sexo e género é clara: nós precisamos acabar com a falta de representatividade feminina. Quando mulheres estão envolvidas no processo de tomada de decisão, em pesquisa, em produção de conhecimento, as mulheres não são esquecidas. 

 Imagine um mundo onde os telemóveis são demasiado grandes para as suas mãos. Onde os médicos prescrevem medicamentos errados para o seu corpo. Onde, num acidente de automóvel, tem mais 47% de probabilidade de sofrer ferimentos graves. Onde, em cada semana, as suas incontáveis horas de trabalho não são reconhecidas nem valorizadas. Se isto lhe parece familiar, há grandes hipóteses de ser uma mulher. Mulheres Invisíveis mostra-nos como um mundo largamente construído por e para homens ignora sistematicamente metade da população. Estas páginas expõem o preconceito de género que está na raiz da discriminação que afeta diariamente a vida
 das mulheres.
( Este , afinal, decidi não o dar, pois não me pareceu adequado para a pessoa a quem se destinava...)

Sinopse - Wook : 

"Um casal, decidido a separar-se e de malas feitas, é obrigado pelas autoridades de saúde a uma quarentena. O seu apartamento transforma se numa arena de proximidade física e distâncias calculadas, onde os restos da vida amorosa e o trautear televisivo de uma pandemia mudam o mundo por dentro e por fora.
 Ali, sob o regime forçado de uma intimidade perdida, percebemos como, entre antigos amantes, vizinhos e desconhecidos, a saudade das multidões e dos sentimentos sempre estiveram à altura de nos resgatar do peso do presente."

"Uma introspeção inesperada, à porta fechada, sobre o que é o amor, onde começa, acaba e recomeça."


"Uma história de amor em 40 dias."


Caímos antes da queda, e agora? (…)
O algarismo é um insulto, naturalmente. 0 filhos soa a mais absoluto que zero filhos. e nós já não somos um casal, quanto mais Um Casal.

 

Dia 3: Casa para viver é chão para morrer
(…) – Quero construir um muro aqui. (…)
A nossa casa deforma-se entre ruínas, Já fomos tão parecidos que podíamos ser invisíveis (…) Fomos duas metades do melhor de dois mundos.

 

 a matemática sobrevive à quarentena melhor que a intimidade.

 

O vírus está em toda a parte e não se vê, subiu ao patamar exigente de uma religião. Em vez de uma missa, ouvimos políticos a contar os mortos e os recuperados, diariamente.

A imagem de um desmoronamento, sensual como roupa a desaparecer, a roçar o corpo enquanto cai, perto da pele. A «soçobrar.

 

(…) ninguém está autorizado a sair. Se alguém cometer um assassinato será obrigado a voltar ao local do crime: se alguém já foi feliz, regressará algemado ao sítio da antiga felicidade. (…)
O poder é o elefante na sala e está sempre na sala.
O governo pede-nos para nos portarmos bem, diz que somos muito elogiados lá fora. No confinamento, lá fora é a melhor metáfora, quem é que não quer ser elogiado lá fora.

Sem comentários: