Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

domingo, 12 de dezembro de 2021

Dualidades...



 

No meu desespero, escolhia a maior parte das vezes os temas mais remotos, que me exigiam esforços demorados e nunca eram aceites.(...)Eu ... alguma vez haveria de conseguir. 

Eu tinha maus presságios quanto ao destino do meu artigo... 

 o meu artigo fora aceite, tinha ido imediatamente para a tipografia!... a receber dez coroas. 

 Vamos, toca a entrar, meu pecador esfomeado! Consigo,no mínimo, cinco coroas para te dar. E empurrou-me lá para dentro. 

  Abracei-a violentamente,depois recuei, embati na porta e saí recuando. E ela, ela ficou lá dentro. 

  Então, ele deume trabalho.(...) 
despedi-me de Kristiana, onde as luzes brilhavam nas janelas de todas as casas.
“O real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia”. 

“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.

 “Apertou em mim aquela tristeza, datodas, que é a sem razão de motivo”.

 “Se eu fosse filho de mais ação e menos ideia, isso sim, tinha escapulido, calado “

. “Um dia ainda entra em desuso matar gente”. 

“O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo”. 

“A gente morre é para provar que viveu”. “Viver é muito perigoso: sempre acaba em morte”. “Quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade”. “Como é que posso com este mundo? A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo no meio do fel do desespero”. “Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por que é que é”. “Tem horas em que penso que a gente carecia, de repente, de acordar de alguma espécie de encanto”. “Uma coisa é pôr ideias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas”. “E a gente, isso sei, às vezes é só feito menino. Se tem alma, e tem, ele é de Deus”. “E o chiim dos grilos ajuntava o campo”. “Ah, a mangaba boa só se colhe já caída no chão, de baixo…”. ”A colheita é comum, mas o capinar é sozinho”. “Viver é um descuido prosseguido”. “O senhor ache e não ache. Tudo é e não é …” “Passarinho que debruça – o voo já está pronto”. “Sou só um sertanejo, nessas altas ideias navego mal. Sou muito pobre coitado. Inveja minha pura é de uns conforme o senhor, com toda leitura e suma doutoração”. “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa”. “Deus é paciência. O contrário é o diabo”. “O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando”. “A gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?”. “Quem-sabe, a gente criatura ainda tão ruim, tão, que Deus só pode às vezes manobrar com os homens é mandando por intermédio do diá?”. “O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo”. “Cavalo que ama o dono, até respira do mesmo jeito”. “Quem desconfia fica sábio”. “Passarinho cai de voar, mas bate suas asinhas no chão”. “Ser ruim, sempre, às vezes é custoso, carece de perversos exercícios de experiência”. “O espírito da gente é cavalo que escolhe estrada”. “Medo, não, mas perdi a vontade de ter coragem”. “O jagunço Riobaldo. Fui eu? Fui e não fui. Não fui! – porque não sou, não quero ser”. “Eu careço de que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! (…) Este mundo é muito misturado …”. “Mas, na ocasião, me lembrei dum conselho de Zé Bebelo, na Nhanva, um dia me tinha dado. Que era: que a gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar de ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente”. “A morte é para os que morrem”. “A vida da gente vai em erros, como um relato sem pés nem cabeça, por falta de sisudez e alegria. Vida devia de ser como sala do teatro, cada um inteiro fazendo com forte gosto seu papel, desempenho”. “Preto é preto? branco é branco? Ou: quando é que a velhice começa, surgindo de dentro da mocidade”. “No centro do sertão, o que é doideira às vezes pode ser a razão mais certa e de mais juízo!”. “Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera”. “O bom da vida é para cavalo, que vê capim e come”. “E sei que em cada virada de campo, e debaixo de sombra de cada árvore, está dia e noite um diabo, que não dá movimento, tomando conta.” “Tudo que é bonito é absurdo – Deus estável”. “Liberdade – aposto – ainda é só alegria de um pobre caminhozinho, no vão dos ferros de grandes prisões”. “Sertão é o sozinho”. “Sertão: é dentro da gente”. “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”. “Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura”. “Tudo que já foi, é o começo do que vai vir, toda a hora a gente está num cômpito”. “Um sentir é do sentente, mas o outro é o do sentidor”. “Para o prazer e para ser feliz, é que é preciso a gente saber tudo, formar alma, na consciência; para penar, não se carece”. “Obedecer é mais fácil do que entender”. “Onde é que está a verdadeira lâmpada de Deus, a lisa e real verdade?”. “Tive medo não. Só que abaixaram meus excessos de coragem”. “O sertão é sem lugar”. “Rir, antes da hora, engasga”. “Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só fazer outras maiores perguntas”. “Somente com a alegria é que a gente realiza bem – mesmo até as tristes ações”. “O senhor sabe o que é silêncio é? É a gente mesmo, demais”

O texto  que se segue, de  autoria de Bernardo Soares,  foi,  abusivamente, tornado um poema de Fernando Pessoa, num formato " jeitoso" para ser divulgado nas redes sociais...

De resto eu não sonho, eu não vivo, salvo a vida real. Todas as naus são naus de sonho logo que esteja em nós o poder de (as) sonhar. O que mata o sonhador é não viver quando sonha; o que fere o agente [...] é não sonhar quando vive. Eu fundi numa cor una de felicidade a beleza do sonho e a realidade da vida. Por mais que possuamos um sonho nunca se possui um sonho tanto como se possui o lenço que se tem na algibeira, ou, se quisermos, como se possui a nossa própria carne.

Por mais que se viva a vida em plena [...] e triunfante acção, nunca desaparecem o (...) do contacto com os outros, o tropeçar em obstáculos, ainda que mínimos, o sentir o tempo decorrer.

Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.

Universo, a Vida — seja isso real ou ilusão — é de todos, todos podem ver o que eu vejo, e possuir o que eu possuo — ou, pelo menos, pode conceber-se vendo-o e passando e isso é (...)

Mas o que eu sonho ninguém pode ver senão eu, ninguém a não ser eu possuir. E se do mundo exterior o meu vê-lo difere de como outros o vêem, isso vem de que do sonho meu eu ponho em vê-lo sem querer, do que do sonho meu se cola a meus olhos e ouvidos.

Ainda bem que ninguém se lembrou de macular , até ver, o que de mais belo se escreveu em português, sobre o sonho, na forma de uma carta:

Assim soubesses tu compreender o teu dever de seres somente o sonho de um sonhador. Seres apenas o turíbulo da catedral dos devaneios. Talhares os teus gestos como sonho, para que fossem apenas janelas abertas para paisagens nuas da tua alma. De tal modo arquitectar o teu corpo em arremedos de sonho que não fora posssível ver-te sem pensar noutra coisa, que lembrasses tudo menos tu própria, que ver-te fosse ver música a atravessar, sonâmbula, grandes paisagens de lagos mortos, vagas florestas silenciosas perdidas ao fundo doutras épocas, onde invisíveis pares diversos vivem sentimentos que não temos. Eu não te quereria para nada senão para te não ter. Queria que, sonhando eu e se tu aparecesses, eu pudesse imaginar-me ainda sonhando — nem te vendo talvez, mas talvez reparando que o luar enchera de (...) os lagos mortos e que ecos de canções ondeavam subitamente na grande floresta inexplícita, perdida em épocas impossíveis. 

 A visão de ti seria o leito onde a minha alma adormecesse, criança doente, para sonhar outra vez com outro céu. Falares? Sim, mas que ouvir-te fosse não te ouvir mas ver grandes pontes ao luar ligar as duas margens escuras do rio que vai ter ao mesmo mar onde as caravelas são nossas para sempre.

 Sorris? Eu não sabia disso, mas nos meus céus interiores andavam as estrelas. Chamas-me dormindo. Eu não reparava nisso mas no barco longínquo cuja vela de sonho ia sob o luar, vejo longínquas marinhas.




Lamentação de Adriano sobre a morte de Antínoos 

 Não escreverei mais o meu nome em letras gregas sobre a cera das tabuinhas 

Porque estás morto

E contigo morreu o meu projecto de viver a condição divina.

Sem comentários: