José Saramago

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

No Antigo Testamento, Job rasga o seu manto e expõe as marcas do mal que o reveste. Esse manto, que todos nós carregamos, é impossível de ser descrito, pois, desagasalhando-nos ou ocultando-nos, subsiste sempre no seu arrastar de «todas as fúrias e ternuras do mundo», expondo tanto as suas manchas e os seus rasgões como as marcas do corpo que protege.

 O Manto, de Agustina  enovela as várias personagens do Porto de finais dos anos cinquenta do século XX, em simultâneo com a família de Job, entrecruzando-as e às suas experiências num ensaio visionário sobre a natureza humana – donde irrompem tanto as paixões como, também, a perversidade que já vários apontaram a Agustina, e que ela refuta, no entanto, sublinhando a diferença entre o saber-se o que é a perversidade, e sê-lo, de facto.  João Miguel Fernandes Jorge 


 
Em O Manto  há  várias personagens principais, que a narradora mergulha na melancolia, na inquietude e  na incerteza,  O desenho das paisagens da extinta província do Entre-Douro-e-Minho, entre o Porto e a Serra d’Arga, constrói-se a partir das personagens e das suas relações pessoais; na fragilidade de Lourença, na argúcia  de Filipe, na paixão de Gracia.

 Entre galanteios, conluios, discussões filosóficas ou discussões prosaicas, retrata  a sociedade portuense,  que se fragmenta nas aspirações, nas paixões, nas desilusões, nas ambições das  personagens, que oscilam oscilantes entre o altruísmo e a venalidade, que tecem o manto de «farrapos imensos onde se embalou a morte», o manto que «não se lê nem se escreve»

 No fim deixa  em aberto o destino das personagens e as questões que irrompem ao longo da narrativa . «Eis como se termina um livro – deixando sempre alguma coisa por dizer».

     Se sair desta casa, será algemada. Devia ter fugido enquanto podia. Agora, a minha oportunidade desapareceu. Neste momento, os polícias estão na casa e descobriram o que está no andar de cima, não há volta atrás. Estão a cerca de cinco segundos de me ler os meus direitos. Não sei muito bem por que não o fizeram ainda. Talvez esperem induzir-me a dizer-lhes algo que não devia. Boa sorte com isso.


     Não é , de modo nenhum, o tipo de livro que me cativa. Reconheço, no entanto, que a intriga romanesca prende e, sobretudo, surpreende. Lê-se com agrado, pois os diálogos estão  bem construídos e dão muita vivacidade à narrativa. Tem ingredientes para dar um bom filme de suspense.

   
 Nina não sairá daquela casa algemada...

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