O Manto, de Agustina enovela as várias personagens do Porto de finais dos anos cinquenta do século XX, em simultâneo com a família de Job, entrecruzando-as e às suas experiências num ensaio visionário sobre a natureza humana – donde irrompem tanto as paixões como, também, a perversidade que já vários apontaram a Agustina, e que ela refuta, no entanto, sublinhando a diferença entre o saber-se o que é a perversidade, e sê-lo, de facto. João Miguel Fernandes Jorge
Em O Manto há várias personagens principais, que a narradora mergulha na melancolia, na inquietude e na incerteza, O desenho das paisagens da extinta província do Entre-Douro-e-Minho, entre o Porto e a Serra d’Arga, constrói-se a partir das personagens e das suas relações pessoais; na fragilidade de Lourença, na argúcia de Filipe, na paixão de Gracia.
Entre galanteios, conluios, discussões filosóficas ou discussões prosaicas, retrata a sociedade portuense, que se fragmenta nas aspirações, nas paixões, nas desilusões, nas ambições das personagens, que oscilam oscilantes entre o altruísmo e a venalidade, que tecem o manto de «farrapos imensos onde se embalou a morte», o manto que «não se lê nem se escreve»
No fim deixa em aberto o destino das personagens e as questões que irrompem ao longo da narrativa . «Eis como se termina um livro – deixando sempre alguma coisa por dizer».
Se sair desta casa, será algemada. Devia ter fugido enquanto podia. Agora, a minha oportunidade desapareceu. Neste momento, os polícias estão na casa e descobriram o que está no andar de cima, não há volta atrás. Estão a cerca de cinco segundos de me ler os meus direitos. Não sei muito bem por que não o fizeram ainda. Talvez esperem induzir-me a dizer-lhes algo que não devia. Boa sorte com isso.
Nina não sairá daquela casa algemada...
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