Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Eu, goethe e a santísima trindade...

Dos autores que Joyce considerava a " santíssima trindade" da cultura europeia, só goethe me interessa. Não gosto de ler dante nem shakespeare, são símbolos culturais cujo indiscutível mérito reconheço, mas que não me emocionam. Li-os com a mesma atitude com que visitei as capitais europeias e com que ingiro fruta: não por prazer, mas porque é preciso - uma obrigação , não um deleite. Ler dante e shakespeare entedia-me, viajar cansa-me, comer fruta arrepia-me...

Nimbus são nuvens densas , com aspecto amorfo, base difusa e baixa, muito espessa, escura ou cinzenta, que ocultam o sol , produzindo precipitação intermitente e mais ou menos intensa.
Formam-se em massas de ar com alguma instabilidade, quando a humidade é moderada ou alta e a temperatura é relativamente elevada, e estão normalmente associadas a frentes quentes ou oclusas. A evaporação da água da chuva torna normalmente a visibilidade baixa, podendo-se formar uma camada inferior de nuvens ou de nevoeiro por debaixo dos nimbus, se o ar ficar saturado.

Adormeci e acordei nimba...

" As nuvens são para Goethe seres animados, nem fixas, nem voláteis, mas, como tudo na natureza, formas em permanente transformação, elementos de uma coreografia cósmica...Goethe reconhece que a natureza se abre a certos espíritos e comunga íntima e ininterruptamente com certas almas . É por este espectador duplo - mas não dividido- que a observação das nuvens em Goethe tem sempre uma vertente empírica e outra simbólica. Mas de onde vem o interesse de Goethe pelas nuvens, o tema específico dos textos reunidos neste pequeno volume? O catalisador directo do interesse meteorológico foi o conhecimento da teoria classificativa das nuvens apresentada em 1802 por Luke Howard (On the Modifications of Clouds, publicado em 1803), de que Goethe toma conhecimento através do Grão-Duque Carlos Augusto, que em 1815 mandara construir no Ettersberg, a norte de Weimar, a primeira estação meteorológica do grão-ducado.”

O grau de fascínio que sobre mim exerceram as classificações das nuvens por Howard está bem patente em muitas páginas do volume científico no qual incluí também esta nota.O meu desejo de dar forma ao informe , de encontrar um princípio que possa reger a infinita mutação das formas, está igualmente patente em todos os meus esforços no âmbito científico e artístico.

Apresentamos aqui a terminologia de Howard pela ordem segundo a qual as formações nebulosas podem entrar em relação , qur com a terra, quer com as regiões superiores.
Stratus
Cumulo- stratus
Cumulus - Estas são aquelas fantásticas que verdadeiramente merecem o nome de nuvens.
Cirro - cumulus
Cirrus
Cirro - stratus
Nimbus


Se a região superior, com a sua energia dissecante, capaz de absorver e dissolver em si a água, vence a disputa, estas massas concentradas dissolvem-se e desfiam-se nas pontas superiores, elevam-se em flocos e nós vemo-las como cirrus que acabam por desaparecer no espaço infinito. Mas se for a região inferior a vencer, a zona mais propícia a atrair a si a mais densa humidade e a mostrá-la em gotas sensíveis, então a base horizontal do cumulus desce, a nuvem alarga-se e forma um stratus, fica parada ou anda, alternadamente, e acaba por cair na terra sob a forma de chuva, fenómeno que, conjuntamente com o anterior, recebe o nome de nimbus.

Mas ele, Howard, homem clarividente,
Com a sua doutrina ensinou toda a gente.
O que o céu não retém e o sentido não vê,
Ele primeiro o fixa, e enfim o lê;
Dá forma ao informe, seu domínio estreita,
Com o nome certo - honra lhe seja feita! -
A nuvem sobe, adensa, esgarça, desce,
E o mundo pensa em ti e agradece.


De onde vem o meu interesse pelas nuvens?

Tudo era como nuvens.Tudo existia só dentro da minha cabeça, nunca nada se materializou: não havia sonhos, não havia desejos, só um vazio preenchido por construções mentais, representações de momentos de felicidade que nunca chegaram a ser concretizados. Nunca consegui, a não ser por breves momentos, ter uma vida feita de acontecimentos que aconteceram... Sou a personagem secundária de um romance que nunca foi escrito… Se, ao menos, fosse a protagonista...

(Ao dizer "tudo era como nuvens", não tinha noção de que não estava a ser rigorosa: que tipo de nuvens?
Impossível, agora, não revisitar aristófanes, embora esta digressão não esteja anunciada no título...)


Diálogo entre Estrepsíades (E) e Sócrates (S): um bom exemplo da "arte do convencimento":

E- Mas... Então e Zeus?... Vejamos pela Terra!... Então Zeus Olímpico não é deus?
S- Qual Zeus nem meio Zeus!... Não digas asneiras: Zeus... não existe!
E- Que é que estás dizendo? Então quem é que chove? Sim, antes de mais nada, explica-me lá essa coisa.
S- São as nuvens que chovem, obviamente. E é isso mesmo que te vou demonstrar com provas irrefutáveis. Ora bem: onde é que já alguma vez viste chover sem haver nuvens? Em boa verdade, ele, Zeus, deveria chover com céu limpo, na ausência de nuvens.
E- Por Apolo! Com tal argumento provaste muito bem essa teoria... E eu que dantes cuidava que era mesmo Zeus a mijar por um regador!... Mas... Explica-me mais uma coisa: quem é que troveja, que até me põe todo a tremelicar?
S- São elas, as nuvens, que, ao rebolarem-se, provocam, os trovões.
E- Mas como é isso, criatura tão desmedida?
S- Ao encherem-se abundantemente de água, são forçadas, por via disso, a deslocar-se. Ora, assim cheias de chuva, forçosamente ficam penduradas para baixo... Vai daí, mais pesadas, caem uma sobre as outras, rebentam e estalam.
E- E quem é que as força a mover-se? Não é Zeus?
S- Nada disso... É o Tornado etéreo.
E- O Tornado? Eis uma ideia que nunca me tinha passado pela cabeça, que Zeus não existe, e que agora, em vez dele, quem reina é o Tornado..
.

E assim os deuses começaram a ser desacreditados na Antiga Grécia. Primeiro no teatro e depois na vida real. Sócrates, através de Aristófanes, coloca os fenómenos meteorológicos naturais a ocupar o lugar dos deuses, em particular do maior deles todos, o poderoso Zeus.

Romance epistolar, autobiográfico, constituído, essencialmente, pelas cartas de Werther dirigidas ao seu amigo Wilhelm . Nestas cartas, o jovem artista descreve a sua vida em Wahlheim, uma pequena aldeia para onde se mudou. Ali conhece Carlota, uma jovem de incrível beleza que está noiva de Albert, um homem onze anos mais velho. Porém, Werther, incapaz de controlar as suas emoções, apaixona-se por ela, originando um dos mais famosos triângulos amorosos da história da literatura ocidental.
Um amor que acaricia, mesmo sem estar presente. É famoso o excerto em que Werther manda o seu criado a casa de Carlota apenas para: “ter junto de mim alguém que tivesse estado na sua presença”. E continua: “Com que impaciência o esperei, com que alegria tornei a vê-lo! Não tivesse vergonha e ter-me-ia atirado ao seu pescoço e coberto seu rosto de beijos”. “Falam que a pedra de Bolonha, quando exposta ao sol, absorve os seus raios e reluz por algum tempo durante a noite. Dava-se o mesmo comigo e aquele rapaz. A lembrança de que os olhos de Carlota haviam pousado no seu rosto, nas suas faces, nos botões de sua casaca e na gola de seu sobretudo, tornava-o tão querido, tão sagrado para mim! Naquele momento não daria aquele rapaz nem por mil táleres! Sentia - me tão bem na sua presença...”

Tu perguntas se deves enviar-me os meus livros... Meu caro, peço - te pelo amor de Deus, deixa-os longe do meu pescoço. Não quero
mais ser guiado, animado e afogueado... Este coração já fermenta o bastante por si próprio. Necessito muito antes de canções que embalem, e essas eu as achei no meu Homero. Quantas vezes tenho de mimar o meu sangue revolto até o acalmar... Tu sabes que não existe no mundo nada tão instável, tão inquieto quanto o meu coração. Se é que tenho necessidade de o dizer a quem tantas vezes carregou o fardo de me ver passar da aflição à digressão, da doce melancolia à paixão furiosa, meu caro! É por isso que trato meu pobre coração como uma criança doente, satisfazendo-lhe todas as vontades.


Ah! este vazio! Este vazio terrível que sinto no peito! Muitas vezes penso, se pudesses uma vez, pelo menos uma vez, tê-las nos braços, bem junto ao coração, como este vazio ficaria preenchido...

Tenho tanto dentro de mim, e o sentimento por ela tudo devora; tenho tanto e, sem ela, tudo se reduz a nada.

Às vezes não posso compreender como um outro pode amá-la, se permite amá-la, ousa amá-la, quando eu a amo de maneira única, tão profunda, tão plena; quando nada conheço, nada sei, nada tenho senão a ela!

Cem vezes estive a ponto de a apertar nos meus braços... quanto custa ver tamanho encanto cruzar o nosso caminho sem se ter o direito de o agarrar; e, no entanto, esse é o instinto mais natural da humanidade.

Suplico-te... Vês que para mim acabou-se tudo... Não poderei suportar tudo isso mais tempo. Estava sentado hoje ao lado dela...Estava sentado e ela tocava diferentes árias ao piano, com uma expressividade! Que expressividade... Que queres que eu diga? As lágrimas vieram-me aos olhos. Inclinei-me e eis que dou com sua aliança de casamento... as minhas lágrimas jorraram... E de repente ela passou a tocar aquela antiga ária, cuja doçura tem algo de celestial, assim de repente... e logo senti penetrar na minha alma um sentimento de consolação, e comecei a reviver a recordação do passado, do tempo em que ouvia aquela ária, dos intervalos sombrios de desgosto, das mágoas, das esperanças iludidas e depois... Andava no quarto de um lado para outro, o meu coração sufocava. “Pelo amor de Deus!”, disse-lhe eu explodindo e caminhando ao encontro dela. “Pelo amor de Deus, acabe com isso!” Ela cessou e olhou-me atentamente: “Werther!”, disse ela com um sorriso que me trespassou a alma. “Werther! Vós estais doente, repugnam-vos os vossos acepipes favoritos. Ora, vamos, faça o favor de sossegar.” Fugi de perto dela e... Deus meu! Tu vês o meu sofrer e haverás de extingui-lo.

A casa, a vizinhança, a cidade veio em tumulto. Alberto entrou. Haviam deitado Werther sobre a cama, com a fronte amarrada. O seu rosto mostrava a palidez da morte, ele não movia nenhum membro. O pulmão estertorava ainda mais terrivelmente, ora mais fraco, ora mais forte. Apenas esperavam o seu fim. Do vinho bebera apenas um copo. Emília Galotti jazia aberta sobre a secretária. Da comoção de Alberto, do desespero de Carlota não consigo dizer nada. O velho bailio veio a correr com a notícia e beijou o moribundo debaixo das mais sentidas lágrimas. Os seus filhos mais velhos vieram logo atrás dele, a pé. Caíram junto ao leito, expressando a mais incontida das dores e beijaram as mãos e a boca do amigo; e o mais velho, aquele que ele sempre amara mais, ficou pendurado nos seus lábios até ele expirar, e só à força foi tirado dali. Morreu ao meio-dia. A presença do bailio e as providências que ele tomou evitaram uma aglomeração maior de pessoas. À noite, às onze, fê-lo enterrar no lugar que ele havia escolhido. O velho e os filhos seguiram o corpo, Alberto não teve forças. Temia-se pela vida de Carlota. Foi carregado por operários. Nenhum sacerdote o acompanhou.
FIM

Não sou romântica, mas ... não resisto ao romantismo alemão... sobretudo ao alemão...
Quando a mente é um turbilhão de pensamentos e de emoções que se projetam num vazio que não permite concluir nada, a incapacidade de distinguir a verdade da mentira transforma-se no dom de construir uma realidade virtual. Sou uma espécie de quixote, metáfora de mim mesma: sonho e vivo fugazes momentos de uma felicidade inefável, eu e as minhas projeções; eu e os meus devaneios...

Com o Fausto ainda inacabado, goethe continua a escrever Os anos de Aprendizado de Wilhelm Meister...«Wilhelm, é certo, não passa de um pobre diabo, mas é com personagens destas que melhor se deixam mostrar o jogo inconstante da vida e as inúmeras e diversas tarefas da existência e não com caracteres rígidos e já formados.»


Passado! Uma palavra estúpida. Porquê passado? Passado e puro nada, absolutamente a mesma coisa (…) ‘Passou’! O que significa isso? É como se jamais houvesse sido, e no entanto agita-se em círculos como se existisse (…)

E, por outro lado, que importava se os indivíduos se tornavam pó e brisa? Se daquele pai, daquela mãe, daquele jovem esposo se perdiam o nome e a lembrança? Enquanto os indivíduos se extinguiam, os arquétipos da vida sobreviviam vitoriosamente às gerações. Assim, durante séculos o pai brincaria com a criança; a esposa, enrubescendo, esperaria pelo esposo; o sábio prosseguiria com as suas tranquilas meditações; os reis e os povos aliar-se-iam diante dos altares solenes dos deuses.


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