Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Pesadelos e enamoramentos......

Remember this... Don't let a fool kiss you Never marry for love...



I wish I had the guts to bum one, but we've never met, And I hope that I don't fall in love with you... and you look back at me, The guy you're with has up and splits, the chair next to you's free, And I hope that you don't fall in love with me...

Pensar-te e pensar em tudo o que não li nem lerei é um só pesadelo: o meu...

Europa - Isto começou assim. Eu cá nunca tinha dito nada.Nada. Foi o Arthur Ganate que me fez falar. Arthur, estudante, de Medicina como eu, um colega. Encontrámo-nos, por sinal, na praça Clichy.
O amor é o infinito posto ao alcance dos cachorrinhos, e eu cá tenho a minha dignidade!
Quem saberia prever, antes de entrar verdadeiramente na guerra, tudo quanto esconde a alma sórdida, heróica e calaceira dos homens?

África - Os crepúsculos daquele inferno africano revelavam-se famosos... Durante uma hora o céu exibia-se de uma ponta a outra com um escarlate delirante, e depois o verde abria no meio das árvores e subia do solo em listas trémulas até às primeiras estrelas.
É precisos roubá-los antes que nos roubem, o comércio é isto, mais nada.
Tudo rouba minha gente.

América - o Dólar, um verdadeiro Espírito Santo, mais precioso do que o sangue.(...) Quando os fiéis entram no banco...falam ao Dólar murmurando -lhe coisas através de uma rede estreita, a bem dizer confessando-se .... Não engolem a Hóstia: encostam-na ao coração.

Os pobres são iguais em todo o lado...

Eu sempre receara ficar mais ou menos vazio; não ter, em suma, qualquer razão séria para existir. Naquele momento, perante factos, estava bastante ciente do meu zero individual. Num meio tão diferente daquele onde tinha hábitos mesquinhos, foi como se me dissolvesse instantaneamente. Sentia-me perto de já não existir, muito simplesmente. Por isso, mal me tinham deixado de falar de coisas familiares, eu descobrira que nada me impediria de afundar numa espécie de irresistível tédio, numa espécie de adocicada, de assustadora catástrofe de alma. Uma aversão.

Tem presença de um nível de língua que me desagrada : o que ,no início do século passado, era, em termos de linguagem, uma inovação, um atrevimento, uma ousadia rebelde e criativa, um século depois é a banalidade a imiscuir-se e a macular numa obra, de facto, excecional...Depois da elevação da prosa de Régio, mergulhar no bas-fonds de Paris é violento...

"Céline é um daqueles autores aos quais não passamos incólumes. Seja por se ter celebrizado como apoiante das mais hediondas políticas anti-semitas,seja,é isto sim importa relevar,por se tratar de uma das vozes mais lúcidas,claras e corajosas da história recente da literatura universal. Viajem ao fim da noite é um livro com cariz inegavelmente auto-biográfico, escuro, pessimista e que nos deixa,muitas vezes,sem sangue. A misantropia do autor fá-lo percorrer sem hesitação o absurdo e o grotesco do colonialismo europeu,a artificialidade do sonho americano e a hipocrisia social vigente na primeira metade do século XX. Esteticamente é incomparável e inovador,o que, inicialmente,causa alguma estranheza e necessita de um (breve) período de adaptação. A linguagem é crua,direta e com uma oralidade tremendamente realista. O resultado final é absolutamente memorável,e não deve haver consideração pessoal ou política que nos deva impedir de o ler. " Fabio Lavos Martins

Take the highway to the end of the night End of the night End of the night Take a journey to the bright midnight End of the night


Quando era adolescente, Lobo Antunes escreveu a Céline. E o francês respondeu-lhe. Isto começou assim: António Lobo Antunes tinha 14 ou 15 anos quando o pai lhe deu para ler, na versão original, “Morte a Crédito”, de Louis-Ferdinand Céline. Era um médico a dar um livro escrito por um médico a um filho que viria a ser médico. António leu-o e teve um dos seus “primeiros deslumbramentos”. Mais tarde leu “Viagem ao Fim da Noite” e Céline foi vital. “É um dos grandes escritores do século XX e, em Portugal, é muito mal conhecido ou então não é compreendido.”

“Aprendi a escrever muito cedo. Foi a minha mãe que nos ensinou a ler a todos. O meu pai começou a dar-me livros para ler, e eu ia lendo. Aos 13 ou 14 anos, ele tinha uma segunda edição de Mort à Crédit, do Céline, e eu fiquei deslumbrado. Pensei: "O que se pode fazer com as palavras!" Escrevi uma carta ao Céline a pedir-lhe um retrato, como se ele fosse um ator de cinema. Ele respondeu-me e andei anos com o envelope no bolso, onde ele tinha escrito o meu nome. Foi uma alegria tão grande! Ele a dizer: "Queres ser escritor? Isso não é boa ideia, estuda, namora. Porque se fores escritor não podes fazer mais nada.Não tenho fotografia porque não sou ator de cinema. Mas se queres ser escritor vê lá porque depois não podes ir ao cinema, não podes ter namoradas, não podes não sei lá o quê… Porque escrever é uma coisa muito difícil e exige muito tempo, tens que passar a vida agarrado ao livro…’" Nunca mais me esqueço disto: eu ter escrito uma carta ao Céline e ele ter-me respondido...”

I thought as much 'Cause you turned over there Pulling that silent disappointment face The one that I can't bea...

It's bugging me Grating me And twisting me around Yeah I'm endlessly Caving in And turning inside ...

" De toda essa obra séria e profunda que é a de Régio, nada até agora me pareceu sê-lo tão completamente como este volume." Adolfo Casais Monteiro
O tema é a viagem humana no sentido da perfeição: sempre inatingível, sem procurada.

Régio recusa a acusação narcisismo dos seus detractores: ao confessar-se, propõe-se seguir o modelo do seu personagem (o Príncipe Leonel do romance O Príncipe com Orelhas de Burro) que diz ao seu povo, falando-lhes na «praça pública»: «vou-vos fazer uma confissão e dar um exemplo». Tirando o turbante, diante da multidão atónita, o príncipe quer revelar a sua monstruosidade até aí escondida – as orelhas de burro - , mostrando-se, por fim, nu e verdadeiro – assim inaugura um reino de transparência nas suas relações com o seu povo. Régio considera que na sua confissão não há complacência narcísica, mas um desejo de transparência e verdade.

https://www.luso-livros.net/wp-content/uploads/2014/08/O-Principe-com-Orelhas-de-Burro-Jose-Regio.pdf

SINOPSE: "Não pode ser considerado em paralelo com qualquer outra obra do nosso tempo, em Portugal [...], é uma obra destinada a ficar como uma grande data da nossa literatura. José Régio encheu o seu livro de quadros e retratos em que se revela toda a sua lucidez de moralista, e também toda a força da sua criação poética; quadros e retratos em que os mais diversos tipos de humanidade perpassam, mas que são sobretudos magníficos como sátira e como crítica de costumes. Régio pretendeu dar-nos um microcosmos em que cada paixão, cada tipo humano, tivesse a sua representação."

Como quase todos os infelizes ligados por uma desgraça comum e odiada, cada um via no outro o espelho do seu infortúnio. Acrescentemos que...cada um tendia a ver no outro o próprio causador do infortúnio. Este mútuo ressentimento ia a pontos de já nem poder o triste casal escondê-lo...

"Poetas, porque vos não libertais dos vossos segredos? Que medo tendes de vos abrir? As palavras e as imagens, as rimas e os ritmos, as anedotas dos vossos poemas, suficientemente esconderão a vossa nudez; suficientemente protegerão o vosso pudor ou a vossa cobardia. E a vossa terrível nudez presente e oculta, dará aos vossos poemas uma força que os cegos não saberão donde vem, e, todavia, sentirão..." Eis a inútil lição de Rolão Rebolão aos seus confrades...

De modo que, por uma delicada, e, neste caso, inconscientemente genial adulação, desde tenra idade todos os filhos dos nobres da corte tinham também passado a usar turbantes, que mantinham em toda e qualquer eventualidade; como se todos tivessem orelhas de burro que devessem andar escondidas!... Mas esta moda foi ainda fortificada pelo seguinte: Reparara qualquer nobre dama da corte, mãe de família, que o sítio onde toda a gente tem as suas orelhas naturais e normais — era, na cabecinha do príncipe, de tal modo embrulhado em ricos tecidos, de forma a que nem pontinha das suas certamente naturais e normais orelhas fora alguma vez vista! Vá, então, de capricharem as mais elegantes donas da corte em nada deixar ver das orelhas dos seus nobres filhos! O que, perdoe-se-me a insistência, pudera atrair a inaceitável suposição de terem todos eles orelhas de burro a esconder...

A qualquer homem não dará a indumentária (e particularissimamente a um príncipe) uma superior confiança em si próprio e um superior contentamento de si próprio, uma noção mais pertinente da sua posição social e adstritas responsabilidades civis, —
consequentemente, um maior rendimento da sua atividade e uma bem mais entusiasta dedicação ao exercício das suas funções?E não será esta a razão profunda do uso de fardas, librés, uniformes?


Assente a sociedade sobre convenções necessárias, firmada toda a vida de relação em necessárias ilusões e miragens, (sejamos corajosos e digamos tudo: entronizado este mundo no altar da imprescindível e triunfante mentira) acaso o tal qual se é ou como se é sem disfarce, porventura o nu ou o traje menor mesmo belos, (e em que nudez não haverá crueza chocante?...) não serão, em última análise, perturbantes e perigosos, anarquizantes e destrutivos? E disto não mostra a sociedade intuição aguda, lúcida, tentando, por todos os meios, amordaçar quaisquer pregadores da sinceridade bruta?

Assim a proscrição de espelhos nas câmaras do nosso príncipe acabara por já nem ser notado: Tal era a moda em todas as casas de gente bem nascida, ou satélite desta. E já ninguém sequer se lembrava que do palácio viera tal moda, nem à cabeça de ninguém podia ocorrer o achá-la estranha!

Um rapaz de dezoito anos e tão perfeito, com tão bem timbrada voz, tão amável para todos, ser o herdeiro do trono e já saber tanto, e ainda estudar tanto, — que maravilha! (...) Sem dificuldade criam os mais simples todos esses ditos e lendas. Por isso, quando ouviam o príncipe Leonel, olhavam-no com gratidão e um embevecido pasmo. Nem precisavam de o entender: Sabiam que dizia coisas admiráveis.

Não poderia a juvenil despretensão do herdeiro do trono encorajar certas ideias subversivas de igualdade antinatural e antissocial? ou não poderiam os propagandistas da confusão, os incitadores da desordem, os semeadores da rebelião e do erro, aproveitar junto dos simples, dos idealistas, dos desgraçados, dos incautos, torcendo-as e corrompendo-as no seu verdadeiro
sentido, essas generosas e arejadas inclinações da sua Alteza? Numa palavra: Não poderia, em parte, propiciar Sua Alteza, com os seus levantados ânimos de inovação e fraternidade, futuras complicações a si próprio, dificuldades imediatas ao seu real Pai? E valeria esse risco a mísera canalha que vai para aonde a levam todos os agitadores, crê em tudo com que lhe acenam todos os
comicieiros, e acaba por pôr ao serviço de todos os violentos, audaciosos, ambiciosos ou doentios exibicionistas a sua força bruta de monstro sem cabeça...?


Ora pergunto, perguntará o leitor, e todos, então, perguntavam: Seria fácil escolher noiva para tal portento?

Leonel... Leonilde!... E vendo-os bailar juntos, a cara dela um bocadinho acima do ombro dele, o corpo dele, esbelto e másculo, tão bem proporcionado ao fino, ondulante, e, ao mesmo tempo, macio e altivo corpo dela, a mão dela poisada com tanta graça, e tão branca e longa, na mão dele, tão forte, mas segurando-a com tanta leveza, — quem não repetiria o «Deus os fez Deus os juntou» das velhas princesas e duquesas enlevadas? (Das velhas princesas e duquesas babadas, diria eu, se a expressividade do termo não fosse chocantemente realista; demasiado, quando aplicado a damas de tanta linhagem, e em tão delicado e galante momento...)Ora se os corpos de Leonel e Leonilde pareciam as duas metades perfeitas de um corpo ideal completo,um par unificado, em que a força e à seca elegância varonis se fundissem, enfim, com a languidez e a flexuosa finura femininas, não era menos de pasmar que tanto se aproximassem os seus espíritos!

arquejando, (tal qual Rolão Rebolão ao sentir aproximar-se a verdade) pôs-se a desfazer ao espelho, atrapalhadamente, aquele turbante sem o qual nunca se vira. Os seus olhos olhavam espantados, talvez sem ver, na face cor de terra. Pela primeira vez desde que se conhecia, — estranhava nunca se ter visto sem um turbante!

O sarcástico espelho lá estava em frente, a demonstrar-lhe a pavorosa certeza; e perante a grotesca autocaricatura, tudo se lhe representou ao vivo como real. Então, o príncipe Leonel quis tentar um desafogo chorando; mas o seu aniquilamento, o seu negrume interior, o seu doloroso pasmo, — eram demasiado intensos para que pudessem derivar em lágrimas; tanto mais que, até ao presente, sempre fora feliz, e bem raras vezes as glândulas lacrimais lhe tinham tido oportunidade de se exercitarem na sua função.

O que ele queria era fugir!, não podia pensar agora em mais nada. E era com tal fito que, entre os seus opulentos trajos, tão
opulentos que certamente logo denunciariam nele o grande senhor, procurava um com que pudesse passar despercebido. Em vão. Nos seus armários, nos seus gavetões, nas suas arcas, não havia fato que não fosse demasiado elegante, demasiado rico e demasiado belo.


Leonel podia, enfim, chorar. Nem ele sabia como, repentinamente, os olhos se lhe tinham enevoado, cegado de lágrimas que lhe
rolavam agora pelas faces, e caíam nos dedos, umas após outras... Era a primeira vez que tal lhe sucedia na vida! Também era a primeira vez que deixava, tão incerto do regresso, aquele imenso casarão em que nascera, brincara, se criara, — aquele seu mundo em que vivera a sua vida cega e feliz: uma vida que nunca, nunca mais recuperaria!


— Oh, oh!... — cascalhou Rolão Rebolão — já descobri que o príncipe perfeito também chora! Agora também pede perdão?
— Também! — disse o príncipe — também chora e também pede perdão. O príncipe perfeito nunca foi perfeito...


as mulheres são um belo degrau! Lavando essa cara, e com esses teus modos de príncipe infeliz, podes agradar a uma duquesa. Depois é trepar! Uns descem e outros sobem.

Mais uma vez o príncipe Leonel verificava o seu poder de atração sobre as mulheres. Se ao prestígio do papel ainda pudera atribuir esse poder no seu papel de príncipe prodigioso, — agora tinha confirmação de que a sua simples pessoa bastaria para as seduzir.

disse-lhe com súbita dureza o companheiro — sabes porque sou capaz de claramente me ver... me conhecer... me confessar? Por desprezo! Porque me desprezo. Desprezo é o sentimento, se é sentimento, que a humanidade mais geralmente me inspira; e às vezes ódio, quando pinta de belas aparências os seus piores vícios e cobardices; (...) analisa um bocadinho a caridade deles e o
teu reconhecimento. Qual o fundo dessas lindas aparências? Comodismo, vaidade, capricho, amor próprio, complacência..., e também certa sentimentalidade torpe, certo amolecimento obsceno a que, por aí, chamam bondade, e que só damos aos outros para que os outros no-los deem a nós; ou para os darmos nós a nós próprios. Desprezo, meu rapaz! Eis o que todos merecemos; o que tudo isto merece. (...) Era um grande inquieto; mas desde que desprezo, alcancei a paz. Vivo pachorrentamente, assisto à desgraça dos outros, divirto-me de vários modos, sou tão feliz quanto me é possível sê-lo.

Não há melhor libertação do que o desprezo! nem melhor arma de defesa ou ataque! nem melhor vingança, nem melhor gozo... O amor ou o ódio são fraquezas; cadeias; mas o desprezo quebra todos os laços...

Choro muitas vezes quando invento as minhas histórias.Tudo o que a gente inventa é verdade! demasiado verdade, às vezes...

Por mais suportável, iludível, até superável que se torne, o sofrimento individual dói em qualquer parte do indivíduo.

Contra a nossa corrupção é que é preciso começar a luta, o que mais urge vencer é a nossa condição. Por quê, para quê, falar em progresso, em doutrinas mais amplas ou justas, em melhores regimentos sociais e políticos, — se cada um de nós não busca progredir, alargar-se, tornar-se mais justo, ser, enfim, capaz de realizar um mundo novo? O progresso é conquistado por homens, as doutrinas elaboradas e seguidas por homens, os regimes efetuados por homens, obedecidos por homens. Se o homem não melhora, tudo virá a cair nos mesmos vícios. O erro não pertence às doutrinas senão porque pertence aos homens! Se o homem não melhora, — que poderá melhorar?!

Tell me no lies. Just hold me close; Don't patronize. Don't patronize me.'Cuz I can't make you love me If you don't.

Shadows settle on the place that you left Our minds are troubled by the emptiness...

"En mis libros abundan estas pequeñas cosas, estos pequeños elementos tienen la función —dejando a un lado la historia o la escena que se cuenta- de dar la capacidad de reconocimiento al lector. Creo que las emociones en la literatura se producen a través del reconocimiento. Un lector se emociona porque lee alguna cosa que reconoce como verdad sobre un tema en el que él quizás no había pensado de esa manera o que nunca se había formulado o planteado; y que sin embargo lo reconoce como verdadero. Se necesita que exista el reconocimiento en el interior del libro mismo, de cosas se leyeron cincuenta o cien páginas antes. Estoy muy atento a esto."

As pessoas não querem saber porque é que alguma coisa aconteceu, só que aconteceu e que o mundo está cheio de imprudências, perigos ,ameaças e má sorte que roçam por nós...

É outro dos inconvenientes de ser vitimado por uma desgraça:em quem a sofre os efeitos duram muito mais do que a paciência dos que se mostram dispostos a ouvi-lo e acompanhá-lo, a incondicionalidade nunca é muito longa e tinge-se de monotonia. E assim, mais tarde ou mais cedo, a pessoa triste fica só quando ainda não terminou o seu luto ou já não se lhe consente que fale mais daquilo que ainda é o seu único mundo, porque esse mundo de angústia é insuportável e afugenta. Verifica que para os outros qualquer desdita tem uma data de caducidade social, que ninguém está disponível para a contemplação do desgosto, que esse espetáculo só é tolerável durante uma breve temporada, enquanto nele exista ainda a comoção e dilaceração e uma certa possibilidade de protagonismo para os que olham e assistem, que se sentem imprescindíveis e salvadores, úteis. Mas ao verificarem que nada muda e que a pessoa afetada não avança nem emerge, os outros sentem-se humilhados e supérfluos, tomam isso quase como uma ofensa e afastam-se...

O que dura deteriora-se e acaba por apodrecer, aborrece-nos, vira-se contra nós, satura-nos , cansa-nos. (...)As únicas coisas que não nos falham são as que nos são arrebatadas, as únicas que não deixamos cair são as que desaparecem contra a nossa vontade... O prolongamento altera tudo .

Toda a gente inicialmente é um sucedâneo. Toda a gente tem um suplente.( ...) Sim, todos somos arremedos de pessoas que nunca chegámos a conhecer...de gente que se deteve , mas se cansou passado um tempo e desapareceu sem deixar rasto... somos apenas o que está disponível, o resto, as obras...

Mais um dia , mais uma hora a seu lado, mesmo que essa hora demore séculos a surgir; a vaga promessa de tornar a vê-lo mesmo que passem muitas datas pelo meio, muitas datas de vazio. Apontamos na agenda aquelas em que nos telefonou ou em que o vimos, contamos as que se sucedem sem receber qualquer notícia, e esperamos até outra noite para as considerarmos definitivamente desertas ou perdidas...pensamos" Lembra-se de mim quando está aborrecido ou sofreu uma contrariedade com a pessoa que lhe interessa..."( ...) Quando a teia de aranha nos apanha, fantasiamos, sem limites e ao mesmo tempo consolamo-nos com qualquer migalha, com ouvi-lo, com cheirá-lo, com vislumbrá-lo, com pressenti-lo, com o facto de estar ainda no nosso horizonte não ter desaparecido de todo...

A retificação dos sentimentos é lenta,desesperadamente gradual. Uma pessoa instala-se neles e torna-se muito difícil sair, adquire-se o hábito de pensar em alguém com um pensamento determinado e fixo - e adquire-se também o de o desejar - e não se sabe renunciar a isso da noite para o dia, ou durante meses e anos , tão longa pode ser a sua aderência.



I fantasise and call it quits I swim with the economists And I get to the bottom of it for good By the time reality hits The chimes of freedom fall to bits The shining city on the fritz They come out of the cracks Thirsty for blood...


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