Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

sábado, 28 de novembro de 2020

Solidões...



Nasci, como todos. sem o querer... Cresci, como todos, sem saber porquê... Tornei-me adulto, como todos, sem me entender... Continuei a crescer... Hoje sou tão só o que nunca se entendeu, mas que cresceu, cresceu...sem saber porquê... Morrerei, como todos, sem o querer...



A admiração dos alunos é , para um professor, uma verdadeira droga... 

"A vida, nessa época que agora me parece pertencer a outra pessoa, estava cheia de possibilidades. Também as possibilidades, vim a constatar, pertenciam a outra pessoa: foram-se extinguindo impercetivelmente, como a maré que recua, até me deixarem com o que agora sou..."

A noite abre os seus ângulos de lua 
E em todas as paredes te procuro 

 A noite ergue as suas esquinas azuis 
E em todas as esquinas te procuro 

 A noite abre as suas praças solitárias 
E em todas as solidões eu te procuro 
Ao longo do rio a noite acende as suas luzes

 Roxas verdes azuis. Eu te procuro.


Kahnnak estava sempre a fugir, estava sempre a lutar.
Maria Llurbai fica para trás, não sabe o que dizer, não sabe o que fazer. Está demasiado sozinha e não sabe ainda gritar nessa língua isolada, nessa língua nova que não tem ninguém ao lado.


"História de Haňta que prensa e destrói livros no subsolo de Praga, e que, por amor, salva dessa hecatombe textos de Kant, Hegel, Camus, Novalis e Lao-Tsé, condenados à destruição pelas autoridades. Até que, um dia, o progresso quer aniquilar. É uma obra sobre a indestrutibilidade da memória e da palavra e o seu poder redentor em tempos bárbaros.

É em vão que todos os inquisidores do mundo queimam livros, pois, quando um deles contém algo de válido, o seu riso silencioso persiste mesmo no meio das chamas, porque o significado de um livro verdadeiro vai sempre para além dele.

Posso dar-me ao luxo de me abandonar, mesmo que nunca tenha um sentimento de verdadeiro abandono, estou apenas só, para poder viver uma solidão povoada de pensamentos, pois sou um pouco o Dom Quixote do infinito e da eternidade, e dir-se-ia que o infinito e a eternidade apreciam pessoas como eu.

Bohumil Hrabal confessou ter vivido apenas para escrever este livro.

Inventei-te, mas não gostei da minha invenção. Idealizei-te, mas não correspondeste à minha idealização. Do ser inventado e idealizado, restou um fantasma que me ensombra a vida com a sua inexistência...
Não existe nem futuro nem presente: só subsiste a quimera de um passado que poderia ter sido. Um passado remoto, há muito desaparecido, de que nada sobreviveu; um passado recente, cuja inexistência idealizada se esvai, lentamente. Sinto-me vazia, não por falta de palavras, mas por falta de sentido. Um vazio humilhante, resultado de um engano sem enganador. Delineara, traço a traço, um ser perfeito, esculpido com paciência e desvelo... Reproduzi-o em delicado cristal e acreditei-o eterno. É isso que me provoca um sentimento tão indelével: sou um quixote, enamorado de uma dulcineia, tão frágil e bela como a minha ilusão...O ser mais-que-perfeito caiu, estilhaçou-se e eu não queria apanhar os cacos para não ser arrastada na queda, mas ajoelhei-me no chão e recolhi, um a um, os fragmentos de cristal e, paulatina e pacientemente, comecei a reorganizar a minha solidão...

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