No ponto de vista artístico porém o frade faz muita falta.(...)
Nos campos ... eles caracterizavam a paisagem, poetizavam a situação mais prosaica de monte ou de vale; e tão necessárias, tão obrigadas figuras eram em muito desses quadros, que sem elas o painel não é já o mesmo.
Além disso o convento no povoado e o mosteiro no ermo animavam, amenizavam, davam alma e grandeza a tudo; eles protegiam as árvores, santificavam as fontes, enchiam a terra de poesia e de solenidade.
O que não sabem nem podem fazer os agiotas barões que os substituíram. É muito mais poético o frade que o barão.
O frade era, até certo ponto, o Dom Quixote da sociedade velha.
O barão é, em quase todos os pontos, o Sancho Pança da sociedade nova. Menos na graça...
Porque o barão é o mais desgracioso e estúpido animal da criação.
Experimento, por vezes, uma estranha nostalgia de mosteiros, como centros da vida espiritual, habitados por monges, seres que escolheram a reclusão, o isolamento, o silêncio, a ascese como forma de vida. Com a expulsão das ordens religiosas, que considero um crime histórico, os mosteiros, por mais belos que sejam, ficaram só pedras, mais ou menos artísticas, tristemente solitárias e incompletas, porque privadas de alma. Sempre que entro no Mosteiro de Alcobaça, invade-me uma enorme tristeza...tenho saudades do espaço-tempo-ideia-vivência que nunca conheci.
Quem morreu? O próprio Alves?
Dou
Ao diabo o bem-estar que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.
Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.
Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.
Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.
Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria.
Desde ontem a cidade mudou.

Sem comentários:
Enviar um comentário