And after a while you can work on points for style Like the club tie and a firm handshake A certain look in the eye and an easy smile You have to be trusted by the people that you lie to So that when they turn their backs on you You'll get the chance to put the knife in
Enche-nos de felicidade a ilusão de podermos levar uma vida contínua, simples, concentrada e votada ao recolhimento contemplativo, a ilusão de nos pertencermos por completo, porquanto o ser humano é propenso a assumir o seu estado no momento, seja ele sereno ou agitado, tranquilo ou apaixonado, como o verdadeiro, singular e duradouro (...), quando, na verdade, está moralmente condenado a viver de improviso e um dia de cada vez.
Vê-la, ver o mar, por exemplo - manso e dócil ou ruidoso e arrebatado -, mergulha-me num estado onírico orgânico tão profundo, num tão completo desprendimento de mim que perco em absoluto a noção do tempo, e o tédio transforma-se num conceito sem sentido...
A cadeia do afecto era mais vantajosa para o meu bem-estar do que a liberdade egoísta por que ansiara.
Os animais são mais desinibidos, mais espontâneos, logo, de certo modo, mais humanos do que nós na expressão corporal dos seus estados temperamentais; maneiras de dizer que para nós apenas subsistem em sentido figurado e como metáforas conservam, se lhes forem aplicadas, um sentido literal preciso e não metafórico.
(Sei que andas por aí, oiço os teus passos em certas noites, quando me esqueço e fecho as portas começas a raspar devagarinho, às vezes rosnas, posso mesmo jurar que já te ouvi a uivar, cá em casa dizem que é o vento, eu sei que és tu, os cães também regressam, sei muito bem que andas por aí.)
Não era um cão como os outros. Era um cão rebelde, caprichoso, desobediente, mas um de nós, o nosso cão, ou mais que o nosso cão, um cão que não queria ser cão e era cão como nós.
Um cão que tinha a mania que era fino e fidalgo. Um cão que tinha dificuldades em obedecer, era irrequieto, exibicionista, altivo e até perverso. Parecia que queria falar, aliás, parece que se convenceu que seria o primeiro cão do mundo a falar a língua dos humanos, estava convencido que não era um cão.
– Fica!
E ele ficava mesmo, nem que tivesse que o empurrar para baixo até ele se deitar, sempre contrafeito, olhando-me de esguelha, jamais convencido de que entre humanos e cães há uma diferença e que essa diferença é favorável aos primeiros. Era um cão rebelde, teimoso, de certo modo subversivo. Às vezes insuportável.
Zanguei-me com toda a gente, não me deixes agora, é em momentos assim que um homem precisa do seu cão.
Estou a escrever o livro e quase sinto a respiração dele. Agora que acabei, posso fazer-lhe uma festa e dizer-lhe: - Cão bonito.
Podes correr comigo pela praia for, aqui ninguém nos vê, somos só nós e o mar, saltas a meu lado como se fosses um pedaço de areia e vento, uma estátua movente, cão de água, anda daí comigo por esta noite dentro.
Quantas vezes tu próprio me traíste, me enganaste, agora estás aí. Pode não estar mais ninguém, mas tu estás. Ainda que sombra, não mais que sombra, amigo do homem, camarada cão...
Transformo os cães em gatos ou em pessoas e a narrativa passa a agradar-me mais: reescrevo a história , de acordo com as minhas preferências e converto-me em protagonista.
Não seríamos mais felizes como animais de estimação?Cão passageiro, cão estrito Cão rasteiro cor de luva amarela, Apara-lápis, fraldiqueiro, Cão liquefeito, cão estafado Cão de gravata pendente, Cão de orelhas engomadas, de remexido rabo ausente, Cão ululante, cão coruscante, Cão magro, tétrico, maldito, a desfazer-se num ganido, a refazer-se num latido, cão disparado: cão aqui, cão ali, e sempre cão. Cão marrado, preso a um fio de cheiro, cão a esburgar o osso essencial do dia a dia, cão estouvado de alegria, cão formal de poesia, cão-soneto de ão-ão bem martelado, cão moído de pancada e condoído do dono, cão: esfera do sono, cão de pura invenção, cão pré-fabricado, cão espelho, cão cinzeiro, cão botija, cão de olhos que afligem, cão problema… Sai depressa, ó cão, deste poema!
Este poema foi objeto da minha oral de estudos literários... Eu, mulher sensível que tinha lido só toda a obra poética de pessoa, sá-carneiro e régio...Eu, adoradora desde sempre de gatos... Eu que até conhecia a poesia de o'neill... Eu, que ia com 16 à oral, senti que só podia ser piada de mau gosto as minhas competências literárias serem testadas com este cão, verdadeiramente surrealista...
Somekind of happiness is measured out in miles What makes you think you're something special when you smile?
Eu sempre preferi o menos ao mais por medo também do ridículo: é que há também o dilaceramento do pudor.
Apliquei-me no decurso procurado do meu hedonismo interior, a furtar-me às sensibilidades sociais. Lentamente me couracei contra o sentimento do ridículo. Ensinei-me a ser insensível quer para os apelos dos instintos, quer para as solicitações (...) Reduzi ao mínimo o meu contacto com os outros. Fiz o que pude para perder toda a afeição à vida (...) Do próprio desejo da glória lentamente me despi, como quem cheio de cansaço se despe para repousar.
A personagem individual e imponente, que os românticos figuravam em si mesmos, várias vezes, em sonho, a tentei viver, e, tantas vezes quantas a tentei viver, me encontrei a rir alto da minha ideia de vivê-la. O romantismo não é senão o virar do avesso do domínio quotidiano de nós mesmos. Quase todos os homens sonham, nos secretos do seu ser, um grande imperialismo próprio, a sujeição de todos os homens, a entrega de todas as mulheres, a adoração dos povos, e, nos mais nobres, de todas as eras... Poucos como eu habituados ao sonho, são por isso lúcidos bastante para rir da possibilidade estética de se sonhar assim.
A maior acusação ao romantismo não se fez ainda: é a de que ele representa a verdade interior da natureza humana. Os seus exageros, os seus ridículos, os seus poderes vários de comover e de seduzir, residem em que ele é a figuração exterior do que há mais dentro na alma, mas concreto, visualizado, até possível, se o ser possível dependesse de outra coisa que não o Destino.
A vida é para os inconscientes...E o consciente é para os mortos — o consciente sem a Vida...Fumo o cigarro que cheira bem à mágoa dos outros, E sou ridículo para eles porque os observo e me observam. Mas não me importo
Por uma estranha e fantástica transformação de sentimentos, acontece que não sinto essa alegria maldosa e humaníssima perante a dor e o ridículo alheio. Sinto perante o rebaixamento dos outros não uma dor, mas um desconforto estético e uma irritação sinuosa. Não é por bondade que isto acontece, mas sim porque quem se torna ridículo não é só para mim que se torna ridículo, mas para os outros também, e irrita-me que alguém esteja sendo ridículo para os outros, dói-me que qualquer animal da espécie humana ria à custa de outro, quando não tem direito de o fazer. De os outros se rirem à minha custa não me importo, porque de mim para fora há um desprezo profícuo e blindado
Há por isso um sinal distintivo, pelo qual se diferençam os orgulhosos dos vaidosos: os orgulhosos são tímidos, os vaidosos são audazes. Há quem seja cumulativamente orgulhoso e vaidoso; quem o é será tímido e audaz ou intermitentemente, ou em manifestações diferentes do espírito.Se a vaidade é mais ridícula que o orgulho, é que é por natureza activa, e se revela sempre; o orgulho, como se esconde, mal pode aparecer onde o escarneçam.
Caí pela escada abaixo subitamente,
E até o som de cair era a gargalhada da queda.
Cada degrau era a testemunha importuna e dura
Do ridículo que fiz de mim.
Quando o Sr. Pickwick é ridículo, não é ridículo, porque o é num romance. Quem sabe se o romance não será uma mais perfeita realidade e vida que Deus cria através de nós, que nós — quem sabe — existimos apenas para criar? As analogias parece não existirem senão para produzir arte e literatura; é, palavras, o que dela fala e fica. Porque não serão essas figuras extra humanas verdadeiramente reais? Dói-me mal na existência mental pensar que isto possa ser assim
Lentamente me couracei contra o sentimento do ridículo. Ensinei-me a ser insensível quer para os apelos dos instintos, quer para as solicitações (...)Reduzi ao mínimo o meu contacto com os outros. Fiz o que pude para perder toda a afeição à vida (...) Do próprio desejo da glória lentamente me despi, como quem cheio de cansaço se despe para repousar.
O maior triunfo do homem é quando se convence de que o ridículo é uma coisa sua que existe só para os outros, e, mesmo, sempre que outros queiram. Ele então deixa de importar-se com o ridículo, que, como não está em si, ele não pode matar,
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Sem qualquer afinidade semântica nem morfológica, há dois vocábulos que me deliciam: o nome epaminondas - o general idealista, apelidado por Cícero " O primeiro homem grego"- e o adjetivo proparoxítono ...Tive um hamster chamado epaminondas, com quem atingi uma relação afetiva interessante, interpelando-o, por vezes,perante o olhar atónito da empregada," proparoxítono epaminondas"...Gosto de palavras solenes e longas, confortam-me o espírito,ecoando-me dentro da alma: epaminooooooooooooooooondas,epamonooooooooooooooooooondas...O epaminondas morreu e, curiosamente, a sua ausência foi colmatada por um sentimento proparoxítono...
Não podemos esquecer que existem as chamadas proparoxítonas aparentes ou falsas proparoxítonas, terminadas em ditongo crescente (-ea, -eo, -ia, -ie, -io, -ua, -ue, -uo)... Neste caso, no entendimento de álvaro de campos,estaremos perante sentimentos aparentemente ridículos? O que sinto será, portanto, falsamente ridículo, ridículo só na aparência...
De um amor morto não fica
Nenhuma memória (...)
Pois um amor morto não deixa
Em nós o seu retrato
De infinita demora
É apenas um facto
Que a eternidade ignora
O único amor, que sobrevive ao tempo, perpetuado pela memória e sempre presentificado, é o que nunca se concretizou. Só recordamos o amor que, na realidade, não vivemos... Esse perdura, gravado na nossa mente, como representação idealizada do que poderia ter sido...
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda...Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo...
O meu epaminondas, uma memória roedora, tem permanecido tão olvidado como o general tebano homónimo...No entanto, o afeto proparoxítono, talvez devido à obrigatoriedade do acento na sílaba tónica, está difícil de se tornar apenas recordação...Se fosse esdrúxulo, seria talvez mais fácil....
Pois é, pois é Há quem viva escondido a vida inteira Domingo sabe de cor, o que vai dizer Segunda feira...
πάθος, em grego, significa sentimento, sofrimento. É interessante a importância que o conceito assume na Retórica, uma vez que os afetos são designados pelo termo bastante genérico de pathos. Para Aristóteles, encaixavam-se neste conceito emoções fortes negativas ou positivas, tais quais a cólera, o temor, a indignação, o terror, a inveja, o ódio, a vergonha, a indignação, a piedade, a alegria, entre outros. Assim, na sua origem, o pathos é ingrediente fundamental de uma argumentação baseada em provas patéticas, aquelas em que a persuasão radica numa componente emocional.
Como se repetem os jogos. Enfiamo-nos em moldes mais do que usados ,aprendemos cada papel mais que sabido como uns idiotas… Ai os blues, nostalgia infinita da vida....E depois havia ainda mais do que isso, havia a intermediação, o acesso através de ilusões a um plano ,a uma zona inimaginável que era inútil pensar porque o pensamento a destruía assim que tentava aproximar-se dela.
I gotta admit that I'm a little bit confused…
And I don't wanna lie and I don't wanna tell you the truth...
Ao chegar à rua, levanta a cabeça e apercebe-se do ridículo de tudo. Do seu ridículo, do professor, dos colegas, da universidade onde o saber gira há séculos à procura de uma janela. Que inútil tanta pedra para guardar tão pouca coisa.
Três coisas tem o homem superior que ensinar-se a esquecer para que possa gozar no perfeito silêncio a sua superioridade - o ridículo, o trabalho e a dedicação.
Não podemos admitir que se impeça o livre desenvolvimento de um delírio, tão legítimo e lógico como qualquer outra série de ideias e atos humanos.
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