… E os crisântemos adoecem a sua vida lassa em jardins apenumbrados de contê-los.
Saber encontrar a cada sensação o modo sereno de ela se realizar. Fazer o amor resumir-se apenas a uma sombra de ser sonho de amor, pálido e trémulo intervalo entre os cimos de duas pequenas ondas onde o luar bate. Tornar o desejo uma coisa inútil e inofensiva, no como que sorriso delicado da alma a sós consigo própria; fazer dela uma coisa que nunca pense em realizar-se nem em dizer-se. Ao ódio adormecê-lo como a uma serpente prisioneira, e dizer ao medo que dos seus gestos guarde apenas a agonia no olhar, e no olhar da nossa alma, única atitude compatível com ser estética.
Em vão procuro o bem que me negaram. As flores dos jardins herdadas de outros Como hão-de mais que perfumar de longe Meu desejo de tê-las?
E os diálogos nos jardins fantásticos que contornam nada definidamente certas chávenas? Que palavras sublimes não devem estar trocando as duas figuras que se assentam no lado de lá daquele bule? E eu sem ouvidos apropriados para as ouvir, morto na polícroma humanidade! Deliciosa psicologia das coisas deveras estáticas! A eternidade tece-a e o gesto que uma figura pintada tem desdenha, do alto da sua eternidade visível, a nossa transitória febre, que nunca se fixa numa atitude nem se demora nos portões de um esgar. Não amamos, senão que fingimos amar. O verdadeiro amor, o imortal e inútil, pertence àquelas figuras em que a mudança não entra, por sua natureza de estáticas.
Só o ter flores pela vista foraNas áleas largas dos jardins exactos Basta para podermos Achar a vida leve.
Quantas vezes, presa da superfície e do bruxedo, me sinto homem. Então convivo com alegria e existo com clareza. Sobrenado. E é-me agradável receber o ordenado e ir para casa. Sinto o tempo sem o ver, e agrada-me qualquer coisa orgânica. Se medito, não penso. Nesses dias gosto muito dos jardins.Estou liberto e perdido.Sinto. Esfrio febre. Sou eu.
Hoje roubei todas as rosas dos jardinse cheguei ao pé de ti de mãos vazias.
Jazo a minha vida. (As minhas sensações são um epitáfio, por de mais extenso, sobre a minha vida morta.) Aconteço-me a morte e ocaso. O mais que posso esculpir é sepulcro meu a beleza interior.Os portões do meu afastamento abrangem para parques de infinito, mas ninguém passa por eles, nem no meu sonho — mas abertos sempre para o inútil e de ferro eternamente para o falso...Desfolho apoteoses nos jardins das pompas interiores e entre buxos de sonho piso, com uma sonoridade dura, as áleas que conduzem a Confuso.
Escura é a noite Escura e transparente Mas o teu rosto está para além do tempo opaco E eu não habito os jardins do teu silêncio Porque tu és de todos os ausentes o ausente
Atravessei o jardim solitário e sem lua, Correndo ao vento pelos caminhos fora, Para tentar como outrora Unir a minha alma à tua,
Ó grande noite solitária e sonhadora. Entre os canteiros cercados de buxo, Sorri à sombra tremendo de medo. De joelhos na terra abri o repuxo, E os meus gestos dessa encantação, Que devia acordar do seu inquieto sono A terra negra canteiros E os meus sonhos sepultados
Vivos e inteiros. Mas sob o peso dos narcisos floridos Calou-se a terra, E sob o peso dos frutos ressequidos Do presente, Calaram-se os meus sonhos perdidos. Entre os canteiros cercados de buxo, Enquanto subia e caía a água do repuxo, Murmurei as palavras em que outrora
Para mim sempre existia O gesto dum impulso. Palavras que eu despi da sua literatura, Para lhes dar a sua forma primitiva e pura, De fórmulas de magia. Docemente a sonhar entra a folhagem A noite solitária e pura Continuou distante e inatingível Sem me deixar penetrar no seu segredo E eu senti quebrar-se, cair desfeita, A minha ânsia carregada de impossível, Contra a sua harmonia perfeita. Tomei nas minhas mãos a sombra escura E embalei o silêncio nos meus ombros. Tudo em minha volta estava vivo Mas nada pôde acordar dos seus escombros O meu grande êxtase perdido. Só o vento passou e quente E à sua volta todo o jardim cantou E a água do tanque tremendo Se maravilhou Em círculos, longamente
A tristeza é um muro entre dois jardins.
Aquilo que a gente lembra Sem o querer lembrar, E inerte se desmembra Como um fumo no ar, É a música que a alma tem, É o perfume que vem, Vago, inútil, trazido Por uma brisa de agrado, Do fundo do que é esquecido, Dos jardins do passado Aquilo que a gente sonha Sem saber de sonhar, Aquela boca risonha Que nunca nos quis beijar, Aquela vaga ironia Que uns olhos tiveram um dia Para a nossa emoção —Tudo isso nos dá o agrado, Flores que flores são Nos jardins do passado Não sei o que fiz da vida, Nem o quero saber Se a tenho por perdida, Sei eu o que é perder? Mas tudo é música se há Alma onde a alma está, E há um vago, suave, sono, Um sonho morno de agrado, Quando regresso, dono, Aos jardins do passado.
As Rosas amo dos jardins de Adónis, Essas vólucres amo, Lídia, rosas, Que em o dia em que nascem, Em esse dia morrem...Assim façamos nossa vida um dia, Inscientes, Lídia, voluntariamente Que há noite antes e após O pouco que duramos.
Em todos os jardins hei-de florir, Em todos beberei a lua cheia, Quando enfim no meu fim eu possuir Todas as praias onde o mar ondeia. Um dia serei eu o mar e a areia, A tudo quanto existe me hei-de unir, E o meu sangue arrasta em cada veia Esse abraço que um dia se há-de abrir.Então receberei no meu desejo Todo o fogo que habita na floresta Conhecido por mim como um beijo. Então serei o ritmo das paisagens, A secreta abundância dessa festa Que eu via prometida nas imagens.
Dedicado a Mani, um homem esquecido, de quem pronunciamos o nome, sem o saber, quando dizemos a palavra maniqueísta.
Em todos os seres, tal como em todas as coisas, ombreiam e imbricam-se luz e trevas … a luz em cada ser alimenta-se de beleza e conhecimento...
Deus, que é luz pura, conhecia mal o mundo das trevas tendo então chamado o primeiro homem para lhe dizer : tu, em cujo seio ombreiam luz e trevas, és o melhor aliado que eu posso ter, és a ratoeira armada pela luz às trevas. É a ti que confio a tarefa de dominar a Criação e de a preservar...
Os homens dão a Deus nomes inumeráveis... todos verdadeiros, e todos falsos. Se Ele tivesse um nome, não poderia escrever-se com as nossas palavras, nem ser pronunciado pelas nossas bocas.
Mani foi vítima do seu próprio sonho... As fogueiras consumiram " num mesmo fogo tenebroso os seus escritos, os seus ícones, os mais perfeitos dos seus discípulos."
Nessa época, pouca gente ia para o Mediterrâneo durante o Verão, e, exceptuando algumas pessoas de Nimes, ninguém ia para Le Grau du Roi. Não havia casino nem diversões, e, tirando os meses mais quentes em que apareciam pessoas para nadar, não havia ninguém no hotel...
Catherine Bourne convence David a tingir o cabelo na cor do dela para que sejam gémeos, bronzeados e andróginos.
Tinha muitos problemas na altura em que casara, mas ali não se lembrara ainda de nenhum deles, nem de nada a não ser da rapariga que amava e com quem casara, e nem sequer sentia a súbita e cruel claridade que costumava seguir-se ao acto do amor. Essa sensação desaparecera. Agora, depois de fazerem amor, comiam, bebiam e voltavam a fazer amor.
As minhas visitas a jardins romanescos não estão a ser bem sucedidas...Vou mudar de tema: até estou zonza com tanta esiprititualidade,seguida de tal sensualidade...Os textos de mani foram parar, juntamente com o autor, à fogueira; o romance de hemingway foi aproveitado para filme porno e o autor,sempre tão seguro, opinoso e namoradeiro, suicida-se com um tiro na cabeça...Venho o diabo e escolha...
Flores...
A flor que és, não a que dás, eu quero. Porque me negas o que não te peço. Tempo há para negares Depois de teres dado. Flor, sê-me flor...
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas. Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. Todo eu sou qualquer força que me abandona. Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Existe um país soberbo, um país idílico, dizem...que eu sonho visitar com uma velha amiga... É um lugar que se parece contigo... É para lá que se deve ir viver, é para lá que se deve ir morrer. Sim, é para lá que se deve ir para respirar, sonhar e alongar as horas para o infinito...
Eu encontrei a minha tulipa negra e a minha dália azul!Flor incomparável, tulipa reencontrada, dália alegórica, está lá, não é? Nesse belo país tão calmo e tão sonhador…
No dia em que a flor de lótus desabrochou A minha mente vagava, e eu não a percebi. Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida. Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim. Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul. Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade. Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se. Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim Que ela era minha, e que essa perfeita doçura Tinha desabrochado no fundo do meu coração.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim...
Uma flor uma pequena flor que eu colhi só a pensar em ti Eu bem sei que fui longe demais Também sei que eu não farei jamais
Mal me quer, bem me quer, muito, pouco ou nada. Muito? Pouco? Nada? Vemul? Litpo? Noni?
Coroai-me de rosas E de folhas breves. E basta. Claro que não basta...Será que basta? Tem de bastar...
Pode ser Que não venhas mais Que não venhas Nunca mais De que servem As flores Que nascem Pelo caminho? Se o meu caminho Sozinho é nada É nada, é nada...
A flor que és, não a que dás, eu quero. Porque me negas o que não te peço. Tempo há para negares Depois de teres dado. Flor, sê-me flor...
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