Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Instintos e vergonha...

12.8.1907
Nasce adolfo correia da rocha.

12.8.1969
Não encontrei resposta para nenhuma das perguntas inquietantes que em momento algum deixou de me fazer a voz atormentada da alma.

12.8.1991
O sentido está na graça desta comunhão humana, sem a qual a passagem pelo mundo não teria sentido.

12.8.2013
Hoje é dia de Torga...


Uma das grandes tragédias da minha vida — porém daquelas tragédias que se passam na sombra e no subterfúgio — é a de não poder sentir qualquer coisa naturalmente. Sou capaz de amar e odiar, como todos, de, como todos, recear e entusiasmar-me; mas nem meu amor, nem meu ódio, nem meu receio, nem meu entusiasmo, são exactamente aquelas mesmas coisas que são. Ou lhes falta qualquer elemento ou se lhes acrescenta algum. O certo é que são qualquer outra coisa, e o que sinto não está certo com a vida.(...)
Nos espíritos a que chamam calculistas — e a palavra é muito bem delineada —, os sentimentos sofrem a delimitação do cálculo, do escrúpulo egoísta, e parecem outros. Nos espíritos a que chamam propriamente escrupulosos, a mesma deslocação dos instintos naturais se nota. Em mim nota-se igual perturbação da certeza do sentimento, mas nem sou calculista nem sou escrupuloso. Não tenho desculpa para sentir mal. Por instinto desnaturo os instintos. Sem querer, quero erradamente.



12.08.2015
Há ocasiões em que os sentimentos valem como argumentos.

Instinto designa, em psicologia, etologia, biologia e outras ciências afins, predisposições inatas para a realização de determinadas sequências de ações, caracterizadas sobretudo por uma realização estereotipada, padronizada, predefinida. Devido a essas características, supõe-se uma forte base genética para os instintos, ideia defendida já por Darwin. Os mecanismos que determinam a influência genética sobre os instintos não são completamente compreendidos, uma vez que se desconhecem as estruturas genéticas que determinam a sua hereditabilidade

Ora se a característica dos instintos individuais, embora úteis à sociedade, é que levam a um antagonismo com outros indivíduos, por certo que a característica dos instintos propriamente sociais será que levam ao contrário de um antagonismo com eles. Se pelos seus instintos individuais, um homem se define para si próprio como em oposição aos outros homens, e portanto como diferente deles, pelos seus instintos sociais, ao contrário, define-se como em colaboração com eles, e portanto como seu semelhante. Os instintos propriamente sociais são, pois, aqueles pelos quais um indivíduo se sente semelhante de outro indivíduo da mesma sociedade, por divergentes que sejam as suas actividades, e antagónicos que sejam os seus temperamentos. E os instintos primordialmente, fundamentalmente sociais serão aqueles pelos quais um indivíduo se sente semelhante do maior número possível de indivíduos da sociedade a que pertence.
A vida social, vimos, é essencialmente acção. Ora a mais simples, natural e vulgar de todas as acções é a de falar. A identidade que se sente através da conversa é portanto a mais profunda, a mais insistente, a mais quotidiana de todas. Por isso a que mais funda e imediatamente nos faz sentir-nos semelhantes de outro homem é o facto de ele falar a mesma língua que nós. Sentimos mais próximo e semelhante, por instinto, um estrangeiro que fale perfeitamente a nossa língua, que um nacional que, por qualquer razão, a ignore. E assim chegamos à descoberta do primeiro dos instintos propriamente sociais — a fraternidade patriótica, sentida através da comunidade linguística.


Gato que brincas na rua Como se fosse na cama, Invejo a sorte que é tua Porque nem sorte se chama. Bom servo das leis fatais Que regem pedras e gentes, Que tens instintos gerais E sentes só o que sentes. És feliz porque és assim, Todo o nada que és é teu. Eu vejo-me e estou sem mim, Conheço-me e não sou eu.

E um dos aspectos mais característicos de Quina era desprezar,instintivamente, todas as mulheres. Não que pessoalmente as odiasse, mas, na generalidade, atribuia-lhes uma categoria deprimente, e, como elemento social, não as considerava. A verdade era que, toda a vida, ela lutara por superar a sua própria condição, e, conseguindo-o, chegando a ser apontada como cabeça de família, conhecida na feira e no tribunal, procurada por negociantes, consultada por velhos lavradores que a tratavam com a mesma seca objectividade usada entre eles, mantinha em relação às outras mulheres uma atitude não desprovida de originalidade. Amadas, servindo os seus senhores, cheias dum mimo doméstico e inconsequente, tornadas abjectas à custa de lhes ser negada a responsabilidade, usando o amor com instinto de ganância, parasitas do homem e não companheiras, Quina sentia por elas um desdém um tanto despeitado e mesmo tímido, pois havia nessa condição de escravas regaladas alguma coisa que a fazia sentir-se frustrada como mulher...


Ela era incapaz de qualquer forma de desinteresse. Quando amava, era porque o troco de reconhecimento a compensaria em larga escala. Quando recebia um desagradecimento ou uma injúria como paga, sofria, não como quem é ultrajado, mas como quem foi espoliado do seu capital; e não hesitava em arriscar novas paradas sempre mais generosas e temerárias, para o recuperar. A sua caridade não tinha, portanto, esse cunho de vileza que caracteriza as mais pias acções movidas pela piedade ao ser inútil e indefeso. Era sempre um negócio, sempre um contrato em que a moeda era a reciprocidade de sentimentos. Não havia esmola e pedinte, protector e socorrido. Havia só duas criaturas que se defrontam sobre a face da terra, e lealmente fazem a permuta dos seus bens - pão por alegria, um sorriso por um conforto, admiração por um valor(...) Somente, Quina, com o seu instinto de lucro que lhe era peculiar, esperava sempre dos outros um pouco mais. E até ao fim da vida arriscaria sempre um pouco mais para o receber.


O génio reside no instinto e a bondade também. Não há um ato perfeito que não seja ato instintivo. Mesmo sob o ponto de vista moral, todo o pensamento consciente se reduz a uma simples tentativa, e é geralmente o contrário da moral.

A má consciência é para mim o estado mórbido em que devia ter caído o homem quando sofreu a transformação mais radical que alguma vez houve, a que nele se produziu quando se viu acorrentado à argola da sociedade e da paz.(...) neste mundo novo e desconhecido não tinham os seus antigos guias estes instintos reguladores, inconscientemente falíveis; viam-se reduzidos a pensar, a deduzir, a calcular, a combinar causas e efeitos. Infelizes! Viam-se reduzidos à sua «consciência», ao seu órgão mais fraco e mais coxo! Creio que nunca houve na terra desgraça tão grande, mal-estar tão horrível!
Acrescente-se a isto que os antigos instintos não haviam renunciado de vez às suas exigências. Mas era difícil e amiúde impossível satisfazê-las; era preciso procurar satisfações novas e ocultas. Os instintos, sob a enorme força repressiva, volvem para dentro, a isto se chama interiorização do homem; assim se desenvolve o que mais tarde se há-de chamar «alma».
Aquele pequeno mundo interior vai-se desenvolvendo e ampliando à medida que a exteriorização do homem encontra obstáculos. As formidáveis barreiras que a organização social construía para se defender contra os antigos instintos de liberdade e, em primeiro lugar, a barreira do castigo, conseguiram que todos os instintos do homem selvagem, livre e vagabundo, se voltassem contra o homem interior.
A raiva, a crueldade, a necessidade de perseguir, tudo isto se dirigia contra o possuidor de tais instintos; eis a origem da «má consciência». O homem que, por falta de resistência e de inimigos exteriores, colhido no potro da regularidade dos costumes, despedaçava -se com impaciência, perseguia -se , devorava -se , amedrontava-se e maltratava-se a ele mesmo; este animal a quem se quer domesticar, mas que se fere nos ferros da sua jaula; este ser a quem as privações fazem enlanguescer na nostalgia do deserto e que fatalmente devia achar em si mesmo um campo de aventuras, um jardim de suplícios, uma região perigosa e incerta; este louco, este cativo, de aspirações impossíveis, teve de inventar a «má consciência».
Então veio ao mundo a maior e mais perigosa de todas as doenças, o homem doente de si mesmo foi consequência de um divórcio violento com o passado animal, de um salto para novas situações, para novas condições de existência, de uma declaração de guerra contra os antigos instintos que antes constituíam a sua força e o seu temível caráter.


Vergonha - Emoção que nos deixa saber que somos finitos...

Um homem é tão mais respeitável quanto mais numerosas são as coisas das quais se envergonha... Neste momento, ela é o ser mais respeitável que existe...

Não há que ter vergonha de preferir a felicidade.

Amo ou venero poucas pessoas. Por todo o resto, tenho vergonha de minha indiferença. Mas aqueles que amo, nada jamais conseguirá fazer com que eu deixe de amá-los, nem eu próprio e principalmente nem eles mesmos.

Would things be easier if there was a right way Honey there is no right way...




Porque o olhar de quem não merece
O meu amor para outro olhou,
Uma dor fria me enfurece,
Decido odiar quem me insultou.
Vil dor, vil causa e vil remédio!
Quanto melhor não fora achar-se
No antigo sem-amor, com tédio,
Mas sem dor de que envergonhar-se!




Nasces-me cedo nos dias por viver...Trago amor por baixo de tudo...Tenho todas as felicidades escritas num diário de desejo, como dias atrás de dias... Toma como minhas as frases bonitas que ouvires e como meus também os carinhos arrependidos, são tudo coisas minhas, tudo coisas de mim, só tenho vergonha de tas dar...

A tragédia principal da minha vida é, como todas as tragédias, uma ironia do Destino. Repugno a vida real como uma condenação; repugno o sonho como uma libertação ignóbil. Mas vivo o mais sórdido e o mais quotidiano da vida real; e vivo o mais intenso e o mais constante do sonho. Sou como um escravo que se embebeda à sesta — duas misérias em um corpo só... Mas vejo também que fugir a isto seria ou dominá-lo ou repudiá-lo, e eu nem o domino, porque o não excedo adentro do real, nem o repudio, porque, sonhe o que sonhe, fico sempre onde estou. E o sonho, a vergonha de fugir para mim, a cobardia de ter como vida aquele lixo da alma que os outros têm só no sono, na figura da morte com que ressonam, na calma com que parecem vegetais progredidos!

Ó vestidas razões! Dor que é vergonha E por vergonha de si própria cala A si mesma o seu nexo! Ó vil e baixa Porca animalidade do animal... Ó horror metafísico de ti! Sentido pelo instinto, não na mente, Vil metafísica do horror da carne, Medo do amor...Entre o teu corpo e o meu desejo dele Está o abismo de seres consciente; Pudesse-te eu amar sem que existisses E possuir-te sem que ali estivesses



Dói-me no coração
Uma dor que me envergonha...
Quê! Esta alma que sonha
O âmbito todo do mundo
Sofre de amor e tortura
Por tão pequena coisa...
Uma mulher curiosa
E o meu tédio profundo?



O cansaço de todas as ilusões e de tudo o que há nas ilusões — a perda delas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perdê-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim.

Fernando levanta-se sem fazer ruído e dá dois passos até à mulher...Uma mulher viva a respirar com o peito tão perto. Baixa-se e aproxima-se... O beijo acorda-a e pela primeira vez os seus olhos fitam Fernando como se o vissem. Parece tranquila, ele é que se assusta e recua com medo de algo que não entende... Volta envergonhado para a poltrona, senta-se e apaga a vela, como se apagasse o que acabou de suceder.

Outros tiveram por seu tempo o dia
Gozaram outros quando o sol era alto,
A vergonha que há em nós de sua orgia
É a vergonha de nós a não ousarmos.
Nós pensamos no amor em sobressalto
E para amarmos só nos falta amarmos



A long time you waited you thought it had abated shame of it all the harm that it causes pours down like a faucet shame of it all...



Há algo de fascinante no que o sofrimento moral pode fazer a alguém que nada indicia ser uma pessoa frágil ou fraca. É uma coisa ainda mais insidiosa do que a doença física pode causar, pois não há perfusão de morfina, epidural ou cirurgia radical que possam aliviá-la. Quando caímos nas suas garras, dir-se-ia que só nos libertaremos dela se nos matar.

A humilhante ignomínia que continuava a consumir alguém ainda cheio de vitalidade. O grande homem derrubado ainda a sofrer a vergonha da queda.




Ah! não tenho nenhum gosto especial,acredite, em contar-lhe isto.Quando penso neste período em que eu tudo pedia,sem nenhuma compensação da minha parte, em que mobilizava tantos seres para o meu serviço,em que os metia,de certo modo,no frigorífico para, um dia ou outro, os ter à mão,conforme a minha conveniência,não sei que nome dar ao curioso sentimento que me invade. Será vergonha? A vergonha,diga-me, meu caro compatriota, não queimará um pouco? Sim? ntão talvez se trate dela ou de um desses sentimentos rdículos que dizem respeito à honra.

Amarga é a punição nascida da vergonha...

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