Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

domingo, 27 de setembro de 2015

Estados de espírito...

Fúria nas trevas o vento Num grande som de alongar Não há no meu pensamento Senão não poder parar Parece que a alma tem Treva onde sopre a crescer Uma loucura que vem De querer compreender. Raiva nas trevas o vento Sem se poder libertar. Estou preso ao meu pensamento Como o vento preso ao ar.

Raiva- Uma palavra feia, desagradável, até inestética porque vulgar. É uma palavra que todos usam.
Raiva -Um sentimento feio, desagradável, até inestético porque vulgar. É um sentimento que todos experimentam

Comparem-se a serenidade, a firmeza, a segurança do meu artigo — fruto da consciência que tinha de que escrevia com justiça e justeza, de que tratava do que sabia e sabia como dele tratar — com a saraivada de insultos, de destrambelhamentos e de dislates com que os meus opositores, quasi todos, inauguraram nas suas próprias cabeças a estação das chuvas. Compare-se o humorismo duramente irónico — justamente irónico — do meu artigo com a raiva insultuosa dos meus contraditores, que deixaram ferver a água do espírito que não têm até ela toda se derramar no chão.

Sempre que revisito pessoa, conforta-me a ideia de que, pelo menos na incoerência, somos similares...

Agora Todas as manhãs me levanto Tonto ...

(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas)...

Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse; Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas, Claras, inevitáveis, naturais, A conversa fechada concludentemente, A matéria toda resolvida...

Que tenho sofrido enxovalhos e calado/ Que, quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Compreendo a intervalos desconexos; Escrevo por lapsos de cansaço;E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia

Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!/ Que amigos que tenho tido! /Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido! Que esterco metafísico os meus propósitos todos!

Ah...A banalidade devorante das caras de toda a gente!/Ah, a angústia insuportável de gente!/O cansaço inconvertível de ver e ouvir!

Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra,(...)/Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,/Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa./Sempre esta inquietação sem propósito, sem nexo, sem consequência,/Sempre, sempre, sempre,/Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma,/Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida...

Nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço. Todas as sensações me tomam e nenhuma fica.

Renego. Renego tudo. Renego mais do que tudo. Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na circulação do sangue? Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro? Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me? Não: vou existir. Arre! Vou existir. E-xis-tir... E-xis--tir ... Dêem-me de beber, que não tenho sede!?

Estala, coração de vidro pintado!


Transbordou. Mal sei como conduzir-me na vida Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma! Se ao menos endoidecesse deveras! Mas não: é este estar entre, Este quase, Este poder ser que..., Isto Estala, coração de vidro pintado! Será que as pregas na alma fazem rugas? Receio que, se forem muito fundas, subam, proliferem e invadam o exterior, como um pedido de socorro, como um grito de alerta...

Só depois de amanhã Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã Sim, talvez só depois de amanhã

Agora,
o remédio é partir discretamente,
sem palavras,
sem lágrimas,
sem gestos.
De que servem lamentos e protestos,
contra o destino?


Que desgraça, meu Deus!
Tenho a Ilíada aberta à minha frente,
Tenho a memória cheia de poemas,
Tenho os versos que fiz,
E todo o santo dia me rasguei
À procura não sei
De que palavra, síntese ou imagem!



Depois que todos foram E foi também o dia,Ficaram entre as sombras Das áleas do ermo parque Eu e a minha agonia. A festa fora alheia E depois que acabou Ficaram entre as sombras Das áleas apertadas Quem eu fui e quem sou. Tudo fora por todos. Brincaram, mas enfim Ficaram entre as sombras Das áleas apertadas Só eu, e eu sem mim. Talvez que no parque antigo A festa volte a ser. Ficaram entre as sombras Das áleas apertadas Eu e quem sei não ser.

Quero mandar ao meu Bebé muitos e muitos parabéns, muitos beijinhos, e desejar que ela seja muito e muito feliz, que muitas vezes o aniversário se repita com o Bebé sempre contente.
O engraçado era que no ano que vem eu já te pudesse dar estes parabéns de manhã, antes de me levantar. Percebes, Nininha?
Muitos beijos, muitíssimos do teu, muito teu
Fernando
1920


Hoje roubei todas as rosas dos jardins e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.

Como ciumento sofro quatro vezes: por ser excluído, por ser agressivo, por ser doido e por ser vulgar.

Awakes to a morning with no reason for waking He's haunted by the memory of a lost paradise...

Achei curioso o exemplo escolhido pelo dicionário para exclusão : Praticar exclusões é algo que faz com que as pessoas excluídas sofram. A exclusão provoca, portanto, dor: uma dor que magoa tão fundo que não tem manifestações exteriores, até porque existe uma espécie de vergonha em assumir que se foi excluído...
A verdadeira dor provoca desânimo, desalento, incapacidade de reagir, é silenciosa, incomunicável... Tão silenciosa como as manifestações de absurdo... O absurdo perfeito tenta ser mudo, mas o silêncio possui uma das linguagens mais ensurdecedoras quando se trata de rejeição e de indiferença perante outrem....



Agora sabia mesmo o que era a dor. Dor não era apanhar de desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar pontos na farmácia. Dor era aquilo, que doía o coração todinho, que a gente tinha que morrer com ela, sem poder contar para ninguém o segredo. Dor que dava desânimo nos braços, na cabeça, até na vontade de virar a cabeça no travesseiro.

Há certos dias em que a gente sente falta de um pouco de álcool, de um pouco de calor humano, de companhia. Devo ser um sentimental. Ninguém diria isso ao ver-me, mas as protuberâncias dos meus músculos são as aparências ilusórias debaixo das quais disfarço o meu coração de Gata Borralheira.


Mas a exclusão, que me impus, dos fins e dos movimentos da vida; a ruptura, que procurei, do meu contacto com as coisas — levou-me precisamente àquilo a que eu procurava fugir. Eu não queria sentir a vida, nem tocar nas coisas, sabendo, pela experiência do meu temperamento em contágio do mundo, que a sensação da vida era sempre dolorosa para mim. Mas ao evitar esse contacto, isolei-me, e, isolando-me, exacerbei a minha sensibilidade já excessiva. Se fosse possível cortar de todo o contacto com as coisas, bem iria à minha sensibilidade. Mas esse isolamento total não pode realizar-se. Por menos que eu faça, respiro, por menos que aja, movo-me. E, assim, conseguindo exacerbar a minha sensibilidade pelo isolamento, consegui que os factos mínimos, que antes mesmo a mim nada fariam, me ferissem como catástrofes. Errei o método de fuga. Fugi, por um rodeio incómodo, para o mesmo lugar onde estava, com o cansaço da viagem sobre o horror de viver ali.

Bebé:
Obtida a devida autorização do snr. eng. Álvaro de Campos, mando-lhe o poema que escrevi entre as estações de Casa Branca e Barreiro A, terminando a inspiração, entretanto, na Moita. Este poema deve ser lido de noite e num quarto sem luz. Também, devidamente aproveitado, serve para fazer papelotes para as bonecas de trapo, para tapar as fechaduras contra o frio, os olhares e as chaves, e para tirar medidas para sapatos a pés que não tenham mais comprimento que o papel. Creio que estão feitas todas as recomendações para o uso. Não é preciso agitar antes de usar.
Até logo.
Ibis


É com um " Até logo" e o estranho poema "pial"que Pessoa se despede, definitivamente, de Ofélia. Um adeus original... uma vingança cruel de Álvaro de Campos... Qual a razão do desamor do poeta? Afigura-se evidente: Ofélia queria casar, ter filhos e detestava Álvaro de Campos... A jovem, apesar de inteligente e, em certa medida , emancipada para a época, era, afinal, uma burguesinha, que Fernando Pessoa chegou a aceitar, mas que Álvaro de Campos desprezava profundamente. Ela não percebeu que não bastava gostar do Fernando- ele era mais, infinitamente mais...

Muito mais me importa o teu sofrimento(…) E alguém assim falará, ao ver as tuas lágrimas: Esta é a mulher de Heitor, que dos Troianos domadores de cavalos era o melhor guerreiro, quando se combatia em torno de Ílion. Assim falará alguém. E a ti sobrevirá outra vez uma dor renovada, pela falta que te fará um marido como eu para afastar a escravatura. Mas que a terra amontoada em cima do meu cadáver me esconda antes que oiça os teus gritos quando te arrastarem para o cativeiro.

Talvez que noutro mundo, noutro livro,tu não tenhas morrido e talvez nesse livro não escrito nem eu nem tu tenhamos existido e tenham sido outros dois aqueles que a morte separou e um deles escreva agora isto como se acordasse de um sonho que um outro sonhasse( talvez eu), e talvez então tu,eu, esta impressão de estranhidão,de que tudo perdeu de súbito existência e dimensão,e peso, e se ausentou,seja um sonho suspenso que sonhou alguém que despertou e paira agora como uma luz algures do lado de fora

Una soledad adentro y otra soledad afuera. Hay momentos en que ambas soledades no pueden tocarse....

And when you fell you're near the end And there's a stranger where once was a friend And you are left without a word Only the whispers that you've overheard

Chegámos ao fim da canção...E páro um pouco pra dormir É tarde pra voltarmos atrás Já nem há motivo algum para rir...Adeus tristeza, até depois Chamo-te triste por sentir que entre os dois Não há mais nada pra fazer ou conversar Chegou a hora de acabar...

Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye...

What were all those dreams we shared Those many years ago?(...) My dear The end Comes near...

Os que nunca atravessaram o trópico da dor quase nunca são capazes de entender: o facto de alguém estar morto pode querer dizer que não está vivo, mas não quer dizer que não exista. There's a time to leave, there's a time to think about...


Help me see myself,cause I can no longer tell...

Construí com loucura uma grande casa branca E ao longo das paredes te chorei


This is the end, beautiful friend,this is the end, my only friend, the end. It hurts to set you free,but you'll never follow me. The end of laughter and soft lies...

A diferença entre a vida e a morte é uma notícia no jornal e um telefonema. Trim, trim... toca o telefone e uma voz, regra geral familiar, diz, com tom compungido: "fulano morreu, o funeral é hoje, às tantas... Queres que passe por aí?" . É menos um amigo... ( Malhas que o império tece...)

Morreu o historiador de arte Jorge Estrela
Jorge Estrela, historiador de arte e pintor, morreu ontem, dia 1, na Clinigrande, na Marinha Grande, onde se encontrava internado. Tinha 70 anos e era diretor da Casa Museu João Soares, nas Cortes.Homem de vasta cultura, paralelamente à história de arte, dedicava-se à história da paisagem, à botânica e à micologia, tendo sido fundador da Sociedade Portuguesa de Micologia.



Há na verdade esforços e convicções que nunca compreendi...a frivolidade da própria seriedade se me patenteava e eu continuava apenas a representar o meu papel o melhor que podia.


Pensar incomoda como andar à chuva Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Na noite terrível, substância natural de todas as noites, Na noite de insónia, substância natural de todas as minhas noites, Relembro, velando em modorra incómoda, Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.


Agora Todas as manhãs me levanto Tonto ...(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas)...Mas não disse não ou não disse sim, e só agora vejo o que não disse; Mas as frases que faltou dizer nesse momento surgem-me todas, Claras, inevitáveis, naturais, A conversa fechada concludentemente, A matéria toda resolvida... Que tenho sofrido enxovalhos e calado/ Que, quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;Compreendo a intervalos desconexos; Escrevo por lapsos de cansaço;E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!/ Que amigos que tenho tido! /Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido! Que esterco metafísico os meus propósitos todos! Ah...A banalidade devorante das caras de toda a gente!/Ah, a angústia insuportável de gente!/O cansaço inconvertível de ver e ouvir!

Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra,(...)/Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa,/Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa./Sempre esta inquietação sem propósito, sem nexo, sem consequência,/Sempre, sempre, sempre,/Esta angústia excessiva do espírito por coisa nenhuma,/Na estrada de Sintra, ou na estrada do sonho, ou na estrada da vida...

Agora,
o remédio é partir discretamente,
sem palavras,
sem lágrimas,
sem gestos.
De que servem lamentos e protestos,
contra o destino?

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