O ar é de um amarelo escondido, como um amarelo-pálido visto através dum branco sujo. Mal há amarelo no ar acinzentado. A palidez do cinzento, porém, tem um amarelo na sua tristeza.
Mau tempo para votar,queixou-se o presidente da mesa da assembleia eleitoral número catorze ... O tempo , ela e o país, em perfeita sintonia...
No dia triste o meu coração mais triste que o dia... Obrigações morais e civis? Complexidade de deveres, de consequências? Não, nada... O dia triste, a pouca vontade para tudo... Nada... Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol (Também estive ao sol, ou supus que estive), Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica, Vaidade, alegria e sociabilidade(...) No dia triste o meu coração mais triste que o dia... No dia triste todos os dias... No dia tão triste...
Meu coração triste, meu coração ermo,
Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!
Se me aproximar devagar será que vais fugir?
Se me desculpar entretanto será que vais passar? se fingir não querer pode ser que não te entregue esta leve dor em tom de chuva por não querer fugir por ti ou pelo sonho não consigo desprender...
Uma tristeza de crepúsculo, feita de cansaços e de renúncias falsas, um tédio de sentir qualquer coisa, uma dor como de um soluço parado ou de uma verdade obtida. Desenrola-se-me na alma desatenta esta paisagem de abdicações - áleas de gestos abandonados, canteiros altos de sonhos nem sequer bem sonhados, inconsequências, como muros de buxo dividindo caminhos vazios, suposições, como velhos tanques sem repuxo vivo, tudo se emaranha e se visualiza pobre no desalinho triste das minhas sensações confusas.
A tristeza solene que habita em todas as coisas grandes — nos píncaros como nas grandes vidas, nas noites profundas como nos poemas eternos.
Há seres, social e publicamente, inviáveis. Inviáveis ou improváveis? Improváveis ou incompatíveis? Incompatíveis ou incapazes? Incapazes ou impossíveis? Seja o que for, existe sempre um prefixo "in/im" a inviabilizar, a improbabilizar, a incompatibilizar, a incapacitar ou a impossibilitar qualquer forma de comunicação ou cotacto. Paira uma vontade obsediante de esvaziar o mundo para que todos os "ins" se desvaneçam...A necessidade de falar e tocar é uma dor silenciosa, pérfida,intensa,mas desencadeia uma mudez e uma rigidez paralizantes. Há seres inviáveis, mas,talvez estranhamente, essa inviabilidade transmuta-se em sintonia.
uma vaga inquietação anda a torturar-me, uma coisa a que eu não posso chamar senão uma comichão intelectual, como se eu fosse ter bexigas na alma. É só nesta linguagem absurda que eu lhe posso descrever o que sinto. Tudo isto, porém, não se aparenta propriamente com aqueles estados tristes de espírito, de que às vezes lhe falo, e em que a tristeza é caracterizadamente uma tristeza sem causa. Este meu estado de alma actual tem uma causa. Em torno de mim está-se tudo afastando e desmoronando. Não emprego estes dois verbos no sentido entristecedor. Quero apenas dizer que na gente com quem lido se estão dando, ou se vão dar, mudanças, acabares de períodos de vida, e que tudo isto — como a um velho que vê morrerem em seu redor os seus companheiros de infância, a sua morte parece próxima — me sugere não sei de que misteriosa maneira, que a minha deve, vai, mudar também. (...)Para mim mudar, passar de uma coisa para ser outra, é uma morte parcial; morre qualquer coisa de nós, e a tristeza do que morre e do que passa não pode deixar de nos roçar pela alma.
Dia de eleições, dia de soledad compartida...
Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro... Mas não por mim, ouviram? Eu não preciso de lágrimas! Eu não quero lágrimas! Levanto-me e proíbo as estrelas de fingir que choram por mim! Deixem-me para aqui, seco, senhor de insónias e de cardos, neste ódio enternecido de chorar em segredo pelos outros, à espera daquele Dia em que o meu coração estoire de amor à Terra,
com as lágrimas públicas de pedra incendiada a correrem-me nas faces — num arrepio de Primavera e de Catástrofe!
Chove...
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir na chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Dá-me a tua mão.
Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
— para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.
Dá-me a tua mão, companheira,
até o Abismo da Ternura Derradeira.
Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?
Deixa-me ir embora do teu centro Onde eu souber existir Deixa-me ir onde onde eu não sei andar a sós Poder viver da minha voz Se incendeia é bem melhor Que ter ideia do que é amar relatado negro No meu passeio eu vi gente a andar a pé Porque vão primeiro ser no que ainda não é Não sei pintar amor Só sei de cor que és tu...
Vive em cada minuto
a tua eternidade
sem luto nem saudade
Vive-a pleno e forte
num frenesim de arremesso
Para que a tua morte
seja sempre um fim
e nunca um começo
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