Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Condenações e tragédias...

Jano - o deus de duas faces, condenado a uma ausência de presente...


António nobre, condenado a ser uma eterna criança...


Quando a hora do ultimatum abriu em Portugal, para não mais se fecharem, as portas do templo de Jano, o deus bifronte revelou-se na literatura nas duas maneiras correspondentes à dupla direcção do seu olhar. Junqueiro — o de «Pátria» e «Finis Patriae» — foi a face que olha para o Futuro, e se exalta. António Nobre foi a face que olha para o Passado, e se entristece.

De António Nobre partem todas as palavras com sentido lusitano que de então para cá têm sido pronunciadas. Têm subido a um sentido mais alto e divino do que ele balbuciou. Mas ele foi o primeiro a pôr em europeu este sentimento português das almas e das coisas, que tem pena de que umas não sejam corpos, para lhes poder fazer festas, e de que outras não sejam gente, para poder falar com elas. O ingénuo panteísmo da Raça, que tem carinhos de espontânea frase para com as árvores e as pedras, desabrochou nele melancolicamente. Ele vem no Outono e pelo crepúsculo. Pobre de quem o compreende e ama!

O sublime nele é humilde, o orgulho ingénuo, e há um sabor de infância triste no mais adulto horror do seu tédio e das suas desesperanças. Não o encontramos senão entre o desfolhar das rosas e nos jardins desertos. Os seus braços esqueceram a alegria do gesto, e o seu sorriso é o rumor de uma festa longínqua, em que nada de nós toma parte, salvo a imaginação.

Dos seus versos não se tira, felizmente, ensinamento nenhum. Roça rente a muros nocturnos a desgraça das suas emoções. Esconde-se de alheios olhos o próprio esplendor do seu desespero. Às vezes, entre o princípio e o fim de um seu verso, intercala-se um cansaço, um encolher de ombros, uma angústia ao mundo. O exército dos seus sentimentos perdeu as bandeiras numa batalha que nunca ousou travar.

As suas ternuras amuadas por si próprio; as suas pequenas corridas de criança, mal-ousada, até aos portões da quinta, para retroceder, esperando que ninguém houvesse visto; as suas meditações no limiar; ...e as águas correntes no nosso ouvido; a longa convalescença febril ainda por todos os sentidos; e as tardes, os tanques da quinta, os caminhos onde o vento já não ergue a poeira, o regresso de romarias, as férias que se desmancham, tábua a tábua, e o guardar nas gavetas secretas das cartas que nunca se mandaram... A que sonhos de que Musa exilada pertenceu aquela vida de Poeta?

Quando ele nasceu, nascemos todos nós. A tristeza que cada um de nós traz consigo, mesmo no sentido da sua alegria é ele ainda, e a vida dele, nunca perfeitamente real nem com certeza vivida, é, afinal, a súmula da vida que vivemos — órfãos de pai e de mãe, perdidos de Deus, no meio da floresta, e chorando, chorando inutilmente, sem outra consolação do que essa, infantil, de sabermos que é inutilmente que choramos.


Meus dias de rapaz, de adolescente,
Abrem a bocca a bocejar sombrios:
Deslizam vagarozos, como os rios,
Succedem-se uns aos outros, egualmente.
Nunca desperto de manhã, contente.
Pallido sempre com os labios frios,
Oro, desfiando os meus rozarios pios...
Fôra melhor dormir, eternamente!
Mas não ter eu aspirações vivazes,
E não ter, como têm os mais rapazes,
Olhos boiando em sol, labio vermelho!
Quero viver, eu sinto-o, mas não posso...


Quando ele nasceu, nascemos todos nós. A tristeza que cada um de nós traz consigo, mesmo no sentido da sua alegria é ele ainda, e a vida dele, nunca perfeitamente real nem com certeza vivida, é, afinal, a súmula da vida que vivemos, perdidos no meio da floresta, e chorando, chorando inutilmente, sem outra consolação do que essa, infantil, de sabermos que é inutilmente que choramos.


Não é frequente gil vicente ter direito a ser referido nesta belabiblioteca.
A faceta popular e o humor ao serviço do rei do "pai do teatro", apesar da vis comica que confirma o epíteto de "plauto português" é desinteressante: um artista dev estar ao serviço de nada. Quem viveu nos alvores do renascimento tinha obrigação de ser mais livre e autónomo... O ridendo castigat mores eé um belo belo slogan para concurso televisivo...


No prólogo, um filósofo acorrentado a um parvo, anuncia todos os enganos a que o público vai assistir.Sempre achei genial esta imagem de abertura, pois este filósofo é,afinal, um sísifo, condenado a ter um parvo sempre a seu lado, como punição para um crime imperdoável: repreendeu alguns,denunciando a sua ignorância...

Viver amarrado a um parvo, ter de o ouvir e contraditar, é punição mais terrível do que eternamente empurrar um rochedo, de lá para cá, de cá para lá. Haverá maior suplício? O filósofo quer ocupar-se das coisas do espírito, mas o parvo interrompe-o, constantemente, com perguntas inúteis e comentários impertinentes. Qualquer semelhança entre isto e certas aulas a certas turmas não é mera coincidência... Será filósofa ou parva??

Estranhamente ( ou talvez não) gil vicente é conhecido por tanta imagem alegórica, mas esta não chega às escolas, sabe-se lá porquê... Quem serão os filósofos, amarrados a parvos? Os professores ou os alunos? No tempo em que os alunos de letras e humanidades não eram meros fugitivos à matemática e à obrigação de raciocinar, fazia esta pergunta e as aulas eram um espaço em que se problematizava, se debatia... Será parva? Toda a gente sabe que as aulas são para transmitir conhecimentos e não para pensar...

Com gil vicente só há que aprender que os bons vão para o céu, os maus para o inferno e os assim-assim,coitados, nem o anjo nem o diabo os querem...Receia, até, que esta última reflexão já seja demasiado "filosófica"...


A tragédia principal da minha vida é, como todas as tragédias, uma ironia do Destino. Repugno a vida real como uma condenação; repugno o sonho como uma libertação ignóbil. Mas vivo o mais sórdido e o mais quotidiano da vida real; e vivo o mais intenso e o mais constante do sonho. Sou como um escravo que se embebeda à sesta — duas misérias em um corpo só.(...)E assim me arrasto a fazer o que não quero, e a sonhar o que não posso ter, a minha vida (...) é absurda como um relógio parado

Sentia-me disposto a fazer versos... a quê? Não sei... Mas foi como se os fizesse, os versos, como se os estivesse fazendo, porque me deixei cair num verdadeiro estado poético de distração, de mudez — cessou-me a vida toda de relação, e não me sentia existir senão por dentro.


Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, - frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão!




Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar, se alguma dor me fere, em busca de um abrigo; E apesar disso, crê! nunca pensei num lar Onde fosses feliz, e eu feliz contigo. Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito. E nunca te escrevi nenhuns versos românticos. Nem depois de acordar te procurei no leito Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos. Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo A tua cor sadia, o teu sorriso terno... Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso Que me penetra bem, como este sol de Inverno. Passo contigo a tarde e sempre sem receio Da luz crepuscular, que enerva, que provoca. Eu não demoro a olhar na curva do teu seio Nem me lembrei jamais de te beijar na boca. Eu não sei se é amor. Será talvez começo... Eu não sei que mudança a minha alma pressente... Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço, Que adoecia talvez de te saber doente.

Procurei fugir de mim, Mas sei que sou meu exclusivo fim. Sofro, assim, pelo que sou, Sofro por este chão que aos pés se me pegou, Sofro por não poder fugir. Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação! (Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...) Senhor dá-me o poder de estar calado, Quieto, manietado, iluminado.(...)!

Sopa bepo du, fopo du siltace, fopo du onnur tace m wheub neepre somres. Feel houdom of convenientia...oveenfiaca, oveenfiaca...


Analiso o que sou, penso o que vejo,
E sempre o mesmo trágico desejo
De dar outra expressão ao que foi dito!
Sempre a mesma vontade de gritar,
Embora de antemão a duvidar
Da exactidão e força desse grito.
Mudo, mesmo se falo, e mudo ainda
Na voz dos outros, todo eu me afogo
Neste mar de silêncio, íntima noite
Sem madrugada.(...)
.


Agora que o silêncio é um mar sem ondas, E que nele posso navegar sem rumo, Não respondas Às urgentes perguntas Que te fiz. Deixa-me ser feliz Assim, Já tão longe de ti como de mim.

Se me aproximar devagar será que vais fugir? ou se vou conseguir mais um tempo ao teu lado? para te entreter mais um pouco ou te fazer sorrir para ti ou pelo sonho vamos juntos viajar. Medo é desculpa em leve chuva e querer morrer de amor não é historia de outro tempo.Mas se formos novos de novo Mas se formos juntos vamos poder respirar

Em ti vejo o tempo que passou E o sangue que correu Vejo a força que me deu quando tudo parou em ti Na tempestade que não há em ti arrastei-me para o teu lugar E é em ti que vou ficar



7 Esperando que a terra já tivesse aparecido, Noé soltou um corvo, mas este ficou a dar voltas.
8 Depois­ soltou uma pomba para ver se as águas tinham diminuído na superfície da terra.
9 Mas a pomba não encontrou lugar onde pousar os pés porque as águas ainda cobriam toda a superfície da terra e, por isso, voltou para a arca. Ele estendeu a mão para fora, apanhou a pomba e trouxe -a de novo para dentro da arca.
10 Noé esperou mais sete dias e soltou nova­mente a pomba.
11 Quando voltou ao entardecer, a pomba trouxe em seu bico uma folha nova de oliveira. Noé então ficou a saber que as águas tinham diminuído sobre a terra.
12 Esperou ainda outros sete dias e de novo soltou a pomba, mas dessa vez ela não voltou.

Nem as palavras do senhor a inspiraram ... Não consegue escrever nada de jeito. Talvez no inferno...



Living easy, livin' free Season ticket, on a one, way ride Asking nothing, leave me be Taking everything in my stride
Don't need reason, don't need rhyme Ain't nothing I would rather do Going down, party time My friends are gonna be there too...





Este inferno de amar - como eu amo! -
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?



De repente, como se um destino médico me houvesse operado de uma cegueira antiga com grandes resultados súbitos, ergo a cabeça, da minha vida anónima, para o conhecimento claro de como existo. E vejo que tudo quanto tenho feito, tudo quanto tenho pensado, tudo quanto tenho sido, é uma espécie de engano e de loucura. Maravilho-me do que consegui não ver. Estranho quanto fui e que vejo que afinal não sou.(...) Sou, neste momento de ver, um solitário súbito, que se reconhece desterrado onde se encontrou sempre cidadão. No mais íntimo do que pensei não fui eu. Vem-me, então, um terror sarcástico da vida, um desalento que passa os limites da minha individualidade consciente. Sei que fui erro e descaminho, que nunca vivi, que existi somente porque enchi tempo com consciência e pensamento. E a minha sensação de mim é a de quem acorda depois de um sono cheio de sonhos reais, ou a de quem é liberto, por um terramoto, da luz pouca do cárcere a que se habituara. Pesa-me, realmente me pesa, como uma condenação a conhecer, esta noção repentina da minha individualidade verdadeira, dessa que andou sempre viajando sonolentamente entre o que sente e o que vê.

Tragédias...

Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas ; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha.



Eu não podia odiá-la e meu ódio tornou -se num medo insano...

Deve haver inúmeras realidades, não só esta que percebemos com os nossos sentidos embotados, mas um amontoado de realidades que se sobrepõem umas às outras. É medo e presunção acreditar em limites. Não existem limites, nem para os pensamentos, nem para os sentimentos. É a ansiedade que nos impõe limites.

Será assim com toda a gente? Ou será que alguns têm mais talento para viver do que outros? Ou será que alguns jamais vivem, mas apenas existem?

Bergman é o único génio do cinema. Podemos destacar outros génios hoje em dia, mas Bergman continua a ser o maior e melhor desbravador da alma humana. Deixou-a nua como ninguém o fez.



Mataste, morreste, Ó mãe que me geraste, mas destruíste O pai e estes filhos que vêm do teu sangue! Estamos perdidos, somos como mortos, estamos perdidos! (A Orestes). Pois tu estás entre os mortos, e a minha vida ecoa-se, na maior parte, em gemidos e em lágrimas noturnas, porque sem esposo, sem filhos, vida inútil, desgraçada entre as mulheres, para sempre arrasto. [...] Porém, ó tu que nos braços de minha mãe foste criada, tem piedade de nós e de nossos males nos alivia. Vem por aqui, para a luta, que eu te levarei! Pois a chave da salvação, só tu a teus para nós [...] E enquanto colocai a espada no pescoço dela, esperai, em silêncio, que Menelau a veja, porque encontrou homens e não frígios covardes, e sofre aquilo que covardes devem sofrer...



Tão grande é o meu nome entre os mortais como no céu: sou a deusa Cípris.


Fedra, mulher de Teseu, não está apaixonada por Hipólito, o seu jovem enteado, sente apenas por ele atração sexual: sofre na alma e no corpo porque o deseja fisicamente. Está dominada por Afrodite: a deusa do amor sensível . Aquilo a que hoje chamamos amor não é um sentimento imutável que sempre tenha existido, idêntico a si mesmo, em toda a História e entre todos os povos: a ideia de amor evoluiu, metamorfoseou-se, através dos tempos. O domínio de Afrodite é o da paixão erótica: é o sexo em estado bruto, é a atração física irresistível que não está, essencialmente, vinculada a afeição, namoro ou casamento. Para os gregos, o sexo pode estar ligado ao casamento ou a um sentimento de ternura, por mero acidente, mas nunca por essência.

Irresistível é Cípris quando impetuosa irrompe. Aborda com doçura o que se lhe submete, mas quando encontra alguém altivo e orgulhoso, domina-o. De ultrajes o cumula.

A loucura erótica, que devasta corpo e alma, é encarada, de acordo com o pensamento poético grego, como uma enfermidade... Se é doença, qual é o remédio? No Hipólito, a ama, ao descobrir que a sua senhora é vítima dessa "manía", afirma que tem um remédio para esse mal. Esse remédio é um filtro amoroso que não cura a doença de Fedra, mas pretende tornar doente Hipólito...Eliminar o desejo é impensável, pois a paixão erótica emana de Afrodite.

Põe termo aos maus pensamentos, põe termo à insolência ,pois nada mais é que insolência o quereres aos deuses ser superior.

O ser humano é um mero joguete dos caprichos divinos: não há alternativa possível. Esta solução do dilema existencial, provocado pela paixão erótica, é tipicamente grega… A felicidade de Fedra encontra um obstáculo intransponível: a castidade e pureza de Hipólito. Este não é dominado por Afrodite, mas sim por Ártemis.

Hipólito é o único que diz ser eu a pior das deusas- desdenha as delícias do amor... A Ártemis, irmã de Febo e filha de Zeus,venera,como a maior das deusas... Mas , hoje ainda, devido às faltas contra mim cometidas, punirei Hipólito.

A luta é, afinal, entre duas deusas, igualmente poderosas...Hipólito abomina os prazeres da carne, é misógino, odeia as mulheres e, por isso mesmo, há-de morrer...

Odeio a mulher sábia: que não haja nunca em minha casa nenhuma que pense mais do que deve uma mulher. Na verdade, é sobretudo nas mulheres cultas que Cípris faz nascer a perversidade: a mulher simples é afastada do desvario pela sua limitada inteligência... ...Sede malditas! Jamais me saciarei de odiar as mulheres... Ensinem-nas a ser virtuosas ou deixem que eu as ultraje a toda a hora.

Esta recusa de Afrodite, garante da ordem e da renovação cósmicas, é um tremendo pecado de hybris- Hipólito não é, de forma alguma, inocente. A excessiva – porque exclusiva e exacerbada – veneração por Ártemis, que o obrigou a uma virgindade ofensiva e antinatural, é tão responsável pela sua morte quanto a paixão que por ele sente a mulher de seu pai. Neste complexo triângulo amoroso, paira Teseu, uma personagem enigmática e verdadeiramente trágica que, no momento em que regressa ao seu palácio, assiste à sua ruína. Sobre ele pesam erros antigos, mas vai ainda pesar um outro erro – o de confiar cegamente na esposa morta e não conceber, em momento algum, a inocência do filho. O drama de Hipólito é também o estar vinculado a um juramento de silêncio que o impede de salvar a própria vida.
A catástrofe que constitui o desenlace desta tragédia é a destruição de toda a família. Fedra e Hipólito morrem, fisicamente, mas o rei é, também ele, um ser completamente aniquilado...

Ínclito território de Atenas e de Palas, de que homem vais ficar privado! Desgraçado de mim! Teus malefícios, Cípris, recordarei sempre!

Afrodite e Ártemis são as vencedoras...




Running before times took our dreams away Leaving the myriad small creatures trying to tie us to the ground To a life consumed by slow decay..

You know I'd give you everything I've got for a little peace of mind

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