Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Serendipitando: acaso, destino, fortuna e sorte..

Porque é que pessoas de cuja existência nem sequer suspeitamos,com as quais nos cruzamos uma vez por acaso e que nunca mais voltaremos a ver,desempenham, secretamente, um papeltão importante na nossa vida? Pergunta patrick Modiano...

Primeiro pensamento do dia: Os sonhos mais lindos sonhei.De quimeras mil um castelo ergui...Vindo do nada ou do tudo, logo após o miar da gata, o meu doce despertador, surgiu dentro de mim a voz de elis regina. Mas não quero falar de fascinações: é tempo de serendipitidade: acaso, fortuna/ destino e sorte, uma não santíssima trindade...

O que é serendipitidade


1. aptidão de atrair a si acontecimentos favoráveis de maneira fortuita; dom de fazer boas descobertas por acaso.

2. acontecimento favorável que se produz de maneira fortuita; acaso feliz; descoberta acidental.



Eu não terei aptidões serendipíticas... se atraio acontecimento fortuitos, eles são sempre negativos,como esta imagem que, inexplicavelmente, veio ter comigo.


Palavra criada pelo escritor britânico Horace Walpole , em 1754, a partir do conto persa infantil Os três príncipes de Serendip. Esta história de Walpole conta as aventuras de três príncipes do Ceilão, actual Sri Lanka, que faziam descobertas inesperadas, cujos resultados eles não procuravam. Graças à sua sagacidade, descobriam , acidentalmente, a solução para dilemas impensados. Esta característica tornava-os especiais e importantes, não apenas por terem um dom peculiar, mas por terem a mente aberta para a múltiplas possibilidades.

Há muito tempo atrás, no país de Serendip, havia um rei grande e poderoso de nome Giaffer. O rei tinha três filhos e a eles dedicava todo o seu amor. Por ser um bom pai, ele preocupava -se muito com a educação, decidindo que deveria deixar aos príncipes não apenas um grande poder, mas também virtudes imprescindíveis aos. Assim, o rei Giaffer procura os melhores tutores possíveis para seus filhos, aos quais confia a formação, recomendando que deveriam ser ensinados de maneira que pudessem ser reconhecidos por sua boa reputação. Desse modo, quando os mestres consideraram que os príncipes estavam suficientemente educados, tanto nas artes quanto nas ciências, relataram esse facto ao rei. Porém, o rei ainda tinha dúvidas acerca da formação e reúne-os, declarando -lhes , o que era uma simulação, que se iria retirar do reino para seguir uma vida contemplativa, deixando-lhes o encargo de governar. Cada um deles, polidamente, declinou o convite, afirmando, de uma forma ou de outra, que somente o pai tinha sabedoria superior e aptidão para governar. O rei fica satisfeito momentaneamente, mas no seu íntimo ainda pairava a dúvida se não teriam recebido apenas uma educação privilegiada, sob a sua proteção. Resolve , então, fingir ficar furioso com eles pela recusa do trono e envia-os em viagem, para longe das suas terras.
Aconteceu que, mal haviam chegado ao exterior, resolvem descobrir pistas para identificar com precisão um camelo que jamais haviam visto. Concluem, então, que o camelo é coxo, cego de um olho, sem um dos dentes, transportando uma mulher grávida, e carregando mel de um lado e manteiga do outro. Quando, depois, encontraram um comerciante que procurava um , relataram as suas observações. O comerciante, pasmado, acusa-os de terem roubado o camelo e leva os três príncipes diante do Imperador Bahram, exigindo punição. Os três príncipes negam qualquer crime, ao que Bahram indaga como poderiam ter sido capazes de descrever com tanta precisão um camelo, sem nunca o terem visto. Mas, a partir das respostas, baseadas em evidências somadas em pequenas pistas, dadas pelos três príncipes, percebe a inteligência dos herdeiros de Serendip na identificação do camelo.
Os princípes disseram que, como a relva havia sido comida pelo lado da estrada onde estava menos verde, haviam deduzido que o camelo era cego do outro lado. Também falaram que, como havia pedaços de relva semimastigados na estrada, do tamanho de um dente de camelo, eles haviam deduzido que haviam caído através do espaço deixado por dente perdido na boca do camelo. Como as faixas de marcas na estrada deixavam as impressões em apenas três metros, o quarto estava sendo arrastado, pelo que indicava o animal ser coxo. A questão da carga, para os três príncipes, tinha sido muito simples, posto que havia formigas de um lado, indicando que tinham sido atraídas pelo mel, de um lado da estrada, e o outro lado apresentava manteiga derretida derrramada. Quanto ao transporte da mulher, um dos príncipes disse: "Imaginei que o camelo transportava uma mulher, porque havia notado, próximo à trilha, onde o animal deixara marcas de ajoelhar-se, o rastro visível de pés, claramente femininos, onde tinha resquícios de urina humana que, pelo seu próprio odor, denotava ter sido deixados por uma mulher que tinha mantido relações sexuais há algum tempo. Um outro príncipe, esclareceu que concluíram a gravidez da mulher, pois próximo às marcas dos pés, haviam marcas de mãos femininas, denotando que ela havia se apoiado com as mãos para urinar o que configurava o peso da gravidez. No momento que terminavam o relato ao Imperador, chegou à corte, um viajante que discorreu ter encontrado o camelo vagando pelo deserto e que o havia reconduzido ao dono, bem como sua carga e transporte.
O Imperador Bahram, além de, evidentemente, poupar as vidas do três príncipes, encheu -os de ricas recompensas e nomeou-os conselheiros.


Lentin (1996) comenta a história dos príncipes, e a proposta para o novo termo, mas também descreve que Walpole foi traído pela sua memória, afirmando que as descobertas de Serendip, Serendib, e Sarendip nada devem ao acaso, e que eles resolviam os problemas e enigmas pelo poder de suas deduções. Ruiz (1997) comenta que os três príncipes foram chamados pelo pai no leito de morte. O rei queria deixar todo o seu vasto reinado para os filhos e dizer -lhes que havia um grande tesouro muito próximo da superfície. Assim que o pai morre, os três filhos mobilizaram todos os homens do reinado para cavar e revolver a terra, mas, após vários anos de trabalho, nenhum tesouro foi encontrado. No entanto, mas a terra foi tão revolvida, que as colheitas foram as maiores de toda a história do reino... Assim, surge o vocábulo serendípite, em homenagem aos príncipes que procuravam o tesouro e encontraram colheita abundante, e sabedoria do rei, ao aconselhar os filhos, pode ser definida como serendipidade.

O termo é usado repetidas vezes no meio científico e académico, onde existem muitos exemplos de serendipidade, mas podemos, de modo oportuno, aplicá-lo a outras situações da vida. Ocorre serendípite, por exemplo, quando encontramos uma palavra no dicionário, à procura de outra; quando, numa livraria, achamos um livro de ética, mas o que procurávamos era um sobre computadores.
A ciência moderna é também uma crónica de descobertas serendipitosas: Fleming descobriu, em 1928, a penicilina; a heparina foi descoberta por um estudante de medicina, que procurava, não um anticoagulante natural; o anticoagulante oral tem a sua origem nas pesquisas na área animal, feita num bovino que morreu de hemorragia, após ingestão de trevo doce deteriorado; os sucrilhos ou corn-flakes surgem de um esquecimento do milho em um forno acesso durante todo um dia, por parte dos irmãos Kellog, no ano de 1898; a borracha vulcanizada surge quando Charles Goodyear, em 1844, deixa cair um pedaço de borracha escolar, dentro de uma frigideira quente; o corante índigo, em 1893, quando um químico quebra o termómetro dentro de uma solução e reage com o mercúrio; o nailon, em 1939; o polietileno, em 1935, graças a um acidente no laboratório.

O que é o Acaso?

substantivo masculino:1. Ocasião imprevista que produz um facto; 2. O que acontece fortuitamente.
O dicionário esqueceu-se de acrescentar: assassino. Nunca vi nenhum médico indicar, numa certidão de óbito, a verdadeira causa da morte: o acaso. Os juízes são outros incompetentes, deixam o acaso à solta. Esta sociedade policiada, vigiada, burocrata destrói-nos a felicidade com prescrições, com regras, com padrões de conduta e nada pode contra o acaso. Oh,como eu odeio o Acaso!!! Aceito que o meu pensamento - se é que a isto se pode chamar pensamento - não tem um único argumento sustentável, mas é assim que sinto: oh,como eu odeio o Acaso!!!

Acasos poéticos...e desassossegos

Faróis distantes...
Incerteza da vida...
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente,
No acaso do olhar perdido...
Faróis distantes...
A vida de nada serve...
Pensar na vida de nada serve...
Pensar de pensar na vida de nada serve...


DIÁRIO AO ACASO
Todos os dias a Matéria me maltrata. A minha sensibilidade é uma chama ao vento.Passo por uma rua e estou vendo na face dos transeuntes, não a expressão que eles realmente têm, mas a expressão que teriam para comigo se soubessem a minha vida, e como eu sou, se eu trouxesse transparente nos meus gestos e no meu rosto a ridícula e tímida anormalidade da minha alma. Em olhos que não me olham, suspeito troças que acho naturais, dirigidas contra a excepção deselegante que sou entre um mundo de gente que age e goza; e no fundo suposto de fisionomias que passam gargalha da acanhada gesticulação da minha vida uma consciência dela que sobreponho e interponho. Debalde, depois de pensar isto, procuro convencer-me de que de mim, e só de mim, a ideia da troça e do opróbio leve parte e esguicha. Não posso já chamar a mim a imagem do ver-me ridículo, uma vez objectivado nos outros. Sinto-me, de repente, abafar e hesitar numa estufa de mofas e inimizades. Todos me apontam a dedo do fundo das suas almas. Lapidam-me de alegres e desdenhosas troças todos que passam por mim. Caminho entre fantasmas inimigos que a minha imaginação doente imaginou e localizou em pessoas reais. Tudo me esbofeteia e me escarnece. E às vezes, em pleno meio da rua — inobservado, afinal — paro, hesito, procuro como que uma súbita nova dimensão, uma porta para o interior do espaço, para o outro lado do espaço, onde sem demora fuja da minha consciência dos outros, da minha intuição demasiado objectivada da realidade das vivas almas alheias.

Tudo é névoa e acaso
Hora oca e perdida,
Cinza de vivida
(Que Poente me invade?)


Viver uma vida desapaixonada e culta, ao relento das ideias, lendo, sonhando, e pensando em escrever, uma vida suficientemente lenta para estar sempre à beira do tédio, bastante meditada para se nunca encontrar nele.Viver essa vida longe das emoções e dos pensamentos, só no pensamento das emoções e na emoção dos pensamentos.Estagnar ao sol, douradamente, como um lago obscuro rodeado de flores. Ter, na sombra, aquela fidalguia da individualidade que consiste em não insistir para nada com a vida. Ser no volteio dos mundos como uma poeira de flores, que um vento incógnito ergue pelo ar da tarde, e o torpor do anoitecer deixa baixar no lugar de acaso, indistinta entre coisas maiores. Ser isto com um conhecimento seguro, nem alegre nem triste, reconhecido ao sol do seu brilho e às estrelas do seu afastamento. Não ser mais, não ter mais, não querer mais...

Dêem-me, onde aqui jazo, só uma brisa que passe,
Não quero nada do acaso, senão a brisa na face;
Dêem-me um vago amor de quanto nunca terei,
Não quero gozo nem dor, não quero vida nem lei.
Só, no silêncio cercado pelo som brusco do mar,
Quero dormir sossegado, sem nada que desejar,
Quero dormir na distância de um ser que nunca foi seu,
Tocado do ar sem fragrância da brisa de qualquer céu


No acaso da rua o acaso da rapariga loira. Mas não, não é aquela. A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro. Perco-me subitamente da visão imediata, Estou outra vez na outra cidade, na outra rua, E a outra rapariga passa. Que grande vantagem o recordar intransigentemente! Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso! Ao menos escrevem-se versos. Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por génio, se calhar. Se calhar, ou até sem calhar,Maravilha das celebridades!

A criança que ri na rua,
A música que vem no acaso,
A tela absurda, a estátua nua,
A bondade que não tem prazo —
Tudo isso excede este rigor
Que o raciocínio dá a tudo,
E tem qualquer coisa de amor,
Ainda que o amor seja mudo.


O meu acaso ...

Eu nem queria mais sofrer A agonia da paixão Nem tinha mais o que esquecer Vivia em paz, na solidão Mas foi te encontrar E o futuro chegou como um pressentimento Meus olhos brilharam, brilharam No escuro da emoção. Não sei se o acaso quis brincar Ou foi a vida que escolheu Por ironia fez cruzar O seu caminho com o meu...



Que a tua essência seja o seres distante ...Nunca me serás nada mais do que um acaso... O florir do encontro casual dos que hão sempre de ficar estranhos... Seremos estranhos?

Acasos filosóficos...

A mim é-me familiar o que a outros, e a raros outros, apenas em horrorosos acasos é de algum modo vagamente experiência - o sentimento do mistério e do horror intelectual do mundo. É minha inimiga do meu sangue e na minha alma quotidiana a sensação ôca de que o universo é uma pavorosa ilusão. Passou já o tempo em que este medo me era ocasional e, como um relâmpago, uma coisa de um horroroso instante. Hoje consubstancia-se com a minha vida espiritual ao ponto de me parecer estranha e não de mim a hora do espírito em que de algum modo me desenvencilho da consciência do mistério do mundo.

É de um sadismo soberbo pensar que deveríamos ser julgados pelas nossas boas e más acções, uma vez que só de um pequeníssimo número das nossas acções podemos decidir. O acaso cego, que se distingue da justiça cega pelo simples facto de ainda não usar venda, introduz e acaba as nossas acções; o que podemos fazer e, bem entendido, o que devemos fazer, em virtude da existência tantas vezes negada da nossa consciência, é deixarmo-nos arrastar numa certa direcção e mantermo-nos depois nessa direcção enquanto conservamos os olhos abertos e estamos conscientes de que o fim em geral é uma ilusão, pelo que o fundamental é a direcção que mantivermos, pois só ela se encontra sob o nosso controlo, sob o controlo do nosso miserável eu. E a lucidez, sim, a lucidez, os olhos abertos fitando sem medo a nossa terrível situação devem ser a estrela do eu, a nossa única bússola, uma bússola que cria a direcção, porque sem bússola não há direcção. Mas se me disponho agora a acreditar na direcção, passo a duvidar dos testemunhos relativos à maldade humana, uma vez que no interior de uma mesma direcção - em si mesma excelente - podem existir correntes boas e más.

O acaso é um poder maligno, no qual se deve confiar o menos possível. De todos os doadores, ele é o único que, ao dar, mostra ao mesmo tempo e com clareza que não temos direito nenhum aos seus bens, os quais devemos agradecer não ao nosso mérito, mas tão-só à sua bondade e graça, que nos permitem até nutrir a esperança alegre de receber, no futuro e com humildade, muitos outros bens imerecidos. Eis o acaso: mestre da arte régia de tornar claro o quanto, em oposição ao seu favor e à sua graça, todo o mérito é impotente e sem valor.

Contemplando uma cascata, acreditamos ver nas inúmeras ondulações, serpenteares, quebras de ondas, liberdade da vontade e capricho; mas tudo é necessidade, cada movimento pode ser calculado matematicamente. O mesmo acontece com as acções humanas; poder-se-ia calcular antecipadamente cada acção, caso se fosse omnisciente, e, da mesma maneira, cada progresso do conhecimento, cada erro, cada maldade. O homem, agindo ele próprio, tem a ilusão, é verdade, do livre-arbítrio; se por um instante a roda do mundo parasse e houvesse uma inteligência calculadora omnisciente para aproveitar essa pausa, ela poderia continuar a calcular o futuro de cada ser até aos tempos mais distantes e marcar cada rasto por onde essa roda a partir de então passaria. A ilusão sobre si mesmo do homem actuante, a convicção do seu livre-arbítrio, pertence igualmente a esse mecanismo, que é objecto de cálculo.

Podemos muito bem, se for esse o nosso desejo, vaguear sem destino pelo vasto mundo do acaso. Que é como quem diz, sem raízes, exactamente da mesma maneira que a semente alada de certas plantas esvoaça ao sabor da brisa primaveril.
E, contudo, não faltará ao mesmo tempo quem negue a existência daquilo a que se convencionou chamar o destino. O que está feito, feito está, o que tem se ser tem muita força e por aí fora. Por outras palavras, quer queiramos quer não, a nossa existência resume-se a uma sucessão de instantes passageiros aprisionados entre o «tudo» que ficou para trás e o «nada» que temos pela frente. Decididamente, neste mundo não há lugar para as coincidências nem para as probabilidades.
Na verdade, porém, não se pode dizer que entre esses dois pontos de vista exista uma grande diferença. O que se passa - como, de resto, em qualquer confronto de opiniões - é o mesmo que sucede com certos pratos culinários: são conhecidos por nomes diferentes mas, na prática, o resultado não varia.


Todos os acasos da nossa vida são materiais de que podemos fazer o que quisermos. Quem possui muito espírito faz muito da sua vida - cada tomada de conhecimento, cada acontecimento seria para ele inteiramente espiritual - um primeiro membro de uma série infinita - o início de um romance infinito.

O que é então o absurdo como estado de facto, como dado original? Nada menos do que a relação do homem com o mundo. O absurdo fundamental manifesta, antes de tudo, um divórcio: o divórcio entre as aspirações do homem à unidade e o dualismo intransponível do espírito e da natureza, entre o impulso do homem em direcção ao eterno e o caráceter finito da sua existência, entre a «preocupação» que é a sua própria essência e a inutilidade dos seus esforços. A morte, o pluralismo irredutível das verdades e dos seres, a ininteligibilidade do real, o acaso, eis os pólos do absurdo.

Este estava quase de costas para mim e, sem me olhar, declarou que, com a autorização do presidente, gostava de saber se eu voltara à nascente com a intenção de matar o Árabe: "Não", respondi. "Então, porque estava ele armado e porque regressara precisamente, àquele lugar?" Repliquei que fora o acaso que lá me levara. E o procurador concluiu, com uma expressão malévola: "Por agora, é tudo".

O acaso e as circunstâncias. É o destino, o cruzamento entre o acontecimento e um homem, que amplia ou não o reino da banalidade. Pouco depende do homem - quase tudo é imposto pelo dia, pelas suas exigências de causas quase sempre obscuras.

Não sou acaso um falso acorde nessa divina sinfonia, graças à voraz ironia que me sacode e que me morde?
O acaso só favorece uma mente preparada, afirma pasteur.

Qual será diferença entre o acaso e o destino? E entre o destino e a fortuna?E entre fortuna e sorte?

He'll feel the things you'll never feel Behind this wall only love is real ...

I forgot A palace, it's our palace... The sweetest spot When it's gone, it's gone..

O Acaso é algo que surge ou acontece sem motivo ou explicação aparente: acontece sem finalidade, objetivo ou causa final- opõe-se à teleologia; acontece sem ser consequência de algo, há um efeito que não se explica por uma determinação precedente-opõe-se ao pré-determinismo; acontece sem ser explicado por nenhuma relação, sem qualquer determinação- opõe-se ao determinismo.

O Destino é concebido como uma sucessão inevitável de acontecimentos, relacionada com uma possível ordem cósmica: o destino conduz a vida de acordo com uma ordem natural, à qual não se pode escapar.

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre, E deseja o destino que deseja; Nem cumpre o que deseja, Nem deseja o que cumpre. Como as pedras na orla dos canteiros O Fado nos dispõe, e ali ficamos; Que a Sorte nos fez postos Onde houvemos de sê-lo. Não tenhamos melhor conhecimento Do que nos coube que de que nos coube. Cumpramos o que somos. Nada mais nos é dado.

No que nós somos como em que não somos igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, quer o esperemos. Sorte hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa forma alheio e invencível...



Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós própios. Suave é viver só Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses.

A minha vida é um barco abandonado Infiel, no ermo porto, ao seu destino. Por que não ergue ferro e segue o atino De navegar, casado com o seu fado ?

Soube-me sempre a destino a minha vida.Por isso, ainda hoje que todo o sal secou no fundo do mar e o mar é uma câmara, ainda hoje a ignoro —quando olho, surpreso, a sabedoria dos gestos com que as crianças começam a sentir-se reais.

Acredito que a existência precede a essência. Que tudo começa quando o coração pulsa pela primeira vez, e tudo acaba quando ele desiste de lutar. Que todas as paisagens são cenários do nosso drama pessoal, comentários decorativos da nossa aventura íntima e profunda. E que, por isso, cada homem só se pode salvar ou perder sozinho, e que só ele é o responsável pelos seus passos, que só as suas próprias raízes são raízes, e que está nas suas mãos a grandeza ou a pequenez do seu destino.

Sinto-me livre mas triste. Vou livre para onde vou,Mas onde vou nada existe. Será este,afinal,o meu destino?

Chego,agora, ao inefável centro do meu relato; começa aqui o meu desespero de escritor. Toda a linguagem é um alfabeto de símbolos cujo exercício pressupõe um passado que os interlocutores compartilham; como transmitir aos outros o infinito Aleph,que a minha tímida memória abarca?

São assim os que os Deuses fadaram seus. Nem o amor os quer, nem a esperança os busca, nem a glória os acolhe. Ou morrem jovens, ou a si mesmos sobrevivem, incolas da incompreensão ou da indiferença. E é na juventude, quando neles desabrocha a flor fatal e única, que começam a sua morte vivida(...)

Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o esperemos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível. Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, Mais longe que os deuses

Sempre me intrigaram estes versos: para um mar muito longe, para ao pé do Fado, mais longe que os deuses...

Sorte é "uma força sem propósito, imprevisível e incontrolável, que modela eventos de forma favorável ou não para determinado indivíduo, grupo ou causa".

Dia após dia a mesma vida é a mesma. O que decorre, Lídia, No que nós somos como em que não somos Igualmente decorre. Colhido, o fruto deperece; e cai Nunca sendo colhido. Igual é o fado, quer o procuremos, Quer o esperemos. Sorte Hoje, Destino sempre, e nesta ou nessa Forma alheio e invencível.

You are my destiny...Foi destino ou maldição ?



Que estranha sorte determinou que eu tivesse "conhecido" jean claude pelletier? Um jovem francês de 22 anos, que se apaixonou por um autor completamente desconhecido, para ele, para mim, para o mundo: benno von archimboldi, um alemão tão desconcertante como o seu nome.
Em 1983, aos vinte e dois anos, deu início à tarefa de traduzir D'Arsonval. Ninguém lhe pediu que o fizesse... Não havia nenhuma editora interessada em publicar aquele alemão de nome estranho. Pelletier começou a traduzi-lo porque gostava, porque era feliz a fazê-lo... Passado um ano,já tinha lido 15 livros do autor alemão,tinha traduzido dois e era considerado ,unanimemente, o maior especialista de Benno von Archimboldi...

Como não me sentir insignificante? Eu, aos 22 / 23 anos, já me considerava muito rara por ter lido uma dúzia de livros, gostar de pensar e de falar sobre eles: " mísera sorte,estranha condição".

Então Pelletier recordou-se do dia em que leu Archimboldi pela primeira vez e viu-se a si mesmo , novo e pobre...ascético e inclinado sobre os seus dicionários de alemão...como se todo ele fosse vontade feita carne,ossos e músculos... uma imagem que operou nele como uma droga, uma droga que o fez chorar,uma droga que abriu, como disse um poeta piroso holandês do século XIX,as comportas da emoção e de alguma coisa que á primeira vista parecia autocomiseração, mas que não o era...e que o levou pensar e a repensar,mas não com palavras e sim com imagens dolentes... depois de uma noite talvez inútil forçou a sua mente a duas conclusões...

"Conheci" também o italiano, Pierro Morini, e o espanhol, Manuel Espinoza, o jovem que sonhava ser escritor, especialista em junger, alma gémea de werther / goethe, segundo opinião de um seu professor do ensino secundário. Pierro Morini,devido à sua grande eloquência e poder de sedução, consegue vencer a resistência dos editores e publica duas traduções de obras de archimboldi. Vítima de esclerose múltipla, sofre um estranho acidente que o prende para sempre a uma cadeira de rodas.

Manuel Espinoza, depois de se desiludir com junger e, sobretudo, com os jungerianos, inicia um período de solidão, de propósitos contraditórios, descobrindo que jamais seria narrador e, à sua maneira,era um jovem corajoso.Também descobriu que era um jovem rancoroso,que supurava ressentimento,e que não lhe teria custado nada matar alguém,fosse quem fosse, desde que aliviasse a solidão,a chuva e o frio de Madrid,mas preferiu deixar aquela descoberta na escuridão e centrar-se na aceitação de que jamais seria um escritor e tirar todo o partido do mundo à sua recém-exumada coragem.

Pelletier, Morini e Espinoza, os três jovens intelectuais que tive a sorte de ter conhecido, foram os meus "amigos", a minha companhia,durante mais de mil páginas...
Por vezes temos a sorte de a ficção se identificar com a realidade.Porquê? Depois penso nisso...

Liz Norton não teve muitas hipóteses de me agradar,pois não vislumbrei,entre nós, qualquer identificação... Decididamente, não gostei da norton e todos os amigos me desiludiram...gente, afinal, vulgar, são todos demenos...

Natura deficit, fortuna mutatur, deus omnia cernit. A natureza trai-nos, a sorte muda, um deus vê do alto todas estas coisas.

Fortuna...

Naquele engano da alma ledo e cego, Que a fortuna não deixa durar muito...


Nec vita nec fortuna hominibus perpes est...

Muito contente fui eu... mas, coitada de mim, em breve espaço se mudou tudo aquilo que em longo tempo se buscou, e para longo tempo se buscava! Grande desaventura foi a que me fez ser triste, ou a que, porventura, me fez ser leda! Mas depois que vi tantas cousas trocadas por outras, e o prazer feito mágoa maior, a tanta tristeza cheguei que mais me pesava do bem que tive, que do mal que tinha

O Fortuna, velut luna, statu variabilis, semper crescis aut decrescis, uita detestabilis...


A fortuna concede-nos momentos assim: Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto, E me deito ao comprido na erva,E fecho os olhos quentes, Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,Sei a verdade e sou feliz.
De imediato,a realidade exibe-se,como uma afronta, com crueldade e perfídia : sabe a verdade e é infeliz. Foi tudo um engano que a fortuna não deixou durar muito.


Erros meus, má Fortuna, Amor ardente Em minha perdição se conjuraram; Os erros e a Fortuna sobejaram, Que para mim bastava Amor somente.

Partindo destes versos de camões, natália correia faz uma reflexão magoada sobre a tragédia coletiva de alcácer-quibir, um prolongamento da tragédia pessoal de luís de camões. A culpa pela ruína de d. sebastião e de toda a nação portuguesa é assumida pelo poeta por ter incitado o imaturo rei, ao ler -lhe os lusíadas, a inspirar-se nas vitórias dos antigos portugueses para empreender, neste caso irrefletidamente, a funesta batalha contra os infiéis.

Naquele engano da alma, ledo e cego, Que a fortuna não deixa durar muito...

Erros meus, má Fortuna, Amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a Fortuna sobejaram,
Que para mim bastava Amor somente.



Enquanto quis Fortuna que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento
Me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento,
Escureceu-me o engenho co'o tormento,
Para que seus enganos não disesse...



Quantum fortuna in rebus humanis possit, et quomodo illi sit occurrendum...

Para que o nosso livre arbítrio não se extinga, parece-me possível que a fortuna seja senhora de metade das nossas obras, mas que nos deixe governar,mais ou menos, a outra metade. Comparo-a a um desses rios torrenciais que, quando se encolerizam, alagam as planícies, destroem as árvores e os edifícios, carregam terra de um lugar para outro; todos fogem diante dele, tudo cede ao seu ímpeto, sem poder opor-se em qualquer parte. E, se bem assim ocorra, isso não impedia que os homens, quando a época era de calma, tomassem providências com anteparos e diques, de modo que, crescendo depois, ou as águas corressem por um canal, ou o seu ímpeto não fosse tão desenfreado nem tão danoso. Da mesma forma acontece com a fortuna, a qual demonstra o seu poderio onde não existe virtude preparada para resistir e, aí, volta seu ímpeto em direção ao ponto onde sabe não foram construídos diques e anteparos para contê-la...Um príncipe que depende exclusivamente da sorte cai quando ela muda.Penso também que será feliz aquele que souber acomodar-se com o seu tempo e infeliz aquele que não proceder de acordo com ele.
Concluo, pois, que variando a sorte e permanecendo os homens obstinados nos seus modos de agir, serão felizes enquanto aquela e estes sejam concordes e infelizes quando surgir a discordância. Considero que é melhor ser impetuoso do que dotado de cautela, porque a fortuna é mulher e consequentemente se torna necessário, querendo dominá-la, bater-lhe e contrariá-la; e ela mais se deixa vencer por estes do que por aqueles que procedem friamente. A sorte, porém, como mulher, sempre é amiga dos jovens, porque são menos cautelosos, mais afoitos e com maior audácia a dominam.


Fiei-me nos sorrisos da ventura,
Em mimos feminis, como fui louco!
Vi raiar o prazer; porém tão pouco
Momentâneo relâmpago não dura:

No meio agora desta selva escura,
Dentro deste penedo húmido e ouco,
Pareço, até no tom lúgubre, e rouco
Triste sombra a carpir na sepultura:

Que estância para mim tão própria é esta!
Causais-me um doce, e fúnebre transporte,
Áridos matos, lôbrega floresta!

Ah! não me roubou tudo a negra sorte:
Inda tenho este abrigo, inda me resta
O pranto, a queixa, a solidão e a morte.


Vão os anos descendo, e já do Estio Há pouco que passar até o Outono; A Fortuna me faz o engenho frio, Do qual já não me jacto nem me abono;

Destino

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem ter nada a ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar. (...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros.
E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido…





Não faltará … quem negue a existência daquilo a que se convencionou chamar o destino. O que está feito, feito está, o que tem se ser tem muita força e por aí fora. Por outras palavras, quer queiramos quer não, a nossa existência resume-se a uma sucessão de instantes passageiros aprisionados entre o «tudo» que ficou para trás e o «nada» que temos pela frente. Decididamente, neste mundo não há lugar para as coincidências nem para as probabilidades.

No ser vivo toda a necessidade essencial, que brota do próprio ser e não lhe advém de fora acidentalmente, vai acompanhada de voluptuosidade. A voluptuosidade é a cara, a facies da felicidade. E todo o ser é feliz quando satisfaz o seu destino, isto é, quando segue a encosta da sua inclinação, da sua necessidade essencial, quando se realiza, quando está a ser o que é na verdade...

Aí residia a sua força e a sua virtude, aí era invergável e incorruptível, aí o seu carácter era firme e rectilíneo. No entanto, esta virtude trazia estreitamente ligados a si também o seu sofrimento e o seu destino. Acontecia-lhe o que a todos acontece: aquilo que por impulso da sua mais íntima natureza demandava e em que se empenhava com a maior pertinácia, era-lhe concedido, mas ultrapassando aquilo que ao homem é benéfico. O que começava por ser sonho e felicidade, redundava em amargo destino. O homem do poder destrói-se pelo poder, o homem do dinheiro, pelo dinheiro, o subserviente pelo servir, o sequioso de prazer pela luxúria.

As palavras e a fantasia também podem destruir...

Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os olhos, E o meu destino apareceu-me na alma como um precipício. A minha vida passada misturou-se com a futura, E houve no meio um ruído do salão de fumo, Onde, aos meus ouvidos, acabara a partida de xadrez.

Não há dúvida de que é inútil e prejudicial lamentarmo -nos perante o mundo. Resta saber se não é igualmente inútil e prejudicial lamentarmo-nos perante nós próprios. Evidentemente. De facto, ninguém se lamentará perante si próprio, a fim de se incitar à piedade, o que nada significaria, dado que a piedade é, por definição, o voluptuoso encontro de dois espíritos. Para quê, então? Não para obter favores, porque o único favor que um espírito pode fazer a si próprio é conceder-se indulgência, e toda a gente percebe quanto é prejudicial que a vontade seja indulgente para com a sua própria e lamentável fraqueza.
Resta a hipótese de o fazermos para extrair verdades do nosso coração amolecido pela ternura. Mas a experiência ensina que as verdades surgem apenas em virtude de uma pacata e severa busca, que surpreende a consciência numa atitude inesperada e a vê, como de um filme que parasse de repente, estupefacta, mas não emocionada. Basta, portanto.


A arte de viver - dado que para viver é preciso fazer sofrer os outros (ver vida sexual, ver comércio, ver qualquer actividade) - consiste em habituarmo-nos a fazer todas as patifarias sem abalar o nosso equilíbrio interior. Ser capaz de todas as patifarias é a melhor bagagem que um homem pode possuir.

Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias.

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre, E deseja o destino que deseja; Nem cumpre o que deseja, Nem deseja o que cumpre. Como as pedras na orla dos canteiros O Fado nos dispõe, e ali ficamos; Que a Sorte nos fez postos Onde houvemos de sê-lo.

Não é possível falar em destino sem uma referência romântica ...

Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.


O acaso une, o destino e fortuna desunem. E a sorte? A sorte une e desune...

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