In a blink and in one motion Rope constricts Rips her towards the ocean She never finds her bearings Sucking splash into her lungs Though I cannot see I can hear her smile as she sings...
A ideia de viajar seduz-me por translação, como se fosse a ideia própria para seduzir alguém que eu não fosse. Toda a vasta visibilidade do mundo me percorre, num movimento de tédio colorido, a imaginação acordada; esboço um desejo como quem já não quer fazer gestos, e o cansaço antecipado das paisagens possíveis aflige-me, como um vento torpe, a flor do coração que estagnou. E como as viagens as leituras, e como as leituras tudo... Sonho uma vida erudita, entre o convívio mudo dos antigos e dos modernos, renovando as emoções pelas emoções alheias, enchendo-me de pensamentos contraditórios na contradição dos meditadores e dos que quase pensaram que são a maioria dos que escreveram. Mas só a ideia de ler se me desvanece se tomo de cima da mesa um livro qualquer, o facto físico de ter que ler anula-me a leitura... Do mesmo modo se me estiola a ideia de viajar se acaso me aproximo de onde possa haver embarque. E regresso às duas coisas nulas em que estou certo, de nulo também que sou — a minha vida quotidiana de transeunte incógnito, e aos meus sonhos como insónias de acordado. E como as leituras tudo... Desde que qualquer coisa se possa sonhar como interrompendo deveras o decurso mudo dos meus dias, ergo olhos de protesto pesado para a sílfide que me é própria, aquela coitada que seria talvez sereia se tivesse aprendido a cantar...
Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,
Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido,
Olho e contenta-me ver(...)
Há uma vaga brisa.
Mas a minh'alma está com o que vejo menos.
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.(...)
Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.(...)
Ah seja como for, seja por onde for, partir!
Largar por aí fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar.
Ir para Longe, ir para Fora, para a Distância Abstracta,
Indefinidamente, pelas noites misteriosas e fundas,
Levado, como a poeira, plos ventos, plos vendavais!
Ir, ir, ir, ir de vez!
Todo o meu sangue raiva por asas!
Todo o meu corpo atira-se prà frente!
Galgo pla minha imaginação fora em torrentes!
Atropelo-me, rujo, precipito-me!...(...)
Uma inexplicável ternura,
Um remorso comovido e lacrimoso,
Por todas aquelas vítimas — principalmente as crianças —
Que sonhei fazendo ao sonhar-me pirata antigo,
Emoção comovida, porque elas foram minhas vítimas;
Terna e suave, porque não o foram realmente;
Uma ternura confusa, como um vidro embaciado, azulada,
Canta velhas canções na minha pobre alma dolorida.(...)
Passa, lento vapor, passa e não fiques...
Passa de mim, passa da minha vista,
Vai-te de dentro do meu coração.
Perde-te no Longe, no Longe, bruma de Deus,
Perde-te, segue o teu destino e deixa-me...
Eu quem sou para que chore e interrogue?
Eu quem sou para que te fale e te ame?
Eu quem sou para que me perturbe ver-te?
Larga do cais, cresce o sol, ergue-se ouro,
Luzem os telhados dos edifícios do cais,
Todo o lado de cá da cidade brilha...
Parte, deixa-me, torna-te
Primeiro o navio a meio do rio, destacado e nítido,
Depois o navio a caminho da barra, pequeno e preto,
Depois ponto vago no horizonte (ó minha angústia!),
Ponto cada vez mais vago no horizonte...,
Nada depois, e só eu e a minha tristeza,
E a grande cidade agora cheia de sol
E a hora real e nua como um cais já sem navios,
E o giro lento do guindaste que, como um compasso que gira,
Traça um semicírculo de não sei que emoção
No silêncio comovido da minh'alma...
Este poema e a tabacaria têm em mim um efeito terrível, demolidor, angustiante( nem encontro adjetivo...): vivencio um misto de dor e de prazer que me liberta e asfixia.
Com as malas feitas e tudo a bordo
E nada mais a esperar da terra que deixamos,(...)
Digamos adeus com um levantar da alegria ao que fica,
Adeus às afeições, e aos pensamentos domésticos, e às lareiras, e aos irmãos,
E enquanto se abre o espaço entre o navio lento e o cais
Gozemos uma grande esperança indefinida e arrepiada,
Uma trémula sensação de futuro. (...) A amargura alegre da ida,
O sabor especial a começo de viagem marítima, a mistura com nossos sentidos
De cheiro das malas, de cheiro a navio, de cheiro a comida de bordo,
E a nossa alma é um composto confuso de cheiros e sabores
E tudo é a viagem indefinida que faremos vista através do paladar e do olfacto,
Tudo é a incerteza sensual da vida sentida pela espinha abaixo...
Adeuses...
Junho de 2016: um adeus sem adeus...
20 de maio de 2016
Daqui a 37 dias, a esta hora, estarei no avião, só de ida, para Itália. É triste, não é? Depois de ter construído uma nova vida em Portugal, durante dez meses, sou obrigada a deixar tudo: a minha família portuguesa, que me tratou desde o início como uma verdadeira filha; a minha escola acolhedora, que fez tudo o que era possível para me fazer sentir integrada na comunidade; o Gaspar, o meu magnífico diretor multilingue ; a minha tutora / terceira mãe, Ilda Velez , que me ajudou em qualquer situação (não tenho palavras para explicar quanto ela foi importante para mim); a minha turma portuguesa, com a qual partilhei a maior parte dos meus dias e na qual consegui construir amizades muito fortes ;o meu grupo de teatro, o meu enérgico grupo de teatro, que acabou por ser a minha segunda casa, onde me podia exprimir como eu sou verdadeiramente e que me fez perceber que a amizade vai para além das diferenças culturais, da língua e da nacionalidade; vou levá-los a todos no meu coração para sempre e vou guardar os momentos maravilhosos que partilhei com eles e que tornaram a nossa amizade pura e verdadeira.
Vou ter de deixar a minha querida Alcobaça, que tanto desprezei nos primeiros tempos, por ser demasiado tranquila e por não se passarem muitas coisas, mas com certeza irei voltar porque vou deixar nela uma parte de mim.
Antes de partir, quero dizer: muito obrigada a todos! Altea Oricchio
31 de dezembro de 2015
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, para lhe dizer adeus.
Fiz sinal de gostar de o ver ainda, mais nada.
Sim, vou... Já tudo começa a ter outro aspecto e a falar aos meus olhos numa outra voz... Parece que não sou eu que estou cansado de existir, mas as cousas que se cansam de eu as ver... Começo a morrer nas cousas... O que se apaga de mim começa a apagar-se no céu, nas árvores, no quarto, nos cortinados deste leito… Depois, pouco a pouco, ir-se-á apagando pelo meu corpo dentro até que fizer noite mesmo ao pé das janelas da minha alma. Mal te cansaste de eu te ouvir, comecei a morrer...Quantas princesas amei no futuro que nunca tive!... Lembras-te — não te lembras? — de como eu ficava cansado pelos combates em que nunca havia de entrar...
Adeus, Walt, adeus!
Adeus até ao indefinido do para além do Fim.
Espera-me, se aí se pode esperar,
Quando parte o último comboio?
Quando parte? (Quando partimos)
Bebedeira da vida... ligeiro nervoso nas nossas sensações...Perturbação alcoólica dos nossos sentidos íntimos...A nossa alma sai um pouco para fora do seu lugar E as rodas da nossa vida quotidiana começam a cambalear como se fossem sair do eixo...Profunda e religiosa solidão do indefinido Universo, Vastidão enorme, nem larga nem alta nem comprida, mas só espaço, o constelado espaço Deste mistério azul-negro e estrelado onde a terra é uma coisa E as vidas aparecem como lanchas à superfície da água... Raios de sol entrando pela janela entreaberta no quarto da casa de campo, Meios-dias nas eiras abandonadas, Tardes noites para encontros em outras margens de rios, Fazei do nosso conseguimento natural um sossego, uma capa E descei sobre a minha alma... Vós, ó campos repousados e incivilizados Vós ó rios tranquilamente passando por uma inquietação, Vós ó jardins públicos às tardes visitados Vós ó tanques de quintas, vós ó lareiras em solares, E disperso arfar de sedas pretas o silêncio da noite.
Quero sorrir de tudo isto, mas sinto um grande mal-estar. Sinto um frio de doença súbita na alma.
Toda despedida é uma morte...
Sim toda despedida é uma morte.
Nós no comboio a que chamamos a vida
Somos todos casuais uns para os outros,
E temos todos pena quando por fim desembarcamos.
Tudo isso vive, porque morre, dentro do meu coração.
E o meu coração é um pouco maior que o universo inteiro.
23 de novembro de 2015 - Um adeus sem despedida ou uma despedida dem adeus?
22 de agosto de 2015; 4 de setembro de 2015
Eu devia poupar-te a esta última tortura; não devia escrever-te; mas perdoa à tua esposa do céu a culpa, pela consolação que sinto em conversar contigo a esta hora, hora final da noite da minha vida. Quem te diria que eu morri, se não fosse eu mesma, Simão? Daqui a pouco. perderás de vista este mosteiro; correrás milhares de léguas, e não acharás, em parte alguma do mundo, voz humana que te diga: — A infeliz espera-te noutro mundo, e pede ao Senhor que te resgate. — Se te pudesses iludir, meu amigo, quererias antes pensar que eu ficava com a vida e com esperança de ver-te na volta do degredo? Assim pode ser, mas, ainda agora, neste solene momento, me domina a vontade de fazer-te sentir que eu não podia viver. Parece que a mesma infelicidade tem às vezes vaidade de mostrar que o é, até não podê-lo ser mais! Quero que digas: — Está morta, e morreu quando eu lhe tirei a última esperança. — Isto não é queixar-me, Simão: não é. Talvez, que eu pudesse resistir alguns dias à morte, se tu ficasses; mas, de um modo ou de outro, era inevitável fechar os olhos quando se rompesse o último fio, este último que se está partindo, e eu mesma o ouço partir.
2 de janeiro de 2015 - A diferença entre a vida e a morte é uma notícia no jornal e um telefonema. Trim, trim... toca o telefone e uma voz, regra geral familiar, diz, com tom compungido: "fulano morreu, o funeral é hoje, às tantas... Queres que passe por aí?" . É menos um amigo... ( Malhas que o império tece...)
Morreu o historiador de arte Jorge Estrela
Jorge Estrela, historiador de arte e pintor, morreu ontem, dia 1, na Clinigrande, na Marinha Grande, onde se encontrava internado. Tinha 70 anos e era diretor da Casa Museu João Soares, nas Cortes.Homem de vasta cultura, paralelamente à história de arte, dedicava-se à história da paisagem, à botânica e à micologia, tendo sido fundador da Sociedade Portuguesa de Micologia.
Não amaremos talvez insuficientemente a vida? Já notou que só a morte desperta os nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha?! Como admiramos os nossos mestres que já não falam, com a boca cheia de terra! A homenagem surge, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez eles tivessem esperado de nós, durante a vida inteira. Mas sabe porque nós somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples! Para com eles, já não há deveres.
Para mim, nem sequer o dever de ir ao funeral...
Um morto no prelo, e o espectáculo começa, finalmente. Têm necessidade de tragédia, que é que o senhor quer?, é a sua pequena transcendência, é o seu aperitivo.
31 de dezembro de 2014- Construí com loucura uma grande casa branca E ao longo das paredes te chorei
Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção – isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos. Esta madrugada é a primeira do mundo. Nunca esta cor rosa amarelecendo para branco quente pousou assim na face com que a casaria de oeste encara cheia de olhos vidrados o silêncio que vem na luz crescente. Nunca houve esta hora, nem esta luz, nem este meu ser. Amanhã o que foi será outra coisa, e o que eu vir será visto por olhos recompostos, cheios de uma nova visão
E ela imaginou com sede a água clara e fria em roda dos seus ombros, e imaginou a relva onde se deitariam os dois, lado a lado, à sombra das folhagens e dos frutos. Ali parariam. Ali haveria tempo para poisar os olhos nas coisas. Ali poderiam respirar devagar o perfume das roseiras. Ali tudo seria demora e presença. Ali haveria silêncio para escutar o murmúrio claro do rio. Silêncio para dizer as graves e puras palavras pesadas de paz e de alegria. Ali nada faltaria: o desejo seria estar ali.
This is the end, beautiful friend,this is the end, my only friend, the end. It hurts to set you free,but you'll never follow me. The end of laughter and soft lies...
13 de outubro de 2014 - Os que nunca atravessaram o trópico da dor quase nunca são capazes de entender: o facto de alguém estar morto pode querer dizer que não está vivo, mas não quer dizer que não exista. There's a time to leave, there's a time to think about...
Help me see myself,cause I can no longer tell...
16 de abril de 2014
And when you fell you're near the end And there's a stranger where once was a friend And you are left without a word Only the whispers that you've overheard
Chegámos ao fim da canção...E páro um pouco pra dormir É tarde pra voltarmos atrás Já nem há motivo algum para rir...Adeus tristeza, até depois Chamo-te triste por sentir que entre os dois Não há mais nada pra fazer ou conversar Chegou a hora de acabar...
Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye...
What were all those dreams we shared Those many years ago?(...) My dear The end Comes near...
31 de dezembro de 2013 - Una soledad adentro y otra soledad afuera. Hay momentos en que ambas soledades no pueden tocarse....
22 de dezembro de 2013 - Muito mais me importa o teu sofrimento(…) E alguém assim falará, ao ver as tuas lágrimas: Esta é a mulher de Heitor, que dos Troianos domadores de cavalos era o melhor guerreiro, quando se combatia em torno de Ílion. Assim falará alguém. E a ti sobrevirá outra vez uma dor renovada, pela falta que te fará um marido como eu para afastar a escravatura. Mas que a terra amontoada em cima do meu cadáver me esconda antes que oiça os teus gritos quando te arrastarem para o cativeiro.
Talvez que noutro mundo, noutro livro,tu não tenhas morrido e talvez nesse livro não escrito nem eu nem tu tenhamos existido e tenham sido outros dois aqueles que a morte separou e um deles escreva agora isto como se acordasse de um sonho que um outro sonhasse( talvez eu), e talvez então tu,eu, esta impressão de estranhidão,de que tudo perdeu de súbito existência e dimensão,e peso, e se ausentou,seja um sonho suspenso que sonhou alguém que despertou e paira agora como uma luz algures do lado de fora
Adeuses inesperados de fernando pessoa...
Deste-me um adeus antigo
À maneira de eu não ser
Mais que o amigo do amigo
Que havias de poder ter.
Ó sorte de olhar mesquinho
E gestos de despedida,
Apanha-me do caminho
Como a uma coisa caída...
Adeus senhor Antonio, eu não tenho senão dias de vida e escrevo esta carta só para a guardar no peito como se fosse uma carta que o senhor me escrevesse em vez de eu a escrever a si. Eu desejo que o senhor tenha todas as felicidades que possa desejar e que nunca saiba de mim para não rir porque eu sei que não posso esperar mais.
Eu amo o senhor com toda a minha alma e toda a minha vida.
Aí tem e estou a chorar.
Maria José
Vi-te a dizer um adeus
A alguém que se despedia,
E quase implorei dos céus
Que eu partisse qualquer dia.
MARIA:
Onde vais? onde vais? ah volta, volta!
Parece-me sentir que (...) por onde vais.
FAUSTO:
Na noite, para o Mal, como o Universo
Mas mais Deus do que ele.
Adeus.
Adeus.
Adeus.
E para sempre.
(A voz de Maria crescendo em tom e em angústia)
Fausto!
Fausto!
Fausto!
(Cai desmaiado. Ouve-se, apenas, na noite, o sussurro do vento nos pinheirais.)
Bebé:
Obtida a devida autorização do snr. eng. Álvaro de Campos, mando-lhe o poema que escrevi entre as estações de Casa Branca e Barreiro A, terminando a inspiração, entretanto, na Moita. Este poema deve ser lido de noite e num quarto sem luz. Também, devidamente aproveitado, serve para fazer papelotes para as bonecas de trapo, para tapar as fechaduras contra o frio, os olhares e as chaves, e para tirar medidas para sapatos a pés que não tenham mais comprimento que o papel. Creio que estão feitas todas as recomendações para o uso. Não é preciso agitar antes de usar.
Até logo.
Ibis
Ophelinha:
Agradeço a sua carta. Ela trouxe-me pena e alívio ao mesmo tempo. Pena, porque estas coisas fazem sempre pena; alívio, porque, na verdade, a única solução é essa — o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao menos, fica uma estima profunda, uma amizade inalterável. Não me nega a Ophelinha outro tanto, não é verdade?
Nem a Ophelinha, nem eu, temos culpa nisto. Só o Destino terá culpa, se o Destino fosse gente, a quem culpas se atribuíssem.
O Tempo, que envelhece as faces e os cabelos, envelhece também, mas mais depressa ainda, as afeições violentas. A maioria da gente, porque é estúpida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contraiu o hábito de se sentir a amar. Se assim não fosse, não havia gente feliz no mundo. As criaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade dessa ilusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por ele a estima, ou a gratidão, que ele deixou.
Estas coisas fazem sofrer, mas o sofrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão-de passar o amor e a dor, e todas as mais coisas, que não são mais que partes da vida? (...)O amor passou. Mas conservo-lhe uma afeição inalterável, e não esquecerei nunca — nunca, creia — nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequenina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua índole amorável. Pode ser que me engane, e que estas qualidades, que lhe atribuo, fossem uma ilusão minha; mas nem creio que fossem, nem, a terem sido, seria desprimor para mim que lhas atribuísse.
Não sei o que quer que lhe devolva — cartas ou que mais. Eu preferia não lhe devolver nada, e conservar as suas cartinhas como memória viva de um passado morto, como todos os passados; como alguma coisa de comovedor numa vida, como a minha, em que o progresso nos anos é par do progresso na infelicidade e na desilusão.
Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil.
Que isto de «outras afeições» e de «outros caminhos» é consigo, Ophelinha, e não comigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam.
Não é necessário que compreenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.
Fernando
Preparei tudo meticulosamente, não me esquecendo de nenhum pormenor. No momento da partida, senti uma estranha sensação de liberdade, mas... subitamente, o meu estado de espírito mudou; já não me apetecia ir para lado nenhum. Fui invadida por um entorpecimento que progressivamente me retirou a vontade de qualquer movimento, de qualquer atuação. Ficarei a pairar. Estou saturada de mim, dos nadas, dos medos… da loucura, de tudo. Apetece-me desaparecer, desintegrar-me e subir numa nuvem."Não me apetece a vida nem outra coisa.", pensei.
Seria injusto não referir esta leitura: os gift fizeram parte do meu passado.Recordo , com alguma nostalgia, o ben almanzor, um espaço considerado, na época, inadequado para uma senhora professora, mãe de família. Quantas noites lá passei, até de manhã, a ir de direta para as aulas... Foi essa saudade que procurei, mas só se me deparou um enorme vazio. Fazem, ainda, parte do meu presente em raros jantares, cada vez mais episódicos, e em consultas pontuais sobre algumas palavras...
Este reeencontro foi, afinal, dentro de mim, um adeus definitivo. Não senti nada, nada...Como vem sendo habitual, as apresentações de livros são sempre constrangedoras. Nada significa nada. Nem me posso considerar um objeto decorativo, sou uma mera ausência insignificativa que se materializa,fugazmente, numa presença que nunca consegue viver a festa dos outros. Vou nem sei porquê, mas continuo a ir, ficou-me o hábito do tempo de bibliotecária do reino.
Outros adeuses: estar e não estar...
El amor, iluminación privilegiada del ser humano, lo que se opone y define al mundo. La capacida de enamorarse es raíz estética que le permite, al poeta, aún en las peores horas, cuando todo parece confabularse contra él, que siempre le quede, cuando menos, la embriaguez dramática de la derrota. Por eso él califica —con satisfacción apenas disimulada— de excesiva hasta el ridículo su capacidad de apasionarse y por eso, en su exaltación lírica, la mezcla de orgullo y melancolía, de contentamiento y desesperanza. Todo es pasajero y contemplar la vida es asistir a una desagradable comedia policiaca...
Um plazo fijo tuvo Nuestro conocimiento y trato, como todo En la vida, y un dia,uno cualquiera, Sin causa ni pretexto aparente, Nos dejamos de ver. Lo presentiste? Yo si, que siempre estuve presentiéndolo.
El gobierno francés, ¿o fue el gobierno inglés?, puso una lápida En esa casa 8 Great College Street... Adonde en una habitación Rimbaud y Verlaine, rara pareja, Vivieron, bebieron, trabajaron, fornicaron, Durante algunas breves semanas tormentosas. Al acto inaugural asistieron sin duda embajador y alcalde, Todos aquellos que fueran enemigos de Verlaine y Rimbaud cuando vivían.
Estar cansado tiene plumas, Tiene plumas graciosas como un loro, Plumas que desde luego nunca vuelan, Mas balbucean igual que loro. Estoy cansado de las casas,Prontamente en ruinas sin un gesto;Estoy cansado de las cosas,Con un latir de seda vueltas luego de espaldas. Estoy cansado de estar vivo, Aunque más cansado sería el estar muerto;Estoy cansado del estar cansado.
Muchachos Que nunca fuisteis compañeros de mi vida, Adiós. Muchachos Que no seréis nunca compañeros de mi vida Adiós. El tiempo de una vida nos separa Infranqueable: A un lado la juventud libre y risueña; A otro la vejez humillante e inhóspita.
Adios muchachos, compañeros de mi vida,Barra querida de aquellos tiempos. Me toca a mi hoy emprender la retirada, Debo alejarme de mi buena muchachada. Adios muchachos. ya me voy y me resigno... Contra el destino nadie la talla...
Recordei, mesmo que a despropósito, " Um adeus português" e uma história não exemplar ...
Quando escrevi «Um Adeus Português»...estava a sofrer pressões inacreditáveis, por parte de alguém da minha família, para não «ir atrás da francesa». A francesa, a minha querida e já falecida amiga Nora Mitrani, queria que eu fosse ter com ela a Paris, onde vivia. «Vens, ficas cá e depois se vê»... Mas as coisas não se passaram assim. A pressão (ou, melhor, a perseguição) chegou ao ponto de ter sido metida uma cunha à polícia política para que o passaporte me fosse denegado, o que aconteceu, não sem que eu, primeiro, tivesse sido convocado para a própria sede dessa polícia e interrogado pelo subinspetor Seixas. Seixas usou comigo de uma linguagem descomedida. Perguntou-me que ia eu fazer a Paris. Respondi: Turismo.Quis saber se eu conhecia a senhora N. M. Eu disse que sim. Então Seixas retorquiu: ‑ Se calhar V. quer ir porque essa gaja lhe meteu alguma coisa na cachola. Com a serenidade que me foi possível, fiz-lhe saber que se enganava, que N. M. não era uma gaja e que eu não tinha cachola. Pareceu surpreendido. Depois, irritado, mandou-me sair. E assim estive anos sem conseguir passaporte.
Claro que o poema não se gerou apenas desta situação, mas ela contribuiu poderosamente, com outros fatores circunstanciais bem conhecidos, para que o poema aparecesse. Era uma época em que tudo cheirava e sabia a ranço, em que o amor era vigiado e mal tolerado, em que um jovem não era senhor dos seus passos (errados ou certos, não interessa). Semanas depois, «nascia» o poema e, com ele publicado, uma relativa notoriedade. É que o poema, ingénuo como é, tem realmente a força do nojo e do desespero combinados com um derrame/contenção sentimental que não mais igualei. Então, durante algum tempo, fiquei conhecido como o poeta de «Um Adeus Português». A minha amiga, que não voltei a ver (quando a fui procurar em Paris já tinha morrido), ainda tomou conhecimento deste poema. Escreveu-me: «Li o teu Adeus. Fiquei atrozmente comovida.»
Claro que um poema não é feito de nojos, desesperos e derrames sentimentais, mas, no caso, a felicidade de expressão foi vivamente alimentada por uma raiva e um amor desmesurados, quer dizer, adolescentes. E o poema foi ficando e passando para as antologias.
Explico tudo isto porque outro dia me chegou às mãos um número da Europe dedicado à literatura de Portugal. E lá aparece, numa tradução bastante pobre, o tal «Adeus... ». Não é que, na nota proemial, em que me definem como sarcástico, desesperado e terno, dizem que o poema foi inspirado por Nora Mitrani! Eu acho que, por enquanto, isso é comigo. Também o João Botelho (o do excelente filme Conversa Acabada) me telefonou a pedir-me autorização para usar o título do poema para título de um novo filme seu. Dei-lha logo. E nem sequer lhe perguntei se o que ele vai fazer tem a ver com o poema ou não. Isso é lá com ele. Como, insisto, é só comigo que Nora Mitrani tenha sido ou não a inspiradora de «Um Adeus Português».
Não importa qual tenha sido a inspiração, ficou uma imagem inesquecível: Não podias ficar nesta cadeira onde passo o dia burocrático o dia-a-dia da miséria que sobe aos olhos vem às mãos aos sorrisos ao amor mal soletrado à estupidez ao desespero sem boca ao medo perfilado à alegria sonâmbula à vírgula maníaca do modo funcionário de viver Esta imagem traduz um estado de alma, retrata um país,uma mentalidade. Esta estrofe sintetiza o quotidiano formatado e estiolante de todos os que sabem pensar: ontem, hoje e amanhã.... E ficou um adeus exemplar: - Nesta curva tão terna e lancinante que vai ser que já é o teu desaparecimento digo-te adeus e como um adolescente tropeço de ternura por ti. Romantismo combinado com o sarcasmo cínico e corrosivo do autor. É, afinal, uma história exemplar...
Tinha um barco lindo que pela água ia, Como nuvem branda pelo brando céu Carreguei-o d'oiro que o labor trazia E soçobrou logo que vogar queria E eu fiquei nas ondas sem o barco meu.
25 de agosto de 2016 - Talvez o dia do adeus definitivo...Só talvez...
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