You're tearing me apart Crushing me inside You used to lift me up Now you get me down If I Was to walk away From you my love Could I laugh again ? If I Walk away from you And leave my love Could I laugh again ? Again, again..
Por mim, o meu estado de espírito é mau. Dezembro foi uma noite de tempestade para mim. Nem cabeça tenho tido para escrever a alguém, mesmo à minha família. Quebro esse encantamento de depressão para lhe escrever hoje, e isto para que não faltasse em responder à sua carta.
Espero adquirir durante este mês aquela suficiente dose de serenidade que me permita escrever-lhe o milhão de coisas que tenho para lhe expor e contar. Espero poder mandar-lhe os poucos versos que tenho feito. Que, apesar de tudo, e através de tudo, trabalho sempre, produzo sempre. Mesmo nos pântanos do meu espírito há lótus que florescem.
Sim, para a minha carta próxima devo ter apanhado do chão dos meus propósitos a energia suficiente para lhe contar coisas e para lhe copiar versos.(...)
sempre seu
Fernando Pessoa
( Armando Côrtes-Rodrigues (1891-1971)nasce nos Açores , onde recebe uma educação religiosa, tendo-se licenciado em Filologia Românica, no Curso Superior de Letras ... A sua amizade com Fernando Pessoa é mais significativa do que o seu talento como poeta. Na verdade, foi um interlocutor privilegiado de Pessoa, como o atesta a abundante correspondência trocada entre eles. É importante, além do diálogo literário, a partilha do mundo interior e a cumplicidade espiritual que tornam Côrtes-Rodrigues num espectador íntimo do "teatro-arte-vida" pessoano...
A estreia literária do jovem açoriano foi apadrinhada por Pessoa, que enviou dois sonetos para A Águia , escrevendo ao editor : «Mando uma página de verso (...) É outro poeta que principia, e creio útil auxiliá-los, especialmente quando, como este, entram em casa das Musas com o pé direito. Valho-me da sua autorização para lhe fazer esta pequena remessa, cuja qualidade, porém, me parece justificativa de remetê-la. (...) P.S. O nome do rapaz é Côrtes-Rodrigues. Isto para que ponha no sumário o nome com a devida acentuação, para que se não julgue que é Cortês.» )
Quando, como uma noite de tempestade a que o dia se segue, o cristianismo passou de sobre as almas, viu-se o estrago que, invisivelmente, havia causado; a ruína, que causara, só se viu quando ele passara já. Julgaram uns que era por sua falta que essa ruína viera; mas fora pela sua ida que a ruína se mostrara, não que se causara.(...) Na esfera baixa da política, como no íntimo recinto das almas — o mesmo mal.
Várias vezes, no decurso da minha vida opressa por circunstâncias, me tem sucedido, quando quero libertar-me de qualquer grupo delas, ver-me subitamente cercado por outras da mesma ordem, como se houvesse definidamente uma inimizade contra mim na teia incerta das coisas. Arranco do pescoço uma mão que me sufoca. Vejo que na mão, com que a essa arranquei, me veio preso um laço que me caiu no pescoço com o gesto de libertação. Afasto, com cuidado, o laço, e é com as próprias mãos que me quase estrangulo.
Três dias seguidos de calor sem calma, tempestade latente no mal-estar da quietude de tudo, vieram trazer, porque a tempestade se escoasse para outro ponto, um leve fresco morno e grato à superfície lúcida das coisas. Assim às vezes, neste decurso da vida, a alma, que sofreu porque a vida lhe pesou, sente subitamente um alívio, sem que se desse nela o que o explicasse.
Concebo que sejamos climas, sobre que pairam ameaças de tormenta, noutro ponto realizadas. A imensidade vazia das coisas, o grande esquecimento que há no céu e na terra...
Os terrores em luz, e som e abismo
Da tempestade e que, mais do que trémulo,
Mais que convulso no terror extremo,
Pensa já perto da loucura, quanto
Fugir mais do que em si, desaparecer,
Sumir-se, dessentir-se (...)
Mas a tempestade
Acabará, e há outro lugar onde
Não há a tempestade. Mas a este
Não lhe posso fugir nem conceber
Que ele se acabe ou que se abata ou seja
Outra coisa que não da alma minha
No que de universal e permanente Tem.
Para Marías o tempo cronológico, que os gregos chamavan chronos, não representa um depósito de materiais recicláveis, não serve para re-escrever ou re-inventar o passado de forma lúdica, mas para refletir sobre a memória como meio ou como instrumento fundamental para recuperar o tempo que foge e , ao mesmo tempo, atingir, embora de forma incerta e problemática, uma perceção da própia identidade.
Num artigo em que Marías explica, ante litteram, o possível significado do que será o título da sua futura " falsa novela", depois de citar um verso de Shakespeare, “ the dark backward and abyss of time?” , como a sua fonte, explica que o estilo consiste, frequentemente, na habilidade para exprimir sintaticamente conceitos abstratos, sem recorrer a uma linguagem lógica. Shakespeare tinha conseguido traduzir, através de uma forma poética, uma maneira de encarar o tempo, típica do nosso quotidiano. Ao consideramos o presente como o eixo central, costumamos encarar o passado como aquilo que deixamos atrás de nós, como as nossas costas, e o futuro como aquilo que nos espera, o que se encontra à frente, na linha do horizonte.
Não é nada provável que Shakespeare tenha sabido, através de estudos, que a configuração da imagem do tempo nas línguas indoeuropeias - e o seu reflexo na conjugação verbal - está , em grande parte, condicionada pela analogia com um objeto, num meio ambivalente e pela assimilação psicológica, nascida da simetria rosto - costas, do futuro como visão e o passado como cegueira. Marías confessa não
ter entendido, de forma cabal, o que queria dizer o seu amigo e mestre literário, mas ficou fascinado por esta reflexão. O verso citado por Benet aparece, na realidade, na cena 2 do ato I da Tempestade; Próspero, tendo naufragado com a sua filha Miranda, na ilha de Caliban, fica surpreendido quando ela, apenas com três anos, recorda , com muitos pormenores, a sua vida passada. But how is it That this lives in thy mind? What seest thou else In the dark backward and abyss of time?

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