Este palavrário é o que fica do que nunca serei...
Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
Impaciências...Esperas...
Não leio já; queria abrir um livro(...)
Não leio. Horas intérminas, perdido
De tudo, salvo de uma dolorosa
Consciência vazia de mim próprio,
Como um frio numa noite intensa,
Em frente ao livro aberto vivo e morro...
Nada... E a impaciência fria e dolorosa
De ler p'ra não sonhar e ter perdido
O sonho! Assim como um engenho
Que, abandonado, em vão trabalha ainda,
Sem nexo, sem propósito, eu môo
E remôo a ilusão do pensamento...
E hora a hora na minha estéril alma
Mais fundo o abismo entre meu ser e mim
Se abre, e nesse abismo não há nada...
Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa: uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual.
You're tearing me apart Crushing me inside You used to lift me up Now you get me down If I Was to walk away From you my love Could I laugh again ? If I Walk away from you And leave my love Could I laugh again ? Again, again..
Sem impaciência.
Sem curiosidade,
Sem atenção
Vejo-o crochet que com ambas as mãos combinadas
Fazes.
Doem-me a cabeça e o universo. As dores físicas mais nitidamente dores que as morais, desenvolvem, por um reflexo no espírito, tragédias incontidas nelas. Trazem uma impaciência de tudo que, como é de tudo, não exclui nenhuma das estrelas.
Não comungo, não comunguei nunca, não poderei, suponho, alguma vez comungar aquele conceito bastardo pelo qual somos, como almas, consequências de uma coisa material chamada cérebro, que existe, por nascença, dentro de outra coisa material chamada crânio. Não posso ser materialista, que é o que, creio, se chama àquele conceito, porque não posso estabelecer uma relação nítida - uma relação visual, direi - entre uma massa visível de matéria cinzenta, ou de outra cor qualquer, e esta coisa eu que por detrás do meu olhar vê os céus e os pensa, e imagina céus que não existem. Mas, ainda que nunca possa cair no abismo de supor que uma coisa possa ser outra só porque estão no mesmo lugar, como a parede e a minha sombra nela, ou que depender a alma do cérebro seja mais que depender eu, para o meu trajecto, do veículo em que vou, creio, todavia, que há entre o que em nós é só espírito e o que em nós é espírito do corpo uma relação de convívio em que podem surgir discussões. E a que surge vulgarmente é a de a pessoa mais ordinária incomodar a que o é menos.
Dói-me a cabeça hoje, e é talvez do estômago que me dói. Mas a dor, uma vez sugerida do estômago à cabeça, vai interromper as meditações que tenho por detrás de ter cérebro. Quem me tapa os olhos não me cega, porém impede-me de ver. E assim agora, porque me dói a cabeça, acho sem valia nem nobreza o espectáculo, neste momento monótono e absurdo, do que aí fora mal quero ver como mundo. Dói-me a cabeça, e isto quer dizer que tenho consciência de uma ofensa que a matéria me faz, e que, porque como todas as ofensas, me indigna, me predispõe para estar mal com toda a gente, incluindo a que está próxima porém me não ofendeu.
O meu desejo é de morrer, pelo menos temporariamente, mas isto, como disse, só porque me dói a cabeça. E neste momento, de repente, lembra-me com que melhor nobreza um dos grandes prosadores diria isto. Desenrolaria, período a período, a mágoa anónima do mundo; aos seus olhos imaginadores de parágrafos surgiriam, diversos, os dramas humanos que há na terra, e através do latejar das fontes febris erguer-se-ia no papel toda uma metafísica da desgraça. Eu, porém, não tenho nobreza estilística. Dói-me a cabeça porque me dói a cabeça. Dói-me o universo porque a cabeça me dói. Mas o universo que realmente me dói não é o verdadeiro, o que existe porque não sabe que existo, mas aquele, meu de mim, que, se eu passar as mãos pelos cabelos, me faz parecer sentir que eles sofrem todos só para me fazerem sofrer.
"Já passou, já está, já passou ", costumam dizer as mães aos seus filhos para os acalmar, depois de um pesadelo ou um susto ou de alguma situação difícil, dando uma importância desmesurada ao tempo presente, quase como se declarassem: " O que já não é, não foi". É compreensível nesses casos, pois existe a intuição ou a recordação de que, para as crianças, o presente é tão forte que cada instante lhes parece eterno, excluindo tudo o que nele se não encontrar , portanto também do passado e do futuro , e por isso suportam tão mal as mudanças e os reveses, por mais insgnificantes que sejam, porque os creem definitivos, pois não veem mais do que o agora em que vivem instalados; por isso, se têm fome ou sede ou vontade de urinar, não esperam, ou enfurecem-se se não há outro remédio do que chegar até um café ou a casa para solucionar a enorme contrariedade. Assim, eles vivem qualquer dilação mesmo que seja de minutos, não sabem o que é um minuto nem uma hora nem um dia, não entendem o que é o tempo, não entendem que ele consiste precisamente em algo que passa e se perde, na sua passagem e na sua perda, até ao ponto de se poder recordar. Sempre vi esta mesma impaciência ou falta de compreensão da passagem do tempo em algumas mulheres, raras vezes nos homens, que parecem contar mais com o futuro, e alguns reconhecem que o presente existe só para ser passado.
Esperas...
I've been seein' demons and I've been seein' saints, I've tried pretendin' that I'm somebody that I ain't.
I'll wait here for you for I'm broken Down, I'm coming down this time for my heart lies...
Troca por vinho o amor que não terás. O que esperas, perene o esperarás.
Andorinha que passaste,
Quem é que te esperaria?
Só quem te visse passar
E esperasse no outro dia.
O Soares e o Pereira, empregados do mesmo escritório, eram inimigos de alma. Não havia questão de serviço, ainda que nela rigorosamente não pudesse surgir conflito entre os dois, em que não surgisse conflito entre os dois. E, embora nunca seguissem por aquelas vias chamadas de facto, fervia em pouco tempo a descompostura mútua. De besta para cima e para baixo, todos os arredores de malandro, com passagem por gatuno e grande escala por tudo, verem-se era discordarem, olharem-se era a primeira palavra de se descomporem.
Um dia o Soares, que era o mais inteligente e por isso o mais estúpido dos dois, referindo, fora do escritório, a qualquer amigo as cenas habituais com o Pereira, recebeu d'esse a pergunta, «Mas porque diabo é que tu não o esmagas com uma coisa pior que todas as piadas?» «Que coisa?» perguntou o Soares; «porrada?» «Não, não digo isso... Melhor que isso: o silêncio... Ele tem mais piada que tu; pois bem, arranja mais desprezo do que ele. Ele insulta, e tu olhas para ele e não dizes nada. Ele insulta mais e tu na mesma. Ele espuma e esbraveja, e tu idem e igualmente zero. Verás que não há piada que ele possa dizer que valha o que tu não dizes. O que tu não dizes pode ser tudo; o que ele diz não pode ser senão o que ele diz, e, se calhar, muitas vezes nem isso é.»
O Pereira pensou e achou razão, pelo menos provisória, ao conselho. E, ao contrário do que a prudência manda, seguiu-o. Mas, como é costume suceder quando se não segue a prudência, fez bem.
Foi logo no dia seguinte, porque era todos os dias, e o dia seguinte não era feriado. Surgiu um incidente que o Pereira fez o Soares ter feito surgir. E, sob os ouvidos fitantes do outro pessoal, o Pereira começou. Os substantivos do costume uniram-se aos adjectivos do da vizinhança e o carácter, habilitações, possibilidades penais, e outros atributos de um Soares de retórica, fulguraram no discurso. A certa altura, como o Soares não dissesse nada, mas somente olhasse para o orador com uma atenção despreocupada e triste, o Pereira começou a afrouxar. Seguiu a cena, de parte a parte, e o Pereira, afrouxando cada vez mais, foi-se tornando lívido. Ao fim de cinco minutos estava quase mudo e com a voz e a expressão do olhar em vésperas de lágrimas. Então engoliu um pouco; e, dirigindo-se ao Soares numa voz trémula disse: «Ó Soares, você está zangado comigo?»
Si vis bellum, para pacem.
Hoje, falho de ti, sou dois a sós.Há almas pares, as que conheceram onde os seres são almas.
Lista de espera:
3 de setembro de 2018- Acabou a espera: "Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas. Adeus."
9 de janeiro de 2017- And here we go again...Acordei a ouvir este verso não sei de quem nem de quê...
Crítica de bruno vieira amaral ao último romance de lobo antunes ( Leio críticas quando não me apetece começar a ler o livro: não é por interesse , é uma mera manobra de dilação...)
A protagonista da história (e estes termos têm de ser utilizados com cautela) é uma ex-actriz de setenta e oito anos que na juventude veio de Faro para Lisboa, onde conheceu um moderado sucesso nos palcos e foi casada por duas vezes, a primeira por conveniência económica e a segunda, digamos, por desinteresse. Agora, num processo de degenerescência mental, aos cuidados do sobrinho do marido e de uma senhora de idade, recorda o que lhe aconteceu, os tempos de infância no Algarve, os passeios com o pai, a carreira no teatro, os casamentos e olha para o mundo com a confusão de um cérebro devastado, incapaz de se lembrar onde é o quarto e com as memórias antigas mais vivas e luminosas do que nunca, como o pavio de uma vela que se aproxima do fim.
Então, a protagonista é esta, o cenário é este, a história é esta. O livro, bem, o livro é outra coisa. Porque aquelas coisas estão no interior do livro, mas são tanto o livro como um ser humano é o seu esqueleto. Estão no seu interior, mas não são a sua essência. Estão dentro mas, para o que interessa, são exteriores ao livro. O romance olha para muitas coisas lá fora, mas avança às ordens da voz que o constrói. Essa voz está no centro do romance e, ao mesmo tempo, paira sobre ele, organiza-o e, ao mesmo tempo, flui, arrastando para si as outras vozes – das personagens, da narradora, do autor – tornando-a uma só. Porque aqui não há polifonia, no sentido em que As Ondas, de Virginia Woolf, ou Na Minha Morte, de William Faulkner, são romances polifónicos. O que há é uma monofonia em vários tons em que a mesma voz atravessa todo o romance e atrai para si tudo o que encontra pelo caminho: os detritos e as pérolas, os trejeitos linguísticos que assinalam uma personagem e as imagens poéticas que denunciam o criador.
Essa voz dobra o tempo, relativiza-o, amachuca-o, traz o passado para a porta de casa, intromete fiapos de diálogos nas frestas do discurso, faz assomar as recordações à janela da memória, sendo que a memória devastada da velha actriz torna credível o caos cronológico pois ela logo de início nos avisa que há muito que o tempo se fixou, “dá a ideia que se altera mas é o mesmo sempre e é no interior desse tempo que continuo a esmorecer devagar”. A voz, como tal, constrói o tempo e é também ela feita de tempo, um tempo que não é o tempo real (se é que tal coisa existe) nem é o tempo da ficção, não é o tempo da sanidade nem o da loucura, é uma amálgama de todos esses tempos derretidos. Essa voz que, mais do que construir um edifício narrativo, compõe um movimento musical (embora às palavras falte o rigor matemático das notas musicais), sustenta-se em motivos ou repetições. No caso deste livro, há o motivo do galgo do avental, do “motor” do gato, do comprimido, do relógio de cucos e do crucifixo a bater na parede como sinalizador do sexo, todos a marcar o compasso da voz e do tempo.
Fiquei curiosa...Estou curiosa, mas com medo de me desiludir. Fico tão triste sempre que um livro me desilude.
( Às vezes penso que a minha mãe tinha razão, quando afirmava , com ar solene e áspero: " Esta rapariga é chanfrada, não sei a quem ela sai". O que eu odiava esta frase, que mania de descobrir a quem "se sai"... Não invejo as pessoas que agradecem ao pai, à mãe, a um avô ou a uma avó, o espírito rebelde, a habilidade para..., a capacidade para isto ou para aquilo. Eu não agradeço nada a ninguém... O único avô que admirava só tive o direito de o ver uma vez ao longe, diziam que lhe devo o amor às letras... Foi a minha primeira espera: conhecer esse avô lendário que atormentou a minha existência, mas que, em silêncio, e envergonhadamente, amei...Tudo o que sou aprendi, por vezes com grande esforço, porque primeiro tive de esquecer as influências negativas que me transmitiram. Eu fui-me construindo, à imagem e semelhança de um ser que eu idealizei, libertei-me da genética, das influências familiares, eu sou o que quis ser e não devo nada a ninguém. Será isto um absurdo? Se o for, só tenho de incluir este texto na publicação anterior.)
Tem um processo de escrita exasperante: percebo que a intenção seja sugerir a desordem mental da protagonista, mas não me agrada...
- Filhinha
e portanto acho que vou principiar a correr na direcção de um palhaço, porque foi sempre um palhaço, na direcção de um pateta, porque foi sempre um pateta, na direcção do meu pai porque é o meu pai, menta, pistacho, morango, ponho um chapéu de palha na cabeça dado que a minha mãe
- Não te esqueças do chapéu
enfio o braço no dele, respondo com uma vénia quando disser
- Vamos embora filhinha
e seguimos os dois juntos, dando às ancas e cumprimentando as pessoas, até nos dissolvermos na luz.
Não consigo continuar a ler, senhor doutor... vou correr na direção de outro livro. Não me agrada, não gosto: a forma destrói o conteúdo; o meu rigor clássico precisa de forma para se deliciar com as ideias.... Vou-me embora. Talvez regresse aos 78 , quem sabe?
doismiletrintaesete: à espera de nada...
31 de outubro de 2015
Para Sá-carneiro - Como éramos só um, falando! Nós éramos como um diálogo numa alma. [...] Sei que, falho de ti, estou um a sós. É como se esperasse eternamente A tua vida certa e conhecida Aí em baixo, no café Arcada — Quase no extremo deste [...] Ah, meu maior amigo, nunca mais Na paisagem sepulta desta vida Encontrarei uma alma tão querida Às coisas que em meu ser são as reais. [...]
Não mais, não mais, e desde que saíste Desta prisão fechada que é o mundo, Meu coração é inerte e infecundo E o que sou é um sonho que está triste. Porque há em nós, por mais que consigamos Ser nós mesmos a sós sem nostalgia, Um desejo de termos companhia — O amigo como esse que a falar amamos. 1934
21 de junho de 2015
Cumpre-me agora dizer que espécie de homem sou. Não importa o meu nome, nem quaisquer outros pormenores externos que me digam respeito. É acerca do meu carácter que se impõe dizer algo. Toda a constituição do meu espírito é de hesitação e dúvida. Para mim, nada é nem pode ser positivo; todas as coisas oscilam em torno de mim, e eu com elas, incerto para mim próprio. Tudo para mim é incoerência e mutação. Tudo é mistério, e tudo é prenhe de significado. Todas as coisas são «desconhecidas», símbolos do Desconhecido. O resultado é horror, mistério, um medo por demais inteligente.
A expectativa é o maior impedimento para viver: leva-nos para o amanhã e faz com que se perca o presente...Esperar pelo melhor e preparar-se para o pior: eis a regra
Cada vez que o meu propósito se ergueu, por influência de meus sonhos, acima do nível quotidiano da minha vida, e um momento me senti alto, como a criança num balouço, cada vez dessas tive que descer como ela ao jardim municipal, e conhecer a minha derrota sem bandeiras levadas para a guerra nem espada que houvesse força para desembainhar.
3 de junho de 2015
Nada ficou no lugar Eu quero entregar suas mentiras Eu vou invadir sua aula Queria falar sua língua...
Eu vou publicar seus segredos Eu vou mergulhar sua guia Eu vou derramar nos seus planos O resto da minha alegria...
A alma humana é vítima tão inevitável da dor que sofre a dor da surpresa dolorosa, mesmo com o que devia esperar. Tal homem, que toda a vida falou da inconstância e da volubilidade feminina como de coisas naturais e típicas, terá toda a angústia da surpresa triste quando se encontre traído em amor...
A esmola que te vi dar Não me deu crença nem fé, Pois a que estou a esperar Não é esmola que se dê.
Cada dia me traz com que esperar O que dia nenhum poderá dar. Cada dia me cansa da esperança... Mas viver é esperar e se cansar.
Duas horas te esperei. Duas mais te esperaria.Se gostas de mim não sei...Algum dia há-de ser dia...
3 de abril de 2015
Três foi a conta que deus fez.(Autor anónimo)...Esperar pelo melhor é preparar‑se para o perder: eis a regra. O pessimismo é bem grande, é fonte de energia.
Esperamos e esperamos. Todos nós. Não saberia o analista que a espera é uma das coisas que fazem as pessoas ficarem loucas? Esperavam para viver, esperavam para morrer. Esperavam para comprar papel higiénico. Esperavam na fila para levantar dinheiro. E, se não tinham dinheiro, precisavam esperar em filas ainda mais longas. Esperar para dormir e esperar para acordar. Esperar para se casar e para se divorciar. Esperar para comer e esperar para comer de novo. Esperar na sala de espera do analista, com um bando de doidos, e começar a pensar se não estaria doido também.
Aqui onde se espera - Sossego, só sossego - Isso que outrora era, Aqui onde, dormindo, -Sossego, só sossego- Se sente a noite vindo
E nada importaria
-Sossego, só sossego-
Que fosse antes o dia,
Aqui, aqui estarei
-Sossego, só sossego -
Como no exílio um rei,
Gozando da ventura
- Sossego, só sossego -
De não ter a amargura
De reinar, mas guardando
- Sossego, só sossego -
O nome venerando...
Que mais quer quem descansa - Sossego, só sossego - Da dor e da esperança, Que ter a negação - Sossego, só sossego - De todo o coração ?
Todos nós nascemos loucos. Alguns permanecem.
O hábito é o balastro que prende o cão ao seu vómito. Respirar é um hábito. A vida é um hábito. Ou melhor, a vida é uma sucessão de hábitos, porque o indivíduo é uma sucessão de indivíduos [...] «Hábito» é pois o termo genérico para os inúmeros contratos celebrados entre os inúmeros sujeitos que constituem o indivíduo e os seus inúmeros objectos correlativos. Os períodos de transição que separam as consecutivas adaptações [...] representam as zonas perigosas na vida do indivíduo, perigosas, penosas, misteriosas e férteis, em que, por um momento, o tédio de viver é substituído pelo sofrimento de ser.
Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo. Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras.
2 de abril de 2015
Já esperei, há vários anos atrás, sentada neste banco, em que antero se suicidou...
29 de março de 2015
Ada dont talk about reasons why you dont want to talk about reasons why you dont wanna talk...
Stand inside an empty tuxedo with grapes in my mouth waiting for Ada...
21 de março de 2015
O tempo não é uma medida. Um ano não conta, dez anos não representam nada. Ser artista não significa contar, é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa não vir. O verão há de vir. Mas só vem para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se tivessem pela frente a eternidade.
Dei-te a solidão do dia inteiro.
Na praia deserta, brincando com a areia,
No silêncio que apenas quebrava a maré cheia
A gritar o seu eterno insulto,
Longamente esperei que o teu vulto
Rompesse o nevoeiro.
No ponto onde o silêncio e a solidão Se cruzam com a noite e com o frio, Esperei como quem espera em vão,Tão nítido e preciso era o vazio.
...Espero por uma espécie de silêncio Que nunca chega cedo Espero a atenção a concentração da hora tardia Ardente e nua É então que os espelhos acendem o seu segundo brilho É então que se vê o desenho do vazio É então que se vê subitamente A nossa própria mão poisada sobre a mesa É então que se vê passar o silêncio ...
É então que suavemente uma imagem surge na sua imaterialidade, tal com a esculpi, tal como a idealizo, tal como a desejo, tal como a espero...fecho os olhos, sorrio e, nesse fugaz instante, sou feliz...
Entre as definições da ilha planetária em que nos encontramos desterrados, uma das mais apropriadas seria: uma grande sala de espera. Uma terça parte da vida é anulada numa semimorte, outra gasta em fazer mal a nós mesmos e aos outros e a última esboroa-se e consome-se na expectativa. Esperamos sempre alguma coisa ou alguém - que vem ou não, que passa ou desilude, que satisfaz ou mata. Começa-se, em criança, a esperar a juventude com impaciência quase alucinada; depois, quando adolescente, espera-se a independência, a fortuna ou porventura apenas um emprego e uma esposa. Os filhos esperam a morte dos pais, os enfermos a cura, os soldados a passagem à disponibilidade, os professores as férias, os universitários a formatura, as raparigas um marido, os velhos o fim. Quem entrar numa prisão verificará que todos os reclusos contam os dias que os separam da liberdade; numa escola, numa fábrica ou num escritório, só encontrará criaturas que esperam, contando as horas, o momento da saída e da fuga. E em toda a parte - nos parques públicos, nos cafés, nas salas - há o homem que espera uma mulher ou a mulher que espera um homem. Exames, concursos, noivados, lotarias, seminários, operações da Bolsa - são formas e causas de expectativa. (...) Todos, com diferentes paixões, esperam - sobretudo, as fortunas repentinas, as mudanças imprevistas, o insólito e, com frequência, o impossível. A imaginação trabalha, a fantasia floresce, a paciência suporta, a visão beatífica da hora de contemplação preenche as longas horas da vigília. Quando acontece ou se alcança o esperado, abrem-se todas as comportas da alegria. Mas por pouco tempo, pois a meta não é tão atraente como parecia de longe, ao longo do caminho - toda a vitória, no dia imediato, tem o mesmo sabor da derrota. / Ou então surge demasiado tarde, quando o espírito se modificou e já não dispõe de forças para saborear o bem esperado durante tanto tempo; a mulher perfeita que se oferece, finalmente, quando o jovem ardente se tornou um velho saciado, árido ou flácido. Todo o seu amor se consumou debaixo das janelas, no frio das noites infinitas - quando é lançada a escada, as pernas e os braços não obedecem ou o inflamado partiu. /Mas a desilusão, em vez de conduzir à renúncia, incita a novas expectativas. (...) E toda a vida do homem, apesar de todos os adiamentos e paragens, não passa de um esperar a vida, a bela vida, a verdadeira, a nossa. Todo o presente e o possuído afigura-se-nos apenas um adiantamento para a nossa fome ou um mau prefácio de um livro maravilhoso. E, enquanto esperamos a vida, esquecemo-nos de viver ou vivemos sem economia e prudência, não pensando em destilar dos minutos de hoje, única propriedade certa, todo o sabor e substância.
20 de março de 2015
Estive, por duas vezes, em salas de espera: na consulta externa de um hospital e na de um centro de saúde. Claro que, antes de ter acesso às respetivas salas, mais propriamente corredores, esperei nas antecâmaras, os guichets de atendimento ...Enquanto espero, observo as senhoras atendedoras ( talvez seja coincidência, mas nunca encontrei,nesta nobre função, homens nem jovens )...São sempre senhoras de meia idade, zangadas com a vida, zangadas com os utentes, zangadas com o mundo, zangadas com a falta de encanto que deus lhes deu( intuo que sejam crentes), zangadas com os computadores que manuseiam, com um dedinho pressuroso e convicto, com uma lentidão exasperante, entre grunhidos de desagrado...Nunca são senhoras perfumadas, o que me causa perplexidade: é inadmissível sair de casa sem aspersão de uma qualquer substância aromática...Pelo menos, às primeiras horas da manhã, deve-se estar perfumado.
Também aprecio homens aromáticos:um homem define-se pelas palavras , mas também pelo aroma. Gosto, em suma, de palavras bonitas, inteligentes, raras e perfumadas, mas já me estou a desviar do tema.
Estas senhoras guichet, de óculos e de roupas impessoais, fazem pensar na máxima de nietzsche: A mulher aprende a odiar, na medida em que desaprende de encantar...
10 de fevereiro de 2015
As manhãs de testes são momentos de espera desesperantes: o único objetivo é aguardar que toque... A situação e a temática do teste levam a outras esperas bem mais desgastantes...
Só te sentir e te pensar Meus dias vácuos enche e doura.Mas quando quererás voltar? Quando é o Rei? Quando é a Hora?Se não se atrasar demais, posso esperar toda a minha vida.
Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra —
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.
Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu.
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.
Como o tempo custa a passar quando a gente espera! Principalmente quando venta. Parece que o vento maneia o tempo. Nunca se pode saber de antemão de que são capazes as pessoas, é preciso esperar, dar tempo ao tempo, o tempo é que manda, o tempo é o parceiro que está a jogar do outro lado da mesa e tem na mão todas as cartas do baralho... Quem espera desespera ou quem tem esperança sempre alcança?
Não há nada que seja maior evidência de insanidade do que fazer a mesma coisa, dia após dia, e esperar resultados diferentes.
Arrepia, num sentido físico, o gelo que está na sala. Arrepiam- me, pela repulsa que me causam, os dois alunos que têm telemóveis no bolsinho e julgam que o que quer que seja que lá cabularam lhes altera o inexorável destino a que a enorme ignorância e a pequenez mental os condenou...Não vou ligar... Não vou ver...
Vem, vamos embora, que esperar não é saber, Quem sabe faz a hora, não espera acontecer...
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada espera
Tudo que vem é grato.
Há uma estranha sintonia íntima entre ricardo reis e o alentejo: as imagens da planície alentejana são o seu retrato. Fernando pessoa é o mar, a linha do horizonte e o horizonte que há para além da linha. Ricardo reis é isto...
A Natureza é só uma superfície.
Na sua superfície ela é profunda
E tudo contém muito
Se os olhos bem olharem.
Um bonito local para esperar por d. sebastião, quer ele venha quer não...
Agora um aluno ficou indignado porque eu não disse o significado de "queirosiano"... Entoei, com ar seráfico, a resposta habitual: " Não sei..."
Deixa-me errar alguma vez, porque também sou isso: incerta e dura, e ansiosa de não te perder agora que entrevejo um horizonte. Deixa-me errar e compreende-me porque se faço mal é por querer-te desta maneira tola, e tonta, eternamente recomeçando a cada dia como num descobrimento dos teus territórios de carne e sonho, dos teus desvãos de música ou vôo, dos teus sótãos e porões e dessa escadaria da tua alma. Deixa-me errar mas não me soltes para que eu não me perca deste ténue fio de alegria dos sustos do amor que se repetem enquanto houver entre nós essa magia.
Quantas imagens tem o meu desejo? Tantas quantas as ficções de que o metamorfoseio: antínoo, ulisses, d.sebastião, dulcineia..
Começo a sentir-me demasiado fatigada de ser eternamente adriano, penélope, pessoa ou quixote. Não me apetece esperar mais: às zero horas do dia dezoito de outubro de dois mil e catorze vou despir todos os disfarces e arrumá-los, definitivamente, na minha gaveta cheia de vazio. Vou arquivar, para sempre, o meu derradeiro desejo,mas ...Para o país do esquecer o nunca nascido Levo a espada e a armadura de ferro Levo o escudo e o cavalo negro Levo-te a ti... levo-te a ti... levo-te a ti para sempre comigo.
Esqueci-me da gaveta aberta e "Parece que o vento maneia o tempo".
É imoral pretender que uma coisa desejada se realize magicamente, simplesmente porque a desejamos. Só é moral o desejo acompanhado da severa vontade de prover os meios da sua execução.Déjeseme tener una sola inexistencia en mi novela: El No_Existente-Caballero... Déjeseme tener una sola inexistencia en mi vida: el mio no_existente amor...
A mim mesmo pergunto, e não atino Com o nome que dê a essa visão, Que ora amostra ora esconde o meu destino... É como uma miragem, que entrevejo, Ideal, que nasceu na solidão, Nuvem, sonho impalpável do Desejo..
Às vezes, em sonho triste,
Aos meus desejos existe
Longinquamente um país
Onde ser feliz consiste
Apenas em ser feliz.
Vive-se como se nasce
Sem o querer nem saber
Nessa ilusão de viver
O tempo morre e renasce
Sem que o sintamos correr.
Sancho pediu para Dom Quixote observar melhor, pois não eram gigantes, mas simplesmente moinhos de vento. Dom Quixote aproximou-se dos moinhos com o pensamento na sua deusa, Dulcinéia de Toboso, à qual dedicava a sua aventura , arremeteu, de lança em riste, contra o primeiro moinho. O vento ficou mais forte e lançou o cavaleiro para longe....
O seu nome é Dulcineia, a sua pátria Toboso, um lugar da Mancha; a sua qualidade há de ser, pelo menos, Princesa, pois é Rainha e senhora minha; a sua formosura sobre-humana, pois nela se realizam todos os impossíveis e quiméricos tributos de formosura, que os poetas dão às suas damas; os seus cabelos são ouro; a sua testa campos elíseos; as suas sobrancelhas arcos celestes; os seus olhos sóis; as suas faces rosas; os seus lábios corais; pérolas os seus dentes; alabastro o seu colo; mármore o seu peito; marfim as suas mãos, a sua brancura neve;
Ó princesa Dulcineia, senhora deste cativo coração, muito agravo me fizeste em despedir-me, e vedar-me com tão cruel rigor que aparecesse na vossa presença. Apraza-vos senhora, lembrar-vos deste coração tão rendidamente vosso, que tantas mágoas padece por amor de vós.
μίμησις Fantasia: devaneio, ficção, ilusão, imaginação, quimera, sonho e visão .Parece-me que o dicionário está correto, o que é muito raro acontecer. Depois talvez explique - Um ar de mistério talvez torne este palavrário mais interessante.
Receio não conseguir viver sem fantasias... fazem-me falta... Tenho uma sedução pelo irreal, gosto de me apropriar da vida e da personalidade de seres inexistentes...Sou, afinal, uma escrava do espírito ou da imaginação...
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida. /Estou nu e mergulho na água da minha imaginação. /...Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico. /É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Estou de olhos fixos no que não se vê, estou de olhos no irreal, vejo o que não existe e posso descrever-to. O irreal torna-se concreto, físico, tocável, real, por via da imaginação. Máquina de produzir realidades, realidades alternativas àquelas que os sentidos constroem...
Será que existO?
Releio a Odisseia e sinto-me penélope; lleio dostoiévski e sou-o; leio lispector, passo à clandestinidade e torno-me galinha; num breve regresso a camus, fico um estrangeiro; passado uma hora, sou adriano... Sem esquecer que, entretanto, me senti fénix...
Tanto ficciono que me esqueço de existir. Não terei ficado perdida nas páginas de um livro, a viver uma existência emprestada?
E tu serás uma inexistência real ou uma mera fantasia? És realidade ou ficção? És um ser de papel? Tanto te ficciono que deixei de saber quem , realmente, és. Sonho-te, penso-te e, nesse espaço irreal, existes-me...
Não adianta repetir a promessa feita a dezoito de outubro de dois mil e catorze... Hoje ,dez de fevereiro de 2015, ainda não a consegui cumprir... Continuo à espera...
Suavemente grande avança Cheia de sol a onda do mar; Pausadamente se balança, E desce como a descansar.(...) E a minha sensação é nula, Quer de prazer, quer de pesar...Ébria. de alheia a mim ondula Na onda lúcida do mar.
No entardecer da terra O sopro do longo Outono Amareleceu o chão. Um vago vento erra, Como um sonho mau num sono, Na lívida solidão.(...) Eu já não sou quem era; O que eu sonhei, morri-o; E até do que hoje sou Amanhã direi, quem dera volver a sê-lo! ... Mais frio O vento vago voltou.
Às vezes, em sonho triste, Aos meus desejos existe Longinquamente um país Onde ser feliz consiste Apenas em ser feliz.(...)Vive-se como se nasce Sem o querer nem saber Nessa ilusão de viver O tempo morre e renasce Sem que o sintamos correr.
E a minha sensação é nula, Quer de prazer, quer de pesar. Eu já não sou quem era; O que eu sonhei, morri-o; Às vezes, em sonho triste, Aos meus desejos existe Longinquamente um país
A poesia pacificou-me: esqueci os demais que me irritam demais; os demenos que se julgam demais; os demais que fazem cedência aos demenos e, sobretudo, esqueci-me de mim, que já nem sabe se sou demais ou demenos...
21 de outubro de 2014
Nos dias de teste, na vil e inútil missão de observadora, que sempre considerei indigna de mim e , obviamente, ofensiva da dignidade dos alunos, que souberem o que significa a palavra e o conceito, entretenho-me a analisar os ares feios e ridículos dos que tentam copiar. Os sinais a indicar a versão, que olimpicamente finjo não perceber; os toques, combinados, tão conhecidos que até eu já os identifico como A, B, C ou D; os olhares desconfiados, denunciadores da má consciência; a expressão apalermada, a tentar disfarçar, quando são surpreendidos, que só me inspiram comiseração. Será que as criaturas não alcançam que o mais lerdo dos profes percebe perfeitamente e não está para se chatear... Há alunos que pressupõem que profes e stores são uma espécie que perversamente existe só para transformar a escola num local inóspito, em que se problematizam as dores de poetas chanfrados, em que se é obrigado a cumprir horários e regras,e pasme-se, em que se é convidado a pensar... Onde é que já se viu??
Será que as ingénuas criaturas não percebem que são caricatas... Como eu atribuo a mesma versão às azémolas todas, mesmo que fizessem o teste em conjunto, só por sorte é que escolheriam, com segurança, a hipótese correta.
Eis que, por incúria , inabilidade ou feitiço, este texto aparece projetado na sala de aula... Ouço um aluno a interrogar :" O que é isto??" Mais pasmada fiquei: olho para o quadro interativo e vislumbro este esclarecedor texto.
Julgo que ninguém teve tempo de o ler devidamente nem suspeitou quem era o autor... Até eu fiquei surpresa com a calma com que desliguei o computador e a admiração totalmente credível sobre qual poderia ser a origem...Escoltada pela minha fabricada ingenuidade informática, o teste continuou sem incidentes , sem perguntas ou comentários incómodos. Serviu-me de lição: nunca mais realizo escritos pessoais, durante os testes...Prefire morrer de tédio, é mais seguro.
Estar das 8:30 às 13:30 a olhar ,a fingir que não se vê o que não se deve ver, é um bom teste à minha capacidade de resistência...Sinto-me Penélope...
Penélope, con su bolso de piel marrón y sus zapatos de tacón y su vestido de domingo.Penélope se sienta en un banco en el andén y espera que llegue el primer tren meneando el abanico. Dicen en el pueblo que un caminante paró su reloj una tarde de primavera. «Adiós amor mío no me llores, volveré antes que de los sauces caigan las hojas. Piensa en mí volveré a por ti...» Pobre infeliz se paró tu reloj infantil una tarde plomiza de abril cuando se fue tu amante. Se marchitó en tu huerto hasta la última flor. No hay un sauce en la calle Mayor para Penélope. Penélope, tristes a fuerza de esperar, sus ojos, parecen brillar si un tren silba a lo lejos. Penélope uno tras otro los ve pasar, mira sus caras, les oye hablar, para ella son muñecos. Dicen en el pueblo que el caminante volvió. La encontró en su banco de pino verde. La llamó: «Penélope mi amante fiel, mi paz, deja ya de tejer sueños en tu mente, mírame soy tu amor, regresé». Le sonrió con los ojos llenitos de ayer, no era así su cara ni su piel. «Tú no eres quien yo espero». Y se quedó con el bolso de piel marrón y sus zapatitos de tacón sentada en la estación.
Subitamente, esta quadra popular ecoou dentro da minha cabeça:
Ó oliveira da serra,o vento leva a flor.
Ó oliveira da serra,o vento leva a flor.
Ó i ó ai, só a mim ninguém me leva,
Ó i ó ai, para o pé do meu amor.
De onde veio? Talvez da cidade onde pela primeira vez soube que havia oliveiras na serra, que elas davam flor e que, quando as raparigas do povo tinham saudades do seu amor, lhes dirigiam esta súplica, tal como outrora as donzelas medievais o tinham feito às flores do verde pino: Ay, flores, ay flores do verde pino,se sabedes novas do meu amigo, ay, deus, i u é?
Sem comentários:
Enviar um comentário