Miro las incongruentes luces todavía encendidas bajo el sol que avanza haciéndolas insignificantes; y sin embargo son ellas el tiempo respetuoso y benigno que quiere dejar constancia de que ya ha cesado: hasta que la sonolienta mano de algún funcionario repara en el despilfarro y apaga la luz, y luego la apaga. Y aun así los pasajeros ahí siguen , y aun así la luz no se ha apagado.
Walt Whitman: “Gosto de animais porque não discutem a existência de Deus.”
Será possível não ter vergonha de divulgar isto?? A proximidade da vinda do papa parece estar a desencadear uma imparável onda de fé... Apetecia-me remover como "amigos"todos os que fazem, nas redes sociais, declarações obsoletas, caricatas, reveladoras de uma menoridade mental inaceitável. Deduzo que esteja na moda agradecer e conversar com deus. No fim do século XIX e início do século XX, matou -se deus , agora, um século depois, parece que ele ressuscitou...
" Deus sussurra: tente mais uma vez e confie em mim, pois eu sou contigo" divulga uma senhora professora , outra responde:" Vós terem sempre DEUS no vosso coração"... parece que a especialidade das servidoras do senhor não será a sintaxe.
Apelo do herói do momento, o iluminado papa francisco: "FICA 2 MINUTOS COM NOSSA SENHORA! Seu coração irá se encher de paz, carinho materno e amor.FALA COM A MÃE DO CÉU!"
Deus é impensável...ou então louco ... um tirano louco.
( Hoje, em terras de cister, não haverá espaço para sua santidade nem para a senhora de fátima, pois os corações dos crentes vão estar ocupados com a " nossa" participação no festival de canção... Oh, emoções provincianas! Que faço eu aqui?
"Valha-me deus!!!"
My prayer: hunger of the pine...
Sim, o pai de L. era um especulador, um devaneador, e eu já disse que a sua propensão pesquisadora - se é que se pode falar de pesquisas, quando apenas se trata de sonhadora contemplação - tendia sempre para um rumo bem determinado, o saber, o místico ou o intuitivamente semimístico, que o pensamento humano toma quase necessariamente , quando tenta desvendar as coisas da Natureza.
Falo do povo, porém aqueles impulsos populares, de natureza arcaica, assim como penso existem em todos nós, e para dizê-lo bem claramente, assim como penso, não considero a religião o meio mais adequado para reprimi-los com segurança. Isso consegue-se , a meu ver, unicamente por meio da literatura, da ciência humanística, do ideal do homem livre e belo.
A palavra "beleza" repugna-me sempre um pouco; há nela um não sei quê de futilidade e , a falar dela, as pessoas ficam lascivas e lânguidas. Mas acho que é "bom", inteiramente "bom", não poderia ser melhor, talvez nem devesse ser melhor.
(Sei que sou de uma imaturidade preocupante, quando me deixo seduzir perante certas ideias, mas é a minha natureza... A oposição belo - bom fascinou-me tanto que daqui não saio. Fiquei a pensar em todas as implicações desta visão não platónica da valoração estética-ética)
" Os dois sexos morrerão cada qual por seu lado; excluídos até, salvo nos dias de grande infelicidade, em que a maioria se reúne ao redor de sua vítima.”
Enfim, a indiferença de Jupien já pareceu não lhe bastar; daquela certeza de ter conquistado, a se fazer perseguir e desejar, não havia mais que um passo, e Jupien, resolvendo partir para o trabalho, saiu pela porta principal. Entretanto, só depois de ter voltado duas ou três vezes a cabeça é que escapuliu para a rua, aonde o barão, receando perder a sua pista (assobiando com ar fanfarrão, não sem gritar um "até logo" ao porteiro, que, meio bêbado e ocupado em atender a visitantes num quartinho atrás da cozinha, nem sequer o ouviu), correu vivamente para alcançá-lo.
Mas, justamente, a beleza dos olhares do senhor Charlus e de Jupien provinha, pelo contrário, do facto de , ao menos provisoriamente, esses olhares não parecerem ter o objetivo de conduzir a qualquer coisa. Essa beleza, era a primeira vez que eu a via manifestada pelo barão e por Jupien.
Desde o começo desta cena, para os meus olhos arregalados operara-se uma revolução no Sr. de Charlus, tão completa, tão imediata como se ele tivesse sido tocado por uma varinha mágica. Até então, que não compreendera, não tinha visto. O vício (fala-se deste modo por comodidade de linguagem), o vício de cada um acompanha-o à maneira daquele génio, que era invisível para os homens enquanto ignoravam a sua presença. A bondade, a artimanha, o nome, as relações mundanas não se deixam descobrir, e cada qual as traz escondidas. O próprio Ulisses a princípio não reconheceu Ateneia.
Além do mais, eu compreendia agora por que, ainda há pouco quando o vira sair da casa da Sra. de Villeparisis, pudera achar que o Sr. de Charlus tinha um jeito de mulher: pois era uma! Pertencia à raça daquelas criaturas, menos contraditórias que parecem, cujo ideal é viril, justamente porque seu temperamento é feminino, e que na vida são semelhantes outros homens, porém apenas na aparência; aí onde cada um traz constantemente, nesses olhos com os quais vê todas as coisas no universo, uma silhueta gravada na pupila não é para eles a de uma ninfa, mas de um efeboy.
Por mais que aparentassem achar todos os homens iguais, os Guermantes, nas grandes ocasiões em que se achavam com pessoas "bem nascidas", e sobretudo menos "bem nascidas",(...) não hesitavam em extrair as velhas lembranças de família.
Por essa época, ocorreu no Grande Hotel de Balbec um escândalo que não foi próprio para mudar a inclinação dos meus tormentos. A relação que Bloch mantinha há algum tempo, com uma antiga atriz, relações secretas que em breve não lhes bastaram mais. O serem vistas parecia-lhes acrescentar alguma perversidade a seu prazer; desejavam que os olhares de todos se banhassem nos seus perigosos embates. Isto começou com carícias, que afinal podiam ser atribuídas à intimidade de amigas, no salão de jogo; em torno da mesa de bacará. Depois, atreveram-se a mais. E, por fim, uma tarde, num canto nem mesmo escuro do grande salão de dança, sobre um canapé, não se constrangeram mais do que se estivessem em sua casa.
O escultor ficou muito espantado ao saber que os Verdurin consentiam em receber o Sr. de Charlus. Ao passo que no faubourg Saint-Germain, onde o Sr. de Charlus era tão conhecido, jamais se falava dos seus costumes (ignorados da maioria, objeto de dúvida da parte de outros que preferiam acreditar em amizades exaltadas, mas platónicas, em imprudências e, por fim, cuidadosamente dissimulados pelos poucos bem informados, que davam de ombros quando alguma Gallardon malévola arriscava uma insinuação); tais costumes, conhecidos apenas por alguns íntimos, eram, ao contrário, diariamente censurados longe do meio em que ele vivia, como certos tiros de canhão que a gente só escuta após a interferência de uma zona de silêncio. Aliás, nesses meios burgueses e artísticos, onde ele passava por ser a própria encarnação da inversão sexual, a sua grande posição mundana e as suas altas origens eram totalmente ignoradas, por um fenómeno análogo ao que faz com que, entre o povo romeno, o nome de Ronsard seja conhecido como o de um grão-senhor, ao passo que sua obra poética é desconhecida.
Observar-se-á que, após uma interpolação da linguagem vulgar, a do Sr. de Charlus se tornara bruscamente tão preciosa e altaneira como o era de hábito. É que a idéia de que Morel "largaria" sem remorsos uma moça violada fizera-o de súbito experimentar um prazer completo. Desde aí os seus sentidos apaziguaram-se por algum tempo, e o sádico (este sim, verdadeiramente mediúnico), que durante alguns instantes substituíra o Sr. de Charlus, havia fugido e devolvera a palavra ao legítimo Sr. de Charlus, cheio de refinamento artístico, de sensibilidade e bondade.
Aliás, muitas vezes eu bem gostaria de ficar a sós. Sem querer fixar uma data, aspirava a que tivesse fim aquela vida, pela qual me censurava de renunciar, não tanto ao trabalho, mas aos prazeres. No entanto, ocorria também que os hábitos que me retinham fossem de súbito abolidos, principalmente quando algum antigo eu, cheio do desejo de viver alegremente, substituía por um instante o eu atual. Experimentei especialmente esse desejo de evasão num dia em que, tendo deixado Albertine na casa da tia, fui a cavalo visitar os Verdurin e tomara pelos bosques um atalho agreste de que eles me haviam elogiado a beleza. Esposando as formas da falésia, ora o caminho subia, ora, estreitado entre espessas moitas de árvores, aprofundava-se em gargantas selvagens. Por um momento, os rochedos despidos que me cercavam e o mar que se avistava entre as suas chanfraduras flutuaram diante dos meus olhos como fragmentos de outro universo: eu havia reconhecido a paisagem montanhosa e marinha que Elstir atribuíra por moldura a essas duas
admiráveis aquarelas: "Poeta encontrando uma Musa" e "Rapaz encontrando um Centauro", que eu tinha visto na casa da duquesa de Guermantes. De tal maneira a sua lembrança recolocava fora do mundo atual os lugares em que me encontrava, que não me espantaria se, como o jovem de idade pré-histórica que Elstir havia pintado, tivesse cruzado no meu passeio com um personagem mitológico.
Como teria mudado a minha vida e o seu futuro! E, no entanto, eu bem sabia que era arbitrária essa localização do meu ciúme, que, se Albertine possuía esses gostos, poderia satisfazê-los com outras. Aliás, quem sabe se até essas mesmas jovens, podendo encontrá-la em outro local, não torturariam elas tanto o meu coração? Era de Trieste, daquele mundo ignorado onde eu sentia que Albertine passava
bem, onde estavam as suas lembranças, as suas amizades, os seus amores de infância, que se exalava aquela atmosfera hostil, inexplicável, como a que se evolava outrora até o meu quarto de Combray, da sala de jantar em que eu ouvia conversar e rir com estranhos, dentre o ruído dos talheres, que a minha mãe não viria dar-me boa-noite; como a que enchera para Swann, as casas em
que Odette ia procurar, em festas, prazeres inconcebíveis.
E então, calculando o futuro, pesando bem a minha vontade, compreendendo que aquela ternura de Albertine pela amiga da Srta. Vinteuil, e durante tanto tempo, não podia ter sido inocente, que Albertine já fora iniciada e, tanto quanto o indicavam os seus gestos, nascera aliás com a predisposição ao vício que as minhas inquietações tantas vezes tinham pressentido, ao qual jamais deveria ter deixado de se entregar (ao qual se entregava talvez naquele instante, aproveitando um momento em que eu não estava presente), disse à minha mãe, sabendo a mágoa que lhe causava, que ela não demonstrou e que só se traiu por aquele ar de séria preocupação que tinha quando comparava a gravidade de me causar desgosto ou de me fazer mal. Aquele ar que tivera em Combray, pela primeira vez, quando se resignara a passar a noite junto a mim, aquele ar que nesse momento se parecia extraordinariamente ao da minha avó quando me permitia beber conhaque, disse à minha mãe:
- Sei do desgosto que te vou t causar. Primeiro, em vez de ficar aqui como querias, vou partir ao mesmo tempo que tu. Mas isto ainda não é nada. Não me sinto bem aqui, prefiro voltar. Mas escuta, não te aborreça demais. Eis o que ocorre: enganei-me, enganei-te de boa-fé ontem, refleti a noite inteira. É necessário absolutamente, e decidamo-lo de imediato, porque eu bem o reconheço agora, porque não mudarei mais e porque não poderia viver sem isso, é absolutamente necessário que eu me case com Albertine.
Acabei mais um volume e não estou encantada... Li, até, com alguma penosidade. Gosto das ideias, mas não sinto prazer na leitura.
A verdade, se ela existe,
Ver-se-á que só consiste
Na procura da verdade,
Porque a vida é só metade.
«Vesti-me toda de novo
E calcei sapato baixo
Para passar entre o povo
E procurar quem não acho.»
Esse lugar activo de sensações, a minha alma, passeia às vezes comigo conscientemente pelas ruas nocturnas da cidade, nas horas tedientas em que me sinto um sonho entre sonhos de outra espécie, à luz do gás, pelo ruído transitório dos veículos... Ao mesmo tempo que em corpo me embrenho por vielas e subruas, torna-se-me complexa a alma em labirintos de sensação. Tudo quanto de aflitivamente pode dar a noção de irrealidade e de existência fingida, tudo quanto soletra, sem ser ao raciocínio, mas concreta e (...)mente, o quanto é mais do que oco o lugar do universo, desenrola-se-me então objectivamente no espírito apartado. Angustia-me, não sei porquê, essa extensão objectiva de ruas estreitas, e largas, essa consecução (...) de candieiros, árvores, janelas iluminadas e escuras, portões fechados e abertos, vultos heterogeneamente nocturnos que a minha vista curta, no que de maior imprecisão lhes dá, ajuda a tornar subjectivamente monstruosos, incompreensíveis e irreais.(...)
Acabo a minha solitária peregrinação. Um vasto silêncio, que sons miúdos não alteram no como é sentido, como que me assalta e subjuga. Um cansaço imenso das meras coisas, do simples estar aqui, do encontrar-me deste modo pesa-me do espírito ao corpo. Quase que me surpreendo a querer gritar, de afundando-me que me sinto em um oceano de uma imensidão que nada tem com a infinidade do espaço nem com a eternidade do tempo, nem com qualquer coisa susceptível de medida e nome. Nestes momentos de terror supremamente silencioso não sei o que sou materialmente, o que costumo fazer, o que me é usual querer, sentir e pensar. Sinto-me perdido de mim mesmo, fora do meu alcance. A ânsia moral de lutar, o esforço intelectual para sistematizar e compreender, a irrequieta aspiração artista a produzir uma coisa que ora não compreendo, mas que me lembro de compreender, e a que chamo beleza, tudo isto se me some do instinto do real, tudo isto se me afigura nem digno de ser pensado inútil, vazio e longínquo. Sinto-me apenas um vácuo, uma ilusão de uma alma, um lugar de um ser, uma escuridão de consciência onde estranho insecto procurasse em vão sequer a cálida lembrança de uma luz.
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