Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Amor e amores...

El centro del amor
no siempre coincide
con el centro de la vida.
Ambos centros
se buscan entonces
como dos animales atribulados.
Pero casi nunca se encuentran,
porque la clave de la coincidencia es otra:
nacer juntos.
Nacer juntos,
como debieran nacer y morir
todos los amantes.


Amo como o amor ama.
Não sei razão pra amar-te mais que amar-te.
Que queres que te diga mais que te amo,
Se o que quero dizer-te é que te amo?
Não procures no meu coração...


Quando te falo, dói-me que respondas
Ao que te digo e não ao meu amor.
Quando há amor a gente não conversa:
Ama-se, e fala-se para se sentir.
Posso ouvir-te dizer-me que tu me amas,
Sem que mo digas, se eu sentir que me amas.
Mas tu dizes palavras com sentido,
E esqueces-te de mim; mesmo que fales
Só de mim, não te lembras que eu te amo.
Ah, não perguntes nada, antes me fala
De tal maneira, que, se eu fora surda,
Te ouvisse toda com o coração.
Se te vejo não sei quem sou; eu amo.


A quem teria Adrian aberto o coração? A quem teria acolhido na sua vida? Tais atitudes não existiam nele. Aceitava a dedicação de outrem, às vezes, juro, sem a perceber. A sua indiferença era tão grande que só raramente se apercebia da companhia em que estava (...)Inclino-me a comparar a sua solidão com um abismo, no qual murgulhavam os sentimentos que os outros lhe ofereciam. Em torno dele reinava frieza ...

— Consideras o amor a mais forte de todas as paixões? — perguntou ele.
— Conheces outra mais forte?
— Sim, o interesse.
— Imagino que esse termo signifique para ti um amor privado de qualquer calor animal.
— Proponho que aceitemos essa definição — respondeu, rindo. — Boa noite!


A laranja que escolheste
Não era a melhor que havia.
Também o amor que me deste
Qualquer outra mo daria.


Nunca amei ninguém. O mais que tenho amado são sensações minhas - estados da visualidade consciente, impressões da audição desperta, perfumes que são uma maneira de a humildade do mundo externo falar comigo, dizer-me coisas do passado (tão fácil de lembrar pelos cheiros) isto é, de me darem mais realidade, mais emoção, que o simples pão a cozer lá dentro na padaria funda, como naquela tarde longínqua em que vinha do enterro do meu tio que me amara tanto e havia em mim vagamente a ternura de um alívio, não sei bem de quê.

É esta a minha moral, ou a minha metafísica, ou eu; transeunte de tudo - até de minha própria alma -, não pertenço a nada, não desejo nada, não sou nada - centro abstracto de sensações impessoais, espelho caído sentiente virado para a variedade do mundo. Com isto, não sei se sou feliz ou infeliz; nem me importa.

(O amor a certos livros tem um efeito devastador: depois de thomas mann, de kafka, de gmt, de saramago ,de camus... é difícil tentar ler autores menores...Tal como depois de conhecer fernando pessoa, só é possível gostar de alguns poemas, mas nunca mais consegui gostar de outro poeta ...)

( Há uns oito anos escrevi uma novela intitulada "um amor diferente" , que, num momento de fúria, apaguei do computador... Arrependi-me, mas talvez ainda a consiga reconstituir... )

Eu não sonho possuir-te. Para quê? Era traduzir para plebeu o meu sonho. Possuir um corpo é ser banal. Sonhar possuir um corpo é talvez pior, ainda que seja difícil sê-lo: é sonhar-se banal — horror supremo. (...) Fiquemos assim eternamente como uma figura de homem em vitral defronte de uma figura de mulher noutro vitral... Entre nós, sombras cujos passos soam frios, a humanidade passando... (...) E nós sempre os mesmos vitrais, nas cores quando o Sol nos bata nas linhas quando a noite caia... Os séculos não tocarão no nosso silêncio vítreo... Lá fora passarão civilizações, escacharão revoltas, turbilhonarão festas, correrão mansos quotidianos povos... E nós, ó meu amor viril, teremos sempre o mesmo gesto inútil, a mesma existência falsa, e a mesma (...)

Assim, separados, amar-nos-emos sempre. A ponte entre nós será a curva do céu, e assim o nosso amor será eterno. Possuir-te era já o caminho de perder-te. Viver contigo era a maneira de te ir esquecendo. O que concluir de tudo isto? Nada. Dissemos muitas verdades mas elas contradizem-se umas às outras. Eu acho que [há] muito a explorar nas nossas sensações. Há grandes interiores de continentes dentro de nós, com mistérios a desvendar. Quem sabe, amor, se raças diferentes das nossas habitarão esses sítios desconhecidos (inexplorados)? Habituei-me sempre a olhar para as minhas sensações como para uma coisa exterior.
— De que havemos de falar?
— De qualquer cousa. Do mistério das cousas e das formas das flores. (...)
— Às vezes, quando acordo de noite, sinto parar de repente, para que eu não vá ouvi-lo, o ruído das mãos que estão tecendo o meu destino. Vejo no ar fragmentos do meu futuro, rápidas sombras, e tendo uma vaga intuição da unidade divina do meu ser. Eu sou uma frase divina com um sentido que me escapa.


Caeiro escreveu talvez o único poema de amor de que gosto verdadeiramente:

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.



A única velharia que chegou intacta
ao estúpido século XXI
é a do amor. A população é dispensada
de se dirigir a um centro
que entregue intacto o instinto
amoroso, pois recebe-se essa coisa obscura logo
ao nascer e morre-se com ela. O amor
como coisa obscura que afina os dias.


Os outros e o Amor

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes. Gastámos tudo menos o silêncio. Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mãos à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis. Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada. Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar. Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes. E eu acreditava. Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis. Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário, era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes. Hoje são apenas os meus olhos. É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros. Já gastámos as palavras. Quando agora digo: meu amor, já se não passa absolutamente nada. E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração. Não temos já nada para dar. Dentro de ti não há nada que me peça água. O passado é inútil como um trapo. E já te disse: as palavras estão gastas. Adeus


O que particularmente me indignava contra mim, nestes momentos de dúvida dolorosa, em que eu sabia de muito antes que a solução seria nenhuma, era a intromissão do factor social no jogo desequilibrado das minhas decisões. Nunca pude dominar o influxo da hereditariedade e da educação infantil. Pude sempre repugnar os conceitos estéreis de fidalguia e de posição social nunca os pude esquecer. São em mim como uma cobardia, que detesto, contra a qual me revolto, mas que me prende com laços estranhos à inteligência e à vontade. (…) E assim eu, o homem de inteligência e de desprendimento, perdia a felicidade por causa dos vizinhos que desprezo. Lembro-me ainda, com uma precisão em que intercala o perfume vago do ar da Primavera, da tarde em que, meditando todas estas coisas, decidi abdicar do amor como de um problema insolúvel.(…) . Havia jantado cedo, e seguia, sozinho como um símbolo, sob as sombras inúteis e o sussurro lento das ramagens vagas. Tomou-me de repente um desejo de abdicação intensa, de claustro firme e último, uma repugnância de ter tido tantos desejos, tantas esperanças, com tanta facilidade externa de os realizar, e tanta impossibilidade íntima de o poder querer. Data dessa hora suave e triste o princípio do meu suicídio...

Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre o sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar. Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas interpenetram-se, misturam-se, e eu não sei onde estou nem o que sonho. Um vento de sombras sopra cinzas de propósitos mortos sobre o que eu sou de desperto. Cai de um firmamento desconhecido um orvalho morno de tédio. Uma grande angústia inerte manuseia-me a alma por dentro e, incerta, altera-me, como a brisa aos perfis das copas. Na alcova mórbida e morna a antemanhã de lá fora é apenas um hálito de penumbra. Sou todo confusão quieta... Para que há-de um dia raiar?... Custa-me o saber que ele raiará, como se fosse um esforço meu que houvesse de o fazer aparecer. Com uma lentidão confusa acalmo. Entorpeço-me. Bóio no ar, entre velar e dormir, e uma outra espécie de realidade surge, e eu em meio dela, não sei de que onde que não é este...Surge mas não apaga esta, esta da alcova tépida, essa de uma floresta estranha. Coexistem na minha atenção algemada as duas realidades, como dois fumos que se misturam. Que nítida de outra e de ela essa trémula paisagem transparente! ... E quem é esta mulher que comigo veste de observada essa floresta alheia? Para que é que tenho um momento de mo perguntar?... Eu nem sei querê-lo saber...

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.


Amores grandes...
O amor, esse ser invencível, doce e sublime,que desata os membros, de novo me socorre. Ele agita o meu espírito como uma avalanche sacode as encostas. Lutar contra o amor é impossível, pois, como uma criança faz, ao ver sua mãe,sinto-me impelida para ele. Minha alma está dividida: algo a detém aqui,mas algo lhe diz para no amor viver...

Nada podeis contra o amor, contra a cor da folhagem, contra a carícia da espuma, contra a luz, nada podeis. Podeis dar-nos a morte, a mais vil, isso podeis. E é tão pouco!

El centro del amor no siempre coincide con el centro de la vida./Ambos centros se buscan entonces como dos animales atribulados. Pero casi nunca se encuentran, porque la clave de la coincidencia es otra: nacer juntos. Nacer juntos, como debieran nacer y morir todos los amantes.

A cidade está deserta, E alguém escreveu o teu nome em toda a parte: Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas. Em todo o lado essa palavra Repetida ao expoente da loucura! Ora amarga! Ora doce! Para nos lembrar que o amor é uma doença, Quando nele julgamos ver a nossa cura!

Há muito tempo já que não escrevo um poema De amor. E é o que eu sei fazer com mais delicadeza! A nossa natureza lusitana Tem essa humana Graça Feiticeira de tornar de cristal a mais sentimental e baça bebedeira. Mas ou seja que vou envelhecendo e ninguém me deseje apaixonado, ou que a antiga paixão me mantenha calado O coração num íntimo pudor, — Há muito tempo já que não escrevo um poema de amor.

No tenemos un lenguaje para los finales,para la caída del amor,para los concentrados laberintos de la agonía,para el amordazado escándalo de los hundimientos irrevocables./ (...) Quizá un lenguaje para los finales exija la total abolición de los otros lenguajes, la imperturbable síntesis de las tierras arrasadas.

Não podendo suportar o amor, a igreja quis, pelo menos, desinfectá-lo... Então, inventou o casamento.

A Idade só se aplica às pessoas Vulgares. A tendência para colocar uma ênfase especial ou organizar a juventude nunca me foi cara; para mim, a noção de pessoa velha ou nova só se aplica às pessoas vulgares. Todos os seres humanos mais dotados e mais diferenciados são ora velhos ora novos, do mesmo modo que ora são tristes ora alegres. É coisa dos mais velhos lidar mais livre, mais jovialmente, com maior experiência e benevolência com a própria capacidade de amar do que os jovens. Os mais idosos apressam-se sempre a achar os jovens precoces demasiado velhos para a idade, mas são eles próprios que gostam de imitar os comportamentos e maneiras da juventude, eles próprios são fanáticos, injustos, julgam-se detentores de toda a verdade e sentem-se facilmente ofendidos. A idade não é pior que a juventude, do mesmo modo que Lao-Tsé não é pior que Buda e o azul não é pior que o vermelho. A idade só perde valor quando quer fingir ser juventude.

Transforma-se o amador na cousa amada,Por virtude do muito imaginar; Não tenho logo mais que desejar, Pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar?Em si somente pode descansar, Pois consigo tal alma está liada.

Heathcliff, n'"O Monte dos Vendavais",seria capaz de matar a terra inteira para possuir Cathie,mas nunca lhe ocorreria a ideia de afirmar que semelhante crime era racional ou justificado por um sistema.Cometê-lo-ia e por aí se fica toda a sua fé. Mas semelhante atitude pressupõe a força do amor e a existência de carácter.

Amor feliz
E o certo é que nenhuma outra mulher,antes de eu conhecer Y, se me afigurou simultaneamente tão bela e tão simples, nem tão sensível na sua inteligência, nem tão inteligente na sua sensualidade.(...) A minha mulher, imersa na cinza, permanecia uma sombra intocável, uma sombra intocada; o marido de Y ,por seu turno,outra sombra intocável, e, ao que me parecia, também intocada, também felizmente intocante.

Que estranho...
Viver duas vezes a mesma história...
Há mitos eternos...


Procurar o sonho é procurar a verdade, visto que a única verdade, para mim, sou eu próprio. Isolar-me tanto quanto possível dos outros é respeitar a verdade.

Conhecemos as pessoas durante anos...guardamos a esperança de que, mais tarde, em circunstâncias mais favoráveis... A esperança, sempre adiada, de um relacionamento mais humano e mais completo nunca desaparece completamente, porque nenhuma relação humana se contenta com limites definitivos, restritos e rígidos. Permanece, portanto, a esperança, de que haja um dia uma relação «autêntica e profunda». E permanece durante anos... até que um acontecimento definitivo ...vem dizer-nos que é demasiado tarde, que essa «relação autêntica e profunda», cuja imagem tínhamos amado, também não existirá; não existirá, tal como as outras.

Podes morrer, é certo, daqui a poucos dias; ou ter morrido até neste preciso instante. Apenas pela rádio, apenas por acaso hei-de saber da tua morte. A mim me caberá a parte mais secreta, mais ingrata do luto: a de passar, anónima, à beira do teu esquife, para mim lamentando que não seja uma gôndola; a de ser simplesmente, e entre muitas outras, a figura provável de alguma antiga aluna. E só nesse momento sentirei a revolta de ter sido tão tépida ou, pior, tão sensata diante da loucura dos mais arrebatados de teus projectos, e não ter ensaiado, como dizes, a Fuga, e não ter transplantado, com maior duração, os dias de Veneza para outro hemisfério. É certo: poderias até ter morrido durante o caminho, a viagem. Ao menos, se assim fosse, eu estaria a teu lado

Quantas vezes, estupefacto, abri um livro na mesma página para encontrar a mesma frase? E que prazer saber que a expectativa de que aquele universo se preserve não sairia gorada, porque os livros de papel são estáveis, não pensam em ser outra coisa senão por dentro das próprias palavras. Precisei muitas vezes de reencontrar páginas específicas, com o seu grafismo cristalizado, o seu grafismo diamante, a guardarem‑me o que não podia perder. Amar um livro é pedir-lhe que seja sempre nosso, assim, como um amor que se conserva para repetir ou reaprender.

O que é o amor?

Amor
É sonhar perfumes e maravilhas...
É ver-te surgir,envolto em cetim,
estátua burilada pelo meu cinzel,
alma esculpida pela minha palavra.
Amor
É ver-te surgir como parte de mim...


Amor é ... Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder.

A vida é pouco aos bocados.
O amor é vida a sonhar.
Olho para ambos os lados
E ninguém me vem falar.


El amor es... Desmayarse, atreverse, estar furioso, aspero, tierno, liberal, esquivo, alentado, mortal, difunto, vivo, leal, traidor, cobarde y animoso; no hallar fuera del bien, centro y reposo, mostrarse alegre, triste, humilde, altivo, enojado, valiente, fugitivo, satisfecho, ofendido, receloso;

Amor não é... A beleza, o espírito, a graça, os dotes da alma e do corpo geram a admiração.Certas formas, certo ar voluptuoso criam o desejo.O que produz o amor não se sabe; é tudo isto às vezes, é mais do que isto, não é nada disto. Não sei o que é; mas sei que se pode admirar uma mulher sem a desejar, que se pode desejar sem a amar.O amor não está definido, nem o pode ser nunca, O amor verda­deiro; que as outras coisas não são isso.

Amor será... O amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar. Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente...Cala: parece esquecer...Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala,Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar...

Amor discreto... Tenho barcos, tenho remos,tenho navios no mar;tenho o amor ali defronte e não lhe posso chegar...


Amor mais do que discreto


Amor indiscreto... Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim nesta minha mania de te dar o que tu gostas e depois esquecer-me irremediavelmente de ti Agora na superfície da luz a procurar a sombra agora encostado ao vidro a sonhar a terra agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba e depois matar-te e dar-te vida eterna

Amor que é teu...


Amores diferentes ...

Habituei-me a ordenar as recordações da minha vida através de uma relação de namorados e de livros..
Já percebi por que razão as minhas memórias são tão desorganizadas: muitos livros e só dois namorados...
História de amor entre Rosa Montero e a sua imaginação...
Cativou-me esta apreciação sobre a obra...
Gostei da ideia: o meu livro em branco poderá ser, em certa medida, a história da minha imaginação: os seres que vou referir, embora reais, foram mitificados...Só existem para mim, fui a sua criadora.
Qualquer narrador profissional sabe que se escreve ,sobretudo, dentro da cabeça.
Ora aqui está uma opinião que me convém: "dentro da cabeça", sou uma grande escritora, mas como prová-lo??

O escritor está sempre a escrever. Nisto consiste a graça de ser romancista: na torrente de palavras que borbulham constantemente no seu cérebro. Já redigi muitos parágrafos, inúmeras páginas, incontáveis artigos enquanto estou a passear com os meus cachorros, por exemplo: na minha cabeça vou deslocando as vírgulas, trocando um verbo por outro, afinando um adjetivo. Muitas vezes escrevo mentalmente a frase perfeita e volta e meia, se não a anoto a tempo, ela escapa -me da memória. Resmunguei e desesperei-me muitíssimas vezes a tentar recuperar aquelas palavras exatas que por um momento iluminaram o interior de minha cabeça e depois tornaram a mergulhar na escuridão. As palavras são como peixes abissais que só nos mostram um brilho de escamas no meio de águas pretas. Se elas se soltarem do anzol, o mais provável é que não as consiga pescar de novo. São manhosas as palavras, e rebeldes, e fugidias. Não gostam de ser domesticadas. Domar uma palavra (transformá-la em clichê) é acabar com ela.

Amar apaixonadamente sem ser correspondido é como estar num barco e enjoar: o próprio acha que vai morrer, mas isso nos outros só provoca vontade de rir, eu li isso certa vez no escritor Alejandro Gándara, que teve uma lucidez esmagadora ao escrever isso. É mesmo: sofrimentos amorosos costumam provocar nos espectadores um sorrisinho meio de troça, meio piedoso. E, apesar desse comportamento dos outros, a dor de um amor desprezado é tão aguda! É um desespero que deixa doente, uma desolação que deixa vazio. Parece curioso que os seus amigos não levem muito a sério um sofrimento que para si é tão profundo; e ainda mais curioso que você também não se comova demais quando quem sofre são seus amigos. Porque será que, quando não estamos mergulhados no martírio do desamor, damos tão pouca importância a essa desgraça? Será que no fundo da nossa consciência sabemos que a paixão amorosa é um invento, um produto de nossa imaginação, uma fantasia? E que, por isso, essa dor que nos queima por dentro é de alguma maneira irreal? Como uma pessoa apaixonada, vivi repetidas vezes essa insuportável dor amorosa que afinal você acaba sempre por suportar...

Os humanos são, acima de tudo, romancistas, autores de um único romance cuja escrita demora toda a sua existência e na qual reservam para si o papel de protagonista.

But something good, oh something good, oh something good, oh something good make me forget about you for now...

She loves you, Leon She loves you, Leon She loves you, Leon She loves you, Leon She loves you, Leon She loves you, Leon

O vulto da nossa singularidade viaja por palavras matéria insensível de um poder esquivo. Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação Há uma embriaguez de luto em nossos atos-chave...

Que é o amor? A necessidade de sair de si. O homem é um animal adorador... Adorar é sacrificar-se e prostituir-se. Assim, todo amor é prostituição. Sempre se interrogou se esta afirmação de baudelaire também se aplicaria ao amor platónico...Julga que sim: pode existir prostituição espiritual, mas não tem certezas...

Durante muito tempo, associado a amor homossexual, o termo amor platonicus foi usado, pela primeira vez, por marsilio ficino, sendo considerado um amor centrado na beleza do caráter e na inteligência, não no aspeto físico. Vulgarmente, é entendido como um amor à distância, feito de fantasias e de idealização... Por influência do romantismo,o amor platónico começa a ser confundido com amor impossível... Numa breve pesquisa, absolutamente informal e desordenada, encontrei as opiniões mais caricatas:" é amar o vizinho da frente e ele não olhar para mim"; "é ser muito tímido". Registo,apenas,a nota sarcástica de bernard shaw: Noutros tempos houve amores platónicos, hoje há casamentos platónicos...

Há muito que ando a tentar construir uma definição, não académica, que responda à pergunta que, frequentemente,me coloco: o que é o amor platónico?

É o encontro espiritual entre duas almas que não precisam de existir no tempo e no espaço; é estar apaixonado, tão só, pela ideia de alguém, aceitando o que se crê sentir sem emoções que provoquem sofrimento; é amar com a serenidade com que se joga xadrez,enquanto o jogo for prazer, aceitando a vitória ou a derrota. O prazer reside no próprio jogo, nunca no resultado...O amor platónico não culmina no ato sexual e muito menos na procriação, ele é um processo, sem qualquer finalidade.
Uma paixão ou a convicção dela, o desejo ou o sexo, são infinitamente menos inebriantes do que a cumplicidade intelectual que o amor platónico implica; o encontro espiritual entre dois seres é um sentimento inefável, tão raro que o nome ainda não foi inventado...Pigmaleão esculpiu uma estátua e apaixonou-se por esse mármore sem alma; o amor platónico é esculpir uma alma e apaixonar-se por essa imaterialidade, como ideia, como abstração...D. Quixote ama Dulcineia na sua inexistência...Quem duvidará da intensidade do sentimento de el ingenioso hidalgo?

Este amor, da filosofia de platão, conserva, tão só, a ideia de que um amor perfeito, como a perfeição em geral, não existe no mundo real, mas apenas no mundo das ideias..
καίτοι τί πάσχω; βούλομαι γέλωτ' οφλεΐν εχθρούς μεθεΐσα τους έμούς άζημίους; και μανθάνω μεν σία δραν μέλλω κακά, θυμός δε κρείσσων των έμδν βουλευμάτων, δσπερ μεγίστων αίτιος κακών βροτοΐς. cru δ' ουκ έμελλες ταμ' άτιμάσας Μχη τερπνόν διάξειν βίοτον έγγελων έμον..

Assim, não só desejo apresentar o meu contributo e satisfazê-lo, como, ao mesmo tempo, parece-me que convém, aos aqui presentes, venerar o deus. Se então também a vós vos parece assim, poderíamos muito bem passar o nosso tempo em discursos; acho que cada um de nós, da esquerda para a direita, deve fazer um discurso de louvor ao Amor, o mais belo que puder, e que Fedro deve começar primeiro, já que está na ponta e é o pai da ideia.

Assim, pois, eu afirmo que o Amor é dos deuses o mais antigo, o mais honrado e o mais poderoso para a aquisição da virtude e da felicidade entre os homens, tanto em vida como após a sua morte.

O que é bela e corretamente feito fica belo, o que não o é, fica feio. Assim, é que o amar e o Amor não é todo ele belo e digno de ser louvado, mas apenas o que leva a amar com beleza.

Ora, eu começarei pela medicina a minha fala, a fim de que também homenageemos a arte. A natureza dos corpos, com efeito, comporta esse duplo Amor; o sadio e o mórbido são cada um reconhecidamente um estado diverso e dessemelhante, e o dessemelhante deseja e ama o dessemelhante. Um portanto é o amor no que é sadio, e outro no que é mórbido. E então, assim como há pouco Pausânias dizia que aos homens bons é belo aquiescer, e aos intemperantes é feio, também nos próprios corpos, aos elementos bons de cada corpo e sadios é belo o aquiescer e se deve, e a isso é que se dá o nome de medicina, enquanto que aos maus e mórbidos é feio e se deve contrariar, se se vai ser um técnico. É com efeito a medicina, para falar em resumo, a ciência dos fenómenos de amor...

Ela ,porém, não conseguia desviar os olhos do horizonte. Ao longe...nesse lugar em que a terra e o céu se juntavam numa linha pura, pareceu-lhe ...que a esperava qualquer coisa até então ignorada e que todavia sempre lhe fizera falta....sabia apenas que esse reino sempre lhe fora prometido mas que jamais o alcançaria.



A gente faz amor por telepatia No chão, no mar, na lua, na melodia Mania de você...

Tu és do sexo das formas sonhadas, do sexo nulo das figuras (...) Mero perfil às vezes, mera atitude outras vezes, outras gesto lento apenas — és momentos, atitudes, espiritualizadas em minha(s). Nenhum fascínio do sexo se subentende no meu sonhar-te, sob a tua veste vaga de madona dos silêncios interiores. (...) O teu corpo é todo ele carne-alma, mas não é alma é corpo. A matéria da tua carne não é espiritual mas é espiritualidade...

A propósito....
A . — Quisera saber como és feito por dentro (...) Como é a tua vontade por dentro, que coisas há naquela parte do teu sentir que tu não medes que sentes … Quando levantas um braço, eu queria saber porque coisas do além, tu levantas esse braço ... O que há por detrás de o tu quereres levantar e de saberes porque o queres levantar? Vim contigo há tanto e não sei quem tu és (...) Reparo às vezes nos pequenos gestos que fazes e vejo quão pouco sei de ti ...
E . — Eu próprio não sei quem eu sou ... Meus gestos são entes estranhos quando reparo neles, e sombras incertas quando não reparo. São uma perpétua revelação a mim próprio. Sou tão exterior a conhecer‑me como o mundo externo ... Entre o meu querer erguer um braço e ele erguer‑se vai um intervalo divino ... Transponho, entre pensar e falar, um abismo sem fundo humano.
A . — Olho‑te e amo‑te e não te possuo nunca. (...) Acompanho‑te e perco‑te sempre que olho para ti.
E . — Eu próprio não me acompanho ... como poderás tu acompanhar‑me? Vejo meus pés andar como quem vê passar um cortejo humano nas distâncias e na noite ... Reparo na minha sombra como numa face desconhecida que espreitou de fora à janela da minha moradia ... Não compreendo nada ... Não compreendo nada.
A . — Mas há coisas que tu compreendes e que nunca me confessas. Falas‑me dos teus amores e dos teus desejos, mas eu sinto que guardas para ti, fechada na mão, uma jóia qualquer do teu sentimento. Porquê se eu te amo e se somos um só?
E . — Porque nunca somos um só. Aquilo que eu não te digo, apesar de habitarmos juntos este palácio e juntos pensarmos neste jardim. Segredo‑o a mim quando estou mais só e nem ergo a voz, para que me não ouça não sei quem que me não pode ouvir.
A . — Sou a tua Alma e a mim‑próprio não me contas tudo!


Amor abstrato...

Marguerite Yourcenar rejeita tudo o que lhe parece redutor, onde se inclui o feminismo, que quase considera uma forma de racismo ao contrário.Tal como todas aquelas que não sentiram dificuldade em ser mulheres, porque a sua inteligência impunha pelo menos igualdade em relação aos homens, ela tende também a negar esse problema. Na mesma linha, não vê necessidade de estabelecer diferença entre o amor homossexual e o amor, simplesmente. É o suficiente para desencorajar vários admiradores que tentaram fazer dela porta-voz dos seus ideais particularistas, quando na realidade isso está completamente ausente do seu pensamento. Esta solidão de escritor, que lhe parece essencial e mesmo indispensável ao exercício da sua arte, decorre com a mesma naturalidade da sua concepção do mundo.(...) Desvia-se da política por a considerar demasiado efémera no curso da História. Deste modo, as simpatias desta romancista clássica, com um estilo talhado em mármore latino, com uma vida ordenada e regular, dirigem-se antes para os marginais e para aqueles que recusam poses e preconceitos...gosta de Bob Dylan.(...) Dos seus sonhos conserva na memória, com alguma nostalgia,o ter gostado de ser médica, por exemplo, como Zenão...(...)A sua abertura ao mistério da inspiração é também resultado de uma ascese. Esforça-se por conseguir um vazio em si própria, para nele acolher as suas criaturas, tão vivas no seu pensamento ao ponto de estarem sempre presentes.. As suas duas grandes personagens ( Adriano e Zenão) nasceram da sua imaginação aos dezoito anos. O imperador e o médico segui -la-ão ao longo de toda a sua existência, primeiro como esboços de um desenho, depois como heróis de romances, e finalmente como companheiros do dia-a-dia, cúmplices tutelares, tão presentes na sua vida como o mais familiar dos familiares.
Serena até ao desprendimento - e, no entanto, terna; basta vê-la acariciar um cão ou um seixo na praia - , diríamos que pertence a um outro reino... Ela olha o mundo e o homem de frente, com um amor tão abstracto que pode causar medo, como o dos santos. Apesar do seu sorriso de Minerva, contido e mesmo um pouco distante, é uma visionária que nos contempla, com aquele olhar azul onde se reencontra, intacta, a inocência gelada da criança perante um mundo que se afunda.


Amor(?) concreto...

Marguerite e Grace conheceram-se em 1937, ocasião em que Grace, que era americana, estava em viagem por França. Encantada com Marguerite, Grace apaixona -se e passa com ela o resto da sua vida.(...) Depois do contacto inicial, Marguerite e Grace iniciam uma relação de amizade que resultou em algumas viagens que realizaram juntas.(...) O registo das diversas etapas das viagens era feito por Grace que até ao fim da vida cultivou o hábito de anotar em agendas factos do quotidiano, eventos, e tudo aquilo que ela considerava significativo.(...) No ano de 1938 afirma: “So I love you, believe it or not”. Marguerite...tinha estado recentemente apaixonada pelo seu editor, um homossexual que não correspondeu ao seu amor, o que constituía para ela uma situação não resolvida...(...) Em 1939, devido à guerra que alastra na Europa e da qual ela queria fugir, Marguerite toma a decisão de embarcar para os Estados Unidos para uma estadia de seis meses a um ano. Chegando lá, instala -se no apartamento de Grace e iniciam uma vida em comum, primeiramente em Manhattan, depois em Connecticut e finalmente, de forma definitiva no Maine, numa ilha chamada Montes Desertos, onde adquiriram uma casa denominada por elas de “petite plaisance”. Marguerite passou os dez primeiros anos da sua vida com Grace sem sair dos Estados Unidos, país que nunca sentiu verdadeiramente seu, pois possuía um vínculo muito forte com a Europa e um espírito nómada que a impulsionava a mudar constantemente. Apesar disso, ficou com Grace e disse “eu não decidi nada, deixei-me levar”. Deixou-se levar, pelo amor, pela vida tranquila, pela solicitude sempre presente de Grace, pela possibilidade de se dedicar inteiramente ao seu trabalho de escritora, enfim por tudo aquilo de cómodo que a possibilidade de ficar lhe oferecia.(...) Grace, desejosa de reter Marguerite perto de si, cuidava de todos os detalhes da sua vida diária, assumindo o papel não só de amante, mas de ajudante, secretária e tradutora dos seus livros para inglês. (...) Foram quarenta anos de vida em comum, marcados pela “paixão inicial”, como disse certa vez Marguerite, mas também por momentos de turbulência. Os anos mais difíceis foram especialmente os dez últimos em que Grace lutou contra um cancro, que obrigou Marguerite a permanecer isolada da Europa, no que ela definia como uma “vida imóvel”, anos que coincidiram com o seu apogeu como escritora e que geraram uma insatisfação contida, como ela mesma diz: “não sei quando acabará essa má sorte. Pois é sempre má sorte estar imobilizada contra a sua vontade”. Recusou -se a deixar Grace, ainda que isso lhe fosse extremamente penoso, e ficou com ela até os seus últimos momentos, marcados por uma certa animosidade entre ambas.

( Não gostei da submissão de marguerite à submissão de grace...)

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