Que atrás dos tempos vêm tempos E outros tempos hão-de vir Eu sei de histórias verdadeiras Umas belas Outras tristes de assombrar...
Após esta anacrónica introdução, deixando de lado as várias interpretações do mito de Fausto, é de salientar a convicção, relativamente consensual, de que o Doutor Fausto existiu, provavelmente na Alemanha, entre 1480 e 1540. Terá sido registado como um falso médico, humanista, alquimista, mago, ousado cavaleiro andante, praticante de milagres, impostor, lascivo e homossexual... Depois de sua morte, é associado a histórias que pretensamente confirmavam a existência de um pacto entre ele e o Diabo. O primeiro texto sobre Fausto, Historia Von D.Johann Fausten, de autoria desconhecida, surgiu em 1587, na Feira de Frankfurt...
A História trágica da vida e morte do Doutor Fausto, escrita por marlowe, em 1588 ou em 1592, com base na história anónima do Dr. Fausto, datada de 1587, é publicada, pela primeira vez, em 1604.
Sê médico, fausto, junta ouro
E torna-te eterno por cura maravilhosa.
Summum bonum medicinae sanitas.
A saúde do corpo é o que visa a medicina.
Não alcançaste já, Fausto, tal fim?
Não se julgam aforismos os teus ditos?
Não se erguem, como monumentos, as receitas
Com que baniste a peste das cidades,
E curaste mil maleitas incuráveis?
Contudo, ainda és só Fausto, apenas um homem.
Fausto partiu: atentai na sua queda,
No seu infernal fado. Que ele exorte os prudentes
À mera admiração das coisas proibidas,
Cujo abismo aos audazes, como ele, incita a mente
A maiores cometimentos do que o Céu consente.
Sai.
Terminat hora diem. Terminat Author opus.
1808
Estudei com ardor tanta Filosofia,
Direito e Medicina,
E infelizmente até muita Teologia
A tudo investiguei com esforço e disciplina,
E assim me encontro eu, qual pobre tolo, agora,
Tão sábio e tão instruído quanto fora outrora!
Primeiro fui Assistente e em seguida Doutor,
Dez anos a ensinar, autêntico impostor
A subir e a descer por todos os lados
Estudantes à volta em mim sempre grudados
E chego ao fim de tudo ignorante em tudo!
Coração a ferver! Para quê tanto estudo!
CHORUS MYTICUS
Tudo o que passa
É símbolo só;
O que não se alcança
Em corpo aqui está;
O indescritível
Realiza-s aqui;
O Eterno - Feminino
Atrai-nos para si.
FINIS
1844 / 1854
1926
Sem data / 1988
(after running away. (He never loves))
Não sei viver! nem fui para viver
Destinado; porquê então a vaga
Aspiração que tenho?
( ...) e alucinadas pré-sensações
Impelem-me, desvairam-me, ocupam
Tumultuariamente e ardentemente
O doloroso vácuo do meu ser.
Incapaz de pensar, apenas sinto
Um atropelamento do sentir
E confusões confusas, explosão
De tendências, desejos, ânsias, sonhos
Desatenuadamente dolorosos.
Nada, já nada posso, nada, nada...
Vais-te, Vida. Sombras descem. Cego. Oh Fausto!
(Expira)
1947
( "Thomas Mann pertenceu a esse pequeno grupo de espíritos prudentes e tortuosos por natureza,(...) verdadeiramente conservadores, na medida em que não perdem o que quer que seja de uma acumulação de riquezas milenárias e, no entanto, subversivos na contínua reinterpretação do pensamento e da conduta humana" - Marguerite Yourcenar )
Faço questão de assegurar com toda a clareza que não tenho qualquer intenção de colocar a minha pessoa em lugar de destaque...antes de iniciar o relato da vida do finado Adrian Leverkunhn.(...) Porém, em última análise, ou melhor, em primeira, eu amei-o, com horror, ternura, compaixão e admiração devota sem sequer me interrogar se ele, por pouco que fosse, correspondia aos meus sentimentos. Não, não o fez. No papel em que me transmitiu os esboços de composições e as páginas do diário, encontrados no espólio, expressa-se uma confiança, sem dúvida honrosa para mim, confiança na minha escrupulosidade, lealdade e correcção. Mas, amar-me? Quem teria amado esse homem? (...) A quem teria Adrian aberto o coração?... Aceitava a dedicação de outrem, às vezes, juro , sem a perceber. A sua indiferença era tão grande que apenas raras vezes se dava conta da companhia em que estava e do que se passava ao seu redor(... )Inclino-me a comparar a sua solidão com um abismo, no qual se afundavam, sem ruído nem rasto, os sentimentos que os outros lhe ofereciam.
A 25 de Agosto de 1940, recebi aqui em Freising a notícia de que se haviam extinguido os restos de uma vida que dera à minha própria a sua substância essencial, em matéria de amor, angústia, pavor e orgulho. Junto da cova a erta, no pequeno cemitério de Oberweiler, estavam comigo, além dos parentes, ... e ainda uma senhora estranha, irreconhecível sob o seu véu. Enquanto as primeiras pazadas de terra caíam sobre o caixão, esta desapareceu.
roficamente.
A essa altura, a Alemanha, as faces ardentes de febre, no apogeu de selvagens triunfos, cambaleava, ébria, a ponto de conquistar o mundo, graças a um pacto ao qual tencionava manter-se fiel e que assinara com seu sangue. Hoje, cai de desespero em desespero, cingida de demónios, cobrindo um dos olhos com a mão e cravando o outro num quadro horroroso. Quando alcançará o fundo do abismo? Quando raiará, em meio à derradeira desolação, um milagre superior a qualquer fé, a luz da esperança? Um homem solitário junta as mãos e diz: ‘Que Deus tenha misericórdia de vossas pobres almas, meu amigo, minha pátria!’
Abro , aqui , um parêntesis para citar herman hesse (1927): «…essas fatais relações com a música eram o destino de toda a intelectualidade alemã (…) uma hegemonia da música, como não se conheceu em nenhum outro povo. Nós, os intelectuais, sonhamos todos com uma linguagem sem palavras, que possa exprimir o inexprimível, que possa representar o irrepresentável. Em vez de tocar o seu instrumento da forma mais fiel e honesta possível, o intelectual alemão está sempre em luta com a palavra, seduzindo a música».
Esta atração fatal está bem presente em doutor fausto.
1967
1987 ...........................................................................................2001..................
2009
Na encenação do Fausto, de Gounod (1818-1893), concebida pelo alemão Christof Loy, o protagonista não está encerrado no seu gabinete num cenário quinhentista, a refletir sobre a vida e o conhecimento, mas está em frente a um aparelho de televisão, num lar de idosos do século XX. Mefistófeles faz a sua primeira aparição de forma teatral, saltando de um palco em traje do século XVI, mas depois do pacto de devolver a juventude a Fausto também ele dará um salto no tempo. Vestida de luto, com um crucifixo ao peito, vemos inicialmente Margarida como uma das funcionárias do asilo...
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