Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Conversa acabada... Despedida

A veces siento que es el momento Entonces me preparo Pero al oír vos estas ausente otra vez Así que mirá, mejor lo dejamos Se exactamente a donde queres llegar Tanto tanto te conozco... uma mesa posta para um chá discreto — mero pretexto para conversas inteiramente estéreis — teve sempre para mim qualquer coisa de ente e individualidade com alma. Forma, como um organismo, um todo sintético! Que não é a pura soma das partes (que o compõem)

A toda gente que vem lá das tuas bandas eu pergunto por ti, procuro saber como vais, onde e com quem costumas passar o tempo. Não podes enganar‐me: estou na tua companhia. Vive como se todos os teus actos me fossem relatados, ou melhor, como se eu próprio assistisse a eles. Daquilo que oiço dizer de ti sabes o que me dá mais satisfação? É não ouvir dizer nada, uma vez que a maior parte daqueles que eu interrogo ignora o que tu andas fazendo. Aí está uma coisa salutar, não te relacionares com pessoas de índole e objectivos distintos dos teus.

Ao incitar‐te insistentemente ao estudo da filosofia estou a trabalhar em meu proveito: é que pretendo ter um amigo [...] Apressa‐te, pois, enquanto podes ser‐me proveitoso, não vá a tua aprendizagem redundar em benefício de outro qualquer! Eu já estou a antever o resultado, já imagino como nós dois havemos de ter uma só alma, e sei que o que a minha idade já perdeu em vigor poderá recebê‐lo da tua...

I've been trying hard to reach you 'Cause I don't know what to do Oh, brother, I can't believe it's true I'm so scared about the future And I wanna talk to you Oh, I wanna talk to you...

Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?

Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pelo, frio no olhar!
De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?


Nada nem ninguém preenche o vazio que me ficou...



Familiar conversation
Disappointment, my old friend,
I had forgot thou wert with me.
Forgive me. I did half pretend,
Deceiving ill my misery,
That thou hadst gone. Forgive me thou.
Thou old true friend, thou'rt with me now!
Despair, my old companion sure,
Thou too - though not forgotten quite -
Yet for a moment I had fewer
Thoughts of thee - somewhat of respite.
Entirely to forget thee were
Impossible. Friend, thou art here!
And thou, old comrade, Solitude,
Bare of affection and of hope,
Thou twin with me - I were quite rude
Were I to omit by thee to stop
And play the game of cares and fears?...
Why come ye to shame me, oh tears?



Meu amigo verdadeiro, quem me vos levou tão longe? Que vós comigo e eu convosco, sós soíamos passar nossos nojos grandes, e tão pequenos para os de despois! A vós contava eu tudo. Como vós vos fostes, tudo se tornou tristeza, nem parece ainda senão que estava espreitando já que vos fôsseis. E porque tudo ainda mais me magoasse tão-somente não me foi deixado em vossa partida o conforto de saber para que parte de terra íeis, que descansaram meus olhos em levarem para lá a vista. Tudo me foi tirado, no meu mal nem remédio nem conforto houve aí. Para morrer asinha, me pudera isto aproveitar, mas para isto não me aproveitou. Inda convosco usou desaventura algum modo de piedade em vos alongar desta terra, pois que pera não sentirdes mágoas não havia remédio, para as não ouvirdes vo-lo deu. Coitada de mim, que estou falando e não vejo ora eu que leva o vento as minhas palavras, e 'e que me não pode ouvir a quem falo! Bem sei que não era eu para isto a que me quero ora pôr, porque escrever algua cousa pede alto repouso, e a mim as minhas mágoas oras me levam para um cabo, oras para outro, e trazem-me assi, que me é forçado tomar as palavras que me elas dão, porque não são tão constrangida servir ao engenho como à minha dor.


Meu amor adeus Tem cuidado Se a dor é um espinho Que espeta sozinho Do outro lado Meu bem desvairado Tão aflito Se a dor é um dó Que desfaz o nó E desata um grito Um mau olhado Um mal pecado E a saudade é uma espera É uma aflição ...Vem-me ver amor De mansinho Se a dor é um mar Louco a transbordar Noutro caminho Quase a espraiar Quase a afundar ...E a saudade é uma espera É uma aflição...

Ophelinha:
Agradeço a sua carta. Ela trouxe-me pena e alívio ao mesmo tempo. Pena, porque estas coisas fazem sempre pena; alívio, porque, na verdade, a única solução é essa — o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao menos, fica uma estima profunda, uma amizade inalterável. Não me nega a Ophelinha outro tanto, não é verdade?
Nem a Ophelinha, nem eu, temos culpa nisto. Só o Destino terá culpa, se o Destino fosse gente, a quem culpas se atribuíssem.
O Tempo, que envelhece as faces e os cabelos, envelhece também, mas mais depressa ainda, as afeições violentas. A maioria da gente, porque é estúpida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contraiu o hábito de se sentir a amar. Se assim não fosse, não havia gente feliz no mundo. As criaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade dessa ilusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por ele a estima, ou a gratidão, que ele deixou. (...)
Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil.
Que isto de «outras afeições» e de «outros caminhos» é consigo, Ophelinha, e não comigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam. Não é necessário que compreenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.


Meu Querido Amigo,
Estou muito preocupado, muito enervado com o seu inexplicável silêncio de há mais de 15 dias! Ter-lhe-ia acontecido alguma coisa de gravidade? Não sei —e isso ainda mais me preocupa. Em todo o caso, sabendo o meu querido Pessoa como a incerteza é dolorosa para mim parece impossível que não me escrevesse ainda. Creia que fez muito mal em proceder assim — fossem quais fossem as circunstâncias. Eu não me zango com você por ainda não ter recebido o dinheiro apesar da falta que ele me faz. Zango-me apenas — e muito, pela sua inadmissível falta de notícias. Assim não lhe posso desculpar o seu silêncio. Creia que o meu querido Amigo me tem feito mal —e, sobretudo, tem sido injusto para comigo. De resto o meu afecto por si é grande em demasia para eu não esquecer tudo isto. Mas, por amor de Deus, em nome justamente desse afecto —dê-me notícias suas (se possível por telégrafo) logo que receber esta carta. Imploro-lhe como um dever. Ofender-me-ia muito se continuasse sem me dar notícias suas. Imploro-lhe!...




E, agarrada a ervas e raízes, içou-se para o carreiro. Mas o carreiro tinha desaparecido. Agora havia apenas um estreito rebordo onde ela não cabia, onde nem os seus pés cabiam. Um rebordo sem saída. Aí ficou, de lado, com os pés um em frente do outro, com o lado direito do seu corpo colado à pedra da arriba e o lado esquerdo já banhado pela respiração fria e rouca do abismo. Sentia que as erva se as raízes a que se segurava cediam lentamente com o peso do seu corpo. Compreendia que agora era ela que ia cair no abismo. Viu que, quando as raízes se rompessem, não se poderia agarrar a nada, nem mesmo a si própria. Pois era ela própria o que ela agora ia perder.Compreendeu que lhe restavam somente alguns momentos.
Então virou a cara para o outro lado do abismo. Tentou ver através da escuridão. Mas só se via escuridão. Ela, porém, pensou:- Do outro lado do abismo está com certeza alguém.
E começou a chamar.


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis. (...)
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.


Depois da conversa, sentíamo-nos tão contentes como se nos tivéssemos presenteado a nós mesmos. Esse estado de comunicação contínua chegou a tal exaltação que, no dia em que nada tínhamos a nos confiar, procurávamos com alguma aflição um assunto.

Minha solidão, na volta de tais encontros, era grande e árida. Cheguei a ler livros apenas para poder falar deles. Mas uma amizade sincera queria a sinceridade mais pura. À procura desta, eu começava a me sentir vazio.Nossos encontros eram cada vez mais decepcionantes.

Afinal o que queríamos? Nada. Estávamos fatigados, desiludidos.(...) Um aperto de mão comovido foi o nosso adeus no aeroporto. Sabíamos que não nos veríamos mais, senão por acaso. Mais que isso: que não queríamos nos rever. E sabíamos também que éramos amigos. Amigos sinceros.


«Vivo no passado. Agarro em tudo quanto me sucedeu, e componho-o. De longe, assim, as lembranças não nos doem e por um pouco não nos deixamos enganar. A nossa história é toda bastante bela. Dou-lhe uns jeitinhos. E pronto!, fica uma sequência de momentos perfeitos. Nessa altura fecho os olhos e tento imaginar que estou a viver ainda dentro deles. Disponho também de outras personagens É preciso sabermos concentrar-nos. Queres saber o que li? Os Exercícios Espirituais, de Loyola. Foram-me muito úteis. Há uma maneira de colocar primeiro o cenário e de fazer aparecer depois as personagens. Consegue-se ver», acrescentou ela com um ar mágico.
«Sim, mas, a mim, isso não me satisfaria nada», digo eu.
«E pensas que, a mim, me satisfaz?»
Ficamos um momento silenciosos. A tarde cai; mal distingo a mancha pálida do rosto de Anny. O seu vestido preto confunde-se com a sombra que invadiu a casa. Maquinalmente, agarro na chávena, onde há ainda um resto de chá, e levo-a aos lábios. O chá está frio. Sinto vontade de fumar, mas não me atrevo. Tenho a impressão penosa de não termos mais nada a dizer um ao outro. Ainda ontem pensava em tantas perguntas a fazer-lhe: onde tinha ela estado, que tinha feito, quem tinha encontrado... Mas isso só me interessava na medida em que Anny se tivesse entregado com todas as veras do coração. Agora, nenhuma curiosidade me resta: todos os países, todas as cidades por que ela passou, todos os homens que a cortejaram e que ela talvez tenha amado, tudo isso era inconsistente, tudo isso, no fim de contas, lhe era tão indiferente! Pequenos clarões de sol à superfície dum mar escuro e frio. Anny está à minha frente, há quatro anos que não nos víamos, e não temos mais nada a dizer um ao outro. «Agora», diz ela subitamente, «tens de te ir embora. Estou à espera duma pessoa.»


Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço (...)
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver(...)
Não tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser(...)

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.

Hqt x sefee hithi...Analter ticro qdwh du wrscrib mir,shanaofmbio...


This is the end Beautiful friend This is the end My only friend, the end Of our elaborate plans, the end Of everything that stands, the end No safety or surprise, the end...

Atque in perpetuum, amice meo, ave atque vale!

Quando quero pensar, vejo. Quando quero descer na minha alma, fico de repente parado, esquecido, no começo de espiral da escada profunda, vendo pela janela do andar alto o sol que molha de despedida fulva o aglomerado difuso dos telhados.



Como se cada beijo
Fora de despedida,
Minha Cloé, beijemo-nos, amando.
Talvez que já nos toque
No ombro a mão, que chama
À barca que não vem senão vazia;
E que no mesmo feixe
Ata o que mútuos fomos
E a alheia soma universal da vida.


Atque in perpetuum, frater, ave atque vale!

Com as malas feitas e tudo a bordo
E nada mais a esperar da terra que deixamos,
Já com os trajes moles característicos dos viajantes, debruçados da amurada
Digamos adeus com um levantar da alegria ao que fica,
Adeus às afeições, e aos pensamentos domésticos, e às lareiras, e aos irmãos,
E enquanto se abre o espaço entre o navio lento e o cais
Gozemos uma grande esperança indefinida e arrepiada,
Uma trémula sensação de futuro.(...)
A amargura alegre da ida,
O sabor especial a começo de viagem marítima, a mistura com nossos sentidos
De cheiro das malas, de cheiro a navio, de cheiro a comida de bordo,
E a nossa alma é um composto confuso de cheiros e sabores
E tudo é a viagem indefinida que faremos vista através do paladar e do olfacto,
Tudo é a incerteza sensual da vida sentida pela espinha abaixo...
E nós não deixamos ninguém...


Atque in perpetuum, frater, ave atque vale!


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