Sometimes we live on our memories of love Sometimes we breathe the fragrances Sometimes we live on our memories And breathe the fragrances And we sigh, great sigh Falling through those fragrances Sliding down the filaments into the ovaries Lying in those memories We sigh, great sigh Sometimes we live on our memories...
Looking for signs of life Looking for signs every night But there's no signs of life So we do it again...
I'm in the black again Can't make it back again We can just pretend...
Hoje, Dia Mundial do Livro, pelas 18:00, foi inaugurada a Casa José Saramago, em Óbidos.Tive saudades do passado, como a outra gente. O presente não existe e já não me atrevo a sentir nada quanto ao futuro...
Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória...
A novela inacabada,
Que o meu sonho completou,
Não era de rei ou fada
Mas era de quem não sou.
Para além do que dizia
Dizia eu quem não era...
A Primavera floria
Sem que houvesse Primavera.
Lenda do sonho que vivo,
Perdida por a salvar...
Mas quem me arrancou o livro
Que eu quis ter sem acabar?
Carregado de tristeza, o entardecer demora anos. A noite vem de longe, cansada; tomba tão vagarosamente que o mundo parece que vai ficar para sempre naquela magoada penumbra. Lá vêm figurinhas dobradas pelos atalhos, direito às casas tresmalhadas da aldeia. Nenhuma virá até à venda falar um bocado, desviar a atenção daquele poente dolorido. São ceifeiros, exaustos da faina, que recolhem. Breve, a aldeia ficará adormecida, afundada nas trevas. E António Barrasquinho, o Batola, não tem ninguém para conversar, não tem nada que fazer. Está preso e apagado no silêncio que o cerca.
Andam lentamente, mais do que se pode, como quem luta sem forças contra o vento, ou como quem caminha, também é possível, na pesada e espessa e dura água do mar. Mas não há água nem vento, só calor, na longa rua onde George volta a passar depois de mais de vinte anos. Calor e também aquela aragem macia e como que redonda, de forno aberto, que talvez venha do sul ou de qualquer outro ponto car- deal ou colateral, perdeu a bússola não sabe onde nem quando, perdeu tanta coisa sem ser a bússola. Perdeu ou largou? Caminham pois lentamente, George e a outra cujo nome quase quis esquecer, quase esqueceu. Trazem ambas vestidos claros, amplos, e a aragem empurra-os ao de leve, um deles para o lado esquerdo de quem vai, o outro para o lado direito de quem vem, ambos na mesma direção, naturalmente. O rosto da jovem que se aproxima é vago e sem contornos, uma pincelada clara, e, quando os tiver, a esses contornos, ele será o rosto de uma fotografia que tem cor-rido mundo numa mala qualquer, que tem morado no fundo de muitas gavetas, o único fetiche de George. As suas feições ainda são incertas, salpicando a mancha pálida, como acontece com o rosto das pessoas mortas. Mas, tal como essas pessoas, tem, vai ter, uma voz muito real e viva, uma voz que a cal e as pás de terra, e a pedra e o tempo, e ainda a distância e a confusão da vida de George, não prejudicaram. Quando falar não criará espanto, um simples mal-estar. Agora estão mais perto e ela encontra, ainda sem os ver, dois olhos largos, semi-cerrados, uma boca fina, cabelos escuros, lisos, sobre um pescoço alto de Modigliani. Mas nesse tempo, dantes, não sabia quem era Modigliani e outros que tais, não eram lá de casa, os pais tinham sido condenados pelas instâncias supremas à quase ignorância...
Metamorfoses (1990)
Faça-se luz
neste mundo profano
que é o meu gabinete
de trabalho:
uma despensa.
As outras dividiam-se
por sótãos,
eu movo-me em despensa
com presunto e arroz,
livros e detergentes.
Que a luz penetre
no meu sótão
mental
do espaço curto
E as folhas de papel
que embalo docemente
transformem o presunto
em carruagem!
“Tenho consciência de que o meu quotidiano (doméstico) pode constituir fonte de inspiração para a minha poesia, tanto quanto tenho consciência de que um livro de poesia ou de crítica sobre poesia, um olhar, palavras de alguém por quem me sinta tocada, as minhas aulas, um pôr-do-sol, uma manhã que de repente fica muito de Primavera, o podem”.
“Sempre arranjei tempo para escrever. Sempre.Se não consigo escrever durante o dia, escrevo à noite - às vezes a altas horas, mas sou noctívaga, o que me é muito útil. Acho que uma pessoa quando precisa de escrever, escreve – independentemente de condicionantes exteriores. Claro que ter, como dizia Virginia Woolf, "um quarto que seja seu" é uma ajuda, mas não é fundamental.”
dez de junho Há muitos, muitos anos, quando ser se resumia a existir, passei um dez de junho em casa de miguel torga. A filha era minha colega no colégio e, embora nunca tivéssemos tido muita intimidade, de vez em quando, eu ia lá merendar. (Merendar e não lanchar... em casa de torga, não se pactuava com estrangeirismos...). Dessas visitas, só retenho duas imagens nítidas, que, antigamente, contava aos alunos de 12º de literatura portuguesa. Eu sempre fui uma criança delicada, educada, mas muito, muito preguiçosa...Lá em casa havia sempre avelãs vindas de trás-os-montes... Eu adorava, mas, como não tinha paciência para as partir, preferia não comer. Ele ter-se-á apercebido e ofereceu-se para a tarefa partidora. Parece que aceitei com tal entusiasmo que abri logo muito a boca. Ali estive, regalada, com um médico-poeta, o meu vizinho mais famoso, a partir-me avelãs e a meter-mas na boca. Ele achou tanta graça ao meu comportamento que nunca mais precisei de executar tal tarefa...Entretanto, já com dez / onze anos, escrevi um poema e , timidamente, permiti-me pedir-lhe que o lesse. Nunca me esquecerei da delicadeza da resposta à difícil ( sei-o agora...) pergunta "Gostou?": "Gostei muito porque é teu..."E autografou a minha preciosa obra prima. Quando, por volta de 1960, se falou com insistência na hipótese de torga ser nobel da literatura, vivi, muito secretamente, o orgulho de ele ter sido meu quebrador de avelãs e de ter "gostado muito" do meu primeiro poema...Não o quis o acaso, no entanto, a relação com um nobel estava-me destinada...
O dez de junho de 2015, em alcobaça, foi dia , não de camões, mas de eça, de joão botelho e de saramago. Não terei,certamente, quem me ofereça avelãs à merenda...Por obrigação, como quase tudo o que faço atualmente, fui rever os maias.Estou desiludida com a imagem física de joão botelho, embora saiba que o povo considera que "os homens não se medem aos palmos". Gostei relativamente de o ouvir, identifiquei-me totalmente com as reflexões sobre as praxes académicas, mas ter de bisar o filme foi um sacrifício enorme: como é fiel ao texto de eça , eu sei de cor o que vai acontecer e até as frases que vão ser proferidas...Acho que não vou ter coragem de viajar de elefante...

Sem comentários:
Enviar um comentário