Apesar de preferir fernando pessoa em português...
The feelings that hurt most, the emotions that sting most, are those that are absurd - The longing for impossible things, precisely because they are impossible; nostalgia for what never was; the desire for what could have been; regret over not being someone else; dissatisfaction with the world’s existence. All these half-tones of the soul’s consciousness create in us a painful landscape, an eternal sunset of what we are.
Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Você vai ter que ver A manhã renascer E esbanjar poesia
Foi bonito o meu sonho de amor. Floriram em redor todos os campos em pousio. Um sol de Abril brilhou em pleno estio, lavado e promissor. Só que não houve frutos dessa primavera. A vida disse que era tarde demais. E que as paixões tardias são ironias dos deuses desleais.
Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi o apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi... Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.
Além de ...
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
As armas e os barões assinalados Que da Ocidental praia Lusitana, Por mares nunca dantes navegados Passaram ainda além da Taprobana...
D. JOÃO O SEGUNDO
Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra —
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.
Seu formidável vulto solitário
Enche de estar presente o mar e o céu.
E parece temer o mundo vário
Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.
Seja ou não feriado o dia um de dezembro , a restauração da independência nunca representou nada de significativo. Desde há muitos anos, que este dia assinala uma efeméride bem mais significativa: a publicação de Mensagem, uma ressureição simbólica da essência do qualquer coisa que é o ser português...A mensagem está para além de um portugal físico... Mens agitat molem, o espírito move a matéria. Morto o espírito,restou a matéria: um mero acidente geográfico, sem alma...
Em Portugal há duas coisas grandes, pela força e pelo tamanho: Trás-os- Montes e o Alentejo. Trás-os-Montes é o ímpeto, a convulsão; o Alentejo, o fôlego, a extensão do alento.
Gramática de coentro e cal / geometria do branco e do verão / solidão como sinal / quase cigarra quase pão /em seu falar como um cantar de amigo. / Aqui acaba o último e o primeiro / e o um procura o outro seu igual / para dizer um nome entre azinheira e trigo. / Este é o chão mais puro e verdadeiro.7 E as sombras sentam-se comigo / à sombra de um sobreiro
Irei a Évora descobrir o branco / A ogiva o arco a rosácea a nave / A praça como pátio/ O pátio como praça / Nada destrói a intimidade / Da sua humana geometria. / Irei a Évora para reencontrar / A perdida harmonia.
Na brancura da cal o traço azul
Alentejo é a última utopia.
Todas as aves partem para o sul
todas as aves: como a poesia
Planície como página
este é o chão que procurava
silêncio feito asa
quase pão quase palavra.
Para ser canto
para ser casa
Aproveitando os incentivos do meio e os recursos do seu génio, o alentejano faz milagres. A própria paisagem sem relevo o estimula. Faltava ali o desenho e a arquitectura, que nas outras províncias existem na própria natureza. Pois bem: concebeu ele o desenho e a arquitectura. E, na mais rasa das planícies, ergueu essa flor de pedra e de luz que é Évora!
Inscrições, túmulos, azulejos, ruinarias escoradas no ar por um prodígio de cenografia trágica, lúgubres palácios de átrios silenciosos, cubelos e muralhas de guerra sobre que se debruçam arbustos de jardim – de tal maneira estas camadas de civilização se ensandwicham, comprimem, sobrepõem, que a cidade se me afigura, neste meu vaguear à luz morrente, uma necrópole museu de grande povo, aguardando o profeta que sobre ela desencadeie em versículos de fogo, o dies irae derradeiro.
Eis a nobre cidade, certo assento / Do rebelde Sertório antigamente,/ Onde ora as águas nítidas de argento / Vem sustentar de longo a terra e a gente,/ Pelos arcos reais que, cento e cento / Nos ares se alevantam nobremente,/ Obedeceu, por meio e ousadia/ De Giraldo, que medos não temia.
Évora é uma cidade branca como uma ermida. Convergem para ela os caminhos da planície como o rasto da esperança dos homens. E como a uma ermida, o que a habita é o silêncio dos séculos, do descampado em redor. Conheço, dos seus espectros, a vertigem das eras, a noite medieva mora ainda nas ruas que se escondem pelos cantos, nas pedras cor do tempo ouço um atropelo de vozes seculares. Vozes de populaça, gritos de condenados, eco de reis, senhores, estrépito de guerras, ódios e sonhos, sob a imobilidade dos mesmos astros. Como um cofre do tempo, a cidade ignora a exactidão do presente, conhece apenas o alarme da memória. As casas novas têm todas a mesma idade de séculos. E quando se sai da cidade, a planície prolonga, até a um limite irreal, esta voz de infinitude.
Eis-me em face do Liceu e da minha estrada final. Não "escolhi" a profissão: de algum modo, saíra-me.
Vagueei longo tempo através das ruas, facetadas de brando, pelo puro gosto de me sentir sozinho, sem ideias, anulado de silêncio. Uma cidade fantástica erguia-se imaginada, numa geometria árida de superfícies lisas, com faixas de sombra e luz estiradas dos candeeiros às esquinas, com filas de janelas altas e cerradas, túneis de arcarias desertas, flechas de torres, de chaminés à altura dos astros, ângulos negros de ruas - imóvel espectro de uma civilização perdida...
Terra calcinada, deserto estéril (...) O Alentejo era trágico, não lírico, só a praga, a blasfémia ardente o exprimia.
Parto eu sozinho pelas ruas solitárias, onde restos de serpentinas suspensas dos fios evocam a alegria morta.
Vou visitar Florbela, olho-a de um banco de madeira que lhe fica em frente, medito com ela. É uma cabeça calma, triste e majestosa. Banha-se de grandeza e gravidade desde a fronte cansada, que verga sobre as mãos em repouso, até às espáduas largas, em que o pescoço se espraia. Sinto que ela prevaleceu sobre a melancolia dos séculos e que chegou até nós para nos dar testemunho. Não está bem ali, rodeada de lirismo. E imagino-a num limite da cidade, frente à planície deserta, num alto pedestal, tocando os astros...
Adeus Reitor. Até um dia, até sempre. Levo nos meus olhos, para a vida inteira, estes claustros, este silêncio, estas ruínas...
Obrigada, engenheiro, ex-primeiroministro,apesar-de-tudo cidadão, josé sócrates, agradeço-lhe o ter-me motivado para ver a évora do além tejo, uma cidade muito além de si...
Obrigada, senhores promotores do cante alentejano, agradeço-vos o terem-me motivado para re-sentir a beleza trágica da planície do além tejo, um verdadeiro poema além do cante...
A pacificação que a conduziu à planície alentejana impeliu-a a ceder a florbela, ao seu reino de além dor ...
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Porque eu só quero ir Aonde eu não vou Porque eu só estou bem Aonde não estou Mostra-me o avesso da tua alma Conhecê-lo é tudo o que eu preciso Para poder gostar mais dessa luz falsa Que ilumina as arcadas do teu sorriso
Além da taprobana, além do mar, além da terra, além do tejo, além da dor, além de mim...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Fim
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