Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Flirts, enamoramentos e paixões...

Flirts...

Por vezes, cogita que é injusta para com com os linguistas e vai ter de se redimir...
Como queria rezar o ato de contrição, fez uma descoberta surpreendente: existe a versão "grande" e a versão "pequena".A versão contraída do ato de contrição deve ser para devotos apressados...

Ato de Contrição Grande - Meu Deus,porque sois infinitamente bom e vos amo de todo o meu coração,pesa-me de vos ter ofendido e, com o auxilio da vossa divina graça, proponho, firmemente,emendar-me e nunca mais vos tornar a ofender; peço e espero perdão das minhas culpas pela vossa infinita misericórdia.Ámen.

Ato de Contrição Pequeno- Meu Deus, porque sois tão bom,tenho muita pena de vos ter ofendido, ajudai-me a não tornar a pecar.

( A pontuação foi corrigida porque,pelos vistos, a santa madre igreja só gosta de pôr os pontos nos is relativamente ao uso de preservativo e pontos finais nas relações homossexuais ou simplesmente sexuais, não cuidando, como lhe competia, das vírgulas. Desprezar as vírgulas e adorar pontos não me parece caridade cristã, mas decidiu falar de linguistas e não se quer afastar do seu propósito, embora já o tenha feito...)

Optou pelo Ato de Contrição Grande porque não pactua com abreviações simplistas - deus até pode não concordar- e tem de reconhecer que,se não fossem os linguistas, que leu apaixonadamente em jovem, não seria o que é...O seu primeiro e amor foi ....Saussure. Teve,é certo, uns flirts semióticos, mas meros significantes , sem significado...

Há quanto tempo não pensava em to flirt: O tom perfeito da sociedade inglesa inventou uma palavra que não há nem pode haver noutras línguas, enquanto a civilização não as apu­rar. To flirt é um verbo inocente que se conjuga ali entre os dois sexos, e não significa namorar — palavra grossa e absurda que eu detesto - não significa "fazer a corte”; é mais do que estar amável, é menos do que galantear, não obriga a nada, não tem consequências, começa-se, acaba-se, interrompe-se, adia-se, continua-se ou descontinua-se à von­tade e sem comprometimento. Eu flartava nós flartávamos, eles flartavam. E não há mais doce nem mais suave entretenimento de espírito do que o flartar...

É uma curiosidade linguística interessante que, após o predomínio, nos séculos XVI e XVII, dos empréstimos castelhanos, das penetrações, no século XVIII, de italianismos e de galicismos, de um século XIX / XX marcados, sobretudo, por galicismos, o anglicismo flirt tenha sido uma exceção, muito antes da invasão de estrangeirismos de língua inglesa, sobretudo a partir do último quartel do século XX.
Terá de confirmar, mas julga que a origem estará no excerto transcrito de garrett... Seja qual for a razão , o facto indubitável é que, em tempo de francesismos, se tinham flirts e, no reinado dos anglicismos, to flirt, como que por magia, se desvaneceu, tendo sido substituído por curtir , "palavra grossa e absurda que detesta."
Imagine-se uma publicação sobre curtições semióticas!! Até parecia título de filme pornográfico...
Profetizou bem garrett: O tom perfeito da sociedade inglesa inventou uma palavra que não há nem pode haver noutras línguas, enquanto a civilização não as apu­rar...


Sempre se interrogou sobre a forma como acontece o enamoramento entre dois cegos. Acredita no amor platónico, mesmo sem saber exatamente o que seja, mas confunde-A como decorrerão os primeiros contactos. O que substitui a figura, a expressão, o sorriso, o olhar, as mãos, tudo o que se vê quando olhamos para o ser amado? Será que tudo isso se torna irrelevante? O amor entre os cegos será similar às novas formas de contactos meramente virtuais, propiciadas pelas novas tecnologias? Nas raras vezes em que vénus se sobrepôs a atena, existiu sempre uma descoberta súbita: num certo dia olhOU para uma pessoa, que estava farta de ver, e sentiu um verdadeiro deslumbramento... Se fosse cega, o que substituiria esse fascínio revelador?
O enamoramento entre cegos pode até ser fácil de explicar: valoriza o tom de voz, o cheiro, o toque... As sensações visuais são supridas por todas as outras... Nunca existirá, certamente, é "amor à primeira vista"...

Imaginou-se na casa dos cegos de saramago. Que facetas escondidas revelaria? Como seria o seu encontro contigo? Reconhecer-se-íam? Ignora o recorte do teu rosto, nunca o sentiu. Não recorda o som da tua voz. Desconhece o teu cheiro. Se ocultassem todos os elementos identificadores, reconhecer-se-iam? Gostar - se -iam? Se tu falasses, ela sentir-te-ia? Será que as suas palavras te eram familiares? Conheces o som da sua voz? Será que, sem visão, como dizem, os outros sentidos ficam mais apurados e ela, afinal, se tocasse o teu rosto, o identificava? O teu cabelo é grosso ou fino, é áspero ou macio? As coisas em que nunca reparamos só porque temos olhos...Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara. Enquanto te pude olhar, não te vi. Enquanto te pude ver, não reparei.
Durante o escasso tempo que dormiu,sonhou que estava cega e que se debatia com a angústia de te sentir, mas sem conseguir saber onde estavas. Só ouvia um riso, um riso cruel, que se afigurava familiar, mas acordou, sem te reconhecer, com os olhos cheios de lágrimas..

Pela primeira vez, aos quinze anos, contactou com a palavra enamoramento...(Confessa que se imaginei aónia ou arima ,personagens da menina e moça, e que um cavaleiro a amaria serena, mas intensamente, cativado, de modo súbito e inexplicável, pela beleza da sua alma, pela auréola mágica que via em mim. Bem pôde esperar...Também nunca encontrei nenhum cavaleiro que lhe agradasse...)

O enamoramento é um estado emocional em que sentimos alegria e satisfação. É um processo que, implicando a ação de diversos elementos, começa no córtex cerebral, passando depois para o sistema endócrino,convertendo-se em respostas fisiológicas. Ao conhecer alguém por quem se sente atraído, o ser humano experiencia uma série de alterações químicas e psicológicas. Ao accionar os mecanismos de sedução, a pessoa conjuga o seu instinto animal (inconsciente) com a capacidade própria da nossa espécie. Por outro lado, o amor (principalmente, nos primeiros tempos) abastece-se fundamentalmente de química: a feniletilamina obriga a dopamina ou a norepinefrina a segregar, provocando assim um efeito de euforia natural sempre que a pessoa está junto do objeto do amor. Embora sejam conceitos próximos, há que distinguir o enamoramento (a atracção e paixão) do amor (um sentimento em que a pessoa necessita da presença da outra).

Tornaram‑se quase uma obrigação. Não, a palavra não é adequada para o que nos proporciona prazer e sossego. Talvez numa superstição, mas nem isso: não era que eu acreditasse que o dia me ia correr mal se não partilhasse com eles o pequeno‑almoço,isto é, à distância; acontecia apenas que o iniciava de ânimo mais abatido ou com menos optimismo sem a visão que me ofereciam diariamente, a qual era a do mundo em ordem, ou, se se preferir, em harmonia...
Naquele último dia em que a mulher dele e eu o vimos não puderam jantar juntos. Nem sequer almoçaram. Ela esperou por ele vinte minutos sentada a uma mesa de restaurante, admirada mas sem nada recear, até que tocou o telefone e acabou o seu mundo, e nunca mais tornou a esperar por ele.
Era uma daquelas frases que as pessoas dizem quando se despedem e de que se esquecem depois da despedida. Eu não voltaria à sua memória, era apenas uma jovem prudente que conhecia de vista, e mais nada, e de outra vida. E já nem sequer era jovem.

E, entrando, viu a senhora Aónia, que em grande extremo era formosa, soltos os seus grandes cabelos, que toda a cobriam, e parte deles molhados em lágrimas que o seu rosto por algumas partes descobriam. Foi logo trespassado do amor dela, sem haver quem, por parte de outrem, fizesse defesa alguma...

E porque ainda ele não tinha determinado consigo querer Arima bem de Amor” (querendo-lhe já sem o ter determinado) como anojado de si consigo, muitas vezes fazia por dormir. E não cria ele que uma vez só que vira a Arima, lhe podia ocupar tanto o tempo e tanto o cuidado que lhe tolhesse o sono. Mas não era assim como ele cria: tamanho poder sobre ele, só foi dado a um só pôr de olhos e abaixar!

Neste enigmática novela sentimental, a primeira em língua portuguesa, assistimos ao despertar da consciência dos mecanismos psíquicos que desencadeiam as paixões e os impulsos afetivos, sendo o homem perspetivado, não como o típico cavaleiro andante, lutador e enérgico, mas como um ser delicado, com sensibilidade feminina, um cavaleiro estático, dominado pelo sentimento amoroso ... Nesta narrativa , de conteúdo platónico, o Amor é o Desejo despertado pela Beleza...



Existe entre nós os dois algo melhor do que o amor: a cumplicidade.

Paixões...
Quem procura o prazer pelo prazer jamais se sentirá satisfeito. O homem só poderá ser feliz se aprender a dominar as suas paixões. O prazer implica dor.... Quem o procura só pode encontrar infelicidade, sofrimento, fazendo também sofrer os outros.Nunca terá amigos, mas apenas aduladores ou os que o odeiam.

O ser humano não consegue viver sem paixão.(...)E o ser humano tenta, por todos os meios, pela droga, pela ilusão, pela sugestão, pela crença, pela convicção, por vezes apenas recorrendo ao efeito simplificador da estupidez, criar um estado semelhante àquele. Acredita nas ideias, não por elas às vezes serem verdadeiras, mas porque tem de acreditar em alguma coisa. Porque tem de manter os afectos em ordem. Porque tem de tapar com alguma ilusão o buraco entre as paredes da vida, para não deixar que os seus sentimentos se espalhem ao vento. O caminho certo seria o de, em vez de se entregar a estados ilusórios, procurar, pelo menos, as condições da autêntica paixão.

Paixão - 1. Impressão viva 2.Perturbação ou movimento desordenado do ânimo 3. Grande inclinação ou predileção 4. Afeto violento, amor ardente 5. O objeto desse amor 6. Pena, cuidado, trabalho 7. Grande desgosto, grande pesar 8. Parcialidade 9. Sofrimento ou martírio (falando-se de Cristo ou dos santos martirizados) 10. Parte do Evangelho que narra a Paixão de Cristo 11. [Filosofia] Impressão recebida de um agente 12. [Portugal: Aveiro] Cada uma das estacas em que se arma o botirão.
Compaixão1. Sentimento benévolo que nos inspira a infelicidade ou o mal alheio 2. Dó; lástima; piedade.

Conheço, desde há muito, a etimologia destes dois nomes não-contáveis...
(Há o seu quê de bizarria incontável nesta nova terminologia gramatical: substantivos abstratos seria óbvio demais? Não teria a designação aquele quid hermético e esotérico que os falsos intelectuais consideram dar dignidade ao discurso científico? Será um sintoma inequívoco da mediocridade pindérica dos pretensos linguistas portugueses que se degladiam, histérica e esterilmente, pretendendo garantir a supremacia à escola de Coimbra ou à de Lisboa, em polémicas verdadeiramente clubísticas? Quem sabe) Como também tenho direito a produções divergentes, vou designá-los por nomes incontáveis...

Sempre me incomodou o facto de um prefixo poder retirar à palavra primitiva o seu significado, violando-a, apropriando-se dela sem piedade, a compaixão não teve qualquer compaixão pela paixão, o que é um paradoxo,apesar de linguisticamente explicável.A paixão evolui semanticamente,enriquece-se, repaganiza-se, enquanto a compaixão permanece vinculada à matriz inicial, mas deturpada pelo cristianismo.
Repare-se que, na generalidade dos dicionários, o sentido de sofrimento nunca surge nos primeiros lugares....É assim e, provavelmente, a clivagem profunda entre os apaixonados por e os que sentem compaixão por manter-se-á. Por comodidade, já que inovei nos nomes incontáveis, vou criar o adjetivo compaixonado, para melhor estabelecer a antítese relativamente ao apaixonado...

É pela mão dos trovadores medievais que, no século XIII,a paixão se erotiza: Esta paixon sofro por teu amor, lamenta Afonso X.
Será desnecessário percorrer as diferentes fases da vida da paixon, que, definitivamente se fixou como um afeto intenso por algo, alguém ou alguma coisa... Um destino de glória ascendente, ao contrário da compaixão que chega a originar a morte de Deus: Tu, Zaratustra, tu foste o primeiro a assinalar o perigo da compaixão...tu mesmo defende-te da tua própria compaixão(...) A compaixão de Deus não conhecia o pudor; insinuava-se nas pregas mais imundas,esse curioso,esse indiscreto,esse maníaco da compaixão; foi realmente necessário que morresse..
Deus - um maníaco da compaixão...que síntese sublime!

Os compaixonados são seres inferiores, destruídos pela sua própria piedade; só os apaixonados podem ser homens superiores, mesmo que pareçam loucos, como o beloved D.Juan del Marco... Posso ser acusada de muita coisa, mas compaixonada nunca fui, não sou nem serei...

Opiniões...

Na sua primeira paixão, a mulher ama o amante; em todas as outras, ela gosta é do amor. - goethe
A única diferença entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho dura um pouco mais....- wilde
As nossas paixões são verdadeiras fénixes. Quando a mais antiga arde, renasce uma nova das cinzas da primeira.- byron
O amor não é senão o desejo; e assim, o desejo é o princípio original de que todas as nossas paixões decorrem, como os riachos da sua origem; por isso, sempre que o desejo de um objecto se acende nos nossos corações, pomo-nos a persegui-lo e a procurá-lo e somos levados a mil desordens. - cervantes
Nada existe de grandioso sem paixão.- hegel


Mas dizer que vamos falar de paixão não esclarece grande coisa: na realidade, não estamos a fazer nada mais do que nomear o caos... Porque a paixão, e este é o segundo traço fundamental, é uma espécie de sonho que se deteriora em contacto com a realidade..." É que eu não aprendo", queixa -se o amante sofredor. E ele está certo, porque o amor permanece impermeável à experiência.


Em 1890, um gigante corpulento e pálido entrou num café de Paris e aproximou-se do maestro da pequena orquestra que animava o local: 'Estou a escrever uma obra sobre uma mulher que dança, de pés descalços, sobre o sangue do homem por quem estava desesperadamente apaixonada, e que ela matou', explicou com refinada educação: 'Vocês poderiam tocar alguma coisa que se adequasse a isso?' Os músicos, ao fim e ao cabo parisienses do fim do século, acharam a solicitação normal e interpretaram uma peça tão terrível e agonizante que os frequentadores do café, espantados, interromperam as suas conversas. O homenzarrão ouviu a tenebrosa melodia, com visível satisfação e, no fim, voltou ao seu quarto para continuar a escrever. Tratava-se de Oscar Wilde, e a obra era Salomé.

Liz tentou o suicídio, Sybil (então mulher de Burton) tentou suicidar-se, Richard suicidava -se um pouco todos os dias, bebendo inacreditáveis quantidades de álcool. Há paixões assim, baseadas em sucessivos espasmos de carinho e de agressão. Na crispação e no êxtase contínuos.

No decorrer dessa mesma semana Tolstoi teve a cruel e original ideia de que a noiva lesse todos os seus diários íntimos, para saber com quem se ia casar. E a pobre Sónia, ainda uma menina, teve que engolir as escabrosas revelações de um senhor de 34 anos a quem mal conhecia.

Ela [Cleópatra] entrou para a história pela mão de um génio como Júlio César, mas sem dúvida era uma mulher extraordinária.(...) Ele [Marco António], pelo contrário, entrou para a história graças a Cleópatra: sem a rainha do Egipto, hoje não recordaríamos aquele romano ignorante.

Um bom presente de natal para um leitor ou, melhor, para uma leitora não muito exigente... só isso. Diz bem, escreve bem, investiga bem, conhece bem, mas não me surpreende. Aprendem-se coisas,tem dignidade mais do que suficiente para ser oferecido por mim, mas só isso..Já devia saber que andar atrás de paixões não dá bom resultado, mas não aprendo...

A avestruz não aspira a erguer-se nos ares, expondo-se a uma exemplar queda: deixa descobrir pouco a pouco a beleza das suas plumas. E... se tiverdes paixões, não as ponhais à vista, por mais nobres que vos pareçam. Não se deve consentir a todos o acesso ao nosso próprio coração. Um silêncio cauto e prudente é o cofre da sensatez.

O que eu fazia,em casa, sobretudo era ler. Queria que as impressões exteriores viessem abafar o que fervia sem parar no fundo de mim. E as únicas impressões exteriores para mim vinham da leitura. A leitura, escusado será dizê-lo, ajudava-me muito- apaixonava-me, preenchia-me, torturava-me.(...) As minhas pequenas paixões eram agudas, inflamadas, por causa de eu ser sempre doentiamente irritadiço. Havia uns repentes histéricos, com lágrimas e convulsões. Fora da leitura, não havia nada para mim- ou seja, não tinha nada à minha volta que pudesse admirar e que pudesse arrastar-me.

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