Comédias...
Passo por uma rua e estou vendo na face dos transeuntes, não a expressão que eles realmente têm, mas a expressão que teriam para comigo se soubessem a minha vida, e como eu sou, se eu trouxesse transparente nos meus gestos e no meu rosto a ridícula e tímida anormalidade da minha alma.
Ah que bom que era ir daqui de caída Prà cova por um alçapão de estouro! A vida sabe-me a tabaco louro. Nunca fiz mais do que fumar a vida. E afinal o que quero é fé, é calma, E não ter estas sensações confusas. Deus que acabe com isto! Abra as eclusas — E basta de comédias na minh’alma!
Trés bien ensemble...
Was there something more I could have done?
I don't know how you were diverted you were perverted too I don't know how you were inverted no one alerted you...
Crazy, I'm crazy for feeling so lonely.I'm crazy, crazy for feeling so blue...
Help me ... Esta sequência musical seria adequada para uma comédia romântica de inferior qualidade... Quando lhe dá para um absurdo sentimentalismo, desmerece-se e ofende a sua racionalidade...Que fazer? Apeteceu-le ouvir...Deixá-la...
Uma das raras comédias românticas de que gostou...
I’m just a girl… standing in front of a boy… asking him to love her
Se belo foi como é agora bruto e contra quem o fez o olhar lhe brilha, bem deve proceder só dele o luto.Oh, quanto me pareceu grã maravilha quando três faces vi em sua testa! A da frente vermelha se encorrilha; e cada uma das outras, junta a esta, em meio a cada ombro se encavala, e as três se vão juntar na crista infesta:e amarelece a destra em branco rala; a sinistra de ver era tal, quais
os que o Nilo percorrem vala a vala.De cada uma sai par de asas tais, quanto o pássaro há-de carecê-lo: velas do mar assim não vi jamais.Não tinham penas, mas a modo o pêlo seria de morcego; e as agitava, do que três ventos dava em atropelo: e já Cocito todo enregelava. Com seis olhos chorava e aos mentós rente baba sangrenta é ranho gotejava.De cada boca esfacelava a dente um pecador, ripando-lhe a medula, e a cada um de três punha dolente.Era ao da frente a mordedura nula à esfola comparada, que a carne sem pele em carne viva toda ondula.«É a alma que há no cimo maior pena» ...
O Senhor De Nueil, embora escutando a voz de sua interlocutora, não lhe prestara mais atenção. Estava absorto em mil fantasias. Existira outro termo para exprimir os atrativos duma aventura, no momento em que ela sorri à imaginação, no momento em que a alma concebe vagas esperanças, pressente inexplicáveis felicidades, temores, acontecimentos, sem que nada ainda alimente nem fixe os caprichos dessa miragem ? O espírito então adeja, concebe projetos impossíveis e faz germinar as alegrias de uma paixão. Mas talvez que o germe da paixão a contenha inteiramente, como uma semente contém uma bela flor com seus perfumes e seu rico colorido.
Venha aqui ,que será sempre recebido como um vizinho com desejo viver em boas relações ;mas tenho muito apreço à minha solidão para prejudicá-la com uma dependência qualquer .
..Um facto digno de se notar , e que entretanto não foi notado ,é o modo por que submetemos muitas vezes os nossos sentimentos a uma vontade, o quanto assumimos uma espécie de compromisso com nós mesmos ,e como criamos a nossa sorte;a parte do acaso nisso não é tão grande quanto acreditamos.
.....E ai tive que reconhecer o pouco sucesso que obtém a princípio a verdade .A mentira é uma arma decisiva nos casos em que a celeridade deve salvar as mulheres e os impérios.
O desejo do homem é um silogista que por essa ciência exterior deduz os secretos teoremas da voluptuosidade. O espírito a si mesmo diz,sem palavras: " uma mulher que sabe criar-se tão bela deve ter muitos outros recursos na paixão ".E é verdade .As mulheres abandonadas ,são as que amam, as conservadoras,são as que sabem amar
O desconhecido -De onde vem ele? Essa pergunta foi-lhe assoprada ao ouvido por aquele poder que não é a consciência, que não é o demónio, que não é o anjo ,mas que vê, pressente,mostra -nos o desconhecido ,faz crer em seres morais ,em criaturas nascidas no nosso cérebro ,que vão e vêm e vivem na esfera invisível das ideias...
À barca, à barca, senhores! Oh! que maré tão de prata! Um ventozinho que mata e valentes remadores!
Diabo- À barca, à barca, houlá! que temos gentil maré! - Ora venha o carro a ré!
Companheiso - Feito, feito! Bem está! Vai tu muitieramá, e atesa aquele palanco e despeja aquele banco, pera a gente que virá. À barca, à barca, hu-u! Asinha, que se quer ir! Oh, que tempo de partir, louvores a Berzebu!
Anjo - Quem és tu? Parvo - Samica alguém.
Anjo - Tu passarás, se quiseres; porque em todos teus fazeres per malícia nom erraste. Tua simpreza t'abaste pera gozar dos prazeres.Espera entanto per i: veremos se vem alguém, merecedor de tal bem, que deva de entrar aqui.
Anjo- Ó cavaleiros de Deus, a vós estou esperando, que morrestes pelejando por Cristo, Senhor dos Céus! Sois livres de todo mal, mártires da Santa Igreja, que quem morre em tal peleja merece paz eternal.
E assi embarcam.
O barco vai de saída Adeus ó cais de alfama Se agora vou de partida Levo-te comigo ó cana verde Lembra-te de mim ó meu amor Lembra-te de mim nesta aventura P'ra lá da loucura P'ra lá do equador
Não gosto de gil vicente, irritam-me anjos e diabos... Até talvez , tal como carlos da maia, embirre particularmente com anjos. Desprezo tanto o paraíso como o inferno...Gosto dos pink floyd, gosto deste endless river: os contrários atraem-se
A barca do inferno fez-me recordar a noite da má língua e o incomparável alberto pimenta e o mais incomparável ensaio sobre o filho da puta e todos os incomparáveis filhos da puta que pululam neste país...
Estimados Compatriotas:
Acerca do filho-da-puta, como acerca de muitas outras coisas, correm neste país as mais variadas lendas. Há até quem seja de opinião de que o filho-da-puta a bem-dizer nunca existiu, dado que ele é apenas um modo de mal-dizer. Nada, porém, mais falso. É certo que o filho-da-puta às vezes não passa de um modo de dizer, mas não bastará a simples existência, particular e pública, de tão variados retratos seus, para arrumar com as dúvidas acerca da sua existência real? Pois quem teria imaginação suficiente para inventar tantas e tais variedades de filho-da-puta, caso ele não existisse? Não! O filho-da-puta existe. Em todos os lugares, excepto no dicionário. No dicionário existem variados filhos, entre eles o filho-família, o filhastro e o filhote, mas não existe o filho-da-puta. Em compensação, o filho-da-puta existe em todos os outros lugares. Claro que há lugares que ele de preferência ocupa e onde por conseguinte é mais frequente encontrá-lo; no entanto, exceptuando, como ficou dito, o dicionário, não há lugar onde, procurando bem, não se encontre pelo menos um filho-da-puta. Porque o filho-da-puta existe e está praticamente em toda a parte: na escola e nas repartições, na indústria e no comércio, na cidade e nas serras, na rua e nas casas, e até nos cemitérios. Deste (exceptuando casos antigos ainda hoje falados, ou então muito recentes que deram que falar) pouco se sabe, como é natural. Desgraçadamente, porém, o mesmo sucede com muitos dos outros filhos-da-puta, e é isso mesmo que eu considero uma triste lacuna no nosso saber. Em grande parte dos casos, não se sabe deles mais que o que se sabe dos anjos, ou seja: que são seres de eleição que estão em toda a parte, mas que só por obras revelam a sua existência, a seres igualmente de eleição. É certo e sabido que filhos-da-puta menos sabidos não desgostam de se revelar; ainda neste caso, porém, não é fácil reconhecê-los, pois o filho-da-puta nem sempre usa sinais distintivos e de resto, há filhos-da-puta que vestem bem e outros que vestem mal, filhos-da-puta garridos e filhos-da-puta soturnos, de uniforme e à paisana, de saias e de calças, de barba e sem barba, de bata branca e de bota preta. Nem sequer é fácil saber com segurança se o filho-da-puta tem predilecção por este ou por aquele traje: é certo que ele se mostra mais nuns que noutros, mas usa sempre o seu traje como a arquitectura de uma tragédia; para ele o nu é o ultraje, e por isso é que o filho-da-puta faz o o traje, embora o traje não faça o filho-da-puta.
Enlevos e fantasias...
Há momentos e situações em que o olhar comunica mais que as palavras, isso também é intimidade. Creio que sou capaz de dizer muitas coisas sem falar, é o outro que também tem de compreender e de saber interpretar. Quando se estabelece essa relação de intimidade e de amizade, não é necessário falar. (...) Frequentemente é melhor não o fazer porque as palavras estão muito gastas.
Triste de quem é feliz! Vive porque a vida dura. Nada na alma lhe diz Mais que a lição da raiz Ter por vida a sepultura.
Maybe it was peace at last...
Escuto-me sonhar. Embalo-me com o som das minhas imagens… Soletra-me em recônditas melodias (…) O som de uma frase imageada vale tantos gestos! Uma metáfora consola de tantas coisas! Escuto-me… São cerimoniais em mim… Cortejos… Lantejoulas no meu tédio… Baile de máscaras…Assisto à minha alma com deslumbramento… Caleidoscópio de fragmentadas sequências, de (…) Pompa das sensações demasiado vividas… Leitos régios em castelos desertos, jóias de princesas mortas, por seteiras de castelos, enseadas avistadas... Sonhei que estava num castelo: tudo era como dantes...
Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavaleiros
(Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância),
Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,
Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve,
Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes.
Perdi, antes de nascer, o meu castelo antigo. Foram vendidas, antes que eu fosse, as tapeçarias [d]o meu palácio ancestral. O meu solar de antes da vida caiu em ruína, e só em certos momentos, quando o luar nasce em mim de sobre os juncos do rio, me esfria a saudade dos lados de onde o resto desdentado das paredes se recorta negro contra o céu de azul-escuro-esbranquiçado a amarelo de leite.
Deram-me, para se rirem,
Uma corneta de barro,
Para eu tocar à entrada
Do Castelo do Diabo.
Alguns livros funcionam como uma chave para as salas desconhecidas do nosso próprio castelo.
Jurou não se deixar deter, por nenhuma dificuldade do caminho ou pela preocupação com a volta, na continuação da caminhada: afinal, para poder ser arrastado em frente, as suas energias sem dúvida bastariam. Pois o caminho podia não ter fim? Durante o dia o castelo apresentava-se diante dele como um alvo fácil...
O castelo, cujos contornos já principiavam a desvanecer -se, permanecia silencioso como sempre, nunca ainda K. tinha visto o menor sinal de vida nele, talvez não fosse possível reconhecer alguma coisa daquela distância e no entanto os olhos exigiam isso e não queriam suportar a quietude. Quando K. fitava o castelo, às vezes era como se observasse alguém que estivesse calmamente sentado ali e dirigisse o olhar para a frente, não porventura perdido nos próprios pensamentos e com isso fechado a tudo, mas sim livre e despreocupado: como se estivesse sozinho e ninguém o observasse. Tinha no entanto de notar que era observado, sem que isso afetasse o mínimo que fosse a sua tranquilidade; na realidade – não se sabia se era a causa ou a consequência, os olhares do observador não se podiam fixar e desviavam-se.
Não fales... Aconteces demasiado... Tenho pena de te estar vendo... Quando serás tu apenas uma saudade minha? E eu ter de julgar que te posso ver, é uma ponte velha onde ninguém passa... A vida é isto. Os outros abandonaram os remos... Foram-se os cavaleiros com a manhã e o som das lanças… Teus castelos ficaram esperando estar desertos... Nenhum vento abandonou os renques das árvores ao cimo… Pórticos inúteis, baixelas guardadas, prenúncios de profecias — isso pertence aos crepúsculos posternados nos templos e não agora, ao encontrarmo-nos, porque não há razões para tílias dando sombra senão teus dedos e o seu gesto tardio...
Oh estações, oh castelos!Que alma é sem defeitos? Eu estudei a alta magia Do Amor, que nunca sacia...Ah! Não terei mais desejos: Perdi a vida em gracejos. Tomou-me corpo e alento,E dispersou meus pensamentos. Ó estações, ó castelos! Quando tu partires, enfim Nada restará de mim.Ó estações, ó castelos...
Mas será amor ardente o de uma fósfora e de um palito? Pois muito literalmente incendiou-se o pauzito...
O rapaz com Pregos nos Olhos montou a sua árvore de metal. Parecia muito estranha porque ele realmente via mal.
Mr e Mrs Smith tinham uma boa vida. Faziam um belo casal, feliz e normal.Um dia aconteceu uma coisa bestial: Mrs Smith engravida, , Mr Smith fica ufano. Mas correu algo mal com o rebento de amor: Não tinha nada de humano, era um rapaz robô! Não era quente nem fofo e, sem pele que se visse,era, ao invés,de chapa batida com uma série de ameaaças de cabeças saídas.Tinha um ar molengão, sem morte nem vida.Só parecia vivente com uma grande extensão ligada à corrente.Mr Smith levou a mal: "Sr. Doutor, este não é o meu moço, não é de carne e osso, é de liga e metal." Disse o médico docemente: " Há de parecer-lhe demente, mas não é o senhor o legítimo progenitor deste ser repelente. Não conseguimos determinar o sexo deste horror; mas não há que enganar: o pai era um ferro a vapor." Os Smiths passaram a viver como um casal ressentido. Mrs Smith odiava o marido e este odiava a mulher. Nunca lhe conseguia perdoar o seu pecado mortal: um encontro sexual com um ferro de engomar.
E o Rapaz Robô um homem se tornou. Mas tomavam-no por bicho ou por caixote do lixo.
Sem comentários:
Enviar um comentário