Sente-se única no seu sentir...com uma ansiedade diferente da que consta do dicionário: "Estado psíquico acompanhado de excitação ou de inibição, que implica, por vezes, uma sensação de constrição na garganta..." A sua ansiedade é sempre acompanhada de excitação, quase de euforia; de uma sensação de desconforto, de aperto, de inexplicável, mas , simultaneamente, de prazer. Gostava de se sentir ansiosa: os únicos momentos em que, além de estar, conseguia ser...Mas é um deleite que a esgota e desassossega de uma forma inexplicável. Olha o porvir e o passado, a revolverem-se dentro de si, e fica paralizada de medo e de espanto...
Mas, ainda assim, sempre é belo falar do passado... As horas têm caído e nós temos guardado silêncio. Por mim, tenho estado a olhar para a chama daquela vela. Às vezes treme, outras torna-se mais amarela, outras vezes empalidece. Eu não sei por que é que isso se dá. Mas sabemos nós... por que se dá qualquer cousa?... Se no passado se vê o futuro, e no futuro se vê o passado, segue-se que no passado e no futuro se vê o presente, porque o presente é futuro do passado, e o mesmo presente é o passado do futuro.
Os deuses condenaram Sísifo a empurrar incessantemente uma rocha até o alto de uma montanha, de onde tornava a cair pelo seu próprio peso. Pensaram, com certa razão, que não há castigo mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.
Mas, em verdade, o que chora Na minha amarga ansiedade Mais alto que a nuvem mora, Está para além da saudade.Não sei o que é nem consinto À alma que o saiba bem Visto da dor com que minto Dor que a minha alma tem.
Tomara poder desempenhar-me, sem hesitações nem ansiedades, d'este mandato subjectivo cuja execução por demorada ou imperfeita me tortura e dormir descansadamente, fosse onde fosse, plátano ou cedro que me cobrisse, levando n'alma como uma parcela do mundo, entre uma saudade e uma aspiração, a consciência de um dever cumprido.
Mas dia a dia o que vejo em torno meu me aponta novos deveres, novas responsabilidades da m[inha] inteligência para com o meu senso moral. Hora a hora a (...) que escreve as sátiras surge colérica em mim. Hora a hora a expressão me falha. Hora a hora a vontade fraqueja. Hora a hora sinto avançar sobre mim o tempo. Hora a hora me conheço, mãos inúteis e olhar amargurado, levando para a terra fria uma alma que não soube contar, um coração já apodrecido, morto já e na estagnação da aspiração indefinida, inutilizada.
Nem choro. Como chorar? Eu desejaria poder querer (desejar) trabalhar, febrilmente trabalhar para que esta pátria que vós não conheceis fosse grande como o sentimento que eu sinto quando n'ela penso. Nada faço. Nem a mim mesmo ouso dizer: amo a pátria, amo a humanidade. Parece um cinismo supremo. Para comigo mesmo tenho um pudor em dizê-lo. Só aqui lh'o registo sobre papel, acanhadamente ainda assim, para que n'alguma parte fique escrito. Sim, fique aqui escrito que amo a pátria funda, (...) doloridamente.
Seja dito assim sucinto, para que fique dito. Nada mais.
As minhas ansiedades caem Por uma escada abaixo. Os meus desejos balouçam-se No meio de um jardim vertical.
Os jardins imaginários que de longe vislumbramos pertencem aos distraídos insensíveis entes com que os povoamos Sempre ficamos do lado de cá de suas grades desejosos-receosos de as passarmos Sentimos o perfume das rosas que inventamos vemos o esplendor dos frutos que sonhamos Contemplamos na inventada montra dos prazeres as sublimes doçuras que sonhamos sentindo sempre que não somos dignos de fruir de tais gozos Nos proibidos jardins que inventamos nós sombras-fantasmas dum desejo que nos impele em vão nós jamais perturbamos a serenidade de seu eterno impassível Verão
Não falemos mais. As coisas que se amam, os sentimentos que se afagam guardam-se com a chave d'aquilo a que chamamos «pudor» no cofre do coração. A eloquência profana-os. A arte, revelando-os, torna-os pequenos e vis. O próprio olhar não os deve revelar. Sabeis decerto que o maior amor não é aquele que a palavra suave puramente exprime. Nem é aquele que o olhar diz, nem aquele que a mão comunica tocando levemente n'outra mão. E aquele que quando dois seres estão juntos, não se olhando nem tocando os envolve como uma nuvem (...)Esse amor não se deve dizer nem revelar. Não se pode falar dele.
Apenas, vaga Não uma esperança, mas uma saudade Do tempo em que a esperança, como vaga, Dava na praia da minha ansiedade, Me toma e um surdo marulhar meu ser alaga De vacuidade. Mas acordo e com vão Olhar ainda, mas já diferente, Por estar ausente dele o coração, E eu outra vez, nem mesmo descontente, Fito o céu calmo, o campo, a alegre solidão Inconsciente.
É urgente o amor É urgente um barco no mar É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas. É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras. Cai o silêncio nos ombros e a luz impura, até doer. É urgente o amor, é urgente permanecer.
O que é que tens de urgente para me dizer?
Há dias que odeio toda a gente,incluindo eu próprio,incluindo tu.E eu gosto tanto de ti que não te quero odiar...
Toda a vida fui um céptico. Deixei de acreditar no Pai Natal aos seis anos.Em Deus,aos onze. Em mim, aos dezoito.
mmmm ...esqueci-me do que tinha para te dizer...Mas queria dizer-te qualquer coisa que ...ahahah! E acho que foi por isso que vim aqui falar contigo...Porque me lembrava vagamente de ter combinado contigo um dia destes...... isto tudo para dizer que é engraçado...eu nunca me esqueço de ti...A grande diferença entre duas pessoas e um puzzle é a multiplicidade de encaixes que podem ter sem nunca faltar uma peça e assim acabo por dormir descansada. Afinal ainda tenho o meu corpo todo no lugar.
O tempo é como é.Não se deixa comprar.É preciso enganá-lo.
Perguntam-me o que é que eu tenho de urgente para dizer e eu digo, quero viver fora da agenda, isso, quero viver fora da agenda das notícias, não quero encher a cabeça com as prioridades do noticiário, quero dizer estou-me nas tintas para o governo, o ministério da defesa, a oposição, as pensões dos reformados, os problemas na educação, da saúde, do desemprego, o golfinho que foi salvo, a comissão europeia, o presidente, os deputados, o rapaz dos concursos que se queria suicidar, a politica nacional, internacional, o presidente dos eua, o presidenta da rússia, o fundamentalismo islâmico, o terrorista mais procurado do momento.
Quem quer memórias? Memórias para todos os gostos e ocasiões. O senhor quer uma memória? Isto está bom, está novo,pode ter à vontade.Tenho tudo. Tristes,felizes,embaraçosas, ternurentas. É só escolher. O que é que quer? O que é que lhe dá jeito? Eu já não as vou usar, mas a si pode-lhe dar jito.O que é que quer? Sexo,amor,raiva,drama...(...) Eu ando sempre por aqui.E ando sempre a acumular memórias novas. Quer queira, quer não.
Vou esquecendo a nossa história,distraindo-me nas histórias dos dias dos outros onde ficamos como personagens abandonadas de uma telenovela banal. É sempre a realidade que imita a ficção,mas o mundo já não é um palco e os homens e as mulheres já não são senão maus actores a fazerem o seu próprio papel num quotidiano de cordel.
Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos... que se amaram um pouco ... e conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil.
O resto é a vida que nos deixa, a chama que morre no nosso olhar, a púrpura gasta antes de a vestirmos, a lua que vela o nosso abandono, as estrelas que estendem o seu silêncio sobre a nossa hora de desengano. Assídua a mágoa estéril e amiga que nos aperta ao peito com amor.
Acordo de noite, muito de noite, no silêncio todo. São — tictac visível — quatro horas de tardar o dia. Abro a janela directamente, no desespero da insónia. E, de repente (...) Fraternidade na noite! Fraternidade involuntária, incógnita, na noite! Estamos ambos despertos e a humanidade é alheia. Dorme. Nós temos luz. Quem serás? Doente, moedeiro falso, insone simples como eu? Não importa. A noite eterna, informe, infinita, Só tem, neste lugar, a humanidade das nossas duas janelas, O coração latente das nossas duas luzes, Neste momento e lugar, ignorando-nos, somos toda a vida...
Há sensações que são sonos, que ocupam como uma névoa toda a extensão do espírito, que não deixam pensar que não deixam agir, que não deixam claramente ser. Como se não tivéssemos dormido, sobrevive em nós qualquer coisa de sonho, e há um torpor do sol do dia a aquecer a superfície estagnada dos sentidos. É uma bebedeira de não ser nada, e a vontade é um balde despejado para o quintal por um movimento indolente do pé à passagem. Perde-se a possibilidade de dar um sentido ao que se vê, mas vê-se bem o que é, sim. Não é tédio o que se sente. Não é mágoa o que se sente. É uma vontade de dormir com outra personalidade, e esquecer com melhoria de vencimento. Não se sente nada, a não ser um automatismo cá em baixo, a fazer umas pernas que nos pertencem levar a bater no chão, na marcha involuntária, uns pés que se sentem dentro dos sapatos. Nem isto se sente talvez. À roda dos olhos e como dedos nos ouvidos há um aperto de dentro da cabeça. Parece uma constipação na alma. E com a imagem literária de se estar doente nasce um desejo de que a vida fosse uma convalescença, sem andar; e a ideia de convalescença evoca as quintas dos arredores, mas lá para dentro, onde são lares, longe da rua e das rodas. Sim, não se sente nada. Passa-se conscientemente, a dormir só com a impossibilidade de dar ao corpo outra direcção, a porta onde se deve entrar. Passa-se tudo. Que é do pandeiro, ó urso parado? (...) Pobres das esperanças que tenho tido, saídas da vida que tenho tido de ter! São como esta hora e este ar, névoas sem névoa, alinhavos rotos de tormenta falsa. Tenho vontade de gritar, para acabar com a paisagem e a meditação. Mas há maresia no meu propósito, e a baixa-mar em mim deixou descoberto o negrume lodoso que está ali fora e não vejo senão pelo cheiro. Tanta inconsequência em querer bastar-me! Tanta consciência sarcástica das sensações supostas! Tanto enredo da alma com as sensações, dos pensamentos com o ar e o rio, para dizer que me dói a vida no olfacto e na consciência, para não saber dizer, como na frase simples e ampla do Livro de Job «Minha alma está cansada de minha vida!
Recorda, vagamente, ter aprendido, há muitos anos, o princípio dos vasos comunicantes...Acreditou que os contrários se pudessem harmonizar, persuadiu-se que todas as dicotomias seriam superáveis, desde que houvesse " um vaso comunicante"...Julgou que este princípio teria também aplicação às relações humanas... Enganou-se:há mundos incomunicáveis. Há vidas que, por mais elementos de união que construam, por mais cumplicidades que intuam, serão sempre retas paralelas. O que ela vê do lado direito é exatamente o mesmo que outrem vê do lado esquerdo, mas os seus olhares , apesar de se poderem encontrar, episodicamente, nunca superam a barreira que separa um linha da que lhe é paralela: na geometria como na vida.
Há ideias, por exemplo as vagas, que não comportam uma apresentação lúcida. Há sentimentos, por exemplo os desmarcados, que não admitem uma manifestação sóbria. Há pontos em que nem é útil, nem possível ser conciso, como aqueles em que a explanação é de um assunto complexo, ou a demonstração de um assunto controverso, onde as objecções hão-de ser previstas e respondidas, e as diversas formas da interpretação revistas e classificadas.
Resolveu tirar a prova dos 9 e não subsiste qualquer dúvida...Noves fora, nada.... Só que, no seu caso, em vez de noves, é algo diferente...De qualquer modo, as combinações infinitas dos grafemas que a rodeiam são muito mais aliciantes do que noves...Se excluir o alfabeto da sua vida, sem as palavras que lê e que escreve, nada fica.O que mais haveria para ficar? Há palavras proibidas...As piores são as monossémicas, as que só podem ter um significado, unívocas, inevitavelmente, cruéis, porque traduzem uma verdade inquestionável. Esses lexemas são a prova da urgência da desistência...
Desistir...de quê? Em rigor, não tomamos decisões, são as decisões que nos tomam a nós. Não sei se quero descansar, por estar realmente cansada ou se quero descansar para desistir...
When you're dreaming with a broken heart / The giving up is the hardest part...
Decidir -Verbo transitivo. Determinar o que deve ser feito; tomar a resolução de; opinar; emitir voto; escolher; optar.
Parece- lhe bem o dicionário, embora ele devesse explicitar que decidir é sempre abdicar e ,portanto, a não ser para os estóicos, é, inevitavelmente,´sofrer.Não consegue atingir a perfeição de um séneca ou de ricardo reis: não gosta de abdicar, não gosta mesmo. Decidir é sempre demasiado penoso. Detesta decidir, gostava de pairar serenamente acima das decisões, gostava de conseguir ser , ser só...sem pensar, sem decidir, ir estando, ir estando até desaparecer...Que princípio a impele a decidir?
O difícil não é desistir é decidir que se vai desistir.
Desistir - Verbo transitivo e intransitivo. Não insistir. Não querer continuar. Abster-se. Renunciar.
Desistir é renunciar de modo voluntário, não continuar ou não prosseguir com a realização de algo ou de alguma coisa em específico; renunciar a um relacionamento já estabelecido com alguém; mudar de opinião, desdizer.
Desistir de quê? Só se pode desistir do que existe. Se nada existe, não se desiste. Até que esta rima ficou semanticamente interessante. Não fora a decisão de desistir, nunca esta frase lhe teria ocorrido. Desta escrevinhice sem sentido resultou uma assonância, já se considera realizada.
O verbo decidir é transitivo e intransitivo: a prova de que existe problema é que o seu verbo decidir é sempre intransitivo. "O verbo decidir pode ser conjugado na forma pronominal : decidir-se" - pois com ela não..."
Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? Ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça alguma coisa? Como, digamos, o próprio fim do mundo? Ou seja lá o que for, como a minha morte súbita, hipótese que tornaria supérflua a minha desistência?
O costume de cair endurece o corpo, ter chegado ao chão, só por si, já é um alívio, Daqui não passarei.
Saramago salvou-a. Sente-se aliviada: mesmo que não decida, "daqui não passará" e a este aqui sem sentido, a este espaço em que a palavra proibida ocorreu, ela já está habituada...
A noite invadia lentamente a minha inatenção. Despertei de repente para a ver entrada. Flutuavam ainda, nas indecisões da Natureza, ruídos incertos como se as coisas compusessem o manto para adormecer. Tive um outro intervalo comigo próprio. Tornei a meditar sem saber em quê. Quando de novo despertei o silêncio era absoluto — logo invisível de todos os meus sonhos idos e das minhas esperanças mortas, e a minha consciência da vida afundava-se lentamente nele, assumindo, à medida que se afundava, noções novas de possibilidades de compreender a vida sob outros aspectos, vagos terrores e interiores.[…] Tive uma dificuldade física em me crer existente.
Las muchachas que se crían en el campo, como yo, tienen cerradas todas las puertas. Todo se vuelven medias palabras, gestos, porque todas estas cosas dicen que no se pueden saber. Y tú también, tú también te callas y te vas con aire de doctora, sabiéndolo todo, pero negándolo a la que se muere de sed.
También tú me dirás loca. «¡La loca, la loca!» (Ríe.) Yo te puedo decir lo único que he aprendido en la vida: toda la gente está metida dentro de sus casas haciendo lo que no les gusta. Cuánto mejor se está en medio de la calle. Ya voy al arroyo, ya subo a tocar las campanas, ya me tomo un refresco de anís...
Hay una cosa en el mundo que es la mirada. Mi madre lo decía. No es lo mismo una mujer mirando a unas rosas que una mujer mirando a los muslos de un hombre. Ella lo mira.
Y cada mujer la suya. No te pido yo que te quedes. Aquí tengo todo lo que necesito. Tus hermanas me guardan bien. Pan tierno y requesón y cordero asado como yo aquí, y pasto lleno de rocío tus ganados en el monte. Creo que puedes vivir en paz. / Para vivir en paz se necesita estar tranquilo...
Como as gaivotas e as ondas se encontram, nós encontramo-nos e unimo-nos.
Vão-se as gaivotas a voar, vão pairando sobre as ondas; tal como nós...
Procuro não olhar para a janela.. Sei que de lá se vêem, ao longe, montes... Eu fui feliz para além de montes, outrora... Eu era pequenina. Colhia flores todo o dia e, antes de adormecer, pedia que não mas tirassem...
Não sei o que isto tem de irreparável que me dá vontade de chorar...
Devia morrer-se de outra maneira. Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol, a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem, hoje às 9 horas. Traje de passeio".
Pois não era mais humano morrer por um bocadinho,de vez em quando,e recomeçar depois,achando tudo mais novo?
If this was our last song what would we do then? (If) this was our last song what would we say then? If this was our last time what would we do what would we say then?
Julgo que em todos nós há um átomo,importante entre os átomos,constituído por dois grãos de energia que desejariam separar-se. São energias contraditórias, mas indivisíveis. A natureza reuniu-as para sempre,apesar de furiosamente inimigas. Uma delas é o movimento eterno de um um grande eletrão positivo(...) Só existo eu,eu,eu . Quanto ao pequeno eletrão radicalmente negativo(...): Sim, mas há fulano,fulano,fulano. E também sicrano!...Porque o nome está constantemente a mudar.
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