Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Combinações e cedências...

Oh,me...

Would you like to hear my voice Sweetened with emotion Invented at your birth?

Oh,palavras...
Plenilúnio, tremeluzir, bruxuleante: palavras bonitas que ninguém usa...

Oh,you...
...em certas pessoas a busca de coisas menos complicadas é ainda um meio complicado de procurarem dar encanto a um dado momento. Um jogo a sós...

Oh, solilóquios...
O falar alto, só para si, é um excitante intelectual, um devaneio de solitários,sonho ou vingança.Tecem diálogos ao espelho as burguesinhas das vilas,fala o cego para o surdo sobre o mundo que os rodeia...Poetas há,por essas secretarias e repartições,que vagueiam alta noite nas ruas da Baixa a esmiuçarem conversas de sua imaginação.

Oh,metáforas...
Um destino à espera da onda final...correu a vista pelo mar,procurando desviar a memória.

Lamento, mas sou incapaz de confiar numa pessoa que faz riscos indeléveis num livro de uma biblioteca.
Mas quem se atreveria a condenar-me neste mundo sem juiz,onde ninguém, ninguém é inocente...

Nunca tinha tido uma fantasia destas. Como é que aquela mulher intuiu que, algures na minha psique,ela estava à espreita, sem que eu desconfiasse ,à espera de ser libertada?
Não terei a Lua.Oh! como é amargo ter razão e ter de ir até ao fim...

Apeteceu-lhe que o protagonista de A vida em surdina dialogasse com calígula: uma combinação im- possível...


Never regret thy fall,
O Icarus of the fearless flight
For the greatest tragedy of them all
Is never to feel the burning light.


Since I've been loving you
I'm about to lose my worried mind
Said I've been crying, my tears they fell like rain
Don't you hear, don't you hear them falling...




É a linguagem que nos torna humanos,que nos distingue dos animais,por um lado, e das máquinas,por outro,que faz de nós seres com consciência própria, capazes de criar obras de arte, de ciência e o todo da civilização. É a chave que nos permite compreender tudo.( ...)Vivemos imersos no discurso como peixes na água...o discurso tem vindo a dominar as nossas vidas... Nós "comemos" discurso..."bebemos" discurso..."contemplamos" discurso...até quando temos relações sexuais estamos, no fundo, a representar os discursos da ficção erótica...

Foi então que Winifred Holt entrou na sua vida,no início como uma aluna que estava a estudar História de Arte e Linguística. Era uma combinação invulgar,uma vez que não havia grandes pontos em comum entre as duas disciplinas...Na verdade, o único que lhe vinha à cabeça...era a aplicação de Jakobson da sua famosa distinção entre metáfora e metonímia ao surrealismo e ao cubismo. Com trinta e muitos anos ela era uma "aluna madura"...Era alta, grande e com um peito enorme... Mas não foi isso que a fez destacar-se da multidão de alunos quando apareceu nas aulas.Ela era queque e era-o de uma forma tão óbvia e tão gritante, que entrava pelos olhos de toda a gente.Falava como uma queque, comportava-se como uma queque, vestia-se como uma queque...As outras alunas do primeiro ano ...fitavam-na, incrédulas... Tiveram de conduzir a sua relação de uma maneira muito discreta ...e,inicialmente, viram-se obrigados a recorrer a uma grande quantidade de subterfúgios,que intensificaram a excitação e a gratificação do seu romance...Casaram-se pelo civil. Agora ,ela chama-o " meu querido" quase como um insulto...

Um linguista não combina com a surdez.. como pode viver sem ouvir palavras quem vive das palavras e para as palavras?
Que consolo posso eu tirar de Goya e Beethoven? Eram génios e conseguiram encontrar na arte uma espécie de compensação pelo mal que os afligia...Mas não posso dizer que a única coisa que me impediu de entrar em desespero ...foi o meu trablho sobre a Análise do Discurso...

encontrei-me com Alex Loom, como combinado.. Bilhetes de suicídio... É esse o tema do meu doutoramento. Uma análise estilística de bilhetes de suicídio... Será que as pessoas sujeitas a uma pressão tão extremare caem em fórmulas retóricas ou será que o seu desespero as faz transcender os limites normais da capacidade de expressão?

- Quero que seja o professor a orientar-me...
- Mas eu já me reformei... mesmo que estivesse disposto, seria uma ofensa enorme para o professor Butterworth...E a universidade também não concordaria.
- Oh, que desilusão...
- Lamento.


Que classes de palavras predominam nos bilhetes/ cartas de suicídio? Quais os referentes? " Não tenho alternativa .Para que as coisas se resolvam,tenho de morrer... O homem que está deitado ao meu lado não passa de uma infeliz coincidência."

Um suicídio não se realiza através de palavras, ao contrário do que acontece,por exemplo, com o casamento. O nível perlocutório de um bilhete de suicídio é inseparável do ato ilocutório- o efeito que se pretende que se exerça naqueles que o lêem.Se ....fizermos uma leitura literária do documento deixado por um suicida,o contexto confere uma pungente eficiência ao estilo ingénuo - até os erros adquirem uma certa eloquência. "Estou completamente só."poderia ser uma frase de G. Manley Hopkins.As falhas de pontuação traduzem a urgência da aflição e o estado confuso da mente, produzindo um efeito de corrente de consciência e...o uso de verbos no presente cria uma intensidade narrativa cada vez maior... A carta termina do seguinte modo" Tenho tanto frio,por favor, ajudem-me...Estou desfeita .Alguém que faça alguma coisa.
Nota : a autora desta carta sobreviveu a uma overdose e " andou com a vida para a frente."

Há incidentes que provocam daquelas minhas crises...a que sou cada vez mais propenso e que são suscitadas por fenómenos como o Big Brother,a utilização de palavrões...anés vibradores para o pénis...gente bêbada a vomitar no centro da cidade e quimioterapia para cães e gatos...

O dinheiro é belo, porque é uma libertação.


Your lovin' gives me a thrill But your lovin' don't pay my bills Now give me money That's what I want That's what I want, yeah That's what I wan

Veja agora o juízo curioso Quanto no rico, assi como no pobre, Pode o vil interesse e sede imiga Do dinheiro, que a tudo nos obriga.(...) Este corrompe virginais purezas, Sem temer de honra ou fama alguns perigos; Este deprava às vezes as ciências, Os juízos cegando e as consciências.

A oportunidade é como o dinheiro, que, aliás, não é mais que uma oportunidade. Para quem age, a oportunidade é um episódio da vontade, e a vontade não me interessa. Para quem, como eu, não age, a oportunidade é o canto da falta de sereias. Tem que ser desprezado com volúpia, arrumado alto para nenhum uso. Ter ocasião de...

Bem sei que tudo é natural Mas ainda tenho coração... Boa noite e merda!...(Estala, meu coração!) (Merda para a humanidade inteira!) Na casa da mãe do filho que foi atropelado, Tudo ri, tudo brinca. E há um grande ruído de buzinas sem conta a lembrar Receberam a compensação: Bebé igual a X, Gozam o X neste momento, Comem e bebem o bebé morto, Bravo! São gente! Bravo! São a humanidade! Bravo: são todos os pais e todas as mães Que têm filhos atropeláveis! Como tudo esquece quando há dinheiro. Bebé igual a X. Com isso se forrou a papel uma casa. Com isso se pagou a última prestação da mobília. Coitadito do Bebé. Mas, se não tivesse sido morto por atropelamento, que seria das contas? Sim, era amado. Sim, era querido Mas morreu. Paciência, morreu! Que pena, morreu! Mas deixou o com que pagar contas E isso é qualquer coisa. (É claro que foi uma desgraça) Mas agora pagam-se as contas. (É claro que aquele pobre corpinho Ficou triturado) Mas agora, ao menos, não se deve na mercearia. (É pena sim, mas há sempre um alívio.) O bebé morreu, mas o que existe são dez contos. Isso, dez contos. Pode fazer-se muito (pobre bebé) com dez contos. Pagar muitas dívidas (bebezinho querido) Com dez contos. Pôr muita coisa em ordem (Lindo bebé que morreste) com dez contos. Bem se sabe é triste (Dez contos) Uma criancinha nossa atropelada (Dez contos) Mas a visão da casa remodelada (Dez contos) De um lar reconstituído (Dez contos) Faz esquecer muitas coisas (como o choramos!) Dez contos! Parece que foi por Deus que os recebeu (Esses dez contos). Pobre bebé trucidado! Dez contos.

Pobres semideuses marçanos que ganham impérios com a palavra e a intenção nobre e têm necessidade de dinheiro com o quarto e a comida! Parecem as tropas de um exército desertado cujos chefes houvessem um sonho de glória, de que a estes, perdidos entre os limos de pauis, fica só a noção de grandeza, a consciência de ter sido do exército, e o vácuo de nem ter sabido o que fazia o chefe que nunca viram. Assim cada um se sonha, um momento, o chefe do exército de cuja cauda fugiu. Assim cada um, entre a lama dos ribeiros, saúda a vitória que ninguém pôde ter, e de que ficou como migalhas entre nódoas na toalha que se esqueceram de sacudir...

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