Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

domingo, 24 de janeiro de 2016

Talvez lucidez...

REVER




Cansa sentir quando se pensa.

Uivemos, disse o cão. (Preferiu miar...)

Os comentadores que nas várias televisões acompanhavam o processo eleitoral,dando palpites à falta de dados seguros de apreciação,inferindo do voo e do canto das aves a vontade dos deuses, lamentando que já não esteja autorizado o sacrifício de animais para nas suas vísceras ainda palpitantes decifrar os segredos de cronos e do fado,despertaram subitamente do torpor em que as perspectivas mais do que sombrias do escrutínio os haviam feito soçobrar.

o voto em branco é uma manifestação de cegueira tão destrutiva como a outra. Ou de lucidez, disse o ministro da justiça, Quê, perguntou o ministro do interior, que julgou ter ouvido mal, Disse que o voto em branco poderia ser apreciado como uma manifestação de lucidez por parte de quem o usou, Como se atreve, em pleno conselho do governo, a pronunciar tamanha barbaridade antidemocrática, deveria ter vergonha, nem parece ministro da justiça, explodiu o da defesa, Pergunto-me se alguma vez terei sido tão ministro da justiça, ou de justiça como neste momento

O cão veio a correr lá de dentro ,fareja e lambe a cara da dona,depois estica o pescoço para o alto e solta um uivo arrepiante que outro tiro imediatamente corta.Então um cego perguntou,Ouviste alguma coisa,Três tiros respondeu o outro,Mas havia também um cão aos uivos,Já se calou,deve ter sido o terceiro tiro,Ainda bem, detesto ouvir os cães a uivar.

Coachem, cacarejem: nem para uivar têm lucidez...

Decididamente, fomos, somos e seremos um povo errado. Um povo que não encontra nem o seu destino, nem os seus homens.

Lucidez - s.f. Estado da pessoa lúcida, que compreende bem, que expressa as suas ideias com clareza, que utiliza perfeitamente as suas faculdades mentais; Clareza; grande percepção; capacidade para entender ou expressar -se claramente; Claridade; Transparência; aquilo que admite a passagem da luz. Período de sanidade entre momentos de insanidade ou de confusão mental.

Tendo visto com que lucidez e coerência lógica certos loucos (delirantes sistematizados) justificam, a si próprios e aos outros, as suas ideias delirantes, perdi para sempre a segura certeza da lucidez da minha lucidez.

Há ideias, por exemplo as vagas, que não comportam uma apresentação lúcida. Há sentimentos, por exemplo os desmarcados, que não admitem uma manifestação sóbria. Há pontos em que nem é útil, nem possível ser conciso, como aqueles em que a explanação é de um assunto complexo, ou a demonstração de um assunto controverso, onde as objecções hão-de ser previstas e respondidas, e as diversas formas da interpretação revistas e classificadas.bEu não defendo a falta de lucidez, a falta de sobriedade, ou a falta de concisão. Quero, porém, indicar que essas qualidades, sendo naturais no pagão, não são essenciais nele. Era preciso que não houvesse confusão neste respeito.

CARNAVAL
A vida é uma tremenda bebedeira. Eu nunca tiro dela outra impressão. Passo nas ruas, tenho a sensação De um carnaval cheio de cor e poeira... A cada hora tenho a dolorosa Sensação, agradável todavia, De ir aos encontrões atrás da alegria Duma plebe farsante e copiosa... Cada momento é um carnaval imenso Em que ando misturado sem querer. Se penso nisto maça-me viver E eu, que amo a intensidade, acho isto intenso De mais... Balbúrdia que entra pela cabeça Dentro a quem quer parar um só momento Em ver onde é que tem o pensamento Antes que o ser e a lucidez lhe esqueça...(...) Uma pândega esta existência toda... Que embrulhada se mete por mim dentro E sempre em mim desloca o crente centro Do meu psiquismo, que anda sempre à roda... E contudo eu estou como ninguém De amoroso acordo com isto tudo... Que tipos! Que agradáveis e antipáticos! Como eu sou deles com um nojo a eles! O mesmo tom europeu em nossas peles E o mesmo ar conjuga-nos Tenho às vezes o tédio de ser eu Com esta forma de hoje e estas maneiras... Gasto inúteis horas inteiras A descobrir quem sou; e nunca deu Resultado a pesquisa...


Memórias de pensar vivem em mim Desordenadamente desconexas Num atordoamento do meu ser. A lucidez horrorosa d'outrora (E outrora era ontem) já não tenho; Mas sinto-a, não sei como, nesta surda Nocturna confusão aglomerada De (...) e porções de pensamento.

Cansa sentir quando se pensa. No ar da noite a madrugar Há uma solidão imensa Que tem por corpo o frio do ar. Neste momento insone e triste Em que não sei quem hei de ser, Pesa-me o informe real que existe Na noite antes de amanhecer.


Põe-me o braço no ombro Eu preciso de alguém Dou-me com toda a gente E não me dou a ninguém Frágil Sinto-me frágil



Dá-me um abraço que seja forte E me conforte a cada canto Não digas nada que nada é tanto E eu não me importo Dá-me um abraço...Não quero mais nada, só o silêncio Do teu abraço

Só uma palavra me devora Aquela que meu coração não diz...

E tremo a mezza state, ardendo inverno - Tenho frio e ardo em febre!


Triunfo da dor. Traição dos olhos, dos ouvidos, da pele. É preciso caminhar, toda a vida, no meio deste deserto. Ver, ouvir. Ouvir, ver. Comer, Rir. Falar, fumar, beber. Cheirar. Procriar. Escrever. Respirar. Ter dores. Sangrar, tremer. Encolerizar-se. Sofrer. Gritar, dormir, esperar. O cansaço está em todo o lado. Não há meio, não, não há meio de lhe escapar. É preciso sofrer, ter calor, ter frio. Acariciar. Gozar. Compreender, compreender sem parar. Todos os dias. Assim, todos os dias, sem excepção. Urinar. Saborear. Deixar-se levar pelas palavras inúteis, adoptar os ritmos, os hábitos. Procurar as frases, estender os ouvidos e os olhos, estender a pele. Fingir amar, amar, talvez. Tudo isto, mesmo por nada; porque nem sequer há meio de poder recorrer ao nada para determinar a vida; o homem não está sozinho: coisas comuns e gritantes habitam-no, dão-lhe a sua forma. Não há meio de poder julgar. Não há absurdo, porque não há somente divórcio entre o que é e o que devia ser.


Doía tudo. Até a alma, minha gente.
A danada da gripe foi de lascar
Era dor de tudo que é jeito
Remédio tomei pra dela escapar
Qual nada! Nenhum fez efeito
Fiquei na cama com febre a me danar
Mas a filha-da-puta da gripe
Não veio sozinha, não!
Trouxe a danada da febre
Não bastasse isso, me deu por companhia
O cof-cof… cof-cof… em vez de poesia


Sententia latina: amor et tussis non celantur...

Why do we kiss people? At one level, merely to generate the pleasurable sensation of rubbing an area of nerve endings against a corresponding strip of soft, fleshy, moist skin tissue. However, the hopes with which we approach the prospect of an initial kiss typically extend beyond this. We seek to hold and savor not just a mouth but an entire beloved person. With the kiss, we hope to achieve a higher form of possession; the longing a beloved inspires in us promises to come to an end once our lips are allowed to roam freely over theirs.

Ah, como incerta, na noite em frente,
De uma longínqua tasca vizinha
Uma ária antiga, subitamente,
Me faz saudades do que as não tinha.


O homem é um animal irracional, exactamente como os outros. A única diferença é que os outros são animais irracionais simples, e o homem é um animal irracional complexo.(...) O subconsciente, inconsciente, é que dirige e impera, no homem como no animal. A consciência, a razão, o raciocínio são meros espelhos. O homem tem apenas um espelho mais polido que os animais que lhe são inferiores.
Sendo assim, toda a vida social procede de irracionalismos vários, sendo absolutamente impossível (excepto no cérebro dos loucos e dos idiotas) a ideia de uma sociedade racionalmente organizada, ou justiceiramente organizada, ou, até, bem organizada. A única coisa superior que o homem pode conseguir é um disfarce do instinto, ou seja o domínio do instinto por meio de um instinto reputado superior. Esse instinto é o instinto estético. Toda a verdadeira política e toda a verdadeira vida social superior, é uma simples questão de senso estético, ou de bom gosto.A humanidade, ou qualquer nação, divide‑se em três classes sociais verdadeiras: os criadores de arte; os apreciadores de arte; e a plebe. As épocas maiores da humanidade são aquelas em que sobressaem os criadores de arte, mas não se sabe como se realizam essas épocas, porque ninguém sabe como se produzem homens de génio. A plebe só pode compreender a civilização material. Julgar que ter automóvel é ser feliz é o sinal distintivo do plebeu.


Mais sol non posso eu enganar
meu coraçón que m'enganou,
por quanto me fez desejar
a quen me nunca desejou.

e per esto non dormio eu,
porque non poss'eu coita dar,
a quen me sempre coita deu

Mais rog'a Deus que desampar
a quen m'assí desamparou
vel que pudess'eu destorvar,
a quen me sempre destorvou
E logo dormiria eu,
se eu pudesse coita dar,
a quen me sempre coita deu.



Agora pergunto-lhe: o que podemos esperar do homem enquanto criatura dotada de tão estranhas qualidades? Faça chover sobre ele todos os tipos de bênçãos terrenas; submerja-o em felicidade até acima da cabeça, de modo que só pequenas bolhas apareçam na superfície dessa felicidade, como se em água; dê-lhe uma prosperidade económica tamanha que nada mais lhe reste para ser feito, excepto dormir, comer pão-de-ló e preocupar-se com a continuação da história mundial — mesmo assim, por pura ingratidão, por exclusiva perversidade, ele vai cometer algum acto repulsivo. Ele até mesmo arriscará perder o seu pão-de-ló e desejará intencionalmente o mais depravado lodo, o mais antieconómico absurdo, simplesmente a fim de injectar o seu fantástico e pernicioso elemento no âmago de toda essa racionalidade positiva.

Sem comentários: