Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Deuses e semideuses...

Não morrem jovens todos a que os Deuses amam... é na juventude, quando neles desabrocha a flor fatal e única, que começam a sua morte vivida.

Os Deuses vendem quando dão.
Compra-se a glória com desgraça.
Ai dos felizes, porque são
Só o que passa!

Baste a quem baste o que lhe basta
O bastante de lhe bastar!
A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar.



Acima da verdade estão os deuses. A nossa ciência é uma falhada cópia Da certeza com que eles Sabem que há o Universo. Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses...

Não consentem os deuses mais que a vida.Tudo pois refusemos que nos alce a irrespiráveis píncaros, perenes sem ter flores. Só de aceitar tenhamos a ciência, E, enquanto bate o sangue em nossas fontes ...duremos

Da nossa semelhança com os deuses Por nosso bem tiremos Julgarmo-nos deidades exiladas... Altivamente donos de nós-mesmos, Usemos a existência ... Como acima dos deuses o Destino É calmo e inexorável, Acima de nós-mesmos construamos Um fado voluntário Que quando nos oprima nós sejamos Esse que nos oprime, E quando entremos pela noite dentro Por nosso pé entremos

Quero dos deuses só que me não lembrem. Serei livre — sem dita nem desdita, Como o vento que é a vida Do ar que não é nada. O ódio e o amor iguais nos buscam; ambos, Cada um com seu modo, nos oprimem. A quem deuses concedem Nada, tem liberdade.

Amo o que vejo porque deixarei Qualquer dia de o ver. Amo-o também porque é. No plácido intervalo em que me sinto, Do amar, mais que ser, Amo o haver tudo e a mim. Melhor me não dariam, se voltassem, Os primitivos deuses, Que também, nada sabem.

Um alto pinheiro é mais frequentemente pelos ventos fustigado, as excelsas torres de mais alto caem, e os raios ferem os montes mais elevados.

Tantas vezes ensinou esta lição. Tantas vezes, em latim e em português, repetiu estes versos, perante alunos, ora incrédulos , ora fascinados, por este estranho ideal de vida, por este epicurismo profundamente triste, mas sereno, apaziguador...Para quê?

Desculpa se te fiz fogo e noite Sem pedir autorização por escrito Ao sindicato dos deuses...Mas não fui eu que te escolhi. Desculpa se te usei Como refúgio dos meus sentidos Pedaço de silêncios perdidos Que voltei a encontrar em ti..






Era talvez preciso que alguém repetisse o gesto de Platão e inventasse um lugar às portas da cidade, chamado Academia, onde, quem quisesse pensar em paz, se pudesse instalar para parar e pensar em silêncio. Um afastamento eremita desta violência psicológica que vai desgastando sem parar a pouca saúde psicológica e física que resta. Não fugir do mundo, mas fugir desta "descrição do mundo" com a qual nos querem convencer à força de que "é o único possível". Não é o único possível; mas é o único que tem meios devastadores para tentar fazer-nos acreditar que é o único possível e assim nos poderá vencer pelo cansaço ou pelo enlouquecimento.

Habituava-me a tudo, ou seja, não me habituava, mas, não sei, acho que aceitava de boa mente aguentar. E tinha uma saída para trazer de volta a paz, era refugiar-me no "belo e sublime", em sonho,evidentemente. Eu sonhava terrivelmente e, acreditai em mim, nesses momentos eu(...)num repente virava herói.(...) Vivia instantes de uma plenitude tão jubilosa, de uma felicidade tão profunda que nem sequer sentia, juro-vos, o mínimo sarcasmo. Enquanto a nova academia não é fundada...

Um sorriso de espanto brotou nas ilhas do Egeu E Homero fez florir o roxo sobre o mar O Kouros avançou um passo exactamente A palidez de Athena cintilou no dia Então a claridade dos deuses venceu os monstros nos frontões de todos os templos E para o fundo do seu império recuaram os Persas Celebrámos a vitória: a treva Foi exposta e sacrificada em grandes pátios brancos O grito rouco do coro purificou a cidade Como golfinhos a alegria rápida Rodeava os navios O nosso corpo estava nu porque encontrara A sua medida exacta Inventámos: as colunas de Sunion imanentes à luz O mundo era mais nosso cada dia Mas eis que se apagaram Os antigos deuses sol interior das coisas Eis que se abriu o vazio que nos separa das coisas Somos alucinados pela ausência bebidos pela ausência E aos mensageiros de Juliano a Sibila respondeu: «Ide dizer ao rei que o belo palácio jaz por terra quebrado Phebo já não tem cabana nem loureiro profético nem fonte melodiosa A água que fala calou-se»
Morre jovem o que os Deuses amam, é um preceito da sabedoria antiga. E por certo a imaginação, que figura novos mundos, e a arte, que em obras os finge, são os sinais notáveis desse amor divino. Não concedem os Deuses esses dons para que sejamos felizes, senão para que sejamos seus pares. Quem ama, ama só a igual, porque o faz igual com amá-lo. Como porém o homem não pode ser igual dos Deuses, pois o Destino os separou, não corre homem nem se alteia deus pelo amor divino; estagna só deus fingido, doente da sua ficção.
Não morrem jovens todos a que os Deuses amam, senão entendendo-se por morte o acabamento do que constitui a vida. E como à vida, além da mesma vida, a constitui o instinto natural com que se a vive, os Deuses, aos que amam, matam jovens ou na vida, ou no instinto natural com que vivê-la. Uns morrem; aos outros, tirado o instinto com que vivam, pesa a vida como morte, vivem morte, morrem a vida em ela mesma. E é na juventude, quando neles desabrocha a flor fatal e única, que começam a sua morte vivida.


Não me amaram os deuses... Pelo menos podiam -me ofertar as únicas coisas que verdadeiramente me faltam: sensatez e lucidez para ver a realidade e viver de acordo com ela.


É importante que você fique a saber que eu pensava já ter o suficiente! ...setecentas,oitocentas páginas...ia reler tudo...mandar passar à máquina...e adiante!...e os editores? ...desses devemos ter ainda mais medo! a mesma mentalidade,mas em versão de monstros! ...e depois têm todos os vícios! e dependemos totalmente deles!...acrobatas da roubalheira! as suas intrujices são terríveis e armadas com precisão! tão perfeitamente urdidas que você acabaria num asilo de doidos com muitos coletes-de-forças,se tentasse descobri-las! ou cheirá-las!...e de muito longe!...a maneira como eles actuam!...e você é o ingrato que lhes deve tudo!...a si eles não lhe devem nada! ...eles,nos seus automóveis cada vez maiores,talvez o levassem atrás,andrajoso, e de língua no chão.

A cabeça é uma espécie de fábrica que não funciona exactamente como nós queremos...veja só...milhões e milhões de neurónios...um mistério absoluto...você está bem arranjado! neurónios entregues a si próprios! ao mínimo ataque, a sua cabeça dispara em todas as direções,você já não agarra uma ideia ...sente-se envergonhado...Queria-lhe contar uma coisa...mas perdi-me...não encontro nada! a minha cabeça anda à roda...oh!...mas espere...já me vou lembrar...você e o meu castelo ...e a minha cabeça! ...espere...espere...lembro-me de uma palavra...

Era um homem interessante... Céline tem razão: um médico, para ter sucesso e um quase estatuto de semideus, tem de ter aparência cativante e sinais exteriores de riqueza - Era um homem,de meia idade, bonito, com uns jeans de marca...Olhou para ela , com ar amável, e disse , com um sentido de humor que a divertiu: " a senhora está muito bem conservada.... por fora..." Ela riu-se...O diálogo prossegiu sem referentes desnecessários: " Sabe o que tem?" "Sei..."; Sabe que?..." Sei..."; "As estatisticas dizem ..."; " Evite, por favor, exlicações numéricas. Odeio estatísticas..."; "Volta cá em maio?" " Com todo o prazer...se...";" Gostei de a conhecer..." " Apesar das circunstâncias... eu também..." ; Fique com o meu telemóvel, se precisar..." "Obrigada" ... Despediram-se com um abraço, como se fossem amigos de longa data...Nesse dia à noite , sonhou com ele, a presidir ao concílio dos deuses no Olimpo...

Já me esquecia de lhe dizer! ...sou médico...a clientela médica, e isto que fique entre nós,em confidência,não é apenas uma questão de ciência e de consciência...mas sim,em primeiro lugar,e acima de tudo, de encanto pessoal... encanto pessoal depois dos sessenta? com uma idade destas você ainda pode fazer de manequim no museu, de figura decorativa… talvez… e agradar a uns quantos excêntricos, curiosos de enigmas… e as senhoras? o velhote anda nos trinques, perfumado, pintado, laca no cabelo?… um espantalho! com clientela ou sem clientela, exercendo medicina ou não, ele provoca-lhes vómitos!… e se estiver podre de rico?… ainda vá!… é tolerado… hum! hum!… mas um velho de cabelos brancos e sem dinheiro?… ele que se vá embora! basta ouvir as clientes nos passeios, nas lojas… a falar de um jovem colega dele… “oh! sabe, minha senhora!… minha senhora!… que olhos! que olhos, aquele médico!… entendeu logo o meu caso!… e as gotas que ele me receitou! ao almoço e ao jantar!… que gotas!… este jovem médico é maravilhoso!…” mas espere a sua vez… espere até elas falarem de si!… “embirrento, desdentado, ignorante, corcunda, sempre a cuspinhar…” elas vingam-se de si!… a tagarelice das senhoras é soberana!… enquanto os homens parem as leis, as senhoras só se ocupam de coisas sérias: a Opinião Pública!…

Uma clientela médica é feita pelas senhoras!. .. não as tem do seu lado?… deite-se a afogar!… as suas senhoras são umas atrasadas mentais, umas idiotas de fugir?… tanto melhor! quanto mais tacanhas, casmurras e irredutivelmente estúpidas, mais soberanas elas são!… arrume a bata, e o resto!… o resto?… roubaram-me tudo em Montmartre!… tudo!… na rue Girardon!… repito-o e nunca o repetirei o bastante!… fazem de conta que não me ouvem… justamente as coisas que devem ouvir!… no entanto eu ponho os pontos nos ii… tudo!… uns indivíduos, libertadores e vingadores, entraram em minha casa por arrombamento, e levaram tudo para a Feira da Ladra!… tudo passado a patacos!… não estou a exagerar, tenho provas, testemunhas, nomes… todos os meus livros e os meus instrumentos, os meus móveis e os meus manuscritos!… a tralha toda!… não encontrei nada!… nem um lenço, nem uma cadeira!… até as paredes eles venderam!… a casa, tudo!… saldado!… metido ao bolso!… e ponto final! sei o que você pensa! estou a ouvi-lo!… é natural! oh! que isto não lhe acontecerá! que nada de semelhante lhe acontecerá! que tomou as devidas precauções!… que é tão comunista como qualquer milionário, tão poujadista como Poujade tão russo como todas as saladas, mais americano que Buffalo!… perfeitamente conluiado com tudo o que é importante, Loja, Célula, Sacristia, Ministério Público!… Vrunzês da nova vaga como ninguém!… o sentido da História passa-lhe pelo meio das nádegas!… irmão honorário?… claro!… criado de carrasco? veremos!… adulador da guilhotina?… he! he!

Se eu fosse curandeiro, as coisas correriam bem...seria uma solução...e nada tonta...faria do meu consultório a meio da rue Bellevue, um lugar de " reactivação" de velhos! ...uma espécie de santuário de Lourdes new-look...está a ver? ...mas há um problema ...eu não passo de um médico vulgar...tenho tempo para meditar, pensar, repensar...reflectir sobre o que mais me prejudica? ...o meu fato talvez? os meus sapatos? andar de chinelos? ...os meus cabelos? ...estou convencido de que o pior é não ter criada ...ah, e ainda pior do que tudo " ele escreve livros"...eles não os lêem, mas sabem... sou eu que faço as compras...é isso que desacredita uma pessoa!...também despejo o lixo! eu próprio! levo o caixote do lixo até à entrada! ...Imagine!
Vergonha é ser-se pobre...essa é a única vergonha!...olhe para mim, sem carro, médico apeado! o que é que eu pareço? ...a utilidade de um médico, mesmo que muito imbecil, é um telefonema, e ele vem logo...
" traidor, médico clandestino, pró-estaline, pornógrafo, bêbado..." mas talvez ainda mais o que me prejudica:" Sabe, ele não tem automóvel!" Um médico a pé? você merece tudo o que dizem de si!...não tem automóvel? o descaramento deste tolo!...charlatão perigoso, está mesmo a pedir que o enforquem!...a calçada, o passeio, é para os vádios!...para as mulheres da vida!...ir ver um doente a pé? ...é um insulto! o doente corre consigo!...depois queixe-se. (...) o doente consciente dos seus direitos, benificiário da segurança social,sindicalizado,leitor de três,quatro,cinco jornais, primo de duzentos,trezentos milionários, está muito seguro de si...Ainda por cima ...o cúmulo!... o cerne da questão! ...as compras!...vêem-me com os meus dois sacos de rede! ...um para os ossos...outro para os legumes...sobretudo cenouras!

O que eu gostava era de ver Luís XIV com um cartão da Segurança Social! ...ele ia ver se o Estado era ele..

Ah! não são só os meus crimes! ...também há, e talvez, mais importante, a maneira como me visto ...acham que eu não ando bem arranjado? ...se eles se vissem como eu os vejo a eles! uma explosão atómica!...lufadas de neutrões! ...o horror da fealdade! ...cabeças! almas! cus! ...sim!...sim!...ah! a Srª Niçois!...

Não vou tomar decisões com febre...Oh!eu tinha decidido que nunca mais escrevia...só a palavra "escrever" sempre me pareceu indecente!...pretensiosa, narcisista," tu-já-me-leste?"...esta é a verdadeira razão do meu constrangimento...a única!...não sou candidato ao Panteão! os vermezinhos mais valiosos! os glutões de Souffot!...não!...não é a vaidade que me atormenta...é o gás,as cenouras,as tostas? (...) Quando se chega aos trinta e nove graus, vâe-se tudo! ...A febre tem de servir para alguma coisa!...nunca me esqueço de nada!..nunca é a minha natureza!... Agora com a febre a descer...mais baixa...deixo de disparatar...delírio? ...delírio?...nada disso reflexão!...

Há que dizer ...se eu pertencesse a uma Célula,a uma Sinagoga,a uma Loja, a um Partido, a uma Igreja, a uma Polícia...não interessa qual!... se tivesso saído das dobras de uma "Cortina de Ferro" qualquer ...de um Circo qualquer...tudo se resolveria! certo e sabido!...(...) Prémio Nobel e Grão Cruz garantidos! mesmo a cair da tripeça, a urinar-se, são " membros honorários", " símbololos partidários" ... está bem!...vale tudo ! a si tudo lhe é permitido a partir do momento em que o identificam como palhaço! pertence ao circo? ...não pertence? azar!

...noventa e seis anoa,mãe de um ministro...a minha doente mais velha...belo espírito! sagacidade! memória!Christine de Pisant! Loise Labé! ...Marcéline! ela recitava-me tudo,tudo. eu gostava tanto dela!
"Sozinha fiquei! Sozinha estou!" Como ela tinha razão!



Eu protesto de mais?...nada disso! ...as minhas ideias racistas não têm nada a ver com o assunto! hipócritas! ...Há muito que ela não existe , a raça branca(...) ...nada disso é importante!...o que me prejudicou grandemente foi a " Viagem" ...os ódios assanhados contra mim surgiram por causa da " Viagem" ...ninguém me perdoou a " Viagem" ...desde a " Viagem", tenho pago um preço bem alto! ...ainda se eu me chamasse Vlazine ...Vlazine Progrogrof...e tivesse nascido em Tarnopol, à beira do Don...mas em Courbevoise Seine! ...se tivesse nascido em Tarnopol, há muito que teria ganho o Nobel!...mas sendo eu daqui, e nem sequer sefardita! ...não sabem onde me meter! ... onde me fazer desaparecer mais depressa! vergonha das vergonhas!...em que alçapão? a que ratazanas suplicar? a " Vrunza para os Vrunzeses"!...

Olhou à sua volta: livros, livros, muitos livros. Está submersa num mar de livros. É estranho chegar ao fim da viagem e pensar que só os livros valeram a pena...

A menos que se tenha muito dinheiro, não vale a pena ser uma pessoa encantadora. O sentimentalismo é privilégio dos ricos, não é profissão para desempregados. Os pobres devem ser práticos e prosaicos. Antes ter um bom rendimento do que ser insinuante.

Quase nada
(experimento o céu de negro que há de norte a sul nunca me conforma
(prometo-me a mim mesma mais de céu azul)
a insatisfação
(temo que haja pouco pra me contentar)
nunca me abandona
(mas nada me impede de tentar)




A abertura da peça surpreende, intriga, perturba. Sob um sol inclemente, Winnie, enterrada até à cintura, comporta-se como se a sua condição fosse a coisa mais natural do mundo, respondendo à cruel estranheza da sua circunstância com um discurso falsamente otimista e hábitos ritualizados.
A sombrinha que me deste. naquele dia.(Pausa.). aquele dia. o lago. os nenúfares. (Olha em frente. Pausa.) Qual dia? (Pausa.) Quais nenúfares? (Longa pausa. Fecha os olhos. Campainha estridente. Abre logo os olhos. Pausa. Olha à direita.)
Winnie passa o tempo a contar histórias para si própria, dolorosamente consciente da sua situação física, mas não do seu absurdo. É nessa inconsciência que reside a sua força. Ela reconstrói-se com uma graça e tenacidade invulgares, superando o sentimento crescente de incapacidade, com a ilusão de que ainda se vai reencontrar com Willie...

Dois vultos, protagonistas de uma inexplicada história de amor, são os únicos seres humanos. Estão à mercê de uma campainha, espécie de deus ex-machina... Nunca ninguém construiu , de modo tão perfeito, a espera. Nunca ninguém escreveu, com tanta ternura, sobre a condição de quem espera... Persistir é a felicidade possível.
Oh, que dia feliz terá sido este! Mais um! Apesar de tudo. Até agora.

Winnie sem pernas, Winnie sem braços nem seios, é visitada por Willie e, finalmente, canta a sua canção: Tua mão está fria/ E tem tanto tremor / Ela não tremia / Sem o teu amor./ Mas se me desdouro/ Em me declarar, tendo tu tanto ouro/ Não te devo amar.

( Pausa.Expressão feliz. Fecha os olhos.Toque estridente da campainha. Abre imediatamente os olhos. Sorri,olhando em frente.Olha à direita , na direção de Willie, que continua de gatas, o rosto levantado para ela. Fim do sorriso. Olham-se um ao outro. Longa pausa.)
Cai o pano.

I will be king And you, you will be queen Though nothing will drive them away We can be heroes, just for one day We can be us, just for one day We can be heroes Just for one day...





Prometeu incorre no pecado da hybris, ultrapassa os limites da justa medida, como lhe faz notar Vulcano, quando o agrilhoa. Esta voluntária hamartia, gerada por um desmesurado amor, perpretou-a Prometeu com plena consciência, até mesmo com presciência - ou não significasse o seu nome "o Previdente": Mas eu sabia tudo isto. Cometi este erro por querer, por querer - não o negarei.
Como castigo da sua insolência, Zeus ordenou ao deus Vulcano que acorrentasse Prometeu no topo do monte Cáucaso durante trinta mil anos. O castigo era ser devorado aos poucos por uma águia que todos os dias lhe comia um pouco do fígado, o qual se regenerava logo de seguida porque Prometeu era um semideus...

Admiro os viciados. Num mundo em que está toda a gente à espera de uma catástrofe total e aleatória ou de uma doença súbita qualquer, o viciado tem o conforto de saber aquilo que quase de certeza estará à sua espera ao virar da esquina. Adquiriu algum controlo sobre o seu destino final e o vício faz com que a causa da sua morte não seja uma completa surpresa.
De certo modo, ser um viciado é uma coisa bastante proactiva. Um bom vício retira à morte a suposição. Existe mesmo uma coisa que é como planear a fuga.


Quero dizer, num mundo sem Deus, as mães não são os novos deuses? A última posição inexpugnável e sagrada. Não é a maternidade o último milagre mágico e perfeito? Mas um milagre que é impossível para os homens. E talvez os homens digam que estão contentes por não darem à luz, todo aquele sofrimento e todo aquele sangue, mas na verdade não passam de uvas verdes. É óbvio que o homem não é capaz de fazer nada tão incrível. Força de braços, pensamento abstracto, falos, quaisquer outras vantagens que os homens pareçam ter são coisas muito insignificantes.
Nem sequer podes martelar um prego com um falo. As mulheres já nascem tão adiantadas em termos de capacidades. No dia em que os homens conseguirem dar à luz, nessa altura é que podemos começar a falar em igualdade de direitos.

Sem comentários: