Slowly we unfurl As lotus flowers And all I want is the moon upon a stick Just to see what it is Just to see what it is I can't kick the habitJust to feed your fast ballooning head Listen to your hear...
Slowly we unfurl As lotus flowers
A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço.
Tempo há para negares
Depois de teres dado.
Flor, sê-me flor! Se te colher avaro
A mão da infausta esfinge, tu perene
Sombra errarás absurda,
Buscando o que não deste.
Para os budistas, a flor imaculada, que desabrocha sobre a água, em busca de luz, é a promessa de pureza e de elevação espiritual, sendo, por isso, simbolicamente, associada à figura de Buda e aos seus ensinamentos.
Na Odisseia, existe um episódio em que três homens, por comerem uma flor de lótus, se esquecem que têm de voltar para o barco. Ulisses resgata-os, mas teve de os amarrar ao navio para que eles não voltassem para a ilha, tal era a força incontrolável do impulso que sentiam. Homero demonstra que a amnésia, desencadeada pela flor de lótus, simboliza a possibilidade de começar de novo, de renascer e apagar o passado: um dos anseios do ser humano...
No dia em que a flor de lótus desabrochou, a minha mente vagava e eu não a percebi. A minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida. Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim. Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro de um perfume no vento sul. Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade. Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se. Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim que ela era minha, e que essa perfeita doçura tinha desabrochado no fundo do meu coração.
And the eyes in his head See the world spinning round... Não estou doido, parece-me mesmo que nunca fui tão razoável. Simplesmente, senti de repente necessidade do impossível. (Pausa) As coisas, tal como são, não me parecem satisfatórias.
Nunca esperei encontrar uma flor de lótus no arquivo pessoa.... Ei-la, uma única vez, numa carta a armando côrtes-rodrigues:
Entristeceu-me muito o que me diz do seu actual estado de espírito.(...) Por mim, o meu estado de espírito é mau.(...) Nem cabeça tenho tido para escrever a alguém, mesmo à minha família. Quebro esse encantamento de depressão para lhe escrever hoje, e isto para que não faltasse em responder à sua carta. Espero adquirir durante este mês aquela suficiente dose de serenidade que me permita escrever-lhe o milhão de coisas que tenho para lhe expor e contar. Espero poder mandar-lhe os poucos versos que tenho feito. Que, apesar de tudo, e através de tudo, trabalho sempre, produzo sempre. Mesmo nos pântanos do meu espírito há lótus que florescem.
I want is the moon upon a stick Just to see what it is...
Foi no verão passado.Desde o tempo em que a olhava e a acariciava debaixo das colunas do jardim. Ela acabou por compreender.
Mas, voltando à Lua, foi durante uma bela noite de Agosto. Já estava deitado.(...) Quanto mais subia, mais clara se tornava. Acabou por ficar um lago de água leitosa no meio dessa noite do lucilar das estrelas. Então, com o calor, chegou - doce, ligeira e nua. Franqueou o umbral do meu quarto e, na sua segura lentidão, veio ter comigo ao meu leito, colou-se a mim, e inundou-me dos seus sorrisos e da sua magnificência. (...) posso dizer, sem me gabar, que a possuí.
A sensualidade deste encontro entre calígula e a lua sempre me provocou o desejo de experimentar...Quantas vezes não deixei, no mês de agosto, a janela do quarto aberta, esperançada de que a lua me visitasse e eu conseguisse ter uma sensação semelhante. Apesar de o meu quarto ser bem perto do céu e de a poder contemplar, nunca veio ter comigo. A única coisa que consegui foi ser picada pelas melgas...
Temos o que abdicamos, porque o conservamos, sonhando, intacto eternamente à luz do sol que não há, ou da lua que não pode haver.
Não, a voz não é tua
Que se ergue e acorda em mim
Murmúrios de saudade e de inconstância,
O luar não vem da lua
Mas do meu ser afim
Ao mito, à mágoa, à ausência e à distância.
Eu só quero a Lua, Helicon. Sei de antemão o que me matará. Ainda não esgotei o que me pode fazer viver. É por isso que quero a Lua.
A visão de ti seria o leito onde a minha alma adormecesse, criança doente, para sonhar outra vez com outro céu. Falares? Sim mas que ouvir-te fosse não te ouvir mas ver grandes pontes ao luar ligando as duas margens escuras do rio que vai ter ao mar — ao mar onde as caravelas são novas para sempre...
CARTA PARA NÃO MANDAR
Dispenso-a de comparecer na minha ideia de si. (...) Isso não é o meu amor; é apenas a sua vida. Amo-a como ao poente ou ao luar, com o desejo de que o momento fique, mas sem que seja meu nele mais que a sensação de tê-lo.
But it's too late...
Lua Adversa
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Calígula foi escrita em 1938, depois que fiz uma leitura da obra Doze Césares, de Suetónio. Eu destinei esta peça a um pequeno teatro que criei em Argel e a minha intenção, desde o início, com toda simplicidade, era a de atuar eu mesmo no papel de Calígula. Os atores principiantes têm destas ingenuidades. E eu já tinha 25 anos, idade em que se duvida de tudo, menos de si próprio. Calígula é, portanto, uma peça de ator e de diretor, mais do que de autor. Porém, que fique bem entendido: ela inspira-se nas inquietações que eu tinha naquela época. A crítica francesa, que recebeu muito bem o espetáculo, frequentemente escreve, para meu espanto, que se trata de uma peça filosófica. Mas será verdade?
Calígula, príncipe até então relativamente amável, acaba por perceber, com a morte de Drusilla, sua irmã e amante, que o mundo, tal como está, não lhe é satisfatório. A partir daí, obcecado pelo impossível, envenenado de maldade e horror, ele tenta exercer, por meio do assassinato e da perversão sistemática de todos os valores, uma liberdade tamanha que não demorará para descobrir que não é uma liberdade boa. Ele recusa a amizade e o amor, a simples solidariedade humana, o bem e o mal. Ele enreda com palavras todos os que estão à sua volta, ele força-os a encontrar uma lógica, ele nivela tudo ao seu redor pela força de suas recusas e por uma raiva destruidora. É onde reside sua paixão de viver. Mas se sua verdade era revoltar-se contra o destino, o seu erro foi o de negar o humano. Não se pode destruir tudo, sem se destruir a si próprio. Calígula arrasa com o mundo ao seu redor e, fiel à sua lógica de vida, faz o que pode para se voltarem contra ele todos os que terminarão por o assassinar. Calígula, a peça, é a história de um suicídio superior. É uma história sobre a forma mais humana e mais trágica de errar. Infiel ao homem, por fidelidade a si mesmo, Calígula consente em morrer, por haver compreendido que nenhuma criatura se pode se salvar sozinha e, ainda, que não se pode ser livre à custa dos outros. Trata-se, portanto, de uma tragédia da inteligência. É de onde se pode concluir, naturalmente, que o drama de Calígula foi totalmente de cunho intelectual. Pessoalmente, eu acho que conheço bem os defeitos desta obra. Mas procuro em vão a filosofia nesses quatro atos que escrevi. Ou, se ela existir ali, ela encontra -se no nível da seguinte afirmação do herói: Os homens morrem e eles não são felizes. É uma ideologia bem modesta, pode-se notar, e eu até tenho a impressão de a repartir com Monsieur de La Palice (1470-1525) e com a humanidade inteira. Não, a minha ambição não era a filosofia, era outra. A paixão pelo impossível é, para o dramaturgo, um objeto de estudo tão valoroso quanto a sede de amar ou o adultério. Mostrar essa paixão em toda a sua fúria, justificando estragos e desencadeando confrontos – eis o que era o meu projeto. E é sobre esse aspeto que deve ser julgada a minha peça. Uma última palavra. Alguns acham que a minha peça é uma provocação e são os mesmos que, no entanto, consideram natural que Édipo mate o pai para se casar com a mãe ou os mesmos que aceitam fazer ‘ménage à trois’, desde que nos limites, é claro, de quatro sólidas paredes e em alta sociedade. Eu tenho pouca admiração por certo tipo de arte que só escolhe chocar por falta de saber convencer de outra forma. E se, por uma infelicidade, eu me surpreendesse a ser realmente escandaloso, seria apenas por causa desse gosto desmesurado que os artistas têm pela verdade – e um verdadeiro artista não consegue abdicar da verdade, porque isso significaria renunciar à sua arte.
Estou na lua...mas porque é que eu estou aqui?? Ahah... O cómico atenua o trágico,não é??
A flor de lótus e a lua são , afinal, um mero equívoco...
Nunca encarei o suicídio como uma solução, porque eu odeio a vida por amor a ela. Levei tempo a convencer-me deste lamentável equívoco em que vivo comigo. Convencido dele, fiquei desgostoso, o que sempre me acontece quando me convenço de qualquer coisa, porque o convencimento é em mim sempre a perda de uma ilusão. Matei a vontade a analisá-la. Quem me tornara a infância antes da análise, ainda que antes da vontade!
Nos meus parques, sono morto, a sonolência dos tanques ao sol-alto, quando os rumores dos insectos chusmam na hora e me pesa viver, não como uma mágoa, mas como uma dor física por concluir. Palácios, muito longe, parques absortos, a estreiteza das áleas ao longe, a graça morta dos bancos de pedra para os que foram — pompas mortas, graça desfeita, ouropel perdido. Meu anseio que esqueço, quem me dera recuperar a mágoa com que te sonhei.
Sob a máscara do esquecimento e do equívoco, invocando como justificação a ausência de más intenções, os homens expressam sentimentos e paixões cuja realidade seria bem melhor, tanto para eles próprios como para os outros, que confessassem a partir do momento em que não estão à altura de os dominar.
Não devemos ter medo das palavras.Se ele for bastante rico, talvez que a minha liberdade comece com ele. Não há dúvida que é preciso matá-lo. Eu vim para aqui trazendo nas mãos a minha fortuna e, se ela é possível, a felicidade.Eu não tenho necessidade delas, compreendi que elas é que deviam ter necessidade de mim e que um homem nunca está só.) Sou obrigada a ficar, à direita e à esquerda, diante e atrás de mim, com uma multidão de povos e nações, de planícies e montanhas, que detêm o vento do mar e cujos gritos e murmúrios abafam o seu repetido apelo. (Mais baixo) Outros têm mais sorte! Há lugares que, apesar de afastados do mar, têm às vezes durante a noite um perfume de algas trazidas pelo vento. (...) Mas antes de chegar aqui o vento cansa-se muito, jamais terei aquilo a que tenho direito.
No hay causa en mí. En mí no hay más que imposibilidad y un extraño extravío: ir de la inexistencia a la inexistencia. Es un sueño; un sueño vacío.(...) Desprecio la eternidad. He vivido y no sé por qué. Ahora he de amar mi propia muerte y no sé morir. Qué equívoco.
(…) e aquele tempo perdido em analisar o que nunca se chegou a passar, a medir os precisos termos de relações que nunca se dariam. Fora um capricho, não do temperamento, mas da simples imaginação. Cada um fora um sonho para o outro, uma espécie de trampolim para saltar dentro de si mesmo de um esquema de emoções para outro esquema de emoções, de uma possibilidade para outra possibilidade. Aquela banalidade de vida é que era a realidade da vida dela; aquela impossibilidade de fazer mais que sonhar é que era a certeza dele.O que ela manifestara para com ele fora apenas um sonho em voz alta, e o que ele manifestara para ela uma possibilidade em voz baixa. As vozes harmonizavam-se pela própria desarmonia. Aquele homem forte e estreito, esse é que era o homem dela; ele, Carlos, era apenas o artista dela.(...) Amamos em parte com o instinto sexual, em parte com a atracção emotiva, mas também, e em grande parte, com vários versos de vários poetas, certos quadros, memórias de trechos musicais, e abundantes citações de romancistas.(...) Mas a maioria das vezes o momento está fora de lugar ou o lugar longe do momento. O homem certo está errado, ou não aproveita o que lhe dão quando lhe não disseram que lho davam, e por isso mesmo. No fundo, os maridos têm muita sorte, e as mulheres sérias grandes defesas nas contingências do Destino. E aquele elemento de banalidade, de estupidez mesmo, que oferece obstáculo permanente à própria imaginação, e prende curtos os animais do íntimo desejo, à porta de casa das coisas que se não revelam? E aquele amor a um conforto da superfície da alma? E aquele uso do mesmo homem, aceite como uma maçada sossegada...
Às vezes interrogo-me se o passado também terá sido apenas um equívoco?
Para evitar um equívoco verbal: o que deve ser activamente destruído precisa antes ter sido sustentado com firmeza total; o que desmorona desmorona, mas não pode ser destruído.
Um equívoco: camus, filósofo existencialista...
Porque sou eu um artista e não um filósofo? É porque penso segundo as palavras e não segundo as ideias.
Não aceitamos a filosofia existencialista só porque afirmamos que o mundo é absurdo. Se assim fosse, 80% dos passageiros do metro, a acreditar nas conversas que ouço, seriam existencialistas. O existencialismo é uma visão completa, uma visão do mundo que pressupõe uma metafísica e uma moral. Se bem que me aperceba da importância histórica do movimento, não tenho suficiente confiança na razão para aderir a um sistema. Isto é tão verdade que o manifesto de Sartre, publicado no primeiro número dos Temps Modernes, me parece inaceitável.
Não, não sou existencialista. Sartre e eu surpreendemo-nos sempre quando vemos os nossos dois nomes associados. Pensamos mesmo um dia publicar um pequeno anúncio em que os abaixo assinados afirmarão nada ter em comum, e recusarão responder pelas dívidas contraídas pelo outro.
Outro equívoco...
Pensou que se conhecessem melhor. Fora um mero equívoco.A imagem que esculpira resultou,afinal, de um grande equívoco. A cumplicidade, a identificação,a intimidade? Um terrível equívoco.
A própria estrutura da peça repousa sobre esse jogo. Se a palavra traz consigo luz e sombra, não é menos verdade que é o gérmen de todo o absurdo da peça. A palavra não garante o entendimento nem o diálogo; age, na verdade, como alimento para o logro e a infelicidade daqueles que pecam por temê-la ou não: a palavra, aqui, é por si só armadilha...
Marta - O meu desejo é que não me fique com rancor - e para quê?- pelo que acabo de lhe dizer.Sempre me pareceu melhor encarar as coisas como elas são; não podia permitir que continuasse a falar num tom que acabaria por estragar as nossas relações. Há-de concordar que tenho razão. Pois se ,ainda ontem, nada havia de comum entre nós,eram precisas razões muito fortes para que,de um momento para o outro, passasse a haver ente nós intimidade. E vai desculpar-me que eu não tenha,até à data,dado pela existência de qualquer razão semelhante.
João - Está de antemão desculpada. Sim, de facto, a intimidade não é coisa que se improvise...
Maria - Já tinha percebido que ele era su irmão?
Marta - Se deseja saber, houve um equívoco. Por pouco que conheça do mundo, não se admire...
Uma coisa é o teu amor e outra os teus sonhos- ou os teus deveres, o que vem a dar na mesma. Tu foges-me tantas vezes! Então é como se te desligasses de mim...
Sou obrigada a ficar, à direita e à esquerda, diante e atrás de mim, com uma multidão de povos e nações, de planícies e montanhas, que detêm o vento do mar e cujos gritos e murmúrios abafam o seu repetido apelo. (Mais baixo) Outros têm mais sorte! Há lugares que, apesar de afastados do mar, têm às vezes durante a noite um perfume de algas trazidas pelo vento. (...) Mas antes de chegar aqui o vento cansa-se muito, jamais terei aquilo a que tenho direito.
Mais um equívoco...
A letra e não a sílaba é a «unidade» na palavra escrita.A palavra falada compreende-se fixando-se na memória por meio das sílabas que a compõem, a palavra lida fixando-se na memória por meio das letras com que se escreve. Num caso dirige-se à memória auditiva, no outro à memória visual. A palavra escrita é um elemento cultural, a falada apenas social. A base da ortografia é não haver confusão de sentido nas palavras escritas. Basta, pois, que uma determinada série de letras não possa representar mais que uma palavra, como representa bore em inglês, e entre nós representaria choro, se assim grafássemos, não só o choro que se chora, mas, baseado na transliteração latina do Grego, a palavra coro, de canto.
A palavra escrita consegue escapar aos equívocos inevitáveis na palavra falada, como o igual som de coser (com agulha) e cozer (ao lume) que o emprego do s e z perfeitamente diferença na escrita. Que é o chamado calembourg senão a demonstração corrente d'isto?
Nunca encarei o suicídio como uma solução, porque eu odeio a vida por amor a ela. Levei tempo a convencer-me deste lamentável equívoco em que vivo comigo. Convencido dele, fiquei desgostoso, o que sempre me acontece quando me convenço de qualquer coisa, porque o convencimento é em mim sempre a perda de uma ilusão. (...)Palácios, muito longe, parques absortos, a estreiteza das áleas ao longe, a graça morta dos bancos de pedra para os que foram — pompas mortas, graça desfeita, ouropel perdido. Meu anseio que esqueço, quem me dera recuperar a mágoa com que te sonhei.
Vidas que são um equívoco...
- Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!
De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom edrédon, bom fogo -
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...
Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará.
Pra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. Co'a breca! Levem-me prà enfermaria! -
Isto é, pra um quarto particular que o meu Pai pagará.
Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora, no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras:
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida? Um caco.
Preciso de se repensar, necessito interiorizar todos os equívocos com que me ludibriei... Sinto-me manipuladora da minha própria marioneta, serei também uma autoludibriadora: simultaneamente o enganador e o enganado. Lanço a rede e enredo-me nos seus enganos.Construo e refaço equívocos...É urgente ( não o amor, como diria eugénio de andrade) desconstruir , arrasar os alicerces que me sustentaram nos últimos anos. Eu não sou um vazio qualquer, sou um nada pleno de quimeras que permanentemente ressurgem, mesmo que não o deseje, como uma fénix que se alimenta das próprias cinzas... Reconstruo-me e reservo um espaço para guardar o meu vazio. Aqui, talvez seja o lugar adequado: para uma vida virtual, uma "gaveta" digital até que combina bem...
Talvez o excesso de pensamento esteja na origem dos meus equívocos: O que em mim sente está pensando.
A saudade, dizia Maria do Carmo, não é uma palavra, é uma categoria do espírito, só os portugueses conseguem senti --la, porque têm esta palavra para dizer que a têm, como disse um grande poeta. E então começava a falar de Fernando Pessoa. Eu ia buscá -la a casa na Rua das Chagas por volta das seis da tarde, ela ficava à minha espera atrás de uma janela, quando me via aparecer no Largo Camões abria o enorme portão e descíamos em direcção ao rio deambulando pela Rua dos Fanqueiros e pela Rua dos Douradores, vamos seguir um itinerário fernandino, dizia ela, estes eram os lugares predilectos de Bernardo Soares, ajudante de guarda -livros na cidade de Lisboa, semi -heterónimo por definição, era aqui que ele fazia a sua metafísica, nestas barbearias. Àquela hora a Baixa estava cheia de gente apressada e barulhenta, os escritórios das companhias de navegação e das firmas comerciais fechavam os guichets, nas paragens dos eléctricos havia filas enormes, ouviam -se os gritos dos engraxadores e dos ardinas. Entrávamos na confusão da Rua da Prata, atravessávamos a Rua da Madalena e seguíamos até ao Terreiro do Paço, branco e melancólico, onde os primeiros cacilheiros atulhados de gente largavam para a Outra Banda. Estamos já na Lisboa de Álvaro de Campos, dizia Maria do Carmo, em poucas ruas mudámos de heterónimo.
I'm so tired, I haven't slept a winkI'm so tired, my mind is on the blinkI wonder should I get up and fix myself a drinkNo, no, noI'm so tired I don't know what to doI'm so tired my mind is set on youI wonder should I call you but I know what you'd doYou'd say I'm putting you onBut it's no joke, it's doing me harmYou know I can't sleepI can't stop my brainYou know it's three weeks, I'm going insaneYou know I'd give you everything I've gotfor a little peace of mindI'm so tired, I'm feeling so upsetAlthough I'm so tired I'll have another cigaretteAnd curse Sir Walter RaleighHe was such a stupid getYou'd say I'm putting you onBut it's no joke, it's doing me harmYou know I can't sleep, I can't stop my brainYou know it's three weeks, I'm going insaneYou know I'd give you everything I've got for a little peace of mindI'd got for a little peace of mind...
Reduzir a vida a uma série de equívocos talvez pudesse ser tema interessante para alguém com inspiração...Sinto-lhe a verdade e as potencialidades, mas não consigo avançar. Eu sou um equívoco, a minha existência é um equívoco...
coimbra, igreja, devoção, equívoco.
azinhaga, férias, amor, equívoco.
europa, viagens, família, equívoco.
minho, jantares, amizade, equívoco.
algarve, praia, bares, equívoco.
alcobaça, escola, afeto, equívoco.
biblioteca, livros, paixão,equívoco
amigos, perfeição, cumplicidade, equívoco...
Chamo verbo ao equívoco falado
Que em tábuas decorei de tempo e modo
Mas o Verbo é unívoco e sagrado
Junto a Deus, mesmo Deus, único e todo.
Lá do sempre arrancando e em nunca nado,
O eterno abarca o mundo e a vida a rodo:
É no que foi e no devir tornado
Por amor novo Adão, limpo de lodo.
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