[...] Só um grande idiota sentiria que é de novo jovem. Se nos sentíssemos jovens, seria uma armadilha. Longe de nos sentirmos jovens, sentimos o tormento do futuro ilimitado dela em comparação com o nosso futuro limitado, sentimos ainda mais do que normalmente o tormento de todos os derradeiros dons que fomos perdendo. É como jogar basebol com um grupo de miúdos de vinte anos. Não que nos sintamos com vinte anos por jogarmos com eles. Notamos a diferença durante cada segundo do jogo. Mas pelo menos não estamos sentados nas linhas laterais. O que acontece é o seguinte: sentimos lancinantemente como estamos velhos, mas de uma maneira nova. Conseguem imaginar a velhice? É claro que não. Eu não conseguia. Não era capaz. Não fazia a mínima ideia de como era. Não tinha sequer uma falsa ideia - não tinha imagem nenhuma. E ninguém quer outra coisa qualquer. Ninguém quer enfrentar nada disto antes de não ter outro remédio. Como vai ser?
[...] É, de modo muito interessante, a primeira vez na vida em que nos encontramos inteiramente do lado de fora ao mesmo tempo que estamos nele. Observando durante todo esse tempo a nossa decadência (se temos tanta sorte como eu), encontramo-nos, graças à nossa constante vitalidade, a uma distância considerável da nossa decadência - sentimo-nos até alegremente independentes dela. Inevitavelmente, sim, inevitavelmente há uma multiplicação dos sinais que conduzem à desagradável conclusão, e no entanto, apesar disso, mantemo-nos de fora. E a ferocidade da objectividade é brutal. Há que fazer uma distinção entre morrer e a morte. Nem tudo é morrer ininterruptamente. Se somos saudáveis e nos sentimos bem, vamos morrendo invisivelmente. O fim, que é uma certeza, não tem de ser arrojadamente anunciado. Não, não podemos compreender. A única coisa que compreendemos acerca dos velhos quando não somos velhos é que foram marcados pelo seu tempo. Mas compreender apenas isso imobiliza-os no seu tempo, o que equivale a não compreender nada. Para aqueles que ainda não são velhos ser velho significa que já fomos. Mas ser velho também significa que apesar de, além de e para lá do nosso estado de ser, ainda somos. O nosso estado de ser está muito vivo. Ainda somos e sentimo-nos tão atormentados pelo ainda-ser e pela sua plenitude como pelo já-ter-sido e pela sua qualidade de passado. Pensem na velhice do seguinte modo: o facto de a nossa vida estar em risco é apenas um facto quotidiano. Não podemos esquivar-nos ao conhecimento daquilo que em breve nos espera. O silêncio que nos envolverá para sempre. Tirando isso, é tudo a mesma coisa. Tirando isso, somos imortais enquanto vivermos [...].
As costas do tempo...
"Esta novela abarca desde o Quixote à Cartuxa de Parma , desde Em busca do tempo perdido a Ulisses, passando pelas obras de Dumas ou de Verne. "
Talvez por isso me movimento frequentemente através do que , em vários livros, chamei " o revés do tempo , e as suas negras costas", recorrendo à misteriosa expressão de Shakespeare para designar o tempo que nunca existiu, o que nos aguarda e , também ,o que não nos espera e não acontece, ou só uma esfera que não é propriamente temporal e na qual talvez se encontre a escritura(?) , ou somente a ficção. Pode ser que por isso se perceba o passado como futuro - ou o veja quando não era senão isso, futuro - e o futuro como passado: o que há de vir como se já tivesse acontecido e, sobretudo, como se já não tivesse demasiada importância por ter-se iniciado, inclusivamente, o seu esquecimento ou esfumação, tão passado ou perdido se acaba por fazer todo o tempo.Talvez o seja só o que passou e pode contar-se ou assim parece , e que por isso é o único ambíguo ou o único que permite a ambiguidade, como escreveu há trinta anos João Benet. E também fiz , então, outra afrmação enigmática que não li até senão há trinta meses no velho artigo que a contém e a respeito da qual já não posso perguntar nada: " ... a mim, parece-me que o tempo é a única dimensão em que os vivos e os mortos se podem falar e comunicar, a única que têm em comum...", isso disse.
" O tempo é a única dimensão em que os vivos e os mortos se podem falar e comunicar, a única que têm em comum..."
" O artista é o maior inimigo da imortalidade, o seu maior negador, pois alimenta-se e vive da sua própria morte(...) vive o futuro como se fosse passado; o que o espera é o que já lhe aconteceu, e está permanentemente de costas. De costas para a sua própria vida e a contemplar as suas próprias costas."
Duramos menos do que as nossas intenções.
Perdemos tudo porque tudo permanece, menos nós. Por isso, qualquer forma de posteridade talvez seja uma afronta, e quem sabe se o é, também, uma qualquer recordação.
...o narrador anónimo e o autor com nome, Javier Marías, coincidem e, portanto, já não sei se somos um ou se somos dois, pelo menos enquanto escrevo.
Quando alguém nos falta, apercebemo-nos da transmissão perpétua e silenciosa entre as pessoas e as coisas, e assim estas adquirem vida " vicaria" (?) e assumem-se como testemunhos e metáforas e simbolos e erguem-se , frequentemente, na linha da continuidade; parece, então, que encerram as vidas imaginárias e as não cumpridas e as malogradas, acontece que são os objetos o único elemento que concilia e nivela presente e passado, e duram e não são destruídas até ao futuro.
(Boa ou má, a tradução é minha...)
Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,
agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
(...)
O café agora é um banco, tu professora do liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
O berço baloiça por cima de um abismo e o senso comum diz nos que a nossa vida mais não é do que uma brecha de luz entre duas eternidades de treva. Apesar de gémeas idênticas, vulgar será que o homem olhe com maior calma o abismo pré natal do que o outro para o qual se dirige (a qualquer coisa como quatro mil e quinhentas batidas de coração por hora). Sei no entanto de um jovem cronófobo que entrou numa espécie de pânico quando viu pela primeira vez cenas filmadas em sua casa, semanas antes de ter nascido. Viu um mundo praticamente igual, a mesma casa, as mesmas pessoas, mas reparou que ele próprio ainda lá não estava nem havia quem lamentasse a sua ausência.
Ao princípio eu não sabia que o tempo, tão ilimitado à primeira arremetida, era uma prisão. Ao perscrutar a minha infância ( a melhor fonte para a pesquisa da própria eternidade), vejo o despertar da consciência como uma descontínua série de instantes com intervalos sucessivamente mais curtos, até se formarem cintilantes blocos de percepção que oferecem à memória um escorregadio suporte.
Um tempo sem tempo.
Um tempo parado no tempo.
Um tempo perdido no tempo...
Um tempo...
O último...
Diz-se que não se olha de frente nem para o sol nem para a morte. Mas, por mim, tentei. Nada tenho de estóico e custa muito arrancarmo-nos ao que amamos. Tentei, no entanto, não deixar uma imagem indigna àqueles que me viam ou pensavam em mim. Os dias, especialmente os derradeiros, foram ricos e plenos. Já não tinha muitas ilusões, sobretudo depois que soube da rejeição do meu pedido de indulto, que, aliás, previ.
Uma ilha – isto é: a imagem mais perfeita que o homem já pôde formar da sua própria felicidade, porque a felicidade é, antes de tudo o mais, uma rotura, um isolamento de toda a banalidade dos dias, e forma uma espécie de recife um tanto monstruoso mas habitável. A vida do homem a quem o destino tenha permitido várias vezes saborear a felicidade é uma sucessão de ilhas. E de repente, depois de ter nadado muito tempo, ei-lo que aborda uma delas, e nela habita, e nela sorri, e nela come, às vezes por uma hora apenas, às vezes por dez dias. E sabe, enquanto está na ilha, que há-de deixá-la um dia, mas não é próprio da ilha representar um escândalo e qualquer coisa de insólito? Que venha a ilha a seguir, que possa lá chegar-se morto de fadiga, que possa lá adormecer-se. E nem sequer é necessária uma extraordinária conjunção de astros e de circunstâncias para criar a ilha: às vezes ela surge do nada, porque a felicidade não é mais do que uma filha casual da sorte, que importa aceitar sem perguntar de onde vem.
Se tivesse de eleger o meu romance de juventude, a escolha seria o extraordinário Comme le Temps Passe, de Robert Brasillach. Trata-se da narrativa admirável das vidas de René e Florence, uma história de juventude e aventura, desejo e tentação, na idade em que tais palavras não assumem outros significados. Comme le Temps Passe é o romance da juventude que foge e simultaneamente renasce — e também o de dois seres que podem procurar-se, perder-se, encontrar-se, sem nunca deixarem de ser feitos um para o outro. Robert Brasillach compreendeu bem a beleza da juventude — e a melancolia dos que a vêem afastar-se inexoravelmente. Foi fuzilado a 6 de Fevereiro de 1945 por colaboracionismo. Tinha 35 anos. Como o soubessem poeta e romancista da juventude, não lhe permitiram atingir aquela idade em que os homens se costumam tornar velhos. No derradeiro dia, já depois de saber que o indulto fora recusado,(...) Trouxe à memória, num relance, todas as pessoas que amava. Pensou, com desgosto, no desgosto delas. Aceitou o destino sem um queixume ou fraqueza. E, ao troar da rajada, uniu na sua vida e obra duas chaves da poesia intemporal: a juventude e a morte.
Nesta reconstituição do tempo como um contínuo movimento de encontros, perdas, por vezes de reencontros (mas não de tudo o que quereríamos reencontrar, e nem sequer necessariamente do que nos parecia então essencial), libertam-se episódios paralelos, histórias minúsculas, de personagens secundárias que são outros tantos braços do tempo. (...) e a propósito da noite passada, em Toledo, por René e Florence, atentemos nas quinze páginas [quinze!] em que nos é contado o modo como os dois jovens se entregam um ao outro, num misto de pormenorizada descrição dos gestos e das expectativas, na encantadora dança dos dois corpos, e de cuidadosas elipses, ou sugestões, com que se evita uma exposição grosseira. São quinze páginas inesquecíveis, que todos os escritores portugueses deveriam ser obrigados a ler...
Em a Noite de Toledo, o real deixa de ser alegoria, mas não perde a condição mítica que há-de transfigurá-lo. (...) é a melhor história erótica que li em toda a minha vida e que destrói completamente o mito da homossexualidade do mártir de Fresnes que a esquerda lhe tentou impor...
Puis ils redescendirent vers le Tage, revirent à Zocodover par les hauts ponts fortifiés. Ce fut la dernière nuit de Tolède...
Para nós, o fascismo não era uma doutrina política, nem uma doutrina económica. Não era a imitação do estrangeiro e as nossas comparações com os fascismos estrangeiros convenciam-nos, cada vez mais, da nossa originalidade nacional. Mas o fascismo é um espírito. Antes de mais, um espírito anti-conformista, anti-burguês. É um espírito oposto aos preconceitos, tanto de classe como qualquer outro. É o espírito genuíno da amizade, que nós quisemos elevar a amizade nacional.
Estão aqui e pela força dos factos são jovens. Alguns sofreram a guerra quando eram crianças, outros, as revoluções nos seus países, todos, a crise. Sabem o que é a sua nação e o seu passado, crêem no futuro. Vêem brilhar, ante si, sem cessar a chama imperial. Desejam uma nação pura, uma história pura, uma raça pura. Gostam de viver juntos nessa imensa reunião de homens, na qual os exércitos e as massas parecem as pulsações de um enorme coração. Não crêem na ditadura do lucro, não têm dinheiro nem o ambicionam, ignoram a banca e os juros. Não acreditam nas promessas do liberalismo, nem na igualdade dos homens, nem na vontade do povo.
A cultura de um povo não é conhecer mais ou menos coisas: deixemos essas falsas ambições para a Rússia soviética ou para a América. É estabelecer uma ampla corrente de símbolos imediatamente compreensíveis, é compreender-se a si mesmo».
Brasillach morreu, não por colaborar com o governo de Petain, nem sequer pela sua alardeada simpatia ao fascismo, mas somente porque, no ano de 1943, enquanto toda a inteligência mundial - com honrosas exceções - dava gritinhos feminis diante da "Resistência Soviética" a Hitler, denunciou o execrando Massacre de Katyn, onde cerca de 20.000 militares poloneses, rendidos e inofensivos, foram imolados no altar do comunismo, à laia de recreio das tropas, sob as ordens diretas de Stalin e seus sócios. Os comunistas, cujo poder granjeado em França era essencial para que de Gaulle compusesse a base do governo de restauração, exigiram a execução do inimigo que ousara macular o crepe da vestal vermelha. E de Gaulle, por motivos que ainda hoje vogam em inexatidões várias, recusou o pedido de graças subscrito por diversas personagens de renome: Camus assinou, Sartre negou-se a assinar.
Teve razão brasillach, ao considerar camus como um "fraternal adversário."...
Ata da Execução de Robert Brasillach (6 de fevereiro de 1945) pelo doutor Isorni, advogado e defensor de Brasillach durante o processo
Às 8 horas e 30 minutos, diante das grades do Palais de Justice, forma-se um cortejo de seis carros pretos que devem conduzir a Fresnes as pessoas requeridas pela lei e pelo uso para a execução. Ao longo de todo o caminho, está presente imponente escolta de agentes de polícia armados de metralhadoras. Na chegada a Fresnes, muito mais pessoas se ocupavam da segurança. No caminho que leva à prisão, vigias ficam de atalaia. Esperamos alguns instantes, junto a várias pessoas, defronte à grade de acesso ao imenso corredor que conduz à detenção.
Às 9 horas em ponto, encaminhamo-nos, seguidos dum pelotão de vigias, à divisão dos condenados à morte. O comissário do governo francês abre a porta da cela de Robert Brasillach e anuncia -lhe, com uma voz seca, que o seu pedido de graça foi rejeitado.
Neste momento, penetro na cela em companhia da Dra. Mireille Noel e do capelão. Robert Brasillach abraça-nos aos três. Depois ele pede para deixarem-no a sós com o capelão. Dois guardas vieram-lhe retirar as correntes. Após a confissão e alguns minutos de conversa com o sacerdote, mandou-me chamar, assim como a Srta. Noel. Entrega-me as suas últimas cartas, escritas para a sua mãe, família e amigos, para a Srta. Noel e para mim mesmo.
Ele entrega -me igualmente os manuscritos dos poemas escritos na prisão e uma folha com algumas linhas, cujo título era: “Diante da morte” [La mort en face]. De quando em quando, observa-me com um sorriso terno de criança. Desde ontem compreendera que hoje de manhã seria o dia. “Queres saber, disse -me ele, eu dormi muito bem!”
Como devesse vestir-se de trajes civis e retirar o de condenado à morte, a Srta. Noel sai, permanecendo a sós ele e eu. “Sim, fica perto de mim”, diz-me.
Exibe-me a fotografia da mãe e dos seus dois sobrinhos. Ele enfia -a na carteira e exprime -me o desejo de morrer com elas sobre o coração. Nesse momento, sinto- o vacilar um pouco, ele solta um suspiro e as lágrimas caem -lhe dos olhos. Vira-se para mim e diz, como se quisesse se desculpar: “É bem natural. Daqui a pouco não me faltará coragem. Está certo disso”.
Veste-se então tranquilamente, com muito esmero, reparte os cabelos diante de seu espelhinho, e depois, olhando para os lados, tira dum pedaço de pão um canivetinho e uma tesoura que escondera, e entrega -mos. Explica-me: “para que ninguém tenha aborrecimentos”.
Ele arruma os seu troços num grande saco. Nesse instante, sente sede. Bebe um pouco da água duma gamela. Termina de se arranjar. Está com o mesmo sobretudo azul que vestia durante o processo. Envolveu o pescoço com uma manta de lã vermelha.
Ele pede para falar com o representante do governo, Senhor Reboul.Este aproxima-se. Está comovido, com o rosto alterado e exangue.
Em surdina, Brasillach faz -lhe a seguinte declaração:“Eu não lhe quero mal, Senhor Reboul, eu sei que V.S. acredita agir segundo o dever; mas afirmo que só procurei servir a minha pátria. Também sei que o Senhor é cristão como eu. Só Deus é que nos há-de julgar. Posso - lhe pedir um favor?”
Inclina-se o Sr. Reboul. Continua Robert Brasillach:“ A minha família sofreu muito, o meu irmão está na prisão há seis meses, sem motivo algum. A Minha irmã precisa dele. Peço-lhe que faça tudo quanto possa para que ele seja libertado. Além disso, ele era o meu companheiro de mocidade.”Respondeu-lhe o representante do governo: “Eu prometo”.
Robert Brasillach disse-lhe para terminar: “Permitirá, Senhor Reboul, que eu lhe aperte a mão?” O representante do governo aperta-a longamente.
Robert Brasillach abraça-me mais uma vez. Abraça também a Dra. Mireille Noel, que acaba de entrar, e lhe diz : “Tem coragem e fica perto de minha pobre irmã”. Está pronto. Ele mesmo abre a porta da cela. Apresenta-se diante das pessoas que o esperam e diz: “Senhores, estou às ordens”.Dirigem-se a ele dois vigias e passam -lhe as algemas. Alcançámos o grande corredor de saida. Ao passar diante duma cela, com voz límpida Robert Brasillach grita: “Até mais, Béraud!”, e alguns metros à frente: “Até mais, Lucien Combelle!”.
A sua voz ribomba sob a abóbada, cobrindo o barulho dos passos.Ao chegarmos ao pequeno pátio, onde aguardava o camburão, volta-se a Srta. Noel e beija -lhe a mão, dizendo: “Eu confio -lhe Suzanne e os seus dois filhinhos”. Acrescenta ele: “Hoje é seis de fevereiro; você pensará em mim e também nos outros que morreram, no mesmo dia, há onze anos”.
Aponto-lhe a viatura que nos levará ao forte de Montrouge. Impassível ele sentou se, e segurou a minha mão. A partir daquele momento, não falou mais.Fincaram o poste aos pés duma moita de mato. O pelotão, 22 homens e um suboficial, viram-se de costas para nós. Robert Brasillach abraça -me e dá palmadas no meu ombro, para me encorajar. Um sorriso puro ilumina o seu rosto, e o seu olhar não é de infeliz. Depois, bem calmo e à vontade, sem o menor tremor, dirige-se ao poste. Afastei-me um pouco do grupo oficial. Ele olha -me. Tem a aparência de quem diz: “Bem... é o fim”.Um soldado se destaca -se do pelotão para lhe amarrar as mãos. Mas este atrapalha -se e não consegue. Sob as ordens do lugar-tenente, o sargento também tenta. Passam-se os segundos... Escuta-se a voz do lugar-tenente a cortar o silêncio: “Sargento!... Sargento!..”
Roberto Brasillach mexe a cabeça lentamente, da esquerda para a direita. Os lábios desenham um sorriso quase irónico. Enfim, os dois militares reunem -se ao batalhão. Roberto Brasillach está amarrado ao poste, ereto, a cabeça levantada e sobranceira. Acima da manta vermelha, o seu rosto está pálido. O escrivão lê a portaria pela qual lhe negaram o recurso. Depois, com voz possante, Robert Brasillach grita ao pelotão: “Coragem!” e, com os olhos elevados: “Vive la France!”.
Ecoa a salva de tiros.O Seu tronco afasta -se do poste, parece erguer -se ao céu; crispa-se a boca. O sargento precipita -se sobre ele e dá -lhe o tiro de misericórdia. O corpo desliza suavemente até o solo. São 9 horas e 38 minutos.
O doutor Paul aproxima-se para atestar o óbito. O capelão e eu seguimo -lo e inclinamo -nos. Aparentemente, o corpo parece intacto. Eu recolho, em nome daqueles que o amam, a generosa gota de sangue que escorre sobre o seu rosto.
Dado e passado a Paris, 6 de fevereiro de 1945.
Jacques Isorni
Advogado de Segunda Instância.
And I know it's over - still I cling I don't know where else I can go (Over and over and over and over Over and over...) I know it's over And it never really began...
Vive sem horas. Quanto mede pesa,
E quanto pensas mede.
Num fluido incerto nexo, como o rio
Cujas ondas são ele,
Assim teus dias vê, e se te vires
Passar, como a outrem, cala.
Os jovens kamikaze, pilotos de aviões-suicidas, despedem-se poeticamente da vida,antes da sua partida sem regresso. Eis como fala, em 1945, um piloto de vinte e dois anos:
Se ao menos pudéssemos cair
Como as folhas da cerejeira,
Tão puras e luminosas....
O heroísmo samurai encontra-se nestes curtos poemas, saídos de um fundo comum: o trágico sentimento de como a vida é transitória, que leva ao mesmo tempo à poesia e ao sacrifício. Custa-nos imaginar Robespierre ou Napoleão, ou mesmo heróis da Primeira Guerra Mundial,saírem deste mundo comparando-se a um pinheiro solitário ou a flores caídas das árvores. É certo que estes poemas do desespero e da agonia são tradicionais no Japão...Mas uma convenção tão viva é uma força; o sentido da sua identidade com o universo explica talvez, em parte, a surpreendente felicidade que estes homens de acção violenta encontram para morrer... Não podemos colar nestes homens de um outro mundo as nossas etiquetas, sejam elas de elogio ou de crítica.
Há estátuas que devem a sua beleza apenas à violência humana: ao gesto que as empurrou do pedestal, ao martelo iconoclasta que as tornou o que hoje são. A obra clássica impregna-se assim de patético; os deuses mutilados tornam-se mártires. Por vezes, a erosão do tempo e a brutalidade dos homens unem-se para criar uma aparência única que não pertence a nenhuma escola e a nenhum tempo...
And you run and you run to catch up with the sun But it's sinking And racing around to come up behind you again The sun is the same in a relative way But you're older Shorter of breath and one day closer to death..
Aproveitar o tempo! Mas o que é o tempo, que eu o aproveite? Aproveitar o tempo! Nenhum dia sem linha... O trabalho honesto e superior... O trabalho à Virgílio, à Mílton... Mas é tão difícil ser honesto ou superior! É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio! Aproveitar o tempo! Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos - Para com eles juntar os cubos ajustados Que fazem gravuras certas na história (E estão certas também do lado de baixo que se não vê)... Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões, E os pensamentos em dominó, igual contra igual, E a vontade em carambola difícil. Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos - Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida. Verbalismo... Sim, verbalismo... Aproveitar o tempo! Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça... Não ter um acto indefinido nem factício... Não ter um movimento desconforme com propósitos... Boas maneiras da alma... Elegância de persistir... Aproveitar o tempo! Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro. Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto. Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo! Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos. Aproveitei-os ou não? Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?! (Passageira que viajaras tantas vezes no mesmo compartimento comigo No comboio suburbano, Chegaste a interessar-te por mim? Aproveitei o tempo olhando para ti? Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante? Qual foi o entendimento que não chegámos a ter? Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto a vida?) Aproveitar o tempo! Ah, deixem-me não aproveitar nada! Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!... Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa, A poeira de uma estrada involuntária e sozinha, O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras, O pião do garoto, que vai a parar, E oscila, no mesmo movimento que o da alma, E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.
Durante muito tempo fui para a cama cedo.
Um homem que dorme tem em círculo à sua volta o fio das horas, a ordem dos anos e dos mundos. Consulta-os instintivamente ao acordar ,e neles lê num segundo o ponto da terra que ocupa, o tempo que decorreu até ao seu despertar; mas as respectivas linhas podem misturar-se e quebrar-se.
As evocações rodopiantes e confusas nunca duravam mais que alguns segundos; muitas vezes, a minha bteve incerteza do lugar onde me encontrava não distinguia uma das outras as diversas suposições de que era feita,tal como não somos capazes de isolar, ao ver um cavalo a correr, as posições sucessivas que o cinetoscópio mostra.
Mas não sou capaz de dizer que mal-estar me causava,porém, aquela intrusão do mistério e da beleza num quarto que eu acabara por encher do meu eu,a ponto de prestar tanta atenção a um como a outro. Depois de ter cessado a influência anestesiante do hábito,punha-me a pensar,a sentir, coisas bem tristes.
Combray inteira mais os arredores, tudo isso que toma forma e solidez, saiu, cidade e jardins, da minha xícara de chá.
"Muitas vezes, mas pouco de cada vez."
Tem o relógio horas tão vazias... que os ponteiros parece que infinitamente se arrastam, não passa a manhã, não se vai embora a tarde, a noite não acaba.
Passagem das horas...
As horas pela alameda
Arrastam vestes de seda,
Vestes de seda sonhada
Pela alameda alongada
Sob o azular do luar...
E ouve-se no ar a expirar -
A expirar mas nunca expira -
Uma flauta que delira,
Que é mais a ideia de ouvi-la
Que ouvi-la quase tranquila
Pelo ar a ondear e a ir...
Silêncio a tremeluzir...
Mas há mais alguma coisa... Nessas horas lentas e vazias, sobe-me da alma à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa externa, que não está em meu poder alterar. Ah, quantas vezes os meus próprios sonhos se me erguem em coisas, não para me substituirem a realidade, mas para se me confessarem seus pares em eu os não querer, em me surgirem de fora, como o eléctrico que dá a volta na curva extrema da rua, ou a voz do apregoador nocturno, de não sei que coisa, que se destaca, toada árabe, como um repuxo súbito, da monotonia do entardecer!
Passam casais futuros, passam os pares das costureiras, passam rapazes com pressa de prazer, fumam no seu passeio de sempre os reformados de tudo, a uma ou outra porta reparam em pouco os vadios parados que são donos das lojas. Lentos, fortes e fracos, os recrutas sonambulizam em molhos ora muito ruidosos ora mais que ruidosos. Gente normal surge de vez em quando. Os automóveis ali a esta hora não são muito frequentes; [...] No meu coração há uma paz de angústia, e o meu sossego é feito de resignação.
Passa tudo isso, e nada de tudo isso me diz nada, tudo é alheio ao meu sentir, indiferente, até, ao destino próprio, inconsciência, [...] quando o acaso deita pedras, ecos de vozes incógnitas — salada colectiva da vida.
A grande dificuldade do orgulho que para mim oferece a contemplação das paisagens, é a dolorosa circunstância de já as haver com certeza contemplado alguém com um intuito igual. A horas diferentes, é certo, e em outros dias. Mas fazem-me notar como seria acariciar-me e amansar-me com uma escolástica que sou superior a merecer. Sei que pouco importa a diferença, que com o mesmo espírito em olhar, outros tiveram ante a paisagem um modo de ver, não como, mas parecido com o meu. Esforço-me por isso para alterar sempre o que vejo de modo a tomá-lo irrefragavelmente meu — de alterar, mentindo — o momento belo e na mesma ordem de linha de beleza, a linha do perfil das montanhas; de substituir certas árvores e flores por outras, vastamente as mesmas diferentissimamente; de ver outras cores de efeito idêntico no poente — e assim crio, de educado que estou, e com o próprio gesto de olhar com que espontaneamente vejo, um modo interior do exterior. Isto, porém, é o grau ínfimo de substituição do visível. Nos meus bons e abandonados momentos de sonho arquitecto muito mais. [...] E a hora cheira-me verdadeiramente a um ruído [...] e longínquo e com uma grande inveja de realidade...
As minhas horas tão falsas, e eu nem sonho o gesto de parti-las. Como não te sonhar? Como não te sonhar? Senhora das Horas que Passam, Madona das águas estagnadas e das algas mortas, Deusa Tutelar dos desertos abertos e das paisagens negras de rochedos estéreis... — livra-me da minha mocidade. Consoladora dos que não têm consolação, Lágrima dos que nunca choram, Hora que nunca soa — livra-me da alegria e da felicidade. — Ópio de todos os silêncios, Lira para não se tanger, Vitral de lonjura e de abandono — faze com que eu seja odiado pelos homens e escarnecido pelas mulheres. — Címbalo de Extrema-Unção, Carícia sem gesto, Pomba morta à sombra, Óleo das horas passadas a sonhar — livra-me da religião, porque é suave, e da descrença porque é forte; — Lírio fanando à tarde, Cofre de rosas murchas, Silêncio entre prece e prece — enche-me de nojo de viver, de ódio de ser são, de desprezo por ser jovem.
Entre nós e as palavras há metal fundente entre nós e as palavras há hélices que andam e podem dar-nos a morte violar-nos tirar do mais fundo de nós o mais útil segredo entre nós e as palavras há perfis ardentes espaços cheios de gente de costas altas flores venenosas portas por abrir e escadas e ponteiros e crianças sentadas à espera do seu tempo e do seu precipício Ao longo da muralha que habitamos há palavras de vida há palavras de morte há palavras imensas, que esperam por nós e outras, frágeis, que deixaram de esperar há palavras acesas como barcos e há palavras homens, palavras que guardam o seu segredo e a sua posição... E há palavras nocturnas palavras gemidos palavras que nos sobem ilegíveis à boca palavras diamantes palavras nunca escritas palavras impossíveis de escrever por não termos connosco cordas de violinos nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar e os braços dos amantes escrevem muito alto muito além do azul onde oxidados morrem palavras maternais só sombra só soluço só espasmos só amor só solidão desfeita Entre nós e as palavras, os emparedados e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Deito-me tarde Espero por uma espécie de silêncio Que nunca chega cedo Espero a atenção a concentração da hora tardia Ardente e nua É então que os espelhos acendem o seu segundo brilho É então que se vê o desenho do vazio É então que se vê subitamente A nossa própria mão poisada sobre a mesa É então que se vê passar o silêncio Navegação antiquíssima e solene
Espero sempre por ti o dia inteiro, Quando na praia sobe, de cinza e oiro, O nevoeiro E há em todas as coisas o agoiro De uma fantástica vinda. Como o tempo custa a passar quando a gente espera! Principalmente quando venta. Parece que o vento meneia o tempo.
Não sei se a vida é pouco ou de mais para mim. Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência, Consanguinidade com o mistério das coisas, choque Aos contactos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos, Ou se há outra significação para isto mais cómoda e feliz // Seja o que for, era melhor não ter nascido, Porque, de tão interessante que é a todos os momentos, A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas, E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs, E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso, Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.// Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços, E preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro, Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca... Que há-de ser de mim? Que há-de ser de mim?
Trago dentro do meu coração, Como num cofre que se não pode fechar de cheio, Todos os lugares onde estive, Todos os portos a que cheguei, Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias, Ou de tombadilhos, sonhando, E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero... Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei. . . Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos. . . Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti, Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz. A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me, Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge, Desta estrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso, Desta turbulência tranquila de sensações desencontradas, Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada, Deste desassossego no fundo de todos os cálices, Desta angústia no fundo de todos os prazeres, Desta saciedade antecipada na asa de todas as chávenas, Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias. Não sei se a vida é pouco ou de mais para mim. Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência, Consanguinidade com o mistério das coisas, choque Aos contactos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos, Ou se há outra significação para isto mais cómoda e feliz. Seja o que for, era melhor não ter nascido, Porque, de tão interessante que é a todos os momentos, A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas, E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs, E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso, Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida. Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços, E preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas. . . Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro, Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca. . . Que há-de ser de mim? Que há-de ser de mim? Correram o bobo a chicote do palácio, sem razão, Fizeram o mendigo levantar-se do degrau onde caíra. Bateram na criança abandonada e tiraram-lhe o pão das mãos. Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir. . . Tão decadente, tão decadente, tão decadente. . . Só estou bem quando ouço música, e nem então. Jardins do século dezoito antes de 89, onde estais vós, que eu quero chorar de qualquer maneira? Como um bálsamo que não consola senão pela ideia de que é um bálsamo, A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco, monótona, cai. Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se. Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver. Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente. Estou no caminho de todos e esbarram comigo. ..Assim fico, fico. . . Eu sou o que sempre quer partir, E fica sempre, fica sempre, fica sempre, Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica. . .
Eu desejei-te e pedi-te a estrelas cadentes Eu agarrei-te e impedi-te de noites ausentes e anulei para servir-te meus sentimentos Eu acusei-me e defendi-te com unhas e dentes E foi a ti a quem escrevi cartas transparentes E construí só para ti sonhos de adolescente, e foram anos que ofereci a um coração carente Confiando que no fim me desses o suficiente E agora como é que eu te deixo ir embora (?) Como é que eu te largo, faço o luto e mando fora (?) Como é que eu luto contra o susto da ruptura e asseguro que não te quero no futuro (?) Como é que eu lido sobretudo com o hábito (?) Como é que eu tiro o que era nosso do armário (?) Como é que eu vivo como outra na tua vida (?) Como é que eu vivo outra vida, a minha (?) Qual é a hora, a hora certa, a hora de ir embora (?) Será desta, será esta a hora certa para ir embora (?) No amor e na festa Só há esta Só há uma hora certa A hora de ir embora à hora certa! Mesmo que já não te queira Mesmo que seja uma asneira Como é que eu estou certa que é a coisa certa e que esta porta já não pode ser aberta (?) Como é que eu a fecho(?) Como é que eu te deixo (?) Mesmo que já não recorde todos os nossos recordes Tanta coisa podre e a dor que já não morde Eu tenho de ser forte Saber manter o corte e calar o desejo Calar o desejo, e se eu te quiser de volta(?) E se esta for a escolha Como de roleta à solta Como é que eu decido (?) E se este foi o quadro que pintei a régua e esquadro e pendurei lá no alto Como é que eu o tiro (?) Como é que se desiste Depois de tanto que se insiste Não é triste Não é isto um fracasso como o punho em riste(?) Ou será coragem e virá a recompensa (?) Dispenso a bagagem para a viagem porque peso não apressa e se ainda não foi desta Arrastar carcaças é desporto que não presta Se ainda não foi desta Chorar e escrever cartas é desgosto que não cessa! É a hora certa…é a hora certa…qual é a hora certa? Eu desejei-te e pedi-te a estrelas cadentes Eu agarrei-te e impedi-te de noites ausentes e anulei para servir-te meus sentimentos Eu acusei-me e defendi-te com unhas e dentes, e foi a ti a quem escrevi cartas transparentes E construí só para ti sonhos de adolescente E foram anos que ofereci a um coração carente Confiando que no fim me desses o suficiente!
Mas quando quererás voltar? Quando é o Rei? Quando é a Hora? Quando virás a ser o Cristo De a quem morreu o falso Deus, E a despertar do mal que existo A Nova Terra e os Novos Céus? Quando virás, ó Encoberto, Sonho das eras português, Tornar-me mais que o sopro incerto De um grande anseio que Deus fez? Ah, quando quererás voltando, Fazer minha esperança amor? Da névoa e da saudade quando? Quando, meu Sonho e meu Senhor?
Só as horas serenas reservando Por nossas, companheiros na malícia De ir imitando os deusesMAté sentir-lhe a calma. Venha depois com as suas cãs caídas A velhice, que os deuses concederam Que esta hora por ser sua Não sofra de Saturno Mas seja o templo onde sejamos deuses Inda que apenas, Lídia, pra nós próprios Nem precisam de crentes Os que de si o foram.
Casca é o tempo que dói, a janela fechada que estilhaça quando se olha para trás...
Vive sem horas. Quanto mede pesa, E quanto pensas mede. Num fluido incerto nexo, como o rio Cujas ondas são ele, Assim teus dias vê, e se te vires Passar, como a outrem, cala.
A diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma persistente ilusão…
Tem o relógio horas tão vazias... que os ponteiros parece que infinitamente se arrastam, não passa a manhã, não se vai embora a tarde, a noite não acaba.
O que é o tempo? Um mistério-irreal e todo poderoso...Deixaria de haver tempo, se o movimento desaparecesse? Deixaria de haver tempo, se o movimento se dissipasse? Será o tempo uma função do espaço? O tempo é dinâmico, tem uma natureza verbal, o tempo "produz". O que produz ele? A mudança! O Agora não é o Antes,o Aqui não é o Ali ,porque entre eles se interpõe o movimento.
Qualquer tempo é tempo.
A hora mesma da morte
é hora de nascer.
Nenhum tempo é tempo
bastante para a ciência
de ver, rever.
Tempo, contratempo
anulam-se, mas o sonho
resta, de viver.
O tempo gasta tudo o que roça, pedras e corpos, a todos o tempo arredonda as arestas como se lhes combatesse as formas. O tempo vai-nos mastigando para que a morte nos ache tenros e dóceis. Também a morte é uma senhora antiga com os dentes cansados de roer.
chama-se amor a isto: beber horas roubadas, no receio constante de que alguém as descubra (assim se tem cadastro!);
morder com muita pressa a polpa dos minutos, sem lhes sorver o sumo, sem lhes tirar a casca (assim se apanham úlceras!);
ter este modo brusco de engolir os segundos, como se fossem cápsulas de qualquer barbitúrico (assim se morre às vezes!);
o culpado: este cão que trazemos bem preso ,todo agarrado ao pulso, e a que chamamos Tempo. (Sempre a ganir de susto.)
Podes vir quando quiseres Já fui onde tinha de ir Resolvi os compromissos agora só te quero ouvir...
Eu queria ter o tempo e o sossego suficientes Para não pensar em coisa nenhuma, Para nem me sentir viver, Para só saber de mim nos olhos dos outros, reflectido.
Aproveitar o tempo! Mas o que é o tempo, que eu o aproveite? Aproveitar o tempo! Nenhum dia sem linha... O trabalho honesto e superior... O trabalho à Virgílio, à Milton... Mas é tão difícil ser honesto ou superior! É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!
Aproveitar o tempo! Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos - Para com eles juntar os cubos ajustados Que fazem gravuras certas na história (E estão certas também do lado de baixo que se não vê)... Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões, E os pensamentos em dominó, igual contra igual, E a vontade em carambola difícil. Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos - Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.
Verbalismo... Sim, verbalismo... Aproveitar o tempo! Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça... Não ter um acto indefinido nem factício... Não ter um movimento desconforme com propósitos... Boas maneiras da alma... Elegância de persistir...
Aproveitar o tempo! Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro. Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto. Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo! Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos. Aproveitei-os ou não? Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!
Aproveitar o tempo! Ah, deixem-me não aproveitar nada! Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!... Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa, A poeira de uma estrada involuntária e sozinha, O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras, O pião do garoto, que vai a parar, E oscila, no mesmo movimento que o da alma, E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.
Alice: Quanto tempo dura o eterno?
Coelho: Às vezes, apenas um segundo.
Assim que tiver tempo, escreve sobre o tempo, recolhe textos sobre o tempo, pensa o tempo...O tempo é uma realidade imaterial, uma ausência sempre presente, um nada que é tudo...
Sinto-me,novamente,senhor José: procuro reconstituir uma vida... Anoto tudo, meticulosamente, quase hora a hora, indago , pesquiso por entre os elementos que me são dados a conhecer... Encontro, finalmente, um fio condutor. Não é um passaTempo: é verdade que passo nisso grande parte do meu tempo, é verdade que o tempo passa, é verdade que há um tempo vivido ficcionalmente, mas não é um passaTempo. É a essência do meu tempo, é a minha existência, é a minha vida.
Sempre que consigo abrir mais uma gaveta, experimento uma felicidade estranha, pacificadora.
Não sei, mas até quando vou continuar a passar o tempo neste passaTempo que se revela, afinal, um contraTempo.
A time to be born, a time to die A time to plant, a time to reap A time to kill, a time to heal A time to laugh, a time to weep
O presente não existe. Só o tempo passado é «reconhecível» — o tempo que «vem», porque «vai», não se detém, não fica presente.(...) O tempo vivido (e apenas ele, do ponto de vista humano, é tempo «de facto») apresenta-se unificado ao nosso entendimento, simultaneamente completo e em crescimento contínuo. Desse tempo que assim se vai acumulando é que somos o produto infalível, não de um inapreensível presente.
Tempo para mim significa a desagregação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse roubando a este fruto toda a sua polpa. O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Mas há o hábito e o hábito anestesia.
Tudo a que um dia se brincou acaba por ser só memória e caminho, degrau de uma escada sempre a estreitar. Depois um homem senta-se à mesa e escreve por vingança contra si mesmo – para viver outras vidas, como dizem alguns.
The sun is the same in the relative way, but you are older...
So lonely, Im trying to hear you So lonely, Im trying to hear you So lonely, Im trying to hear you So lonely, Im
One slip, and down the hole we fall It seems to take no time at all A momentary lapse of reason That binds a life for life A small regret, you won't forget, There'll be no sleep in here tonight Was it love, or was it the idea of being in love?
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ... Que já têm a forma do nosso corpo ... E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares ... É o tempo da travessia ... E se não ousarmos fazê-la ... Teremos ficado ... para sempre ... À margem de nós mesmos..
Gosta de roupas usadas: são mais confortáveis, adaptam-se melhor ao corpo e à alma... Não quer percorrer novos lugares, teM medo de Se perder ... A não travessia,a permanência, é condição para que nunca fique à margem de si mesma, antes pelo contrário...Sem a roupa usada , perderia para sempre a possibilidade de se encontrar...Tem uma certeza, uma única certeza: usa as vestes que quer; está no lugar que quer...e tem "todo o tempo do mundo" ...
Avec le temps, va, tout s'en va...
Je l'aime tant, le temps qui reste...Je veux rire, courir, pleurer, parler, Et voir, et croire Et boire, danser, Crier, manger, nager, bondir, désobéir J'ai pas fini, j'ai pas fini Voler, chanter, partir, repartir Souffrir, aimer Je l'aime tant le temps qui reste Combien de temps...Combien de temps encore ? Des années, des jours, des heures, combien ?Je m'en fous mon amour... Quand l'orchestre s'arrêtera, je danserai encore... Quand les avions ne voleront plus, je volerai tout seul...Quand le temps s'arrêtera.. Je t'aimerai encore je ne sais pas où, je ne sais pas comment... Mais je t'aimerai encore...D'accord ?
A meio do caminho da verdadeira vida, encontrávamo-nos rodeados por uma angustiante melancolia, expressa por tantas palavras tristes e deprimentes, no café da juventude perdida.
Das duas entradas do café,ela utilizava sempre a mais estreita, a chamada porta da sombra....pergunto-me se não seria precisamente a sua presença que conferia ao local e às pessoas aquela estranheza, como se as tivesse impregnado do seu perfume... Ela refugiava-se ali,no Condé, como se quisesse evitar qualquer coisa,escapar a um perigo.
...importa fornecer alguns pormenores sobre os clientes habituais do Condé. Tinham, pois, entre dezanove e vinte e cinco anos, excepto alguns que rondavam os cinquenta, mas a sua idade não contava...Eu era estudante. Não me atrevia a declará-lo e não me misturava com o grupo.
Há momentos em que as pessoas deviam prender-se umas às outras por meio de algemas. Que espécie de laço seria capaz de resistir ao fluxo que nos arrasta e nos obriga a andar à deriva?... No fundo a única pessoa interessante era Jacqueline Delangue.Pela minha vida tinham passado muitas jacquelines...Esta seria a última...tinha a impressão que mergulhara num sonho no qual continuava a perseguir o rasto de Jacqueline Delangue...Naquele momento, também ela caminhava algures pela cidade....Mas jacqueiline nada teria a recear. Eu nunca mais compareceria ao encontro.
Mas havia noites em que a angústia desaparecia e eu aguardava impacientemente a partida da minha mãe para sair...Apoderava-se de mim uma embriaguez tão leve...Tinha a vida à minha frente...Sempre sonhara ser estudante,por causa do vocabulário,que me parecia fino..
Sim, aquela livraria não foi simplesmente um refúgio,mas também uma etapa na minha vida.
Deixei-me invadir por uma embriaguez que nem o álcool nem a neve me teriam proporcionado...Mais tarde, suportei a mesma embriaguez sempre que cortava as amarras com alguém.Só era realmente eu própria no instante em que fugia de mim.As minhas boas recordações são de fuga ou de afastamento.
O nosso encontro ,quando agora penso nele,assemelha-se ao encontro de duas pessoas sem nada que as prendesse à vida. Creio que estávamos ambos sozinhos no mundo. Às vezes, lembramo-nos de certos episódios da nossa vida e precisamos de provas para ter a certeza de que não estamos a sonhar.
É estúpido o que lhe vou dizer...Não há nada a compreender...Quando amamos verdadeiramente alguém, importa aceitar a sua parte de mistério...E é por isso que amamos...
Já está .Deixa-te ir.
Estas foram as últimas palavras, como que a dar coragem a si própria: Louki atirou-se da varanda e morreu já no hospital.
Não vou a Paris há vários anos, aliás não vou a lado nenhum há vários anos, limito-me a ficar por aqui, numa existência cada vez mais improdutiva, desinteressante, a observar,serenamente, o tempo perdido...
O nosso tempo... prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser... O que é sagrado para ele, não passa de ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade, a ilusão aumenta, e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado.
All you've gotta do is call and I'll be there
Breve o dia, breve o ano, breve tudo...
Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. / Não florescem no inverno os arvoredos...
Vive sem horas. Quanto mede pesa, E quanto pensas mede.
Quão breve tempo é a mais longa vida E a juventude nela! Ah!, Cloe, Cloe, Se não amo nem bebo, Nem sem querer não penso, Pesa-me a lei inimplorável, dói-me A hora invicta, o tempo que não cessa...
Atrás não torna, nem, como Orfeu, volve Sua face, Saturno. Sua severa fronte reconhece Só o lugar do futuro. Não temos mais decerto que o instante Em que o pensamos certo. Não o pensemos, pois, mas o façamos Certo sem pensamento.
Não sei, mas subitamente Sinto a tristeza de estar O sonho triste que há rente Entre sonhar e sonhar.
Diálogos intemporais...
Ἄλκηστις - drama satírico ou tragédia? Não terão todas as tragédias , afinal, uma dimensão cómica, uma vez que o homem é um mero joguete nas mãos dos deuses e do destino?
Alceste é "a glória das mulheres", um exemplo de dedicação conjugal, para muitos superior a penélope. Vamos ver o aproveitamento que GMT vai fazer de eurípides, o mais trágico dos tragediógrafos gregos e, pela dimensão psicológica do seu teatro, o seu favorito...
Confessa que sente uma alegria quase infantil pelo facto de a escolha ter recaído em eurípides... Gosta de se sentir próxima dos seus autores...
Alceste morrerá para que Admeto possa ficar vivo. / É esta a história.
Bom começo: ...porque o tempo ... é isto: / àquilo que já não se vê não podes chamar presente / -é memória ou futuro,invisibilidade portanto.
E sim , agora, neste instante: Admeto, o esposo da nossa heroína ,/ atingido por uma bala inequívoca, uma bala de cima, / cai à porta de casa como se o corpo recebesse encomenda maligna / deixada por carteiro de nome: morte certa,morte exata, / morte de resto zero.
Nenhum desespero,nenhuma gritaria ou descontrolo,/ mas tristeza exactamente no meio do rosto / como se resultado de um melancólico ponto / no centro de uma contida circunferência.
Nada a fazer,não há retorno, o cortejo conclui-se: Admeto definitivamente vivo, Alceste morta.
Que estranha similitude...
Admeto não quis contar tudo,/ contou metade ou nem isso: um quarto , um oitavo da verdade,/E há percentagens de concentração abaixo das quais / uma substância deixa de sr ela própria / e passa a ser um disfarce de si mesma ou um fantasma./ É assim também com a verdade , eis o que penso. / Admeto contou tão pouco que o que contou talvez já não seja ,afinal, / parte da verdade mas sim parte da mentira.
É também o que ela pensa, só que é ludibriada, descaradamente ludibriada... Mas prefere fingir que não percebe, embora deva ser sensato deixar-se de diálogos intemporais...
Alceste morreu para que Admeto pudesse ficar vivo.
É esta a história.
É esta a história de Alceste.
É esta a história de Admeto.
Talvez precise de morrer...
Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial.
No dia 13 Junho de 1888, num quarto andar em frente ao Largo de São Carlos, nascia Fernando António Nogueira Pessoa. Anos mais tarde, viria a ser conhecido como um mais importantes poetas da língua portuguesa. Este filme, realizado por Fernando Carrilho, tem como base alguns dos textos de Vicente Guedes, Bernardo Soares e Álvaro de Campos. Com as vozes de Ivo Canelas, Almeno Gonçalves e José Walenstein, propõe-se "um périplo cinematográfico pela cidade de Lisboa" que reproduz o imaginário do poeta. Através da visão heteronímica, o filme recria um espaço intemporal, possivelmente um não lugar povoado de "ficções do interlúdio"...
(…) e aquele tempo perdido em analisar o que nunca se chegou a passar, a medir os precisos termos de relações que nunca se dariam. Fora um capricho, não do temperamento, mas da simples imaginação. Cada um fora um sonho para o outro, uma espécie de trampolim para saltar dentro de si mesmo de um esquema de emoções para outro esquema de emoções, de uma possibilidade para outra possibilidade.
Every year is getting shorter Never seem to find the time Plans that either come to naught Or half a page of scribbled lines Hanging on in quiet desparation is the English way The time has gone, the song is over Thought I'd something more to say...
Uma opinião:
Saber viver é uma arte, e a felicidade não se persegue, esta simplesmente se sente como um amanhecer calmo com o sol a espreitar por entre as nuvens - dia após dia, ano após ano - tudo se atenua, tudo perde importância, e são aqueles pequenos momentos espalhados ao longo da vida e inconscientemente memorizados que ganham maior significado e tornam consistente toda uma vida de ilusão, apesar de toda essa suposta consistência auto-construída por cada pessoa não passar também ... de uma ilusão. Virginia Woolf, grande na sua percepção da existência humana, parecendo desviar-se do seu estilo habitual nos outros romances, afinal apenas se desvia para nos fazer sentir com um impacto ainda maior a alma da sua escrita.
Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial.
O poeta entrega-nos a sua essência, mas a prosa toma a forma de todo o corpo e de toda a mente.
1880- Estava uma primavera incerta... Nas ruas mais sossegadas os músicos esparziam um som de flauta,frágil e quase melancólico...Nas praças os pombos esvoaçavam no topo das árvores...Os portões de Marble Arch e Apsley House ficavam bloqueados à tarde por senhoras de vestidos multicolores e saias de balão e por cavalheitos de casaca,bengala e cravo na lapela....Finalmente nasceu a lua...Os dias, as semanas e os anos cruzavam o céu uns após outros,rodando devagar como os raios de um farol.
Os quadros pareciam olhar com desdém para as cadeiras vazias,e as cadeiras vazias pareciam olhar respeitosamente para os quadros.O velho senhor,que dirigira o college há mais de cem anos,parecia desaparecer durante o dia,mas voltava quando se acendiam os candeeiros.
Em torno de quê é que se fazem girar as coisas? A cena mudara tantas vezes nessa manhã; e cada cena solicitava um ajustamento diferente; trazer isto para a frente;afundar aquilo nas profundezas. E,agora, não sentia nada; fome,simplesmente; era apenas alguém que estava a comer galinha; um vazio de espírito.
Bem, já que era impossível ler e impossível dormir,ela deixar-se-ia ser pensamento.Era mais fácil fazer coisas pela acção do que pelo pensamento. Pernas,corpo,mãos,toda ela tinha de se dispor passivamente a tomar parte no processo universal do pensar,que o homem dizia ser o mundo vivo. Espreguiçou-se. Onde começava o pensamento?
Era óbvio que estava a envelhecer ... E qual era o seu ponto forte? Os olhos? Os olhos sorriram-lhe quando olhou para eles. Sim,os meus olhos, pensou. Alguém lhe gabara uma vez os olhos. Mas acabou-se ,reflectiu ela,isso de as pessoas me gabarem os olhos...
Sempre gostei mais de ladrões do que das outras pessoas.
Era mentira.Uma pessoa está sempre a mentir...Era um sistema abominável: vida em família; Abercom Terrace...tinham vivido ali encaixotadas todas aquelas pessoas tão diversas, mentindo umas às outras.
O ar de Londres parecia um mar encapelado,por onde o som alastrava em círculos. Mas os relógios estavam desencontrados,como se entre os santos reinasse a discórdia.Havia pausas,silêncios...E depois voltavam a soar as badaladas dos relógios.
Virou-se para ela.Queria que ela falasse.Ele queria que ela falasse; ou então tinha de ser ele a falar.E o que poderia ele dizer? Enterrara os sentimentos. Mas perdurava uma emoção qualquer. Ele queria que ela falasse; mas ela ficou calada. Não vou dizer.Se o dissesse,ela achar-me.ia...Olhou para ela.
( As referências ao relógio são obsediantes... Este marcador impiedoso do tempo é uma presença constante...)
O tempo ia passando, e se eles se demorassem muito mais, ela perderia o comboio.Ariscando um olhar sub-reptício ao relógio,reparou que os ponteiros estavam ambos nas onze. Continuavam a falar, a falar, como se fossem ficar ali eternamente. Depois o relógio repicou uma sucessão de pequenas badaladas petulantes...
Lançou um olhar ao relógio que estava em cima do toucador. Tinha tempo à justa.(...) Por um momento fez-se-lhe um vazio completo no espírito.Onde estou? O que estou a fazer? Para onde vou?. Os seus olhos fixaram-se no toucador; lembrou-se vagamente de um outro quadro e de um outro tempo em que era moça.Seria em Oxford? (...)As criadas incomodavam Kitty com a sua delicadeza afectada,com os seus rostos imperscrutáveis e franzidos.Mas eram muito úteis.
Chegamos a tempo? (...) As ruas estavam quase vazias.O relógio amarelo da estação indicava que tinham cinco minutos. Mesmo a tempo, disse de si para si. Mesmo em cima da hora...
O comboio arrastava-a a grande velocidade. O som tornara-se mais grave,um rugido permanente. Como havia ela de dormir? Como conseguiria deixar de pensar? Onde estaremos agora? Agora estamos...agora...agora. O passado e o presente misturaram-se...ela estava a puxar um boi pela arreata com um anel atravessado no focinho.
Ouviu um murmúrio profundo que lhe cantava aos ouvidos-a terra entoava um coro, a sós,consigo própria.Ficou deitada a escutar.Estava feliz,absolutamente. Cessara o tempo.
A minha vida,disse ela de si para si.Era estranho,era a segunda vez nessa noite que alguém lhe falava da sua vida.E eu não tenho uma vida, reflectiu.Não deverá ser uma vida qualquer coisa que se pode manipular e mostrar aos outros? Mas eu tenho apenas o momento presente,pensou.Estava ali viva, naquele momento...
Porque é que eu hei-de pensar?Não queria pensar.Desejaria que houvesse estores como o das carruagens de caminho de ferro que tapassem a luz e resguardassem o espírito...Pensar era um tormento; porque não desistir de pensar,e seguir à deriva e sonhar? Mas a miséria do mundo,pensou ela, obriga-me a pensar...Mas não vou pensar,repetiu; havia de se obrigar a abrir um vazio no espírito e encostar-se para trás,aceitando calmamente tudo o que viesse.
E agora?
Ainda era de madrugada, as ruas limpas e desertas,eu estava a caminho da estação. Apercebi-me de que era muito mais tarde do que pensava e que tinha de me apressar; o choque desta descoberta fez-me sentir incerto quanto ao caminho... Felizmente ,havia um polícia por perto; corri até ele e, sem fôlego,perguntei-lhe o caminho. Ele sorriu e ..." Desista! Desista!" disse ele, e voltou-se de repente,como alguém que quer ficar sozinho com o seu riso.
Tenho um animal curioso,meio gato,meio cordeiro. Herdei-o do meu pai. Mas somente se desenvolveu no meu tempo; antes,era muito mais cordeiro do que gatinho.Agora, é ambos em partes iguais.(...)Tem a inquietude de ambos os animais...sendo eles tão diferentes.(...)Talvez a faca do açougueiro fosse um alívio para este animal; mas como é uma herança tenho que lhe negar esse fim.Portanto, terá que esperar que a respiração deixe voluntariamente o seu corpo,apesar de me olhar com ar de compreensão humana,desafiando-me a fazer aquilo em que ambos estamos a pensar.
Tínhamo-nos esquecido do tempo, e o espaço imenso empequenara-se-nos na atenção. Fora daquelas árvores próximas, daquelas latadas afastadas, daqueles montes últimos no horizonte haveria alguma coisa de real, de merecedor do olhar aberto que se dá às coisas que existem?... Na clepsidra da nossa imperfeição gotas regulares de sonho marcavam horas irreais... Nada vale a pena, ó meu amor longínquo, senão o saber como é suave saber que nada vale a pena...
Desenganemo-nos, meu amor, da vida e dos seus modos. Fujamos a sermos nós... Não tiremos do dedo o anel mágico que chama, mexendo-se-lhe, pelas fadas do silêncio e pelos elfos da sombra e pelos gnomos do esquecimento...
A nossa vida era toda a vida.., O nosso amor era o perfume do amor... Vivíamos horas impossíveis, cheias de sermos nós... E isto porque sabíamos, com toda a carne da nossa carne, que não éramos uma realidade... Éramos impessoais, ocos de nós, outra coisa qualquer... Éramos aquela paisagem esfumada em consciência de si própria... E assim como ela era duas — de realidade que era, e ilusão — assim éramos nós obscuramente dois, nenhum de nós sabendo bem se o outro não ele próprio, se o incerto outro viveria...
A manhã rompeu, como uma queda, do cimo pálido da Hora... Não choremos, não odiemos, não desejemos... Cubramos, ó Silenciosa, com um lençol de linho fino o perfil hirto e morto de nossa Imperfeição...
Memórias...
Agosto de 2013...
Reencontro, no dicionário, é voltar a encontrar , é encontrar o que estava perdido, mas nós nunca nos deixámos de encontrar. Nós nunca nos perdemos, no entanto, reencontrámo-nos. O sentimento que nos une é mais forte do que tudo: crescemos separadas, tu em Lisboa, eu em Coimbra, mas sempre juntas, sentíamo-nos almas gémeas. As duas sozinhas neste teu casarão , isolado no meio da planície, pensámos há quanto tempo tal não acontecia. O nosso reencontro foi, desta vez, particularmente intenso; foi o primeiro, desde que estamos sozinhas, uma solidão que não escolhemos, mas que visitou as nossas vidas, causou sofrimento, para que o nosso reencontro fosse mais perfeito...
O tempo é a imagem da eternidade em movimento... Sabe bem a quase ausência de palavras.Sabe bem o silêncio. Sabe bem ser.Sabe bem estar. Sabe bem recordar. Sabe bem...
Como quem num dia de Verão abre a porta de casa E espreita para o calor dos campos com a cara toda, Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa Na cara dos meus sentidos, E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber Não sei bem como nem o quê...Quando o Verão me passa pela cara a mão leve e quente da sua brisa, Só tenho que sentir agrado porque é brisa Ou que sentir desagrado porque é quente, E de qualquer maneira que eu o sinta, Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...
Sabe bem o quente entorpecedor. Sabe bem tomar banho de chuveiro e sabe bem mentir.A água acaricia a pele e lava o corpo; a mentira afaga o espírito e lava a alma. O fingimento é um duche perfumado que sabe tão bem.
Desde que tenho consciência de mim mesmo, apercebi-me de uma tendência nata em mim para a mistificação, para a mentira artística. Junte-se a isto um grande amor pelo espiritual, pelo misterioso, pelo obscuro, que, ao fim e ao cabo, não era senão uma forma e uma variante daquela outra minha característica, e a minha personalidade será completa para a intuição.
Não vês que eu não sou nada,
Nem anjo nem pessoa,
Nem ave nem engenho,
Que é totalmente outra a minha definição?
Eu não sou mais do que o próprio chão...
A minha vida é poética:
Paira entre a vaga mentira e a realidade.
As nossas perpétuas mentiras, as nossas hipocrisias, toda a estrutura do fingimento da nossa raça - própria de uma raça que não conhece a nudez, que é uma raça vestida.
- Mas a mentalidade artística deles era uma mentalidade de pederastas.
- E a nossa? - de onanistas.
Sabe bem que a aceitem como ficção... Negada a verdade, não temos com que entreter-nos senão a mentira. Com ela nos entretenhamos, dando-a porém como tal, que não como verdade; se uma hipótese metafísica nos ocorre, façamos com ela, não a mentira de um sistema (onde possa ser verdade) mas a verdade de um poema ou de uma novela - verdade em saber que é mentira, e assim não mentir. (...) e assim construí para mim esta regra de vida.
Sabe bem fechar os olhos e pensar... num crime quase perfeito.
Sabe bem No entardecer dos dias de Verão, às vezes, Ainda que não haja brisa nenhuma, parece Que passa, um momento, uma leve brisa...Mas as árvores permanecem imóveis Em todas as folhas das suas folhasE os nossos sentidos tiveram uma ilusão, Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...
Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto. E me deito ao comprido na erva, E fecho os olhos quentes, Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Sei a verdade e sou feliz.
Sabe bem sentir a alma deitada na realidade...
Nunca o viajante conseguiu achar-se neste raso lugar,nestas ruas longuíssimas donde desde sempre se levantam nuvens de pó, e mesmo hoje, homem que cresceu até onde pôde,continua a ser criança a quem este nome de Golegã assustava porque sempre esteve ligado ao pagamento das décimas,ao tribunal,ao registo, à morte de um tio a quem desfizeram a cabeça à paulada.
Em verdade, é aqui o portal da casa mais antiga. A estrada segue entre altos e velhos plátanos,de um lado a Quinta de Santa Inês,do outro a Quinta de São João,e então aparecem as primeiras moradas.E,na nomenclatura da terra, o Cabo das Casas.Foi aqui, em Azinhaga que o viajante nasceu...
Sabe bem ler saramago... Sabe bem rememorar o sabor do pão com manteiga das merendas na quinta de santa inês...Sabe bem ouvir estórias, mesmo que fantasiosas, do bonito amor entre o josé a a pilar...
A Pilar, até ao último instante
A Pilar, os dias todos
A Pilar, minha casa
A Pilar, que não deixou que eu morresse
A Pilar, como se dissesse água
Sabe bem crer que há quem consiga amar, sem abdicar de ser quem é ... Sabe bem testemunhar o nascimento de uma lenda...
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia (...) O Tejo desce de Espanha E o Tejo entra no mar em Portugal. Toda a gente sabe isso.Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem. E por isso, porque pertence a menos gente, É mais livre e maior o rio da minha aldeia.(...) O rio da minha aldeia não faz pensar em nada Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Sabe bem revisitar o rio almonda, um espaço de namoro, num tempo em que amar era passear à beira-rio...
À aldeia chamam-lhe Azinhaga, está naquele lugar por assim dizer desde os alvores da nacionalidade (já tinha foral no século décimo terceiro), mas dessa estupenda veterania nada ficou, salvo o rio que lhe passa mesmo ao lado (imagino que desde a criação do mundo), e que, até onde alcançam as minhas poucas luzes, nunca mudou de rumo, embora das suas margens tenha saído um número infinito de vezes. A menos de um quilómetro das últimas casas, para o sul, o Almonda, que é esse o nome do rio da minha aldeia, encontra-se com o Tejo, ao qual (ou a quem, se a licença me é permitida), ajudava, em tempos idos, na medida dos seus limitados caudais, a alagar a lezíria quando as nuvens despejavam cá para baixo as chuvas torrenciais do Inverno e as barragens a montante, pletóricas, congestionadas, eram obrigadas a descarregar o excesso de água acumulada.
Sabe bem ter pequenas memórias em comum com um nobel da literatura...pode ser que o destino se renove num outro tempo em que ela seja só memória sem espaço...
Um espaço esperado, em terra de campinos, touros e cavalos, uma surpresa inesperada: exposição de pintura e escultura de martins correia...
Um hibridismo bizarro, o equus latino com a polis grega, "benvindo" logo à entrada, painéis com erros de pontuação de fazer relinchar, com deseducação, o cavalo lusitano mais garboso, compensados pela revelação de uma obra excecional de um artista para mim desconhecido. Thipu du , shanaofmbio, enbe biverdas chãs...
Querido mestre,
Queres então saber do que é que eu gosto na tua arte? Pois então lá vai. Gosto do que ela me faz ver, disse natália correia.
Sabe bem sentir esta escultura...
Um artista muito rico tem uma paixão: a fotografia. Manda erguer uma casa-estúdio, entre 1871-75, um verdadeiro templo à arte que , no século XIX , substitui a pintura.
Ao percorrer aquele espaço mágico, acompanha-se o sonho de um homem que idealiza, até ao mais ínfimo pormenor, o local perfeito, em termos de luz e de privacidade, para fotógrafos e modelos, um caso único no mundo.
Sabe bem redescobrir esta casa de todos os olhares...
O viajante viaja por mor de casos gerais e interesses que devem ser de toda a gente,em especial os que toquem os domínios da arte. Portanto vai à igreja da Golegã, que é, em manuelino,o que de mais belo existe em templos rurais.Este pórtico foi feito por Diogo Boitaca e é, na sua acentuada verticalidade, quase alcançando o alto óculo,um exemplo de como a decoração exuberante do manuelino pode integrar-se numa empena lisa como esta é ... A Igreja da Golegã tem muito que a distinga,mas para o viajante nada há que valha a declaração,tão orgulhosa, tão humilde, que à entrada os anjos exibem em cartelas e que, em linguagem corrente de hoje,está explicando" Memória sou de quem a mim me fabricou."Foi Diogo Boitaca quem o mandou escrever,foi o canteiro à revelia do mestre-de-obra,não se sabe. Ficaram ali estas magníficas palavras,dístico que poderia estar em todas as obras do homem,que nelas está invisível,mas que o bom viajante em tudo deve ler,como prova de que anda com atenção ao mundo e a quem nele por enquanto vive
Talvez comunicar seja uma necessidade absoluta do ser humano, talvez extravasar emoções seja essencial para evitar que a nossa mente fique uma trágica arena de conflitos e de pensamentos que acabariam por rebentar os limites físicos ( se é que existem) do compartimento designado por cérebro...
O tempo é dos nomes com um campo semântico mais rico, polissémico e abrangente... No entanto , a outra gente parece só conhecer a 7ªaceção de um dicionário não especializado: ora porque chove, ora porque faz sol, ora porque está muito frio, ora porque está muito calor, ora porque há inundações, ora porque há seca, ora por isto, ora por aquilo... A generalidade dos seres que a rodeiam - com exceção de uma gata que, sabia e silenciosamente, se limita a procurar o poiso que considera mais conveniente- vive em função do frio de rachar, da temperatura amena, do solinho, da geada, da caloraça, como se a sua existência se esgotasse em sensações térmicas... Após o bom natal, bom ano e similares - convicta de que iria ter sossego - viu-se forçada a concordar que está frio, a lamentar-se porque está frio e ...o que é mais exasperante, a sentir frio e desagrado com as baixas temperaturas...
Tudo começa, invariavelmente, às 8:00, hora em que entra no táxi e " Hoje está cá um frio!" , sim porque o frio de hoje é sempre pior do que o de ontem e o de este inverno muitíssimo mais intenso do que o de anos anteriores... Pensando bem, até há uma interessante filosofia, subjacente a esta perceção do tempo atmosférico. 8:15, sala do corpo docente, " Chiça, que frio!!" A sua reação de desagrado é considerada como comprovativa de que o frio a está a incomodar... Só por delicadeza não comunica que o "chiça" a perturba mais do que qualquer temperatura negativa. Esta reação mais emotiva é completada pelo rigor matemático: " Dois graus negativos". Mais uma achega para a polémica, proveniente da visão geográfica: " O castelo estava todo branco". 8:25, mesmo antes de tocar, vai para a sala usufruir, placidamente, do silêncio e saborear o frio. Entram os alunos que falam sobre tudo o que ela os deixar, mas , curiosamente, não referem o frio, limitam-se a esfregar as mãos energicamente. 13:30 regressa à sala mais quente da escola e, "chiça" , continuam a falar do frio que não sentem, mas do que sentiram de manhã e do que vão sentir à noite... Filosoficamente, alguém afirma: " Assim que o sol se for embora".Pausa até às 14:45. Inacreditável: uma tagarelice galinácea, uma diatribe acirrada, uma polémica digna da análise acutilante de um eça sobre onde é que o frio é mais insuportável... No ginásio? Nos laboratórios? Nas salas de informática? Nas salas da cave? Calorosamente, cada um defende , com luvas e dentes, o frio do seu espaço pedagógico,com muita convicção e uma inegável consciência cívica do seu direito ao calor ... 16:15 " Vamos lá ver se amanhã isto ameniza"; "Só com chuva!!". Assim que chover dois dias seguidos..." Chiça, subir esta rampa com chuva" e a história repete-se: basta substituir luvas e cachecóis por guarda-chuvas, frio por chuva/ humidade, e proceder às alterações necessárias..
Apesar de não ser santo do seu altar, gostaria de convidar o woody allen para ir até à sua escola. Encontraria matéria para realizar a sua obra prima..
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