Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

sábado, 13 de maio de 2017

Sombras e Vazios...



When you are old and grey and full of sleep,
And nodding by the fire, take down this book,
And slowly read, and dream of the soft look
Your eyes had once, and of their shadows deep;

How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false or true,
But one man loved the pilgrim soul in you,
And loved the sorrows of your changing face;


And bending down beside the glowing bars,
Murmur, a little sadly, how Love fled
And paced upon the mountains overhead
And hid his face amid a crowd of stars
.




we’re half-awake in a fake empire ... we’re half-awake in a fake empire


La sombra de los días - La muerte de Antonio Castillo, durante la Guerra Civil española, es el detonante para que quienes le conocieron nos ofrezcan su personal visión del joven. Son cuatro versiones: la del camarada con el que compartió los avatares del frente, la del amigo de la infancia que ha perdido todos sus ideales, la del compañero de juventud que rastrea los pasos de Antonio en el escenario de Santander y, finalmente, el nostálgico recuerdo de una mujer madura que encarnó para el protagonista el amor adolescente.

Alta madrugada.Despertar subitáneo en una habitación desconocida. Frío interior. Soledada profunda; ni siquiera compan~ia de objetos, pues todos son extraños como irreales. Sensación espantosa, indescriptible. Y sin más , de pronto, vivencia de la muerte, preñez de muerte in el ánimo.No un mero presagio, sino la experiencia casi del morir, su infiltración en el alma de la carne, en la fibra de los músculos, hasta el mismo tuétano de los huesos.
Sudor y miedo. No de la muerte, sino de haber llegado a sentirla en nuestro seno, de haber llegado ya tan adelante de la vida. La vista , que palpaba largamente el extraño quarto, se vuelve hacia dentro, hacia lo recién nascido.


Y o conozco perfectamente que ceder a una mujer en la condición de hombre, es, no solo perderse, sino perderla...Lo sé todo, pero ya no tengo escape.(...)Meditando bien llego a creer, sin embargo, que ela no existe para mí como personalidad. Le he aplicado el mismo proceso de analítica disgregación que a mi propria alma...

Siempre hay uno que besa y otro que pone la cara. Suele pensarse que, en el matrimonio, aquél que es el más desgraciado. Mas quanto peor van las cosas para el que es amado.

"Todo estuvo bien", la tranquiliza el." Si bubiéramos razonado e concretado las cosas, como los mercadores en los contratos, "qué triste resultado!" El tenía su amor y eso bastaba y le siguió bastando hasta el final de su vida.

Él podia parecer tímido, pero sus manos expresaban otra cosa: viril delicadeza. Largas, algo huesudas, sin huella de cuidados. Sus movimientos eran perfectos, ágiles y musicales; como hermanas en su complicado ballet. Le pregunté si tocaba el piano. Me dijo que no.

Recordando su viva sensibilidad hoy me pregunto si hubiera llegado a ser escritor. No lo creo.Su obra siempre hubiera conservado tono de diario, de confidencia. Nunca hubiese tenido vida propria porque a él le faltaba el instinto de la técnica. Y, sin embargo, vivía con tanta hondura, con tal entrega!

Para qué casarse y crearse afectos que luego acabarán por disolverse? ... No vale más pararse y esperar recordando? Recordar, sí; no dejar que se nos pierda ninguno de nuestros recuerdos, porque nuestra vida no es más que la suma de todos ellos. Quero evocarlo todo y guardarlo escrito; no debe desvanecerse. No puedo todavía empezar a llorar...

Era su mirada que me envolvía. Hoy lo sé como si recordase haberlo sabido entonces.

Aquelos días no serán páginas, sino perfume destilado de tantas horas. Dichosas mañanas...Dichosas tardes...Dichosa noches bajo la luna...Los momentos felices se repetían , iguales y diferentes como las ollas. Llegó su confianza y si sosiego hasta el punto de decirme galanterías: una vez me dijo que el pantalón largo me sentaba muy bien.

Como no lo he leído antes en los versos de Yeats copiados para mí por Tony?
Cuantos amaron tus momentos jubilosos
y amaron tu belleza con real o falso amor;
pero un hombre amó en ti tu alma peregrina
y amó las penas en tu faz cambiante
.

No sabían si aquello era llorar, o morirse o vivir. No sabían nada...
Fin

José Luis Sampedro, el hombre erecto, tiene 83 años, ha estado a un tris de morir, le interesa la androginia, el travestismo, defiende la eutanasia, ha trabajado como economista para el Banco Exterior de España y escrito libros especializados además de novelas. Fue senador, es miembro de la Real Academia y hay mujeres de veintitantos que mantendrían con él un amor carnal.
Creo en el Hombre, su avanzado Hijo Concebido en ardiente evolución, progresando a pesar de los Pilatos e inventores de dogmas represores para oprimir la Vida y sepultarl
( Morreu em 2013, com 96 anos)

Estou vazio como um poço seco
Não tenho verdadeiramente realidade nenhuma
Tampa no esforço imaginativo...


Ficávamos com a minha colecção de brincar: uma família de faz de conta. Era o nosso retrato, mas só o soube muito mais tarde.
Eu ficava a brincar , a minha mãe fumava e, sempre que o meu pai estava, a casa vestia-se com outro cheiro , outra pressão.


A minha mãe era imaculada e de uma beleza insuperável...Por isso também, quando chegou a minha vez, ignorou-me. Ninguém podia ser mais bonito do que ela,mais desejável. Tal e qual como a Branca de Neve.

E há coisas que eu sei e que nunca contei a ninguém. O que me foi roubado. O que isso significou para o resto da minha vida.

" Não posso ter outro filho. Eu morro se tenho outro filho. Não posso,não posso." O meu irmão, ou a minha irmã, estava dentro da barriga da minha mãe e ela não o queria, como não me queria...O tempo a lembrar-me que houve um início para a maldade.

Eu, uma menina -desastre, com o segredo de minha mãe - podia ser um rapaz, aquele desmancho, e, depois, um rapaz seria sempre diferente, uma alegria, até para ela, a minha mãe dos segredos, a que me pendurou pela janela, que de tão bela não poderia seguir sem perdão... Tudo isto penso sem nunca dizer a ninguém. Tão pouco descobri a escrita como salvação..Afogo-me ,desde muito cedo, nos livros dos outros e ainda nos poemas mais previsíveis, pouco importa. Eu sirvo para pouco.

Chego à página 30 e o vazio instala-se, vou folhear até ao fim e só registo o parágrafo final: Hoje é para ela que escrevo,sabendo que nunca conhecerá a totalidade de mim, pode talvez intuir quem sou, nada mais, nunca deixei de lhe mentir por completo. Chegou um tempo em que mentir era também uma forma de a proteger, ciente de ser mais forte, de gostar daquela outra mulher que, embora treinada, não ficaria imune ao meu sofrimento. É urgente terminar, a escrita já não serve. O que era preciso ser revisto, já foi. Reviver os momentos piores só facilita a escolha. Escrever serviu-me para arrumar toda a minha incapacidade de construir seja o que for. O mesmo vazio de sempre.

A aristocracia tem por norma a arte; a classe média tem por norma a vida social; o povo tem por norma a religião. Pela palavra religião entende-se a crença numa coisa absolutamente indemonstrável - e em geral impossível - que se crê ser a essência e o fim principal da vida. São religiões não só as religiões assim chamadas, mas também as doutrinas radicais todas, e as crenças sinceras na igualdade humana, na justiça, na fraternidade, e em outros mitos igualmente vazios de realidade e de realização. Para que sejam religiões é preciso, porém, acreditar que são realizáveis. Desde que um homem use desses mitos para ganhar a vida, ou para intrujar o povo deixa de ser da plebe, e passa a ser da classe superior. Faz muito bem.

Cerca-me um vazio absoluto de fraternidade e de afeição. Mesmo os que me são afeiçoados não me são afeiçoados; estou cercado de amigos que não são meus amigos e de conhecidos que não me conhecem.

NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO: Tu não és mulher. Nem mesmo dentro de mim evocas qualquer coisa que eu possa sentir feminina. E quando falo de ti que as palavras te chamam fêmea, e as expressões te contornam de mulher. Porque tenho de te falar com ternura e amoroso sonho, as palavras encontram voz para isso apenas em te tratar como feminina.
Mas tu, na tua vaga essência, não és nada. Não tens realidade, nem mesmo uma realidade só tua. Propriamente, não te vejo, nem mesmo te sinto. És como que um sentimento que fosse o seu próprio objecto e pertencesse todo ao íntimo de si próprio. És sempre a paisagem que eu estive quase para (poder) ver, a orla da veste que por pouco eu não pude ver, perdido num eterno Ágora para além da curva do caminho. O teu perfil é não seres nada, e o contorno do teu corpo irreal desata em pérolas separadas o colar da ideia de contorno. Já passaste, e já foste e já te amei — o sentir-te presente é sentir isto. Ocupas o intervalo dos meus pensamentos e os interstícios das minhas sensações. Por isso eu não te penso nem te sinto, mas os meus pensamentos são ogivais de te sentir, e os meus sentimentos góticos de evocar-te.Lua de memórias perdidas sobre a negra paisagem nítida de vazio, da minha imperfeição compreendendo-se. O meu ser sente-te vazante como se fosse um cinto teu que te sentisse. Debruço-me sobre o teu rosto branco nas águas nocturnas do meu desassossego, no meu saber que és Lua no meu céu para que o causes, ou estranha lua submarina para que, não sei como, o finjas.
Quem pudesse criar o Novo Olhar com que te visse, os Novos Pensamentos e Sentimentos que houvessem de te poder pensar e sentir!
Ao querer tocar no teu manto as minhas expressões cansam o esforço estendido dos gestos de suas mãos, e um cansaço rígido e doloroso gela-se nas minhas palavras. Por isso, curva um voo de ave que parece que se aproxima e nunca chega, em torno ao que eu quereria dizer de ti, mas a matéria das minhas frases não sabe imitar a substância ou do som dos teus passos, ou do rasto dos teus olhares, ou da cor triste e vazia da curva dos gestos que não fizeste nunca.


Carta a um herói estúpido:
Li, sem entusiasmo e sem pasmo, o relato das tristes palavras que Vossa Santidade pronunciou... É tarde, bem sei, para comentar as suas afirmações. Num país onde os fundadores das instituições são desterrados por aqueles que se apossaram da mangedoura.
Nestas circunstâncias de entusiasmo exterior fez Vossa Santidade a sua entrada triunfal em Lisboa. Sabe o que vem encontrar? Sim, sabe entre que gente se encontra?


Relembro, com tristeza irónica, uma manifestação, feita não sei com que sinceridade (pois me pesa sempre admitir sinceridade nas coisas colectivas, visto que é o indivíduo, a sós consigo, o único ser que sente). Era um grupo compacto e solto de estúpidos animados, que passou gritando coisas diversas diante do meu indiferentismo de alheio. Tive subitamente náusea. Nem sequer estavam suficientemente sujos. Os que verdadeiramente sofrem não fazem plebe, não formam conjunto. O que sofre sofre só. Que mau conjunto! Que falta de humanidade e de dor! Eram reais e portanto incríveis. Ninguém faria com eles um quadro de romance, um cenário de descrição. Decorriam como lixo num rio, no rio da vida. Tive sono de vê-los, nauseado e supremo...



Então crescia em mim uma espécie de excitação maníaca durante o jogo... A alegria de jogar convertera-se em ânsia de jogar, a ânsia de jogar convertera-se em compulsão de jogar, uma mania, uma raiva frenética, que invadia não apenas as minhas horas de vigília, mas também lentamente o meu sono. Só conseguia pensar no xadrez, nos movimentos do jogo de xadrez, nos problemas do xadrez...

Uma boa forma de preencher o vazio ...

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