Não é neccessário vivermos ao lado de alguém para nos sentirmos ligados a esse alguém mais do que a qualquer outra pessoa...

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Procuras...

Hommage: (encore) Piet Mondrien: en quête d'un "mot"...

"In-sanamemte, por entre os dedos, toco-te o rosto que me convoca, numa distância que a proximidade não sutura. Toco-o, na palavra que o nomeia."

Estar entre ruínas era como perder o sentido do tempo.Sentia-me como um fantasma, um fantasma não do passado, mas do futuro.Sentia que a minha vida e a minha ambição tinham já sido vividas por mim e que estava para ali a olhar para as relíquias dessa vida. Estava num sítio por onde o futuro já tinha passado, de onde o futuro havia já desaparecido.

Em plena expansão, os temores e ansiedades não me largavam e sentia-me tão insatisfeito e inquieto como no início. Não se tratava de pressões exteriores, nem era apenas um problema da minha solidão ou do meu temperamento. Era algo que tinha a ver também com a própria paz, com a forma como a vida tinha sido alterada pela paz.

Porque descobrira os meandros da dor e o amadurecimento que isso traz, não me surpreendeu que Metty e eu nos sentíssemos tão próximos no preciso momento em que compreendemos que tínhamos de seguir cada um o seu caminho. Aquilo que, naquela noite, nos dera a ilusão de proximidade fora muito simplesmente a mágoa que sentíamos por um passado que morrera, a nossa trizteza pelo facto de a vida não parar.

Agora que eu me apercebia do encanto do seu mundo, Indar era como um guia que perdera a fé no que mostrava.Ou como um homem que, por ter conseguido levar alguém a acreditar, sentia que podia perder algo da sua fé.

What do I do with all this ?

Why do you come here When you know it makes things hard for me ? When you know, oh Why do you come ?


Escrevo meu livro à beira-mágoa. Meu coração não tem que ter. Tenho meus olhos quentes de água. Só tu, Senhor, me dás viver. Só te sentir e te pensar Meus dias vácuos enche e doura. Mas quando quererás voltar? Quando é o Rei? Quando é a Hora?...Ah, quando quererás, voltando, Fazer minha esperança amor? Da névoa e da saudade quando? Quando, meu Sonho e meu Senhor?

Tú no tienes nombre. Tal vez nada lo tenga. Pero ... el nombre que no tienes me acompaña y el nombre que nada tiene crea un sitio en donde está de más la soledad.



Nietzsche: Nós devemos morrer... Mas na hora certa. A morte só não é assustadora quando a vida já se consumou. Já consumou a sua vida?
Breuer: Eu já consegui muitas coisas.
Nietzsche: Mas aproveitou a vida? Ou deixou-se levar por ela? Você está fora da sua vida...a sofrer. Por uma vida que nunca foi vivida.
Breuer: Não posso mudar a minha vida. Tenho a minha família, os meus doentes,os meus alunos. É tarde demais.
Nietzsche: Não lhe posso dizer como viver de outra forma... mas talvez lhe possa dar um presente, Josef: um pensamento.
E se um demónio lhe dissesse que esta vida... teria de ser vivida de novo. Porém inúmeras vezes mais e sem acontecer nada de novo. Cada dor, cada alegria, cada coisa minúscula ou grandiosa retornaria . A mesma sucessão, a mesma sequência, várias e várias vezes, como uma ampulheta do tempo. Imagine o infinito! Considere a possibilidade de que cada ato que escolher ,Josef, o escolherá para sempre! Então toda a vida não vivida permaneceria dentro de si! Não vivida... por toda a eternidade! Gosta desta ideia...? Ou detesta? Escolha!


26 de novembro de 2014

Tentei explicar-lhe que não era um homem falador. Gosto de ouvir, disse-lhe, não tenho muito para dizer. Ele perguntou, virado para Hanna:
- Como te chamas?
Hanna respondeu. Ele não percebeu. Hanna repetiu, ele continuou sem perceber. Eu repeti:
- Chama-se Hanna.
- Hanna - disse Fried. - Bom.
- Que idade tens?
- Catorze - respondeu, e agora percebeu-se. Fried sorriu para ela, simpaticamente. Ela disse:
- Olhos: pretos. Cabelo: castanho.
Eu disse: - Ela aprendeu assim. Depois ela disse:
- Estou à procura do meu pai
.


4 de março de 2015

Numa ânsia de ter alguma cousa, Divago por mim mesmo a procurar, Desço-me todo, em vão, sem nada achar, E a minh'alma perdida não repousa. Nada tendo, decido-me a criar: Brando a espada: sou luz harmoniosa E chama genial que tudo ousa Unicamente à força de sonhar... Mas a vitória fulva esvai-se logo... E cinzas, cinzas só, em vez do fogo... - Onde existo que não existo em mim?

Só quem procura sabe como há dias de imensa paz deserta; pelas ruas a luz perpassa dividida em duas: a luz que pousa nas paredes frias, outra que oscila desenhando estrias nos corpos ascendentes como luas suspensas, vagas, deslizantes, nuas, alheias, recortadas e sombrias. E nada coexiste. Nenhum gesto a um gesto corresponde; olhar nenhum perfura a placidez, como de incesto, de procurar em vão; em vão desponta a solidão sem fim, sem nome algum - - que mesmo o que se encontra não se encontra.

Uma certa quantidade de gente à procura de gente à procura duma certa quantidade ...Entretanto e justamente quando já não eram precisos apareceram os poetas à procura e a querer multiplicar tudo por dez má raça que eles têm ou muito inteligentes ou muito estúpidos pois uma e outra coisa eles são Jesus Aristóteles Platão abrem o mapa: dói aqui dói acolá / E resulta que também estes andavam à procura duma certa quantidade de gente que saía à procura mas por outras bandas bandas que por seu turno também procuravam imenso um jeito certo de andar à procura deles visto todos buscarem quem andasse incautamente por ali a procurar...

Eu não procuro nada em ti, nem em mim, é algo em ti que procura algo em ti no labirinto dos meus pensamentos.Eu estou entre ti e ti, a minha vida, os meus sentidos( principalmente os meus sentidos) toldam de sombras o teu rosto. O meu rosto não reflete a tua imagem, o meu silêncio não te deixa falar, o meu corpo não deixa que se juntem as partes dispersas de ti em mim. Eu sou talvez aquele que procuras, e as minhas dúvidas a tua voz chamando do fundo do meu coração.

Depois de estar cansado de procurar Aprendi a encontrar. Depois de um vento me ter feito frente Navego com todos os ventos.

Parece que hoje é o dia internacional da amizade...é difícil fugir às lindas definições desse belo sentimento. O que é um amigo? É alguém que se ama sem amor ... Será? Não sabe responder. Talvez só alexandre o'neill tenha a única definição aceitável: "Amigo é o contrário de inimigo"...

31 de julho de 2015...

O ser humano tenta, por todos os meios, pela droga, pela ilusão, pela sugestão, pela crença, pela convicção, por vezes apenas recorrendo ao efeito simplificador da estupidez, criar um estado semelhante ao da paixão. Acredita nas ideias, não por elas às vezes serem verdadeiras, mas porque tem de acreditar em alguma coisa. Porque tem de manter os afectos em ordem. Porque tem de tapar com alguma ilusão o buraco entre as paredes da vida, para não deixar que os seus sentimentos se espalhem ao vento. O caminho certo seria o de, em vez de se entregar a estados ilusórios, procurar, pelo menos, as condições da autêntica paixão.

1. Que não tem ou não desperta interesse.
2. Que está sem acção, em estado de estupor.
3. Que é demasiado intenso.
4. Que não tem razão de ser; que não faz sentido.
5. Que tem grande dificuldade em compreender, julgar ou discernir por falta de inteligência.
6. Que é muito desagradável, incivilizado ou grosseiro.


Não me perguntes, porque nada sei Da vida, Nem do amor, Nem de Deus,Nem da morte. Vivo, Amo, Acredito sem crer,E morri, antecipadamente Ressuscitando.O resto são palavras Que decorei De tanto as ouvir. E a palavra É o orgulho do silêncio envergonhado. Num tempo de ponteiros, agendado, Sem nada perguntar, Vê, sem tempo, o que vês Acontecer. E na minha mudez Aprende a adivinhar O que de mim não possas entender.

Perdi-me dentro de mim Porque eu era labirinto, E hoje, quando me sinto, É com saudades de mim... A sua não história recente marcou-a mais do que podia supor, esvaziou-a completamente, está sem alma...Enquanto não se libertar, não a recupera, por mais que fuja, por mais que procure...


"O que ele encontrou não era o que os outros procuravam. E estamos aqui perante uma definição de indivíduo e do seu isolamento no meio do grupo: eu encontro o que os outros não procuram, eu procuro o que os outros nunca encontrarão."


Esse lugar activo de sensações, a minha alma, passeia às vezes comigo conscientemente pelas ruas nocturnas da cidade, nas horas tedientas em que me sinto um sonho entre sonhos de outra espécie, à luz (...) do gás, pelo ruído transitório dos veículos (...)Ao mesmo tempo que em corpo me embrenho por vielas e subruas, torna-se-me complexa a alma em labirintos de sensação. Tudo quanto de aflitivamente pode dar a noção de irrealidade e de existência fingida, tudo quanto soletra, sem ser ao raciocínio, mas concreta e (...)mente, o quanto é mais do que oco o lugar do universo, desenrola-se-me então objectivamente no espírito apartado. Angustia-me, não sei porquê, essa extensão objectiva de ruas estreitas, e largas, essa consecução (...) de candieiros, árvores, janelas iluminadas e escuras, portões fechados e abertos, vultos heterogeneamente nocturnos que a minha vista curta, no que de maior imprecisão lhes dá, ajuda a tornar subjectivamente monstruosos, incompreensíveis e irreais.

Fragmentos verbais de inveja, de luxúria, de trivialidade vão de embate ao meu sentido de ouvir. Sussurrados murmúrios (...) ondulam para a minha consciência.

Pouco a pouco vou perdendo a consciência nítida de que existo coextensamente com isto tudo, de que realmente me movo, ouvindo e pouco vendo, entre sombras que representam entes e lugares onde entes o são. Torna-se-me gradualmente, escuramente, indistintamente incompreensível como é que isto tudo pode ser em face do tempo eterno e do espaço infinito.

Passo daqui, por passiva associação de ideias, a pensar nos homens que desse espaço e desse tempo tiveram a consciência analisadora e compreendedoramente perdida. Sente-se-me grotesco a ideia de que entre homens como estes, em noites sem dúvida como esta, em cidades de certo não essencialmente diversas da em que penso, os Platões, os Scotus Erigenas, os Kants, os Hegels como que se esqueceram disto tudo, como que se tornaram diversos desta gente (...). E eram da mesma humanidade, (...). Eu mesmo que passeio aqui com estes pensamentos, com que horrorosa nitidez, ao pensá-los, me sinto distante, alheio, confuso e (…).

Acabo a minha solitária peregrinação. Um vasto silêncio, que sons miúdos não alteram no como é sentido, como que me assalta e subjuga. Um cansaço imenso das meras coisas, do simples estar aqui, do (...) encontrar-me deste modo pesa-me do espírito ao corpo (...). Quase que me surpreendo a querer gritar, de afundando-me que me sinto em um oceano de (...) de uma imensidão que nada tem com a infinidade do espaço nem com a eternidade do tempo, nem com qualquer coisa susceptível de medida e nome. Nestes momentos de terror supremamente silencioso não sei o que sou materialmente, o que costumo fazer, o que me é usual querer, sentir e pensar. Sinto-me perdido de mim mesmo, fora do meu alcance. A ânsia moral de lutar, o esforço intelectual para sistematizar e compreender, a irrequieta aspiração artista a produzir uma coisa que ora não compreendo, mas que me lembro de compreender, e a que chamo beleza, tudo isto se me some do instinto do real, tudo isto se me afigura nem digno de ser pensado inútil, vazio e longínquo. Sinto-me apenas um vácuo, uma ilusão de uma alma, um lugar de um ser, uma escuridão de consciência onde estranho insecto (...) procurasse em vão sequer a cálida lembrança de uma luz.

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